José Murilo de Carvalho aponta que no Brasil o positivismo tinha uma tendência para especulações filosóficas ao invés da pesquisa científica. Um exemplo da influência negativa do positivismo é o de um professor de eletricidade formado na Politécnica do Rio de Janeiro que não acreditava em eletromagnetismo pois segundo Comte não seria possível conhecer a estrutura as estrelas.[1] Luiz Otávio Ferreira mostra que o positivismo está ligado ao ensino das engenharias civil e militar no Brasil o que revela a historiografia destacou como um suposto desprezo pelas “ciências desinteressadas”. Um artigo de Otto de Alencar de 1896 membro da Sociedade Positivista “Alguns erros matemáticos da Síntese Subjetiva de Augusto Comte” denuncia limitações teóricas da matemática comtiana. Em 1918 Amoroso Costa aprofunda a crítica de Otto de Alencar e demonstra a esterilidade do conceito de ciência em Comte que teria atingido seu ápice no século XVIII.[2] Maria Amélia Dantes se contrapõe a tese de que o positivismo tenha sido um obstáculo ao desenvolvimento das ciências no país: “Muitos dos defensores das ideias cientificistas eram monarquistas e críticos dos valores e das instituições existentes na sociedade brasileira. A Igreja Católica foi um dos alvos preferidos [..] pela associação que faziam entre a Igreja Católica e um passado que queriam transpor”. Desta forma uma ala do positivismo ganharia apoio dos militares críticos da monarquia e da Igreja Católica e na defesa no republicanismo entre os quais Benjamin Constant e o médico Luis Pereira Barreto autor do livro “As três filosofias”. Maria Amélia Dantes (figura) mostra que o cientificismo dos positivistas se refletia em 19 teses da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro no período 1850 a 1900 de caráter claramente positivista de um grupo de 2904 teses. Nas faculdades de engenharia civil e militar do Rio de Janeiro Maria Amélia Dantes encontrou 8 teses de caráter positivista de um grupo de 25 teses pesquisadas.[3] Luiz Otávio Ferreira mostra que ao final do século XIX no Brasil o positivismo foi a matriz ideológica que formava um ethos da intelectualidade brasileira.[4] Segundo Luiz Otávio: “A história da construção de uma tradição positivista no Brasil está intimamente relacionada com o ensino de engenharia durante o Império”. Amélia Hamburguer, por sua vez, também discorda dos historiadores que entendem que o positivismo se afastava da verdadeira ciência ou mesmo que foi o responsável pelo atraso científico no país. Para a autora, que faz a análise de algumas teses defendida nas Escola Militar, Escola Politécnica e Faculdades de Medicina da Bahia e no Rio de Janeiro deve-se considerar o que significava ciência na época: “o positivismo de Auguste Comte se difundiu no Brasil não apenas como um sistema filosófico, mas adquiriu foros de teoria científica, sendo reconhecido em nossas escolas profissionais. Como sistema era defendido por um número relativamente pequeno de profissionais, mas esteve perfeitamente integrado ao conjunto das teorias reconhecidas no país até o final do século XIX”.[5]
[1] CARVALHO, José Murilo.
A escola de Minas de Ouro Preto: o peso da glória, Rio de Janeiro: Finep, 1978,
p.77
[2] FERREIRA, Luiz Otávio.
O ethos positivista e a institucionalização das ciências no Brasil. Antropologia
brasiliana, Ciência e educação na obra de Edgar Roquette Pinto. Rio de Janeiro:
Ficocruz, 2008
[3] DANTES, Maria Amélia. Além da ordem e do progresso, Revista de História da
Biblioteca Nacional, outubro 2010, p.36-39
[4] FERREIRA, Luiz Otávio.
Os Politécnicos: ciência e reorganização social segundo o pensamento
positivista da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, 1862-1922., Dissertação
Mestrado Sociologia e Antropologia, UFRJ, 1989
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