sábado, 25 de setembro de 2021

Patente de Invenção de elevatória de água usada em mineração do século XVIII

 

Claudio Manuel da Costa deixou registrado em seu poema Vila Rica[1], em uma nota de página o registro da introdução de rodas para esvaziamento das catas, conhecida como “rodas do rosário”  no ano de 1711, por um clérigo alcunhado “Bonina Suave”, em que se erigia no mesmo lugar a Vila Rica de Albuquerque[2]. O mecanismo era formado por duas rodas cujo diâmetro variava de quatro a seis metros unidas por tábuas formando recipientes, sendo as rodas movimentadas pela passagem da água que acionava por meio de uma corrente, caixões de madeira abertos e inclinados de modo a mergulhar no rio e subir cheio de lama para depois ir despejando por inclinação seu conteúdo. O mesmo mecanismo também é mencionado pelo mineiro de Serro Frio, João Barbosa Moreira.[3] Lemos Brito observa que antes da vinda de D. João VI as únicas máquinas hidráulicas conhecidas era o rosário. O italiano Domenico Vandelli explica o uso dos rosários para extração de água das minas: “costumam tirá-las com uma espécie de nora, que é das mais antigas máquinas, a que os mineiros chamam ‘rosário’ pelo feitio e união das alcatrazes com cadeias. Porém, como esta não pode extrair senão uma pequena porção d’água e também a uma determinada profundidade, e sendo muita a água e muito profunda, não se continua a escavação e fica a mina abandonada por não se conhecer a bomba a fogo, nem outras máquinas hidráulicas, ou por não se saber a arquitetura subterrânea dar escôo às águas”.[4] O ouro aproveitado era o que vinha em pepitas, em folhetas ou em pó, pois ainda não se conhecia a extração de metal pelo antimômio ou pelo azougue.[5] Segundo Sérgio Buarque de Holanda: “Só por volta de 1725 se aperfeiçoaria, no entanto, essa máquina, se é exato que em Vila Rica, nesse tempo melhorou-a Manuel Pontes, alcançando logo privilégio para fabricá-la”.[6] Na provisão do governador Dom Lourenço de Almeida concedida a Manoel Frz. Pontes, em Vila Rica, no dia primeiro de agosto de 1725 são concedidos privilégios ao Mestre Carpinteiro das obras das casas de Fundição e Moeda por ter sido ele “o primeiro que aperfeiçoou o invento das rodas com que se esgota água das catas que se fazem nos rios destas Minas, com cujo invento, depois que foi aperfeiçoado pelo dito Manoel Frz. Pontes, se tem extraído muito ouro”. O privilégio então concedido valeria por três anos e consistia em que ninguém pudesse fazer as rodas inventadas a não ser o próprio Manoel Pontes e que quando alguém a quisesse fazer por outro carpinteiro lhe daria 100 oitavas de ouro de prêmio.[7]



[1] LAGO, Pedro Correa. Brasiliana IHGB 175 anos, Rio de Janeiro:Capivara, 2014, p. 328

[2] GAMA, Ruy. Engenho e tecnologia, São Paulo: Duas Cidades, 1983, p.135

[3] PRIORE, Mary del. Histórias da gente brasileira, Vol. 1 Colônia. Rio de Janeiro:Leya, 2016, p. 114

[4] FIGUEROA, Sílvia. Metais aos pés do trono:  exploração mineral e o início da investigação da  terra no Brasil, REVISTA USP, São Paulo, n.71, p. 10-19, setembro/novembro 2006 https://core.ac.uk/download/pdf/268320408.pdf

[5] BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.120

[6] HOLANDA, Sérgio Buarque. História Geral da Civilização Brasileira, A época Colonial: administração, economia, sociedade, tomo II, volume 1, São Paulo:Difel, 1982, p. 275

[7] [PROVISÃO de D. Lourenço de Almeida a Manoel Frz. Pontes]. APM-SC, códice 26, fl 138-139v In: REIS, Flavia Maria da Mata. Entre faisqueiras, catas e galerias: explorações do ouro, leis e cotidiano nas Minas do século XVIII (1702-1762). Dissertação de mestrado, História, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, 2007; RENGER, Friedrich E. Direito mineral e mineração no Códice Costa Matoso (1752). Varia Historia. Belo Horizonte, n. 21, jul. 1999, p. 156-170 http://livros01.livrosgratis.com.br/cp037036.pdf



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