João Antonio de Paula aponta que entre 1840 e 1870 o Brasil experimentou um surto industrial que não chega a se configurar como um efetivo processo de industrialização. Tal surto industrial foi sustentado por iniciativas tais como a aprovação do Código Comercial pela Lei nº 556 de 1850, a política de imigração subvencionada pelo Estado e as políticas de apoio à expansão das ferrovias.[1] Entre os industriais pioneiros[2] destacam-se o gaúcho Irineu Evangelista de Souza (1813-1889) depois visconde de Mauá e o mineiro Mariano Procópio Ferreira Lage (1820-1872) engenheiro construtor da primeira estrada pavimentada do país ligando Juiz de Fora a Petrópolis e fundador da Companhia União Indústria. O também mineiro Bernardo Mascarenhas (1846-1899) responsável, entre outros, pela fundação da Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas e, juntamente com Francisco Batista de Oliveira, da Companhia Mineira de Eletricidade e da Usina Hidrelétrica de Marmelos. O paranaense Ildefonso Pereira Correia futuro barão do Serro Azul (1849-1894) foi responsável, entre outros, pela fundação da Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas e, juntamente com Francisco Batista de Oliveira, da Companhia Mineira de Eletricidade e da Usina Hidrelétrica de Marmelos tendo sido executado durante a Revolução Federalista. Entre os industriais nacionais o mascate cearense Delmiro Gouveia[3] (1863-1917) que trabalhava com produtos de couro, por comissão, para o imigrante sueco Herman Lundgren (Casas Pernambucanas) e para outras empresas especializadas nesse comércio, inaugurou em 1893 no Recife o Derby, um moderno centro comercial e de lazer, que pode ser considerado o primeiro shopping center do Brasil.[4] Construiu uma fábrica de linhas de costura a Companhia Agro Fabril Mercantil, usando como matéria prima o algodão Seridó nativo do sertão nordestino e mais resistente. A fábrica tornou-se importante concorrente das linhas Corrente importadas da Inglaterra. Com a primeira guerra mundial reduziram as importações do produto inglês favorecendo o crescimento das linhas Estrela de Delmiro que chegou a exportar o produto para o Chile e Argentina onde teve de mudar de marca para Barrilejo pois a Machine Cotton havia registrado a mesma marca nesses países para prejudicar a exportação do produto brasileiro[5]. Para energia da fábrica Delmiro instalou uma usina hidrelétrica nas cachoeiras de Paulo Afonso. Delmiro foi assassinado em 1917 em condições não esclarecidas e sua fábrica foi adquirida pelo grupo escocês Machine Cotton que comprou a empresa de seus sucessores, para destruí-la, jogando seus equipamentos nas águas de um rio, livrando-se da assim da sua concorrência no ramo segundo depoimento do deputado de Alagoas Afonso de Carvalho ao Congresso Nacional de fevereiro de 1955 (Diário do Congresso Nacional)[6]. O mercado brasileiro de linhas de costura era monopolizado, pelo grupo britânico Machine Cotton, liderado pela J.P.Coats & Co. e tendo como subsidiárias a Clark & Co. e a Ross & Duncan. Warren Dean mostra que estas primeiras indústrias estabelecidas na República Velha favorecidas com tarifas protetoras davam pouca atenção à qualidade dos produtos.[7]
[1] CARVALHO, José Murilo. A construção nacional 1830-1889, Rio de Janeiro:
Objetiva, 2012, p. 221
[2] CARVALHO, José Murilo. A construção nacional 1830-1889, Rio de Janeiro:
Objetiva, 2012, p. 219
[3] QUEIROZ, Maria Isaura
Pereira de. O coronelismo numa interpretação sociológica. In: FAUSTO, Boris. O
Brasil Republicano, tomo III, v. I Estrutura de poder e economia (1889-1930),
São Paulo:Difel, 1977, p.174; 100 anos de República, v. II , 1904-1918, São Paulo:
Abril Cultural, p. 54
[4] MAGALHÃES, Fernando
Martins. Delmiro Gouveia: pioneiro e nacionalista, Rio de Janeiro:Civilização
Brasileira, 1963
[5] MAGALHÃES, Fernando
Martins. Delmiro Gouveia: pioneiro e nacionalista, Rio de Janeiro:Civilização
Brasileira, 1963, p.205
[6] http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD10FEV1955.pdf
[7] DEAN, Warren. A
industrialização durante a República Velha. In: FAUSTO, Boris. O Brasil
Republicano, tomo III, v. I Estrutura de poder e economia (1889-1930), São
Paulo:Difel, 1977, p.33; GRAHAM, Richard. Grã Bretanha e o início da
modernização no Brasil 1850-1914, Rio De Janeiro: Brasiliense, 1973, p. 336
https://youtu.be/oWsQduHnm88
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