Em 1686 um parecer foi favorável aos negros poderem
frequentar as escolas de jesuítas, porém
dois anos após, o visitador geral da Companhia de Jesus em Salvador, padre
Antonio Vieira observou que os pardos
eram “sempre malcriados” e foram
banidos dos colégios: ‘Por esta razão,
nesta costa do Brasil, já lhes está totalmente fechado o ingresso ao sacerdócio
e aos claustros religiosos e a qualquer função governativa”.[1] O mesmo
padre Vieira na revolta dos índiso no Pará em 1661 recomenda o uso de escravos
negros vindos da África “por serem os índios da terra menos capazes do
trabalho e de menos resistência contra as doenças”.[2] O
Marques de Lavradio em relatório de 1779: “o
caráter de alguns americanos destas partes da América, que eu conheço, é de um
espírito muito preguiçoso, muito humildes e obedientes, vivem com muita
sobriedade, ao mesmo passo que tem grande vaidade e elevação; porém, estes
mesmos fumos se lhe abatem com muita facilidade; são robustos, podem com todo o
trabalho e fazem tudo aquilo que lhe mandam; porém, se não há cuidado em
manda-los, eles por natureza ficarão sempre em inação, ainda a ponto de se
verem reduzidos à maior indigência”[3]. Segundo
o naturalista Karl von Martius os séculos de colonialismo deixaram marcas no
caráter brasileiro que desenvolveu “o
gosto pela comodidade, pelo luxo, e pelas formas agradáveis da vida exterior,
que se espalhou aqui mais rapidamente que o amor pelas artes e pelas ciências”.
Para José Bonifácio ao descrever o caráter geral dos brasileiros: “de imaginação brilhante, e por isso amigos
de novidades que prometem perfeição e enobrecimento [...] Capazes de grandes
ações, contanto que não exijam atenção aturada e não requeiram trabalho assíduo
e monotônico. [...] Empreendem muito, acabam pouco”.[4] Debret relata que “o brasileiro gosta
bastante de repouso, principalmente nas horas quentes do dia, desculpando-se
sem cessar com sua má saúde, de que parece afligir-se no momento, mas que
esquece logo para divertir-se com uma piada ou uma maledicência engenhosa [...]
é fácil compreender que um clima continuamente quente e úmido, debilitando as
forças físicas, torna o homem preguiçoso na realização de sua vontade, embora
seja ele dotado de um espírito vivo e penetrante”.[5] A visitante francesa Adelle Samson Toussaint no século XIX descreve que “não há brasileiro que aceite servir, todos
querem ser senhores. Se o escravismo fosse abolido de repente, toda a cultura
pararia”.[6]
[1] GOMES, Laurentino.
Escravidão, v.I, São Paulo: Globo, 2019. p.348
[2] RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil, São Paulo: Cia Editora
Nacional, 1979, p.480
[3] RODRIGUES, José
Honório. Vida e históriaa, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira,1966, p.115
[4] LAGO, Pedro Correa.
Brasiliana IHGB 175 anos, Rio de Janeiro:Capivara, 2014, p. 342
[5] LESSA, Ricardo. Brasil
e Estados Unidos: o que fez a diferença, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira,
2008, p.104
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