Manuel Jacinto de Sampaio e Mello procurava aplicar em sua propriedade na Bahia técnicas modernas para o aumento de produtividade, algumas por ele patenteadas,[1] e era ridicularizado pelos demais engenhos de açúcar recebendo a alcunha de “Engenho da Filosofia”. Manuel Jacinto publicou em 1809 uma série de artigos na Gazeta da Bahia que posteriormente foram apresentados em 1816 no livro Novo método de fazer o açúcar ou reforma geral e econômica dos engenhos do Brasil.[2] Atribui-se como uma de suas invenções a adaptação em suas fornalhas para uso do bagaço da cana como combustível[3], já em uso desde 1809 na Vila da Cachoeira. O invento permite fazer ferver as caldeiras com a simples chama do bagaço seco da mesma cana, de modo que as caldeiras são fervidas em apenas duas horas enquanto que com as fornalhas antigas se precisava de seis a sete horas não obstante a grande quantidade de lenhas grossas, com isso poupa-se mão de obra escrava para o corte das lenhas e a necessidade de uso de bois para a condução das lenhas. Em 1816 Manuel Jacinto publicou Novo método de fazer açúcar ou reforma geral econômica dos engenhos do Brasil em utilidade particular e pública. Seus inventos eram publicados na gazeta baiana A Idade do Ouro.[4] No prefácio de seu livro “Novo método de fazer o açúcar” Manuel Jacintho se queixa dos estudos desconectados de sua aplicação prática, ou que se limitam a realizar máquinas que se mostram úteis em pequenas escala mas inviáveis quando adotadas em grandes escala: “os nossos filósofos estão dormindo há 300 anos sobre esse importante objeto, sem advertirem que as sciencias naturaes não se estudam para disputar nas aulas, ou conversar nas assembleias, mas para descobrir verdades interessantes ao bem comum [...] os muito e pesados logros que tem sofrido os senhores de engenho com as novas invenções, que já por desprezo chamam de inventivas, são causa de os achar tão escandalizados, que nem queiram ouvir falar nelas, respondendo logo: o modo de se fazer açúcar já está descoberto, nada se pode inovar, como muitos me intimarão, tendo um deles o desacordo de me dizer que não queria filosofias. Sem fazer caso desta geral repugnância dos senhores de engenho, não obstante ser o meu Engenho abundante de água e lenha perto, sem presente necessidade executei nele estes plano [que revelo neste livro] com grande despesa, a fim de os convencer pela sua própria observação e experiência [..] Puseram o nome do meu Engenho de Engenho da Filosofia, fizeram-lhe verso satíricos mas em breves tempos se conhecerá que o resultado desse meu chamado “divertimento” são milhões anuais em proveito dos particulares, e por consequência do Estado, no que tenho sumo prazer. Quanto aos sarcasmos e sátiras não me causam admiração, porque leio na história literária, que grandes homens, que fazer avançar as ciências, opondo-se a opiniões, ainda que erradas, geralmente recebidas, tiveram mau pago [ou seja, da mesma forma sofreram injustiças] ”.[5]
[1] MALAVOTA,Leandro
Miranda. A construção do sistema de
patentes no Brasil: um olhar histórico, Rio de Janeiro:Lumen Juris, 2011,
p. 93; HOLANDA, Sérgio Buarque. História Geral da Civilização Brasileira, O
Brasil monárquico: dispersão e unidade, tomo II, volume 2, São Paulo:Difel,
1964, p. 288
[2] VARNHAGEN, Francisco
Adolfo. História geral do Brasil, São Paulo:Melhoramentos, 1948, v. V, p. 224;
SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial.
São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 278
[3] MOTOYAMA, Shozo.
Prelúdio para uma história: ciência e tecnologia no Brasil, São
Paulo:Edusp2004, p. 116
[4] SILVA, Maria Beatriz
Nizza. A primeira gazeta da Bahia: Idade d’ouro do Brasil, São Paulo:Cultrix,
1978, p.146
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