Thevet se refere
ao uso de farinha de mandioca pelos índios como alimento principal dos tupis: “de
fato a cultura tupi pode ser chamada a
cultura da mandiocas pois essa determina não só seu sistema alimentar mas, também
a sua organização social e seu habitat nas florestas tropicais ao longo da costa
e das matas ciliares, ao longo dos rios que fluem do topo da montanha para o
interior”.[1] Hans Staden descreve a técnica dos índios no preparo da mandioca: “Preparam a mandioca de três modos. Primeiro:
trituram, sobre uma pedra, as raízes em pequenos grumos, extraindo o suco com
uma cana, feita da casca da palma e chamada tipiti. Deste modo se torna seca a
massa, que depois passa numa peneira. Da farinha fazem bolos fininhos. A
vasilha na qual secam e torram sua farinha é feita de barro queimado e tem a
forma de uma grande travessa. Segundo: tomam as raízes frescas, deitam-nas
n’água, deixando-as aí apodrecerem, retiram-nas então na fumaça sobre o fogo. Chamam
a essas raízes secas carimã. Conservam-se por muito tempo. Quando os selvagens
querem utilizá-las, esmagam-nas em um almofariz de madeira. Isto dá uma farinha
branca. Com elas fazem bolos que se chamam beijus. Terceiro: tomam mandioca bem
apodrecida, não a secam, mas a misturam com seca e verde. Obtêm assim, torrada,
uma farinha que se conserva perfeitamente por um ano. É boa também para comer.
Chamam-na uitán”.[2] Da
mandioca era fabricada a farinha ralando-a sobre uma superfície com pequenas
pedras agudas e espremendo-a com o tepetim,
que era um saco de junco oblongo, de modo que ao se apertar o saci se
enxugava a polpa da mandioca ralada de
depois se cozia em tachos ao fogo.[3] A
variedade de mandioca usada pelos índios era altamente venenosa e exigia um
preparo cuidados, pois se a raiz for danificada de alguma forma, são liberadas
moléculas que contém veneno[4]. A
palavra mandioca significa mandi –
pão, oca – casa. O preparo envolve
mergulhar a mandioca na água até que, macerado, possa ser facilmente partido a
mão para que então os pedaços sejam torrados e se consiga uma farinha,
eliminando-se desta forma o sumo venenoso.[5] Segundo
Thevet: “Um das mais interessantes mitos tupis explica a relação entre a
mandioca e a mata: uma moça de nome atiôlô, não se sentindo feliz, pediu a mãe
que a enterrasse viva. Depois de baldados argumentos, a mãe decidiu aceitar o
pedido da filha e a enterrou em um cerrado. Mas a filha não conseguiu resistir
ao clima quente e pediu a sua mãe que a enterrasse nos campos, mas também não
se sentiu bem ali. O único lugar que se sentiu bem foi numa clareira aberta na
mata. Então pediu à mãe que a deixasse só, ir-se embora e não voltar seu olhar
para ela a não ser que ela gritasse. Depois de muito tempo a mãe ouvindo um grito
profundo voltou e encontrou uma árvore
que imediatamente transformou-se em um arbusto. A mãe então tratou de
limpar o terreno em torno do arbusto até que ela florescesse. Então a mãe não resistiu
a decidiu arrancara planta do chão. E assim descobriu a mandioca”.[6] Entre os
índios tupi guarani o tipiti era uma espécie de prensa ou espremedor de palha
trançada usado para escorrer e secar raízes, normalmente mandioca. Na prensagem
da massa da mandioca escorria um líquido que continha uma substância venenosa,
o ácido cianídrico, e era chamado maniaca. Quando ele era fervido, recebia o
nome de tucupi.[7] Segundo Nieuhof “os tapuias não semeiam ou plantam qualquer outra coisa que
não a mandioca, e sua alimentação usual é constituída de frutos, raízes, ervas,
animais selvagens e, às vezes mel silvestre: que colhem do oco das árvores”.
[1] VARGAS, Milton. Para uma filosofia da tecnologia, São Paulo: Alfa Ômega, 1994,
p. 188
[2] MIRANDA. Carlos Alberto
Cunha. A arte de curar nos tempos da colônia. Recife:UFPE, 2017, p.210
[3] VARNHAGEN, Francisco
Adolfo. História geral do Brasil, São Paulo:Melhoramentos, 1948, v. I, p. 42
[4] LOPES, Reinaldo. 1499 o
Brasil antes de Cabral,Rio de Janeiro:Harper Collins, 2017, p. 99
[5] NASH, Roy. A conquista
do Brasil. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1939, p. 32
http://www.brasiliana.com.br/obras/a-conquista-do-brasil
[6] VARGAS, Milton. Para uma filosofia da tecnologia, São Paulo: Alfa Ômega, 1994,
p. 188
Nenhum comentário:
Postar um comentário