sábado, 29 de maio de 2021

Escravidão e trabalho no Brasil colonial

 

Em 1686 um parecer foi favorável aos negros poderem frequentar  as escolas de jesuítas, porém dois anos após, o visitador geral da Companhia de Jesus em Salvador, padre Antonio Vieira  observou que os pardos eram “sempre malcriados” e foram banidos dos colégios: ‘Por esta razão, nesta costa do Brasil, já lhes está totalmente fechado o ingresso ao sacerdócio e aos claustros religiosos e a qualquer função governativa”.[1] O mesmo padre Vieira na revolta dos índiso no Pará em 1661 recomenda o uso de escravos negros vindos da África “por serem os índios da terra menos capazes do trabalho e de menos resistência contra as doenças”.[2] O Marques de Lavradio em relatório de 1779: “o caráter de alguns americanos destas partes da América, que eu conheço, é de um espírito muito preguiçoso, muito humildes e obedientes, vivem com muita sobriedade, ao mesmo passo que tem grande vaidade e elevação; porém, estes mesmos fumos se lhe abatem com muita facilidade; são robustos, podem com todo o trabalho e fazem tudo aquilo que lhe mandam; porém, se não há cuidado em manda-los, eles por natureza ficarão sempre em inação, ainda a ponto de se verem reduzidos à maior indigência”[3]. Segundo o naturalista Karl von Martius os séculos de colonialismo deixaram marcas no caráter brasileiro que desenvolveu “o gosto pela comodidade, pelo luxo, e pelas formas agradáveis da vida exterior, que se espalhou aqui mais rapidamente que o amor pelas artes e pelas ciências”. Para José Bonifácio ao descrever o caráter geral dos brasileiros: “de imaginação brilhante, e por isso amigos de novidades que prometem perfeição e enobrecimento [...] Capazes de grandes ações, contanto que não exijam atenção aturada e não requeiram trabalho assíduo e monotônico. [...] Empreendem muito, acabam pouco”.[4] Debret relata que “o brasileiro gosta bastante de repouso, principalmente nas horas quentes do dia, desculpando-se sem cessar com sua má saúde, de que parece afligir-se no momento, mas que esquece logo para divertir-se com uma piada ou uma maledicência engenhosa [...] é fácil compreender que um clima continuamente quente e úmido, debilitando as forças físicas, torna o homem preguiçoso na realização de sua vontade, embora seja ele dotado de um espírito vivo e penetrante”.[5] A visitante francesa Adelle Samson Toussaint  no século XIX descreve que “não há brasileiro que aceite servir, todos querem ser senhores. Se o escravismo fosse abolido de repente, toda a cultura pararia”.[6]

[1] GOMES, Laurentino. Escravidão, v.I, São Paulo: Globo, 2019. p.348

[2] RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1979, p.480

[3] RODRIGUES, José Honório. Vida e históriaa, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira,1966, p.115

[4] LAGO, Pedro Correa. Brasiliana IHGB 175 anos, Rio de Janeiro:Capivara, 2014, p. 342

[5] LESSA, Ricardo. Brasil e Estados Unidos: o que fez a diferença, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 2008, p.104

[6] LESSA, Ricardo. Brasil e Estados Unidos: o que fez a diferença, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 2008, p.104



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