No Médio e Novo Império com o poder dos faraós a disposição dos egípcios em demonstrar seus próprios pensamentos e opiniões era menos acentuada. No Novo Império (XVIII, XIX e XX dinastias)[1], contudo, já se observa um processo de democratização espiritual e de direito a um julgamento individual na eternidade tal como expresso no Livros dos Mortos (1040 a 985 a.c. na XXI Dinastia) ainda que inicialmente aos ricos e somente mais tarde às pessoas comuns. Breasted denomina esta fase de “aurora da consciência”.[2] Uma importante tendência de individualização já é mostrada nas esculturas da IV Dinastia como se observa no busto de Ankh-haf ou a estátua do engenheiro e arquiteto Homiunu responsável pela grande pirâmide Quéops na IV Dinastia.[3] Andre Pochan refere-se a Hardedef como o arquiteto da pirâmide.[4] Na IV dinastia se observa uma fusão entre os aspectos religiosos da realeza e do trabalho. O filho de Snefru, Kanufer foi Mestre do Trabalho e Arquiteto Chefe, Rahotep também filho de Snefru foi “sacerdote de Rá em Heliópolis e superintendente do trabalho e das expedições”, o príncipe Meryib foi arquiteto chefe e General dos Trabalhadores.[5] Paul Johnson aponta a utilização de sarcófagos pelos aristocratas egípcios como uma mostra da “democratização da imortalidade”.[6] Harco Willems contesta a tese de democratização dos ritos funerários e mostra que os caixões decorados de el-Bersha, de Beni Hasan e de Assiut no Novo Império são erstritos a uma elite e não ao povo em geral e mostra que o uso dos Textos dos caixões está intimamente ligado à cultura nomarcal e de forma alguma às esferas da população sem relação com os governadores ou poder locais.[7]
[1] VERCOUTTER, Jean. O
Egito antigo, São Paulo:DIFEL, 1974, p. 34
[2] JOHNSON, Paul. História
ilustrada do Egito Antigo, Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p.103
[3] MANUELIAN, Peter der. Module 7: The Statue of Hemiunu (G 4000). Harvard
online Courses: Pyramids of Giza: Ancient Egyptian Art and Archaeology, 2018.
https://online-learning.harvard.edu/course/pyramids-giza-ancient-egyptian-art-and-archaeology?offset=12
[4] POCHAN, André. O enigma
da grande pirâmide, Rio de Janeiro: Difusão, 1977, p. 264
[5] JOHNSON, Paul. História
ilustrada do Egito Antigo, Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p.88; TIRADRITTI,
Francesco. Tesouros do Egito do Museu egípcio do Cairo, White Star Pub, 1998,
p.61
[6] JOHNSON, Paul. História
Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 227