Carlos Figueiras observa que paradoxalmente no reinado de Maria I foram expedidas cartas régias ao vice rei do Brasil Conde de Resende (1790-1801) ordenando-lhe prestar toda a assistência a João Manso Pereira (1750-1820) em seus empreendimentos na área química no tratamento de vinhos, açúcar e aguardentes.[1] Fernando de Azevedo contudo observa que mesmo com esta recomendação o Laboratório Químico Prático do frei José Mariano da Conceição Velloso não se utilizou dos conhecimentos de João Manso Pereira ou mesmo o encarregou do estudo do problema em questão[2]. Joaquim Manuel de Macedo a ele se refere como “águia a que faltou espaço, foi gênio, a que faltavam recursos e condições favoráveis para revelar-se à altura de suas faculdades”.[3] João Manso criticava a má qualidade da aguardente produzida na Colônia e chegou a propor um novo tipo de alambique que, contudo, não encontrou receptividade entre os senhores de engenho da capitania de São Paulo onde reside. Para João Manso: “todos os alambiques do Brasil, seja qual for o diâmetro e altura da cucúrbia, hão de melhorar muito por meio do tubo destilatório e mecanismo de introdução da água fria pela parte inferior e saída pela superior. Reformados os alambiques, teremos maior cópia d’agua ardente, porém nem por isso mais perfeita”. Em sua obra João Manso se refere aos trabalhos dos especialistas europeus como os franceses Jean Antoine Chaptal, Antoine Baumé, Jean Baptiste Rozier, o italiano Domenico Vandelli e o português Bento Sanches Dorta.[4] Em ofício de 21 de maio de 1802 o governador de São Paulo ao criticar os investimentos da Corte na fábrica em Ipanema acrescenta que Manso não era químico senão alchimista.[5] Os inventos foram apresentados a Real Junta de Comércio que encaminhou a Manso Pereira uma carta assinadas pelos ministros Teotônio Gomes de Carvalho e Francisco Soares de Araújo e Silva “querendo que que o vosso gênio e muito louváveis aplicações prosperem [...] expeço ordem que será esta, para se fornecer a despesa que for necessária para se prepararem destes gêneros quantidade suficiente com que se possam fazer experiências dos seus préstimos nos usos a que se devem servir [..] Ao vice rei do Brasil recomendo que vos proteja e auxilie nas vossas empresas para que não encontreis obstáculos e vos possais fazer benemérito de minha real contemplação”.[6] O mineiro Vicente Coelho de Seabra Silva Telles formado em Coimbra publicou em 1788 Elementos de Chimica divulgando a recente teoria de Lavoisier, abandonando a teoria do flogisto, além de ter procedido a adaptação da nomenclatura proposta por Lavoisier para o português.[7]
[1] FILGUEIRAS, Carlos.
João Manso Pereira, químico empírico do Brasil Colonial, Química Nova, v.16,
n.2, 1993, p. 155-160; MAXWELL, Kenneth. A devassa da devassa, Rio de
Janeiro:Paz e Terra, ,1985, p. 237
[2] AZEVEDO, Fernando. As
ciências no Brasil, Rio de Janeiro:UFRJ, 1994, p.24
[3] RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil, São Paulo: Cia Editora
Nacional, 1979, p.407
[4] MENESES, José Newton.
Os alambiques, a técnica da produção da cachaça e seu comércio na América
portuguesa. In: BORGES, Maria Eliza. Inovações, coleções, museus. Belo
Horizonte: Autêntica Editora, 2011, p.133
[5] VARNHAGEN, Francisco.
História geral do Brazil, v.2, Rio de Janeiro : Laemmert, 1877, p. 1157;
VARNHAGEN, Francisco Adolfo. História geral do Brasil, São Paulo:Melhoramentos,
1948, v. V, p. 190
[6] BRITO, José Gabriel
Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v.
155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.357
[7] AZEVEDO, Fernando. As
ciências no Brasil, Rio de Janeiro:UFRJ, 1994, p.15; MOTOYAMA, Shozo. Prelúdio
para uma história: ciência e tecnologia no Brasil, São Paulo:Edusp2004, p. 114;
TELLES, Pedro Carlos da Silva. História da Engenharia no Brasil: séculos XVI a
XIX, Rio de Janeiro:Clube de Engenharia, 1994, p.19; FILGUEIRAS, Carlos.
Origens da química no Brasil, Campinas:Ed. Unicamp., 2015, p.108,130, 139
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