O progresso técnico viria acompanhado da urbanização crescente que se observava no país. Roberto Simonsen destaca os efeitos sobre o crescimento industrial do país: “muito mais do que qualquer proteção tarifaria, exercem acentuada influência sobre o nosso crescimento industrial a crescente desvalorização de nossas taxas cambiais e o rápido aumento de uma população que se vai cada vez mais educando”.[1] No século XIX urbanização é acompanhada de uma influência de hábitos de consumo do exterior em especial França e Inglaterra. A tarifa Alves Branco de 1844 aboliu o privilégio desfrutado pelos produtos ingleses abrindo o mercado para produtos de outros países sobretudo os franceses[2]. Na rua do Ouvidor várias lojas especializam-se na importação de chapéus como as Casas Madame Douvizi, calçados, perfumes, cremes de beleza, mobiliário[3] e outros artigos importados, como alta costura nas casas madame Estoueigt ou de colete na casa Madame Dupeyrat bem como em confeitarias e casas de chá ao estilo inglês[4], tais como a confeitaria Cailteau ou a Cavé.[5] Na arquitetura diversos prédios no Rio de Janeiro seguem o estilo francês, como o Passeio Público projeto 1779 a 1783 de mestre Valentim; a casa França Brasil projeto de Auguste Montigny de 1823; em 1908 a Escola Nacional de Belas Artes projetada por Morales de Los Rios tem como base a Ala Visconti do Museu do Louvre, o Teatro Municipal inaugurado no ano seguinte foi criado por René Barba inspirado na Ópera de Paris, a Biblioteca Nacional de 1910 projetada por Francisco Marcelino de Souza Aguiar tem inspiração na Ècole Militaire de Paris[6]. No século XIX a influência francesa se fazia sentir na literatura com textos de Mirabeu, nos jornais A gazeta francesa ou no Jornal das Famílias publicado pela editora Garnier que tratava de costumes, poesia do romantismo francês. Apesar do clima tropical Pedro II se vestia com roupas de lã.[7] Em 1900 Joaquim Nabuco em Minha Formação declara que “Paris foi e é a paixão cosmopolita dominante em todos nós”. Em 1911 a emancipação da mulher se manifesta nos grandes centros urbanos como na mulher anônima que provoca a curiosidade e os apupos do público na avenida Central por vestir uma jupe culotte, precursora da calça comprida feminina. A dama teve se refugiar na Camisaria Americana para não ser linchada pela multidão[8]
[1] SIMONSEN, Roberto.
Evolução industrial do Brasil e outros estudos. Brasiliana, n.349, São Paulo:
Cia Editora Nacional, 1973, p.22
[2] CALDEIRA, Jorge.
História do Brasil, São Paulo:Cia das Letras, 1997, p.201
[3] RENAULT, Delso. Indústria,
escravidão, sociedade, Rio de Janeiro:Ed. Civ. Brasileira, 1976, p.61
[4] RENAULT, Delso.
Indústria, escravidão, sociedade, Rio de Janeiro:Ed. Civ. Brasileira, 1976,
p.35, 165
[5] NEVES, Margarida de
Souza; HEIZER, Alda. A ordem é o progresso, São Paulo:Atual, 1991, p.19
[6] SEARA, Berenice. Guia
de roteiros do Rio Antigo, Rio de Janeiro:InfoGlobo, 2004, p. 21, 41, 166
[7] PRIORE, Mary del. O
castelo de papel, Rio de Janeiro: Rocco, 2013, p.48
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