domingo, 30 de maio de 2021

A conquista da península ibérica pelo povos árabes

 

Mary Beard mostra como o poderio do império romano pode se estabelecer devido a flexibidade com que as novas áreas conquistadas eram integradas: “O que se pode afirmar com certeza é que os romanos praticamente não fizeram nenhuma tentativa, mesmo durante essa fase mais tranquila de controle imperial [Pax Romana], de impor suas normas culturais ou erradicar as tradições locais”[1], tendo como exceção os druidas na Britânica acusados de sacrifícios humanos e os cristãos. Em alguns casos as próprias áreas invadidas solicitavam a Roma a intervenção como é o caso da cidade de Teos que solicitou ao imperador romano que invadisse a cidade anexando-a ao Império de modo a dar maior tranquilidade a sua população contra o rei local[2]. Na Espanha, como exceção à regra geral, os romanos mantinham guarnições militares permanentes em Sagunto (Murviedro), Gades (Cádis) e Tarraco (Tarragona) de modo a garantir o controle do comércio estabelecido desde a época dos cartagineses e das minas de prata e ferro.[3] Ainda assim o império romano se integrou às tradições locais ibéricas, de modo que Roma, que havia tomado a região aos cartagineses africanos, foi sucedida pela ocupação árabe no século VIII tendo a Espanha resistido aos invasores, o que levou Oliveira Martins a concluir “a romanização transformou os espanhóis a ponto de já não reconhecerem nos novos invasores [árabes] os seus antigos companheiros de armas [cartagineses], nem os porventura seus irmãos de sangue: tal poder as ideias de uma civilização [romana] exercem  sobre a massa que informe das populações semi bárbaras, que chegam a obliterar nela as simpatias vinculadas a uma descendência comum!”.[4]

[1] BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma Antiga, São Paulo: Planeta, 2010, p. 481

[2] BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma Antiga, São Paulo: Planeta, 2010, p. 192

[3] MARTINS, Oliveira. História da civilização ibérica, Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p.62

[4] MARTINS, Oliveira. História da civilização ibérica, Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p.114



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...