Mary Beard mostra como o poderio do império romano
pode se estabelecer devido a flexibidade com que as novas áreas conquistadas
eram integradas: “O que se pode afirmar com certeza é que os romanos
praticamente não fizeram nenhuma tentativa, mesmo durante essa fase mais
tranquila de controle imperial [Pax Romana], de impor suas normas culturais ou
erradicar as tradições locais”[1], tendo
como exceção os druidas na Britânica acusados de sacrifícios humanos e os
cristãos. Em alguns casos as próprias áreas invadidas solicitavam a Roma a
intervenção como é o caso da cidade de Teos que solicitou ao imperador romano
que invadisse a cidade anexando-a ao Império de modo a dar maior tranquilidade
a sua população contra o rei local[2]. Na
Espanha, como exceção à regra geral, os romanos mantinham guarnições militares permanentes
em Sagunto (Murviedro), Gades (Cádis) e Tarraco (Tarragona) de modo a garantir
o controle do comércio estabelecido desde a época dos cartagineses e das minas
de prata e ferro.[3] Ainda assim o império romano se integrou às tradições locais ibéricas, de modo
que Roma, que havia tomado a região aos cartagineses africanos, foi sucedida
pela ocupação árabe no século VIII tendo a Espanha resistido aos invasores, o
que levou Oliveira Martins a concluir “a romanização transformou os espanhóis
a ponto de já não reconhecerem nos novos invasores [árabes] os seus antigos companheiros
de armas [cartagineses], nem os porventura seus irmãos de sangue: tal poder as
ideias de uma civilização [romana] exercem sobre a massa que informe das populações semi
bárbaras, que chegam a obliterar nela as simpatias vinculadas a uma
descendência comum!”.[4]
[1] BEARD, Mary. SPQR: uma
história da Roma Antiga, São Paulo: Planeta, 2010, p. 481
[2] BEARD, Mary. SPQR: uma
história da Roma Antiga, São Paulo: Planeta, 2010, p. 192
[3] MARTINS, Oliveira. História da civilização ibérica, Lisboa: Guimarães Editores,
1994, p.62
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