domingo, 30 de maio de 2021

A tolerância entre muçulmanos e cristãos na conquista árabe da Espanha

 

No Tratado Decisivo de Averrois o filosofo observa “que a lei convida à observação racional dos seres existentes e à pesquisa de um conhecimento desses pela razão, é algo manifesto em mais de um versículo do Corão”.[1] Disse o Profeta do Islam: "Instruir-se é dever de todos os muçulmanos" "Buscai o conhecimento, do berço à sepultura!" "Buscai o conhecimento, ainda que seja na China!"[2]. Os árabes não foram meros intermediários da cultura Clássica tendo sofrido influência não apenas dos gregos mas também da Índia e Pérsia. O Sahih al-Bukhari é a mais importante das seis grandes coleções de hadith do Islão sunita. Estas tradições sobre o Profeta do Islã Muhammad foram coletados pelo estudioso muçulmano de origem persa, Muhammad ibn Ismail al-Bukhari, depois de ter sido transmitida oralmente por várias gerações. Diversas foram as inovações promovidas pelos eruditos árabes reunidos na Casa da Sabedoria - Bayt al Hikmah instalada em Bagdá capital do império Abássida[3] tendo atingido seu auge no reinado de Al-Ma’mun (813-833). O local atraiu diversos sábios e tradutores de diversas partes do império como o filósofo al-Kindi, reunindo importante biblioteca transformando o árabe uma língua de comunicação intelectual de todo o império[4] um período que Colin Ronan chama de “renascimento cultural árabe”.[5] Oliveira Martins observa que os árabes ao invadirem a península ibérica cuidaram para que judeus e cristãos tivessem liberdade de culto, mediante pagamento de um imposto, faculdade que já se observava entre os persas seguidores de Zoroastro “segundo se vê, a tolerância para com as religiões estranhas crescia à maneira que as conquistas avançavam”.[6] Oliveira Martins aponta que muçulmanos e cristãos chegavam a dividir uma mesmo igreja como em Córdoba, ainda que Oliveira Martins justifique essa medida ao caráter semipagão dos cristianismo espanhol da época[7]

[1] TATON, René. A ciência antiga e medieval: a Idade Média, tomo I, v.III, São Paulo:Difusão, 1959, p. 22

[2] Sahih Bukhári, Sahih Musslim e Tirmizi.

[3] LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.164; BOORSTIN, Daniel. Os criadores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1995, p.93

[4] BRAGA, Marco; GUERRA, Andreia; REIS, Jose Claudio. Breve historia da ciência moderna, v.I, Rio de Janeiro:Zahar, 2011, p. 36

[5] RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência, v.II Oriente, Roma e Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 2001, p. 85

[6] MARTINS, Oliveira. História da civilização ibérica, Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p.115

[7] MARTINS, Oliveira. História da civilização ibérica, Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p.138




A conquista da península ibérica pelo povos árabes

 

Mary Beard mostra como o poderio do império romano pode se estabelecer devido a flexibidade com que as novas áreas conquistadas eram integradas: “O que se pode afirmar com certeza é que os romanos praticamente não fizeram nenhuma tentativa, mesmo durante essa fase mais tranquila de controle imperial [Pax Romana], de impor suas normas culturais ou erradicar as tradições locais”[1], tendo como exceção os druidas na Britânica acusados de sacrifícios humanos e os cristãos. Em alguns casos as próprias áreas invadidas solicitavam a Roma a intervenção como é o caso da cidade de Teos que solicitou ao imperador romano que invadisse a cidade anexando-a ao Império de modo a dar maior tranquilidade a sua população contra o rei local[2]. Na Espanha, como exceção à regra geral, os romanos mantinham guarnições militares permanentes em Sagunto (Murviedro), Gades (Cádis) e Tarraco (Tarragona) de modo a garantir o controle do comércio estabelecido desde a época dos cartagineses e das minas de prata e ferro.[3] Ainda assim o império romano se integrou às tradições locais ibéricas, de modo que Roma, que havia tomado a região aos cartagineses africanos, foi sucedida pela ocupação árabe no século VIII tendo a Espanha resistido aos invasores, o que levou Oliveira Martins a concluir “a romanização transformou os espanhóis a ponto de já não reconhecerem nos novos invasores [árabes] os seus antigos companheiros de armas [cartagineses], nem os porventura seus irmãos de sangue: tal poder as ideias de uma civilização [romana] exercem  sobre a massa que informe das populações semi bárbaras, que chegam a obliterar nela as simpatias vinculadas a uma descendência comum!”.[4]

[1] BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma Antiga, São Paulo: Planeta, 2010, p. 481

[2] BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma Antiga, São Paulo: Planeta, 2010, p. 192

[3] MARTINS, Oliveira. História da civilização ibérica, Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p.62

[4] MARTINS, Oliveira. História da civilização ibérica, Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p.114



Tapetes multicolores de Cluny e o ambiente cultural do século XIII

 

Marc Bloch mostra que até o final do século XI, exceto temporariamente pela renascença carolíngia, a mentalidade religiosa prevalecente no período medieval era desprovida de qualquer base racional ou especulação lógica “É-nos permitido dizer que nunca a fé mereceu tanto esse nome”.[1] Martin Stevers destaca que a escolástica lançava as bases do pensamento moderno na medida em que baseada na lógica aristotélica como se observa nas obras de Alberto Magno (1193-1280), do frade dominicano Vicente de Beauvais (1190-1264) autor da enciclopédia Speculum Maius (O grande espelho) com ensinamentos sobre a natureza, doutrina (entre as quais temas relativos as artes liberais mecânicas, direito e medicina) e história, o franciscano escocês João Duns Scotus (1266-1308) (não confundir com o teólogo irlandês João Escoto Erígena 810-877), o bispo inglês Robert Grosseteste (1175-1253) (cabeça grande) e o frade franciscano Roger Bacon (1214-1292)[2]. Para Otto Carpeaux em sua obra Vicente de Bauvais integra o conhecimento grego ao cristianismo: “Na enciclopédia imensa de Vincentius de Beauvais, o Spenculum maius, toda a Antiguidade está presente, em inúmeras citações; já não se sente quase diferença alguma entre as parábolas do Evangelho de Lucas e os contos de Ovídio, entre as viagens dos apóstolos e as dos heróis homéricos [...] O mundo antigo do século XIII é um tapete multicolor, comparável aos tecidos amplos e fantásticos que o Museu Cluny guarda”.[3]



[1] BLOCH, Marc. A sociedade feudal, Lisboa:Edições 70, 1982, p.104

[2] STEVERS, Martin. A inteligência através dos séculos. São Paulo:Globo, 1946, p.410

[3] CARPEUX, Otto Maria. História da Literatura Ocidental v.I, Brasília:Senado Federal, 2008, p. 54



sábado, 29 de maio de 2021

Escravidão e trabalho no Brasil colonial

 

Em 1686 um parecer foi favorável aos negros poderem frequentar  as escolas de jesuítas, porém dois anos após, o visitador geral da Companhia de Jesus em Salvador, padre Antonio Vieira  observou que os pardos eram “sempre malcriados” e foram banidos dos colégios: ‘Por esta razão, nesta costa do Brasil, já lhes está totalmente fechado o ingresso ao sacerdócio e aos claustros religiosos e a qualquer função governativa”.[1] O mesmo padre Vieira na revolta dos índiso no Pará em 1661 recomenda o uso de escravos negros vindos da África “por serem os índios da terra menos capazes do trabalho e de menos resistência contra as doenças”.[2] O Marques de Lavradio em relatório de 1779: “o caráter de alguns americanos destas partes da América, que eu conheço, é de um espírito muito preguiçoso, muito humildes e obedientes, vivem com muita sobriedade, ao mesmo passo que tem grande vaidade e elevação; porém, estes mesmos fumos se lhe abatem com muita facilidade; são robustos, podem com todo o trabalho e fazem tudo aquilo que lhe mandam; porém, se não há cuidado em manda-los, eles por natureza ficarão sempre em inação, ainda a ponto de se verem reduzidos à maior indigência”[3]. Segundo o naturalista Karl von Martius os séculos de colonialismo deixaram marcas no caráter brasileiro que desenvolveu “o gosto pela comodidade, pelo luxo, e pelas formas agradáveis da vida exterior, que se espalhou aqui mais rapidamente que o amor pelas artes e pelas ciências”. Para José Bonifácio ao descrever o caráter geral dos brasileiros: “de imaginação brilhante, e por isso amigos de novidades que prometem perfeição e enobrecimento [...] Capazes de grandes ações, contanto que não exijam atenção aturada e não requeiram trabalho assíduo e monotônico. [...] Empreendem muito, acabam pouco”.[4] Debret relata que “o brasileiro gosta bastante de repouso, principalmente nas horas quentes do dia, desculpando-se sem cessar com sua má saúde, de que parece afligir-se no momento, mas que esquece logo para divertir-se com uma piada ou uma maledicência engenhosa [...] é fácil compreender que um clima continuamente quente e úmido, debilitando as forças físicas, torna o homem preguiçoso na realização de sua vontade, embora seja ele dotado de um espírito vivo e penetrante”.[5] A visitante francesa Adelle Samson Toussaint  no século XIX descreve que “não há brasileiro que aceite servir, todos querem ser senhores. Se o escravismo fosse abolido de repente, toda a cultura pararia”.[6]

[1] GOMES, Laurentino. Escravidão, v.I, São Paulo: Globo, 2019. p.348

[2] RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1979, p.480

[3] RODRIGUES, José Honório. Vida e históriaa, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira,1966, p.115

[4] LAGO, Pedro Correa. Brasiliana IHGB 175 anos, Rio de Janeiro:Capivara, 2014, p. 342

[5] LESSA, Ricardo. Brasil e Estados Unidos: o que fez a diferença, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 2008, p.104

[6] LESSA, Ricardo. Brasil e Estados Unidos: o que fez a diferença, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 2008, p.104



O massacre das tribos indígenas

 

Russel Wood mostram que portugueses aliaram-se a tribos indígenas rivais em sua guerra contra os tamoios no Rio de Janeiro, que por sua vez aliados dos franceses. Os portugueses aliaram-se aos tabajaras em sua luta contra os potiguares. Em Pernambuco aproveitaram-se da luta tribal entre caetés e tupinambás. No século XVII os portugueses avançaram para o norte  culminando com o massacre dos tupinambás em 1616-1619 e a aniquilação dos índios no Pará e Maranhão. No século XVII incorreram em massacres contra tapuias e jandins no Ceará, Rio Grande e Maranhão.[1] José Honório Rodrigues mostra que a história do Brasil registra diversas “pacificações” por exemplo contra os caiapós em 1781, aos xavantes no Araguaia em 1783 e aos canoeiros no Tocantins em 1789 tal como descrito por José Rodrigues Freire em A Relação da conquista do gentio Xavante publicada em Lisboa em 1790.[2] Simão Travassos em “Sumário das Armadas” de 1587 narra o massacre dos portugueses aos indígenas: “esse foi o estilo do Brasil, ir assim (pela guerra) ganhando a terra aos inimigos”.[2]

[1] RUSSEL WOOD, A. Histórias do Atlântico português, São Paulo: UNESP, 2021, p. 287

[2] RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1979, p.321

[3] RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1979, p.451





A política ilustrada de Maria I ?

 

Em janeiro de 1818 os naturalistas alemães Johann Baptiste von Spix e Carl Friedrich Philipp von Martius visitaram a Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema, como descrito no livro “Viagem pelo Brasil”. Esse caráter ambivalente da política da metrópole, em que ao mesmo tempo publica Alvará proibindo a instalação de fábricas na colônia e permite fábricas metalúrgicas é apontado por Fernando de Novais[1] que aponta como uma perspectiva distorcida da historiografia em se identificar a política de Maria I como “retrógrada” uma vez que a mesma deve ser contextualizada dentro de uma perspectiva que destaca a política de Pombal como “ilustrada”. Para Fernando Novais embora siga os moldes mercantilistas clássicos foi no período de Maria I que Portugal “se abriu mais largamente aos influxos da ilustração europeia”. Joaquim Felício dos Santos contesta a informação do historiador Francisco Varnhagen de indicar a fábrica de seu pai Friedrich Ludwig Wilhelm Varnhagen em Ipanema como pioneira na fundição de ferro no Brasil e mostra registros de 1815 que indicam a fábrica do Morro do Pilar como produtora de ferro sob comando do Intendente Geral das Minas na capitania de Minas Gerais, Manuel Ferreira da Câmara Bettencourt formado pela Universidade de Coimbra[2] e o suporte técnico alemão Schonewolf[3] que trabalhara com Eschwege em sua fábrica em Congonhas do Campo. Calógeras aponta o aperfeiçoamento feito por Eschwege no processo de cadinhos introduzido pelos escravos pela introdução de uma trompa hidráulica para injeção de ar no forno, bem como o uso de força hidráulica para movimentar os martelos usando na expulsão das escórias substituindo os martelos manuais usados anteriormente.[4]



[1] NOVAIS, Fernando. Portugal e Brasil na crise do antigo regime colonial (1777-1808), São Paulo:Hucitec, 1989, p.9, 224

[2] RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1979, p.414

[3] LANDGRAF, Fernando. Notas sobre a história da metalurgia no Brasil (1500-1950), In: VARGAS, Milton. História da técnica e da tecnologia no Brasil, São Paulo:UNESP, 1994, p. 120

[4] CARVALHO, José Murilo. A escola de Minas de Ouro Preto: o peso da glória, Rio de Janeiro: Finep, 1978, p.14



quinta-feira, 27 de maio de 2021

Sílvio Romero, Tobias Barreto e o positivismo

 

O jurista sergipano Tobias Barreto, por sua vez, assume uma crítica moderada do positivismo aderindo ao monismo germânico de Hegel e Heackel, que serviu de base para o seu culturalismo, característica da Escola do Recife. Com a década de 1870 “um bando de ideias novas esvoaçam sobre nós” nas palavras de Sílvio Romero (figura) entre as quais o positivismo, influenciavam atividade a intelectualidade brasileira. [1] Imbuídos deste papel perante a sociedade o direito sob influência de teses como o positivismo e sua perspectiva evolutiva da sociedade tinha como meta ajudar a descobrir as leis que presidem a evolução da humanidade e da civilização.[2] Segundo Sílvio Romero: “desde os fins do século XVIII o pensamento português deixou de ser o nosso mestre. Fomos nos habituando a interessar-nos pelo que ia pelo mundo”.[3] O crítico Sílvio Romero se afastaria das ideias de Comte para se aproximar da filosofia evolucionista de Herbert Spencer. Em Doutrina contra doutrina, o evolucionismo e o positivismo no Brasil de 1894, Sílvio Romero estuda as ideias fundamentais do positivismo e sua versão brasileira mostrando seu caráter teocrático e sua contradição com o evolucionismo da ciência moderna: “o positivismo é uma coisa perigosa e deve ser combatido com seriedade”.[4] Segundo Alfredo Bosi: “positivismo e evolucionismo – Comte e Spencer – foram correntes de pensamento que, diversas entre si, como atesta o libelo de Sílvio Romero, Doutrina contra doutrina, operaram de modo convergente no combate pela modernização cultural da nação”. [5]



[1] SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930, São Paulo: Cia das Letras, 1993, p.194; BARROS, Roque Spencer Maciel de. A ilustração brasileira e a ideia de universidade, USP, 1959

[2] SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930, São Paulo: Cia das Letras, 1993, p.231

[3] COSTA, Cruz. Contribuição à história das ideias no Brasil, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1967, p. 49, 67

[4] MACEDO, Ubiratan Borges de. A ideia de liberdade no século XIX: o caso brasileiro, Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1998, p. 179

[5] CARVALHO, José Murilo. A construção nacional 1830-1889, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 259


Políticas de imigração

 

Hipólito da Costa em artigo no Correio Brasiliense de 1810 pleiteia a imigração de colonos europeus como forma de aumentar a população e o mercado interno.[1] Em 1811 publica longo artigo: Observações sobre o estado da agricultura e população do Brasil, em que defende a tese de com a imigração viriam novas técnicas que invariavelmente acabariam se difundindo por toda a agricultura: “O colono rústico do Brasil jamais alteraria a sua rotina de trabaho, que aprendeu de seus país, sem que veja o seu vizinho por seguir diferente método, obtém melhores colheitas e mais proveito”.[2] Hipólito da Costa em 1815 destaca que uma sociedade escravocrata era incompatível com o desenvolvimento econômico e social do país, não escondendo seus sentimentos racistas: “Fiados nesta fictícia e estranha população, descuidam-se os brasileiros de fomentar a população de pessoas infinitamente mais úteis do que jamais podem ser os negros da África”[3]. Mesmo a imigração para a lavoura do café em regiões pobres como o Vale do Paraíba era em muito prejudicada diante da dificuldade em atrair imigrantes europeus diante de tão precárias condições para garantir uma perspectiva de vida satisfatória. Ao longo do século XIX a política de imigração assumiu diferentes formatos: a política de núcleos coloniais tais como as instaladas em Nova Friburgo baseadas no trabalho familiar; a política de colônias de parceria tal como as do senador Vergueiro financiada pelos titulares e com o ônus para os imigrantes e finalmente a política que acabou se estabelecendo a política de subvenção sob a responsabilidade dos governos das províncias e governo imperial que subsidiavam a vinda dos imigrantes.[4]

Em 1818 uma colônia de imigrantes suíços se estabeleceu em Nova Friburgo (na figura), no entanto a experiência não foi bem sucedida[5]. Imigrantes alemães se estabeleceram em São Leopoldo em 1824 por iniciativa do presidente da província do Rio Grande do Sul e que deu origem a produção de artigos de couro. Em 1828 Nicolau de Campos Vergueiro levantou-se no Conselho da Presidência (órgão que antecedeu das Assembleias Legislativas provinciais) contra a imigração de colonos alemães pelo governo imperial.[6] O senador Nicolau de Campos Vergueiro preferia que os colonos viessem como pequenos proprietários e lançou em 1847 as colônias de parceria em sua fazenda Ibicaba em Limeira com subsídio do governo atraindo colonos suíços e alemães[7]. A experiência, contudo, foi mal sucedida.[8] Pelo sistema de parceria metade do lucro ficava com o colono e a outra metade com o fazendeiro. Muitos imigrantes trabalhavam em condições degradantes acusando os fazendeiros de não cumprirem com o contratado, e como resultado em 1857 houve uma revolta na fazenda Ibicaba sob a liderança do mestre escola suíço Thomas Davatz[9] que ao retornar a seu país escreveu um livro Memórias de um colono no Brasil denunciando as más condições: “Os colonos se acham sujeitos a uma nova espécie de escravidão mais vantajosa para os patrões do que a verdadeira, pois recebem os europeus por preços bem mais moderados do que os africanos”. Demonstrando o desprezo pela atividade manual, o deputado cearense e médico Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho[10] chegou a propor “com toda a seriedade” a domesticação de macacos para auxiliar no plantio e colheita do café. [11]



[1] PETRONE, Maria Thereza Schorer. O imigrante e a pequena propriedade, São Paulo: Brasiliense, Coleção Tudo é história, v.38, p. 18

[2] PETRONE, Maria Thereza Schorer. O imigrante e a pequena propriedade, São Paulo: Brasiliense, Coleção Tudo é história, v.38, p. 39

[3] PETRONE, Maria Thereza Schorer. O imigrante e a pequena propriedade, São Paulo: Brasiliense, Coleção Tudo é história, v.38, p. 38

[4] CARVALHO, José Murilo. A construção nacional 1830-1889, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 200

[5] PETRONE, Maria Thereza Schorer. O imigrante e a pequena propriedade, São Paulo: Brasiliense, Coleção Tudo é história, v.38, p. 25

[6] PETRONE, Maria Thereza Schorer. O imigrante e a pequena propriedade, São Paulo: Brasiliense, Coleção Tudo é história, v.38, p. 22

[7] SZMRECSANYI, Tamás. Pequen história da agricultura no Brasil, São Paulo: Contexto, 1998, p.44

[8] AQUINO, Fernando, Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.536

[9] MARTINS, Ana Luiza. Império do café, São Paulo: Atual, 1990, p. 66

[10] Jornal Cearese, 12 de julho de 1883 http://memoria.bn.br/pdf/709506/per709506_1883_00145.pdf

[11] AQUINO, Fernando, Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.536; HOLANDA, Sérgio Buarque de. O livro dos prefácios. São Paulo: Cia das Letras. 1972



O surto industrial do final do século XIX

 

João Antonio de Paula aponta que entre 1840 e 1870 o Brasil experimentou um surto industrial que não chega a se configurar como um efetivo processo de industrialização. Tal surto industrial foi sustentado por iniciativas tais como a aprovação do Código Comercial pela Lei nº 556 de 1850, a política de imigração subvencionada pelo Estado e as políticas de apoio à expansão das ferrovias.[1] Entre os industriais pioneiros[2] destacam-se o gaúcho Irineu Evangelista de Souza (1813-1889) depois visconde de Mauá e o mineiro Mariano Procópio Ferreira Lage (1820-1872) engenheiro construtor da primeira estrada pavimentada do país ligando Juiz de Fora a Petrópolis e fundador da Companhia União Indústria. O também mineiro Bernardo Mascarenhas (1846-1899) responsável, entre outros, pela fundação da Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas e, juntamente com Francisco Batista de Oliveira, da Companhia Mineira de Eletricidade e da Usina Hidrelétrica de Marmelos. O paranaense Ildefonso Pereira Correia futuro barão do Serro Azul (1849-1894) foi responsável, entre outros, pela fundação da Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas e, juntamente com Francisco Batista de Oliveira, da Companhia Mineira de Eletricidade e da Usina Hidrelétrica de Marmelos tendo sido executado durante a Revolução Federalista. Entre os industriais nacionais o mascate cearense Delmiro Gouveia[3] (1863-1917) que trabalhava com produtos de couro, por comissão, para o imigrante sueco Herman Lundgren (Casas Pernambucanas) e para outras empresas especializadas nesse comércio, inaugurou em 1893 no Recife o Derby, um moderno centro comercial e de lazer, que pode ser considerado o primeiro shopping center do Brasil.[4] Construiu uma fábrica de linhas de costura a Companhia Agro Fabril Mercantil, usando como matéria prima o algodão Seridó nativo do sertão nordestino e mais resistente. A fábrica tornou-se importante concorrente das linhas Corrente importadas da Inglaterra. Com a primeira guerra mundial reduziram as importações do produto inglês favorecendo o crescimento das linhas Estrela de Delmiro que chegou a exportar o produto para o Chile e Argentina onde teve de mudar de marca para Barrilejo pois a Machine Cotton havia registrado a mesma marca nesses países para prejudicar a exportação do produto brasileiro[5]. Para energia da fábrica Delmiro instalou uma usina hidrelétrica nas cachoeiras de Paulo Afonso. Delmiro foi assassinado em 1917 em condições não esclarecidas e sua fábrica foi adquirida pelo grupo escocês Machine Cotton que comprou a empresa de seus sucessores, para destruí-la, jogando seus equipamentos nas águas de um rio, livrando-se da assim da sua concorrência no ramo segundo depoimento do deputado de Alagoas Afonso de Carvalho ao Congresso Nacional de fevereiro de 1955 (Diário do Congresso Nacional)[6].  O mercado brasileiro de linhas de costura era monopolizado, pelo grupo britânico Machine Cotton, liderado pela J.P.Coats & Co. e tendo como subsidiárias a Clark & Co. e a Ross & Duncan. Warren Dean mostra que estas primeiras indústrias estabelecidas na República Velha favorecidas com tarifas protetoras davam pouca atenção à qualidade dos produtos.[7]



[1] CARVALHO, José Murilo. A construção nacional 1830-1889, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 221

[2] CARVALHO, José Murilo. A construção nacional 1830-1889, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 219

[3] QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. O coronelismo numa interpretação sociológica. In: FAUSTO, Boris. O Brasil Republicano, tomo III, v. I Estrutura de poder e economia (1889-1930), São Paulo:Difel, 1977, p.174; 100 anos de República, v. II , 1904-1918, São Paulo: Abril Cultural, p. 54

[4] MAGALHÃES, Fernando Martins. Delmiro Gouveia: pioneiro e nacionalista, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1963

[5] MAGALHÃES, Fernando Martins. Delmiro Gouveia: pioneiro e nacionalista, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1963, p.205

[6] http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD10FEV1955.pdf

[7] DEAN, Warren. A industrialização durante a República Velha. In: FAUSTO, Boris. O Brasil Republicano, tomo III, v. I Estrutura de poder e economia (1889-1930), São Paulo:Difel, 1977, p.33; GRAHAM, Richard. Grã Bretanha e o início da modernização no Brasil 1850-1914, Rio De Janeiro: Brasiliense, 1973, p. 336 https://youtu.be/oWsQduHnm88



quarta-feira, 26 de maio de 2021

João Manso Pereira

 

Carlos Figueiras observa que paradoxalmente no reinado de Maria I foram expedidas cartas régias ao vice rei do Brasil Conde de Resende (1790-1801) ordenando-lhe prestar toda a assistência a João Manso Pereira (1750-1820) em seus empreendimentos na área química no tratamento de vinhos, açúcar e aguardentes.[1]  Fernando de Azevedo contudo observa que mesmo com esta recomendação o Laboratório Químico Prático do frei José Mariano da Conceição Velloso não se utilizou dos conhecimentos  de João Manso Pereira ou mesmo o encarregou do estudo do problema em questão[2]. Joaquim Manuel de Macedo a ele se refere como “águia a que faltou espaço, foi gênio, a que faltavam recursos e condições favoráveis para revelar-se à altura de suas faculdades”.[3] João Manso criticava a má qualidade da aguardente produzida na Colônia e chegou a propor um novo tipo de alambique que, contudo, não encontrou receptividade entre os senhores de engenho da capitania de São Paulo onde reside. Para João Manso: “todos os alambiques do Brasil, seja qual for o diâmetro e altura da cucúrbia, hão de melhorar muito por meio do tubo destilatório e mecanismo de introdução da água fria pela parte inferior e saída pela superior. Reformados os alambiques, teremos maior cópia d’agua ardente, porém nem por isso mais perfeita”. Em sua obra João Manso se refere aos trabalhos dos especialistas europeus como os franceses Jean Antoine Chaptal, Antoine Baumé, Jean Baptiste Rozier, o italiano Domenico Vandelli e o português Bento Sanches Dorta.[4] Em ofício de 21 de maio de 1802 o governador de São Paulo ao criticar os investimentos da Corte na fábrica em Ipanema acrescenta que Manso não era químico senão alchimista.[5] Os inventos foram apresentados a Real Junta de Comércio que encaminhou a Manso Pereira uma carta assinadas pelos ministros Teotônio Gomes de Carvalho e Francisco Soares de Araújo e Silva “querendo que que o vosso gênio e muito louváveis aplicações  prosperem [...] expeço ordem  que será esta, para se fornecer a despesa que for necessária para se prepararem destes gêneros quantidade suficiente com que se possam fazer experiências dos seus préstimos nos usos a que se devem servir [..] Ao vice rei do Brasil recomendo que vos proteja e auxilie nas vossas empresas para que não encontreis obstáculos e vos possais fazer benemérito de minha real contemplação”.[6] O mineiro Vicente Coelho de Seabra Silva Telles formado em Coimbra publicou em 1788 Elementos de Chimica divulgando a recente teoria de Lavoisier, abandonando a teoria do flogisto, além de ter procedido a adaptação da nomenclatura proposta por Lavoisier para o português.[7]



[1] FILGUEIRAS, Carlos. João Manso Pereira, químico empírico do Brasil Colonial, Química Nova, v.16, n.2, 1993, p. 155-160; MAXWELL, Kenneth. A devassa da devassa, Rio de Janeiro:Paz e Terra, ,1985, p. 237

[2] AZEVEDO, Fernando. As ciências no Brasil, Rio de Janeiro:UFRJ, 1994, p.24

[3] RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1979, p.407

[4] MENESES, José Newton. Os alambiques, a técnica da produção da cachaça e seu comércio na América portuguesa. In: BORGES, Maria Eliza. Inovações, coleções, museus. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011, p.133

[5] VARNHAGEN, Francisco. História geral do Brazil, v.2, Rio de Janeiro : Laemmert, 1877, p. 1157; VARNHAGEN, Francisco Adolfo. História geral do Brasil, São Paulo:Melhoramentos, 1948, v. V, p. 190

[6] BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.357

[7] AZEVEDO, Fernando. As ciências no Brasil, Rio de Janeiro:UFRJ, 1994, p.15; MOTOYAMA, Shozo. Prelúdio para uma história: ciência e tecnologia no Brasil, São Paulo:Edusp2004, p. 114; TELLES, Pedro Carlos da Silva. História da Engenharia no Brasil: séculos XVI a XIX, Rio de Janeiro:Clube de Engenharia, 1994, p.19; FILGUEIRAS, Carlos. Origens da química no Brasil, Campinas:Ed. Unicamp., 2015, p.108,130, 139



Diversidade da economia mineira do século XVIII

 

A urbanização que se verifica no século XVII em torno de cidades como Sabará, Vila Rica (Ouro Preto), São João del Rei entre outras cidades contribuiu para organização de um mercado interno em torno de produtos como gado, couro e carne salgada. Antonil testemunha o aumento do comércio de produtos de luxo para a elite mineira: ”tanto que se viu a abundância do ouro que se tiirava e a largueza com que se pagava tudo o que lá ia, logo se fizeram estalagens e logo começaram os mercadores a mandar às minas o melhor que chega aos navios do Reino e de outras partes, assim de mantimentos, como de regalo e de pomposo para se vestirem, além de mil bugiarias de França, que lá também foram dar”.[1] O movimento de urbanização, contudo, é incipiente para alavancar o desenvolvimento tecnológico no país: “a revolução tecnológica e científica, que em outras regiões do mundo aparece associada ao processo de urbanização e industrialização, é frustrada pela posição dependente que o país ocupa no mercado mundial, pela importação de tecnologia necessária, pela existência de abundante mão de obra barata e pela debilidade do mercado interno”.[2] Russell Wood destaca o papel do mercado interno ilícito de produtos como gêneros alimentícios, escravos e mercadorias para as áreas mineradoras como uma prática significativa, com registrados facilmente burlados assim como mercados não registrados de mascates.[3] João Antonio de Paula mostra que mesmo com a crise da mineração do ouro de Minas gerais na segunda metade do século XVIII a província não perdeu seu dinamismo econômico, mantendo-se como a mais populosa do Império diante da expansão de atividades como a produção de açúcar, aguardente e rapadura bem como a exploração de minas substerrâneas por empresas estrangeiras e incorporação de novas tecnologias à indústria de mineração, bem como manufaturas de ferro e extensa indústria têxtil doméstica, uma diversividade econômico que é mostrado no trabalho de Roberto Borges Martins (figura) em A economia escravista de Minas Gerais no século XIX[4].

[1] ALBUQUERQUE, Manoel Maurício. Pequena história da formação social brasileira, Rio de Janeiro: Graal, 1981, p. 23

[2] COSTA, Emília Viotti. Da monarquia à República: momentos decisivos, São Paulo:Brasiliense, 1987, p.225

[3] RUSSELL WOOD, A. Histórias do Atlântico português, São Paulo: UNESP, 2021, p. 324

[4] CARVALHO, José Murilo. A construção nacional 1830-1889, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 190



A exposição internacional de 1889

 

Vitor Hugo destaca a Exposição de 1867 em Paris como a “grande convenção pacífica”.[1] Em maio de 1889 realizada em Paris, a exposição internacional marcaria a inauguração da Torre Eiffel [2]. O visconde de Vogué apresenta a Torre Eiffel como simbolismo de seu tempo: “a força do ferro impelida pela razão” uma ode à modernidade e as virtudes do progresso.[3] Roland Barthes por sua vez destaca a “inutilidade libertadora” da Torre Eiffel. A exposição em comemoração ao centenário da Revolução Francesa teve o Brasil como a única monarquia participante do evento, tendo em vista que o boicote das monarquias europeias. O pavilhão brasileiro foi construído próximo a Torre Eiffel.[4] Margarida de Souza Neves considera as exposições como verdadeiras “vitrines do progresso”.[5] Regina Dantas[6] destaca que na exposição brasileira em 1889 a participação do diretor do Museu Nacional Ladislau Neto e o enfoque para fortalecer as riquezas naturais e antropológicas do país junto às civilizações europeias. O pavilhão brasileiro tinha três andares de ferro e vidro numa excelente localização no campo de Marte próximo à Torre Eiffel.[7] A Exposição torna-se ocasião para divulgar as pesquisas feitas no Museu Nacional. Algumas das máquinas e produtos apresentados nas Exposições Nacionais foram incorporados ao acervo do Museu Nacional[8]. Alda Heizer por sua vez ao analisar os catálogos de instrumentos científicos, relatórios, memórias, revistas científicas, entre outras fontes, da exposição de 1889 argumenta que o Império do Brasil pretendia desfazer a imagem de flor exótica nos trópicos.[9] Para Marina Machado e Mônica Martins as exposições universais do século XIX foram marcados como espetáculos antropológicos ao exibir a fase exótica do mundo não europeu e como meio para projetar os valores fundamentais para ratificação da dominação imperialista no mundo.[10] Na exposição de 1889 a presença do imperador no evento foi registrada inclusive no Guide Bleu du Figaro et du Petit Journal, um guia da exposição que pertenceu ao Imperador.[11] A exposição comemorava o centenário da Revolução francesa que derrubou a monarquia francesa, situação que causou constrangimento entre os estrangeiros uma vez que o Brasil era uma das últimas monarquias presentes. [12]



[1] CROUZET, Maurice. História Geral das Cicilizações – o século XIX, Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 1996, p. 231

[2] SCHWARCZ, Lilia. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Cia das Letras, 1998, p. 391-397.

[3]PESAVENTO, Sandra Jatahy. Exposições universais: espetáculos da modernidade do século XIX, São Paulo: Hucitec, 1997, p.180

[4] LAGO, Pedro Correa. Brasiliana IHGB 175 anos, Rio de Janeiro:Capivara, 2014, p. 525

[5] NEVES, Margarida de Souza. As vitrines do progresso: O Brasil nas exposições internacionais, Rio de Janeiro, PUC-RJ, 1986

[6] DANTAS, Regina. Um museu a serviço das ciências e do império: a participação do Museu Nacional na Exposição Universal de Paris em 1889. Livro de Anais do Programa de pós graduação em História das Ciências e das técnicas e Epistemologia HCTE, Scientiarum Historia II, Encontro luso-brasileiro de História das Ciências, 2009, p.433-439

[7] CARVALHO, José Murilo. A construção nacional 1830-1889, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 157

[8] BORGES, Maria Eliza Linhares. Inovações, coleções, museus. Belo Horizonte: Autêntica, 2011, p. 11

[9] HEIZER, Alda. Observar o céu e medir a terra. Instrumentos científicos e a participação do Império do Brasil Na Exposição de Paris de 1889. 2004. Tese (Doutorado). Programa de Pós-graduação em Ensino e História das Ciências da Terra. Unicamp, 2004

[10] MACHADO, Marina Monteiro; MARTINS, Monica de Souza Nunes. A modernidade nas teias da floresta: o Brasil na exposição Universal da Filadélfia de 1876. Geosul, Florianópolis, v. 32, n. 65, p. 70, nov. 2017

[11] DANTAS, Regina Maria Macedo Costa. A casa do imperador: do Paço de São Cristóvão ao Museu Nacional. Tese de mestrado em Memória Social do programa de pós graduação em Memória Social UFRJ, Rio de Janeiro, 2007, http://www.museusdorio.com.br/joomla/index.php?option=com_k2&view=item&task=download&id=11

[12] LESSA, Ricardo. Brasil e Estados Unidos: o que fez a diferença, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 2008, p.132



A influência cultural francesa

 

O progresso técnico viria acompanhado da urbanização crescente que se observava no país. Roberto Simonsen destaca os efeitos sobre o crescimento industrial do país: “muito mais do que qualquer proteção tarifaria, exercem acentuada influência sobre o nosso crescimento industrial a crescente desvalorização de nossas taxas cambiais e o rápido aumento de uma população que se vai cada vez mais educando”.[1] No século XIX urbanização é acompanhada de uma influência de hábitos de consumo do exterior em especial França e Inglaterra. A tarifa Alves Branco de 1844 aboliu o privilégio desfrutado pelos produtos ingleses abrindo o mercado para produtos de outros países sobretudo os franceses[2]. Na rua do Ouvidor várias lojas especializam-se na importação de chapéus como as Casas Madame Douvizi, calçados, perfumes, cremes de beleza, mobiliário[3] e outros artigos importados, como alta costura nas casas madame Estoueigt ou de colete na casa Madame Dupeyrat bem como em confeitarias e casas de chá ao estilo inglês[4], tais como a confeitaria Cailteau ou a Cavé.[5] Na arquitetura diversos prédios no Rio de Janeiro seguem o estilo francês, como o Passeio Público projeto 1779 a 1783 de mestre Valentim; a casa França Brasil projeto de Auguste Montigny de 1823; em 1908 a Escola Nacional de Belas Artes projetada por Morales de Los Rios tem como base a Ala Visconti do Museu do Louvre, o Teatro Municipal inaugurado no ano seguinte foi criado por René Barba inspirado na Ópera de Paris, a Biblioteca Nacional de 1910 projetada por Francisco Marcelino de Souza Aguiar tem inspiração na Ècole Militaire de Paris[6]. No século XIX a influência francesa se fazia sentir na literatura com textos de Mirabeu, nos jornais A gazeta francesa ou no Jornal das Famílias publicado pela editora Garnier que tratava de costumes, poesia do romantismo francês. Apesar do clima tropical Pedro II se vestia com roupas de lã.[7] Em 1900 Joaquim Nabuco em Minha Formação declara que “Paris foi e é a paixão cosmopolita dominante em todos nós”. Em 1911 a emancipação da mulher se manifesta nos grandes centros urbanos como na mulher anônima que provoca a curiosidade e os apupos do público na avenida Central por vestir uma jupe culotte, precursora da calça comprida feminina. A dama teve se refugiar na Camisaria Americana para não ser linchada pela multidão[8]



[1] SIMONSEN, Roberto. Evolução industrial do Brasil e outros estudos. Brasiliana, n.349, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1973, p.22

[2] CALDEIRA, Jorge. História do Brasil, São Paulo:Cia das Letras, 1997, p.201

[3] RENAULT, Delso. Indústria, escravidão, sociedade, Rio de Janeiro:Ed. Civ. Brasileira, 1976, p.61

[4] RENAULT, Delso. Indústria, escravidão, sociedade, Rio de Janeiro:Ed. Civ. Brasileira, 1976, p.35, 165

[5] NEVES, Margarida de Souza; HEIZER, Alda. A ordem é o progresso, São Paulo:Atual, 1991, p.19

[6] SEARA, Berenice. Guia de roteiros do Rio Antigo, Rio de Janeiro:InfoGlobo, 2004, p. 21, 41, 166

[7] PRIORE, Mary del. O castelo de papel, Rio de Janeiro: Rocco, 2013, p.48

[8] 100 anos de República, v. II , 1904-1918, São Paulo: Abril Cultural, p. 30; Folha de São Paulo, Coleção Folha fotos antigas do Brasil, v. 13 Protestos e passeatas, São Paulo: Folha de São Paulo, 2012, p. 19



terça-feira, 25 de maio de 2021

Telégrafo no Brasil

 

O telégrafo havia sido introduzido no Rio de Janeiro em 1852O cabo submarino mesmo sem novidade foi patenteado indevidamente e teve sua concessão rescindida pelo Visconde de Rio Branco outorgando o monopólio a Mauá em 1872 permitindo a instalação de um cabo submarino do Rio Grande do Sul até Portugal passando pelas ilhas Cabo verde e Madeira. Mauá transferiu a concessão para a companhia inglesa Telegraph Construction and Maintenance Co  que incorporou a concessão dada a Charles Bright obtida pelo decreto n° 4491, de 23 de março de 1870.[1] Em 23 de dezembro de 1873 foi concluída a ligação entre Belém, Recife e Salvador ao Rio de Janeiro, na presença de Pedro II que, da praia, assistiu à chegada do cabo e a finalização da ligação em uma construção em Copacabana. Em 22 de junho de 1874, a ligação com a Europa foi completada (de Recife a Carcavelos em Portugal, via Cabo Verde e Ilha da Madeira), quando então Pedro II mandou passar cabogramas ao presidente da Brazilian Submarine Telegraph Company depois Western Telegraph Co. Ltd. e aos monarcas de Portugal, Inglaterra e Áustria. Em 1886 ficou pronta a linha de telégrafo de Belém aos Estados Unidos.[2]



[1] FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro, v.2, São Paulo:Ed. Globo, 2000, p.42; DANTAS, Marcos. A lógica do capital informação, Rio de Janeiro:Contraponto, 2002, p.132

[2] CARVALHO, José Murilo. A construção nacional 1830-1889, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 142



Ingleses no Brasil

 

Gilberto Freyre em sua obra “Ingleses no Brasil” registra através de anúncios em jornais da época o estabelecimento de diversas casas comerciais inglesas com a Lupton & Co de Leeds, a Robert Kirwan entre vários outros. A presença inglesa se manifestava em diversos donos de armazéns, ferreiros, sapateiros, alfaiates e lojistas do Rio de Janeiro e Recife[1] Para Gilberto Freyre: “é quase impossível ao brasileiro ouvir falar em máquina, em motor, em ferramenta, em estrada de ferro, em rebocador, em draga, em cabo submarino, em telégrafo, em artigos de aço e de ferro, em brinquedo mecânico, em cadeira de mola, em louça doméstica, em bicicleta, em patim, em aparelho sanitário, em navio de guerra, em vapor, em lancha, em fogão a gás ou a carvão, sem pensar nos ingleses. Os ingleses estão ligados como nenhum outro povo aos começos de modernização das condições materiais de vida do brasileiro”.[2] O investimento direto da Inglaterra no Brasil mais do que triplicou entre 1865 e 1885[3]. Richard Graham no seu livro Grã Bretanha e o início da modernização no Brasil narra uma estória em de um brasileiro do século XIX vestido impecavelmente no estilo inglês com terno de casimira e gravata em pleno dia quente. Quando interpelado por estar vestido daquela forma respondeu sem hesitar: “É que não se sabe se estará chovendo em Londres!”.[4] O jornalista francês Max LeClerc ao aportar ao Rio de Janeiro em 1889 narra os costumes da elite carioca: “Sob um clima abrasador, em uma cidade onde o termômetro atinge facilmente os 40 graus à sombra, os brasileiros se obstinam a viver e a se vestir como se fossem europeus. Eles trabalham nas horas mais quentes do dia, das 9 da manhã às quatro da tarde, como se fossem negociantes londrinos. Eles passeiam nas ruas usando jaquetões escuros, cartolas de copa alta e se submetem ao martírio com a mais perfeita resignação. O problema é que, apesar das aparências, eles não dispõem de meios para viver nos trópicos. A municipalidade do Rio de Janeiro não garante sequer o saneamento adequado da cidade, periodicamente assolada pela febre amarela”.[5] Perfumes de empresas como John Gornell, produtos de beleza da Rowland´s e sabonetes de William Rieger eram comercializados. Segundo Maria Graham esposa de oficial da marinha inglesa e amiga da imperatriz Leopoldina, em visita ao Rio de Janeiro: “Fui a terra fazer compras com Glennie. Há muitas casas inglesas, tais como seleiros e armazéns não muito diferentes do que chamamos na Inglaterra um armazém italiano de secos e molhados, mas, em geral, os ingleses aqui vendem suas mercadorias ao atacado a retalhistas nativos ou franceses”.[6] O inglês Alexander Caldcleugh comenta: “o comércio brasileiro pode ser considerado inteiramente nas mãos dos britânicos, como se existisse um exclusivo de monopólio a seu favor no tratado de 1810”. Segundo John Mawe: “o mercado ficou inteiramente abarrotado tão grande e inesperado foi o fluxo de mercadorias inglesas no Rio após a chegada do Príncipe Regente”.[7] Entre os absurdos incluem patins e produtos inadequados como roupas de lãs superfinas e outros produtos de luxo “a um povo tão incapaz de adotá-los como de convencer-se de sua utilidade”.[8]



[1] HOLANDA, Sérgio Buarque. História Geral da Civilização Brasileira, O Brasil monárquico: o processo da emancipação, tomo II, volume 1, São Paulo:Difel, 1962, p. 73; FREYRE, Gilberto. Ingleses no Brasil, São Paulo:TopBooks, 2000, p.77

[2]FREYRE, Gilberto. Ingleses no Brasil, São Paulo:TopBooks, 2000, p.101

[3] CARVALHO, José Murilo. A construção nacional 1830-1889, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 141

[4] QUEIROZ, Suely. A abolição da escravidão. Coleção Tudo é história, n.17, São Paulo:Brasiliense, 1986, p. 39; GRAHAM, Richard. Grã Bretanha e o início da modernização no Brasil 1850-1914, Rio De Janeiro: Brasiliense, 1973, p. 119

[5] GOMES, Laurentino, 1889, Rio de Janeiro: GloboLivros, 2013, p.75

[6] FIORE, Elizabeth. Presença britânica no Brasil (1808-1914). São Paulo:Pau Brasil, 1987, p. 30

[7] FIORE, Elizabeth. Presença britânica no Brasil (1808-1914). São Paulo:Pau Brasil, 1987, p. 31

[8] MAWE, John. Viagens ao interior do Brasil. São Paulo: USP, 1978, p. 217; SODRÉ, Nelson Werneck. As razões da independência, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira,1978, p.141



Tratado de Tordesilhas e as dificuldades no cálculo da longitude

 

O tratado de Tordesilhas de 1494 ao tratar da divisão do mundo conhecido em torno de um meridiano norte sul imaginário a 370 milhas à oeste de cabo Verde é razoável dentro de um modelo de terra esférica diante da disputa das ilhas Molucas. Diante das dificuldades em se calcular a longitude havia suspeitas de que coroa espanhola violara o Tratado ao ocupar as Filipinas e as ilhas Molucas.[1] Francisco Domingues mostra que na época os peritos a serviço do rei português acreditavam que as Molucas pertenciam de fato a Carlos V e por esta razão o rei portugues D. João III pagou fabulosa quantia pela soberania de um território que na realidade já lhe pertencia de fato[2]. A questão foi resolvida apenas com o Tratado de Saragoça, também referido como Capitulação de Saragoça de 1529 em que definiu-se a continuação do meridiano de Tordesilhas no hemisfério oposto na altura do Pacífico.[3] Aquino destaca que o Tratado de Tordesilhas pode ser visto como “um dos momentos mais significativos da revisão ptolomaica iniciada após as viagens atlânticas” na medida em que estende a concepção medieval que remonta à geografia de Ptolomeu e que se limita a faixa oeste às “ilhas Afortunadas” ou “insulas fortunatarum” em referência possivelmente às ilhas de Açores, Madeira, Canárias e de Cabo Verde.[4]

[1] AQUINO, Fernando, Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.230

[2] Francisco Contente Domingues - Colombo e a político do sigilo, (várias edições), 1990, https://www.academia.edu/1109787/Colombo_e_a_pol%C3%ADtica_de_sigilo_na_historiografia_portuguesa_1990_

[3] MIGLIACCI, Paulo. Os descobrimentos: origens da supremacia europeia, São Paulo:Scipione, 1994, p. 54

[4] AQUINO, Fernando, Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.87



A política de sigilo das navegações portuguesas

 

Francisco Contente Domingues (figura) em “Colombo e a política de sigilo na historiografia portuguesa” que a tese do sigilo foi reforçada dentro de uma lógica que procurava fundamentar a prioridade da presença portuguesa na África face aos seus concorrentes europeus e que é exposta no trabalho de Jaime Cortesão de 1924 “Do sigilo nacional sobre os descobrimentos” segundo a qual especialmente após d. João II a Coroa portuguesa teria sonegado sistematicamente qualquer informação suscetível de fornecer à concorrência estrangeira acesso ao meios privilegiados, tais como cartografia e conhecimentos náuticos, que os portugueses dispunham. Francisco Domingues mostra, contudo, que a tese se baseia em um argumento ahistórico pelo qual a ausência de documentos comprovaria a política de sigilo. Ademais não faria sentido ocultar o reconhecimento ou descoberta de novas terras sendo que o reconhecimento de prioridade era o primeiro critério para reivindicação da respectiva soberania sobre o território. Quanto as terras conquistadas na Índia as bulas de Nicolau V e Calixto III já reconheciam o monopólio material e espiritual dos portugueses. Luís Albuquerque mostra que tais conhecimentos não eram sigilosos como mostra o fato de que navegadores estrangeiros como Martin Behaim obtiveram em Portugal os conhecimentos necessários às suas navegações. Ademais os relatos de Gomes Eanes de Zurara em Crônica da Guiné descreve as conquistas portuguesas à medida em que ocorriam sem qualquer restrição de sigilo. O que existe é uma política conjuntural ao invés de sistemática, o cuidado de não se revelar, episodicamente algumas das técnicas como por exemplo o regimento do astrolábio e do quadrante que tinham forçosamente de ser mantidos pelos pilotos. [1]



[1] Francisco Contente Domingues - Colombo e a político do sigilo, (várias edições), 1990, https://www.academia.edu/1109787/Colombo_e_a_pol%C3%ADtica_de_sigilo_na_historiografia_portuguesa_1990_ Falando de História Podcast. #15 'Factos Escondidos da História de Portugal' de José Gomes Ferreira, uma análise [FdH Podcast] https://www.youtube.com/watch?v=yZ8XxHb17sE&t=992s



Adoção do sistema métrico no Brasil

 

A delegação brasileira formada na Exposição de Paris em 1855 por Giacomo Gabaglia, Guilherme Schuch de Capanema e o poeta Antônio Gonçalves Dias[1] participaram de reuniões promovidas pelo Barão de Rotschild da qual haviam tomado parte durante a Exposição para adoção do sistema métrico. A ideia de um padrão de metrologia uniforme surgiu na Exposição em Londres em 1851 e em Paris em 1855. No Brasil Cândido Batista de Oliveira já propusera em 1830 como deputado pelo Rio Grande do Sul a adoção do sistema métrico decimal[2]. O objetivo original da missão brasileira era adquirir instrumentos científicos para a Comissão Científica de Exploração no Ceará. Na volta a Comissão recomenda ao Imperador a adoção do sistema métrico francês até que em 26 de junho de 1862 foi aprovada a Lei n° 1157 substituindo todo o sistema de pesos e medidas até então em uso no Império pelo sistema métrico francês. [3] A reação às novas medidas vieram principalmente das províncias do Norte, Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte com protestos em feiras populares para destruir os padrões das novas medidas, revoltas que ficaram conhecidas por essa razão como quebra quilos.[4] As Exposições Internacionais do século XIX, portanto, foram catalizadoras dos movimentos de harmonização de pesos e medidas bem como dos sistemas de propriedade industrial.



[1] LAGO, Pedro Correa. Brasiliana IHGB 175 anos, Rio de Janeiro:Capivara, 2014, p. 315

[2] FILGUEIRAS, Carlos. Origens da química no Brasil, Campinas:Ed. Unicamp., 2015, p.276

[3] DIAS, José Luciano de Mattos. Medida e normalização e qualidade, Rio de Janeiro:INMETRO, p.1998,p.52

[4] CARVALHO, José Murilo. A construção nacional 1830-1889, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 117



segunda-feira, 24 de maio de 2021

A igreja e os seus escravos

 

Sacerdotes de ordens religiosas, inclusive a Companhia de Jesus, tinham escravos, por exemplo Frei Manuel Calado (do Salvador)  (1584 –1654) da Ordem de São Paulo da Congregação dos Eremitas tinha 25 escravos à época da das Invasões holandesas do Brasil, em Pernambuco.[1] Um documento de 1775 mostra que os frades carmelitas descalços de Nossa Senhora do Carmo da Bahia tinham 34 escravos e 7 escravas. As 81 clarissas no Mosteiro do Desterro na cidade de Salvador tinham 290 escravos e 8 escravas.[2] José do Patrocínio era filho de um padre com uma de suas escravas.[3] Entre as propriedades da Companhia de Jesus destacava-se a Fazenda Santa Cruz que chegou a ter 1200 escravos que gozavam de significativa autonomia, com permissão de cultivar suas roças, comercializar seus produtos, dispondo de periódicas folgas no trabalho regular para cuidar de seus interesses. Segundo Couto Reis (1804) o sistema jesuítico era “criador, piedoso, econômico, preocupado com a sobrevivência dos escravos chefes de família que deveriam viver contentes, vestir-se e manter suas mulheres, ficando a subsistência dos filhos por conta da fazenda”.[4]

[1] MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 248

[2] MATOS, Henrique. Caminhando pela história da Igreja, Belo Horizonte: O lutador, 1995, p. 132

[3] CARVALHO, José Murilo. A construção nacional 1830-1889, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 26

[4] NETO, Miranda. Fazenda Santa Cruiz: potência jesuítica 1589-1759. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, a. 24, n. 24, p.45, 2017


Escravidão e unidade territorial

 

Jaime Cortesão considera injustas as acusações de perdulário ao rei português D. João V uma vez que tais críticos desconsideram que a Coroa portuguesa gastou grandes somas de dinheiro com a expansão e definição geográfica do território brasileiro e a defesa de sua integridade, por exemplo quando lutou para manter a colônia de Sacramento que mais tarde veio a se revelar fundamental nas negociações do Tratado de Madri e nos contornos do Brasil meridional.[1] Segundo a bula Romani Pontificis de 1676 o limite sul do bispado do Rio de Janeiro se estendia ao Rio da Prata.[2] No Brasil independente, alguns historiadores tem apontado a preservação da unidade territorial como resultado do prolongado período de escravidão, uma vez que a unidade nacional somente seria alcançada preservando-se a ordem e as instituições entre as quais a escravidão. As elites manteriam desta forma um pacto implícito de se evitar movimentos separatistas que pudessem levantar a bandeira do fim da escravidão. No entanto, José Murilo de Carvalho (na figura) observa que movimentos de revolta popular e de escravos como a Cabanagem no Pará e a Balaiada no Maranhão não tinham como objetivo o final da escravidão. Mesmo na independência a unidade nacional em nenhum momento esteve vinculada diretamente à escravidão, ou seja, o que explicava o prolongamento da escravidão não se resumia a manutenção da unidade territorial do país.[3]



[1] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.I, São Paulo: Funag, 2006, p.47, 64

[2] RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1979, p.363

[3] CARVALHO, José Murilo. A construção nacional 1830-1889, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 26


Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...