quinta-feira, 30 de setembro de 2021

A democratização dos ritos funerários no Egito

 

No Médio e Novo Império com o poder dos faraós a disposição dos egípcios em demonstrar seus próprios pensamentos e opiniões era menos acentuada. No Novo Império (XVIII, XIX e XX dinastias)[1], contudo, já se observa um processo de democratização espiritual e de direito a um julgamento individual na eternidade tal como expresso no Livros dos Mortos (1040 a 985 a.c. na XXI Dinastia) ainda que inicialmente aos ricos e somente mais tarde às pessoas comuns. Breasted denomina esta fase de “aurora da consciência”.[2] Uma importante tendência de individualização já é mostrada nas esculturas da IV Dinastia como se observa no busto de Ankh-haf ou a estátua do engenheiro e arquiteto Homiunu responsável pela grande pirâmide Quéops na IV Dinastia.[3] Andre Pochan refere-se a Hardedef como o arquiteto da pirâmide.[4] Na IV dinastia se observa uma fusão entre os aspectos religiosos da realeza e do trabalho. O filho de Snefru, Kanufer foi Mestre do Trabalho e Arquiteto Chefe, Rahotep também filho de Snefru foi “sacerdote de Rá em Heliópolis e superintendente do trabalho e das expedições”, o príncipe Meryib foi arquiteto chefe e General dos Trabalhadores.[5] Paul Johnson aponta a utilização de sarcófagos pelos aristocratas egípcios como uma mostra da “democratização da imortalidade”.[6] Harco Willems contesta a tese de democratização dos ritos funerários e mostra que os caixões decorados de el-Bersha, de Beni Hasan e de Assiut no Novo Império são erstritos a uma elite e não ao povo em geral e mostra que o uso dos Textos dos caixões está intimamente ligado à cultura nomarcal e de forma alguma às esferas da população sem relação com os governadores ou poder locais.[7]



[1] VERCOUTTER, Jean. O Egito antigo, São Paulo:DIFEL, 1974, p. 34

[2] JOHNSON, Paul. História ilustrada do Egito Antigo, Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p.103

[3] MANUELIAN, Peter der. Module 7: The Statue of Hemiunu (G 4000). Harvard online Courses: Pyramids of Giza: Ancient Egyptian Art and Archaeology, 2018. https://online-learning.harvard.edu/course/pyramids-giza-ancient-egyptian-art-and-archaeology?offset=12

[4] POCHAN, André. O enigma da grande pirâmide, Rio de Janeiro: Difusão, 1977, p. 264

[5] JOHNSON, Paul. História ilustrada do Egito Antigo, Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p.88; TIRADRITTI, Francesco. Tesouros do Egito do Museu egípcio do Cairo, White Star Pub, 1998, p.61

[6] JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 227

[7] ROLLAND, Cintia. Deir el-Bersha e a “democratização”: Uma nova maneira de compreender os Textos dos caixões e o sistema monárquico, Topoi. Revista de História | Volume 17, Número 32 | Janeiro – Junho 2016 https://revistatopoi.org/site/topoi32/



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