Gilberto
Freyre em sua obra “Ingleses no Brasil”
registra através de anúncios em jornais da época o estabelecimento de diversas
casas comerciais inglesas com a Lupton & Co de Leeds, a Robert Kirwan entre
vários outros. A presença inglesa se manifestava em diversos donos de armazéns,
ferreiros, sapateiros, alfaiates e lojistas do Rio de Janeiro e Recife[1] Para Gilberto Freyre: “é quase impossível
ao brasileiro ouvir falar em máquina, em motor, em ferramenta, em estrada de
ferro, em rebocador, em draga, em cabo submarino, em telégrafo, em artigos de aço
e de ferro, em brinquedo mecânico, em cadeira de mola, em louça doméstica, em
bicicleta, em patim, em aparelho sanitário, em navio de guerra, em vapor, em
lancha, em fogão a gás ou a carvão, sem pensar nos ingleses. Os ingleses estão
ligados como nenhum outro povo aos começos de modernização das condições
materiais de vida do brasileiro”.[2] O investimento direto da Inglaterra no Brasil mais do que triplicou entre 1865
e 1885[3].
Richard Graham no seu livro Grã Bretanha
e o início da modernização no Brasil narra uma estória em de um brasileiro
do século XIX vestido impecavelmente no estilo inglês com terno de casimira e
gravata em pleno dia quente. Quando interpelado por estar vestido daquela forma
respondeu sem hesitar: “É que não se sabe
se estará chovendo em Londres!”.[4] O jornalista francês Max LeClerc ao aportar ao Rio de Janeiro em 1889 narra os
costumes da elite carioca: “Sob um clima abrasador, em uma cidade onde o
termômetro atinge facilmente os 40 graus à sombra, os brasileiros se obstinam a
viver e a se vestir como se fossem europeus. Eles trabalham nas horas mais
quentes do dia, das 9 da manhã às quatro da tarde, como se fossem negociantes
londrinos. Eles passeiam nas ruas usando jaquetões escuros, cartolas de copa
alta e se submetem ao martírio com a mais perfeita resignação. O problema é
que, apesar das aparências, eles não dispõem de meios para viver nos trópicos.
A municipalidade do Rio de Janeiro não garante sequer o saneamento adequado da
cidade, periodicamente assolada pela febre amarela”.[5] Perfumes de empresas como John Gornell, produtos de beleza da Rowland´s e sabonetes de William Rieger eram comercializados. Segundo Maria
Graham esposa de oficial da marinha inglesa e amiga da imperatriz Leopoldina, em
visita ao Rio de Janeiro: “Fui a terra
fazer compras com Glennie. Há muitas casas inglesas, tais como seleiros e
armazéns não muito diferentes do que chamamos na Inglaterra um armazém italiano
de secos e molhados, mas, em geral, os ingleses aqui vendem suas mercadorias ao
atacado a retalhistas nativos ou franceses”.[6] O inglês Alexander Caldcleugh comenta: “o
comércio brasileiro pode ser considerado inteiramente nas mãos dos britânicos,
como se existisse um exclusivo de monopólio a seu favor no tratado de 1810”. Segundo
John Mawe: “o mercado ficou inteiramente
abarrotado tão grande e inesperado foi o fluxo de mercadorias inglesas no Rio
após a chegada do Príncipe Regente”.[7] Entre os absurdos incluem patins e produtos inadequados como roupas de lãs
superfinas e outros produtos de luxo “a
um povo tão incapaz de adotá-los como de convencer-se de sua utilidade”.[8]