Wilson Martins mostra que mesmo com o impacto negativo na economia no século XVIII o florescimento cultural na colônia prosseguiu. Afonso Arinos de Melo Franco na edição das Cartas Chilenas aponta na arquitetura a construção da igreja matriz de Caeté, as igrejas de S. Francisco e Carmo em Ouro Preto, Sabará, São João del Rei e Diamantina, as pinturas de mestre Ataíde em Mariana, ou os profetas de Antonio Francisco Lisboa em Congonhas do Campo, todas criações na época que se seguiu de decadência econômica.[1] Da mesma forma Germain Bazin: “Não é curioso que tal florescimento, exigindo grandes recursos financeiros emanando de um povo inteiro, coincida com o momento em que se completa a decadência de Minas Gerais ? É em 1770 que o governador Rodrigo César de Meneses escreve o relatório que registra o declínio; essa data que á do florescimento do Rococó assiste a ascenção do Aleijadinho. Nem sempre é verdade que o maior desenvolvimento artístico coincide com a maior prosperidade econômica”.[2] Roberto Martins, por sua vez, critica a perspectiva de que com o declínio da produção aurífera Minas Gerais tenha entrado em declínio econômico tal como afirmado por historiadores como Oliveira Martins, Celso Furtado, Roberto Simonsen e Barros Castro. A diversificação da economia mineira foi capaz de manter o ritmo da atividade econômica. Entre as instruções passadas, em 24 de janeiro de 1775, ao recém-nomeado governador de Minas, D. Antônio de Noronha, o Secretário de Estado da Marinha e Ultramar, Martinho de Mello e Castro é destacado “as comarcas do Ouro Preto, do Rio das Velhas, do Serro Frio e do Rio das Mortes, de que se compõe a dita Capitania, povoadas de muitos milhares de habitantes, abundantes de tudo o necessário para a vida a preços muito cômodos, e com um extensíssimo comércio para todas as outras capitanias do Brasil”, ou seja, não qualquer descrição de um cenário de decadência econômica. Mesmo com o declínio da mineração a importação de escravos por Minas Gerais não apresenta sinais de declínio. No relatório de transmissão do cargo a seu sucessor, datado de 19 de junho de 1779, o vice-rei do Brasil e governador do Rio de Janeiro, D. Luís de Almeida Portugal, 2º. marquês do Lavradio, refere-se às entradas de escravos para a capitania mineira como algo corriqueiro e frequente, e informa que entre as funções do Provedor da Fazenda se incluía a de emitir “as guias para os escravos que vão para Minas, afim de que estes paguem primeiro os direitos que devem a Sua Majestade”. Na Recompilação de Notícias Soteropolitanas e Brasílicas, publicada em 1802 por Luís dos Santos Vilhena, informa que Minas Gerais já não consegue suprir sua demanda de escravos no Rio de Janeiro tendo de recorrer à Bahia: “o comércio hoje desta praça para Minas Gerais [...] Consiste este na exportação de bastantes escravos que o Rio não pode subministrar-lhes com a precisa abundância”. Segundo Roberto Martins: “A lenda de que o declínio da mineração gerou um estoque de escravos redundantes, ociosos ou subutilizados em Minas Gerais, e que esses escravos foram transferidos para o nascente setor exportador de café no vale do Paraíba, é uma das mais pegajosas, dentre as muitas bobagens inventadas pelos historiadores apocalípticos. Como anotamos acima, tudo indica que esse mito foi criado por Roberto Simonsen, reproduzido por Luís Amaral, Celso Furtado, Antônio de Castro, e outros, e tem sido repetido como uma ladainha, até hoje, por dezenas de autores”.[3]
[1] MARTINS, Wilson.
História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p.
521
[2] MARTINS, Wilson.
História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p.
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