Hipólito
da Costa em artigo no Correio Brasiliense de 1810 pleiteia a imigração
de colonos europeus como forma de aumentar a população e o mercado interno.[1] Em 1811 publica longo artigo: Observações sobre o estado da agricultura e
população do Brasil, em que defende a tese de com a imigração viriam novas
técnicas que invariavelmente acabariam se difundindo por toda a agricultura: “O
colono rústico do Brasil jamais alteraria a sua rotina de trabaho, que aprendeu
de seus país, sem que veja o seu vizinho por seguir diferente método, obtém
melhores colheitas e mais proveito”.[2] Hipólito da Costa em 1815 destaca que uma sociedade escravocrata era
incompatível com o desenvolvimento econômico e social do país, não escondendo
seus sentimentos racistas: “Fiados nesta fictícia e estranha população,
descuidam-se os brasileiros de fomentar a população de pessoas infinitamente
mais úteis do que jamais podem ser os negros da África”[3].
Mesmo a imigração para a lavoura do café em regiões pobres como o Vale do
Paraíba era em muito prejudicada diante da dificuldade em atrair imigrantes europeus
diante de tão precárias condições para garantir uma perspectiva de vida
satisfatória. Ao longo do século XIX a política de imigração assumiu diferentes
formatos: a política de núcleos coloniais tais como as instaladas em Nova
Friburgo baseadas no trabalho familiar; a política de colônias de parceria tal
como as do senador Vergueiro financiada pelos titulares e com o ônus para os
imigrantes e finalmente a política que acabou se estabelecendo a política de
subvenção sob a responsabilidade dos governos das províncias e governo imperial
que subsidiavam a vinda dos imigrantes.[4]
Em 1818 uma colônia de imigrantes suíços se estabeleceu em Nova Friburgo (na figura), no entanto a experiência não foi bem sucedida[5]. Imigrantes alemães se estabeleceram em São Leopoldo em 1824 por iniciativa do presidente da província do Rio Grande do Sul e que deu origem a produção de artigos de couro. Em 1828 Nicolau de Campos Vergueiro levantou-se no Conselho da Presidência (órgão que antecedeu das Assembleias Legislativas provinciais) contra a imigração de colonos alemães pelo governo imperial.[6] O senador Nicolau de Campos Vergueiro preferia que os colonos viessem como pequenos proprietários e lançou em 1847 as colônias de parceria em sua fazenda Ibicaba em Limeira com subsídio do governo atraindo colonos suíços e alemães[7]. A experiência, contudo, foi mal sucedida.[8] Pelo sistema de parceria metade do lucro ficava com o colono e a outra metade com o fazendeiro. Muitos imigrantes trabalhavam em condições degradantes acusando os fazendeiros de não cumprirem com o contratado, e como resultado em 1857 houve uma revolta na fazenda Ibicaba sob a liderança do mestre escola suíço Thomas Davatz[9] que ao retornar a seu país escreveu um livro Memórias de um colono no Brasil denunciando as más condições: “Os colonos se acham sujeitos a uma nova espécie de escravidão mais vantajosa para os patrões do que a verdadeira, pois recebem os europeus por preços bem mais moderados do que os africanos”. Demonstrando o desprezo pela atividade manual, o deputado cearense e médico Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho[10] chegou a propor “com toda a seriedade” a domesticação de macacos para auxiliar no plantio e colheita do café. [11]
[1] PETRONE, Maria Thereza
Schorer. O imigrante e a pequena propriedade, São Paulo: Brasiliense, Coleção
Tudo é história, v.38, p. 18
[2] PETRONE, Maria Thereza
Schorer. O imigrante e a pequena propriedade, São Paulo: Brasiliense, Coleção
Tudo é história, v.38, p. 39
[3] PETRONE, Maria Thereza
Schorer. O imigrante e a pequena propriedade, São Paulo: Brasiliense, Coleção
Tudo é história, v.38, p. 38
[4] CARVALHO, José Murilo. A construção nacional 1830-1889, Rio de Janeiro:
Objetiva, 2012, p. 200
[5] PETRONE, Maria Thereza
Schorer. O imigrante e a pequena propriedade, São Paulo: Brasiliense, Coleção
Tudo é história, v.38, p. 25
[6] PETRONE, Maria Thereza
Schorer. O imigrante e a pequena propriedade, São Paulo: Brasiliense, Coleção
Tudo é história, v.38, p. 22
[7] SZMRECSANYI, Tamás.
Pequen história da agricultura no Brasil, São Paulo: Contexto, 1998, p.44
[8] AQUINO, Fernando,
Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000,
p.536
[9] MARTINS, Ana Luiza.
Império do café, São Paulo: Atual, 1990, p. 66
[10] Jornal Cearese, 12 de
julho de 1883 http://memoria.bn.br/pdf/709506/per709506_1883_00145.pdf
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