domingo, 28 de novembro de 2021

A decifração dos hieroglifos egípcios

 

A decifração da cartucha encontrada no obelisco de Filae pelo físico britânico Thomas Young (1773-1829) com trabalhos em óptica e que representa os nomes de Cleópatra e Ptolomeu[1] foi fundamental para Champollion decifrar os hieróglifos da Pedra de Rosetta (hoje no Museu Britânico[2] trazida em 1802 após a captura dos franceses) pois as mesmas cartuchas são identificadas na pedra descoberta na campanha de Napoleão em 1799 no Egito[3]. Zoega reconheceu que nas cartuchas que envolviam em um retângulo ovalado alguns nomes vereiam estar se referindo a nomes importantes de faraós. Joahan Akerblad que conseguiu identificar alguns nomes nas primeiras linhas da pedra tais como Ptolomeu. Young utilizou o trabalho destes egiptólogos para suas conclusões.[4] Antes de Champollion alguns eruditos como Tandeau de Saint Nicholas acreditavam que os hieróglifos não eram uma forma de escrita mas puramente ornamentais.[5] Os hieróglifos começam como gravuras inscritas na pedra, marco da vitória da habilidade egípcia sobre a matéria.[6] A pedra registra o decreto de Mênfis do período de Ptolomeu V (196 a.c.) escrita em grego, demótico egípcio[7] e hieróglifo egípcio.[8] Champollion compreendeu que as representações dos hieróglifos não eram ideogramas mas símbolos fonéticos o que levou a uma correspondência com as letras gregas.[9] A palavra cartucha é de origem francesa atribuída pelos soldados de Napoleão pelo fato dessas formas ovais assemelharem-se a cartuchos de fuzil.[10] Em 1822 Champollion publicou seu trabalho em “Carta a M. Dacier referente ao alfabeto dos hieróglifos fonéticos”.[11] Thomas Young e Edmé François Jomard, este último membro da comissão científica de Napoleão, se recusaram a aceitar o trabalho de Champollion, o que viria a acontecer apenas após trinta e cinco anos quando Champollion já havia falecido.[12] Karl Richard Lepsius, posteriormente diretor do Museu Egípcio de Berlim, descobriu em 1842 nas ruínas de Canopo um texto bilíngue conhecido como “Decreto de Canopo” redigido tal como a Pedra de Rosetta em hieroglífico, demótico e grego que viria a propor um novo sistema de transcrição dos hieróglifos confirmando e ampliando o trabalho de Champollion.[13] Quando talhados na madeira ou na pedra os hieróglifos assumiam aspectos decorativos. À medida em que começa a ser usado o papiro como suporte desenvolveu-se a escrita hierática, na quarta dinastia, com os sinais simplificados para uma escrita mais rápida. O hierático, termo cunhado por Clemente de Alexandria[14], foi sucedido pelo demótico por volta de 600 a.c. na XXVI Dinastia (Saíta)[15] em que desapareceram todos os elementos pictóricos. Com o declínio dos faraós e sob domínio romano no século III o demótico foi substituído pelo grego.[16] Com a decifração dos hieróglifos por Champollion desfez-se toda uma literatura medieval esotérica construída em torno de inscrições incorretamente traduzidas[17]. Segundo Paul Johnson: “a descoberta dos princípios hieroglíficos destruiu, de uma vez por todas, o pretencioso monumento de absurdos que, praticamente por dois milênios, se erguera baseado em um falso simbolismo. Ela acabou com o mito do conhecimento esotérico dos antigos egípcios (que nunca existira !), mas, em compensação, permitiu aos estudiosos começarem uma série reconstrução da autêntica história egípcia, sua verdadeira maneira de viver, sua religião e sua cultura”. [18] Van Loon idealizou um exemplo de codificação em hieróglifo que mostra como os símbolos ora representavam ideias ou sons: “Soldados às armas !”.[19]

[1] ROSSI, Renzo. Tutankamon, Lisboa:Público, 2009, p.170; EYDOUX, Henri Paul. Á procura dos mundos perdidos, São Paulo:Melhoramentos, 1967, p. 17

[2] British Museum Guide, London, 1976, p.27

[3] CASSON, Lionel. O antigo Egito. Rio de Janeiro:José Olympio, 1969, p.163; JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 364; WEST, John Anthony. The traveler’s key to ancient Egypt, New York:Quest, 2012, p. 36

[4] GRINBERG, Carl. O império das pirâmides, História Universal, v.2, Santiago: Europa América,1989, p. 20

[5] BERLITZ, Charles. As línguas do mundo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 128

[6] JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 280

[7] KI-ZERBO, Joseph, História geral da África, I: Metodologia e pré-história da África, Brasília : UNESCO, 2010, p.67

[8] STROUHAL, Eugen. A vida no antigo Egito. Barcelona:Folio, 2007, p. 217; British Museum Souvenir Guide, Belgium, 2004, p.29

[9] ULRICH, Paul. Os grades enigmas das civilizações desaparecidas, Grécia, Roma e Oriente Médio, Rio de Janeiro, Otto Pierre Ed, 1978, p.177

[10] WHITE, Jon Manchip. O Egito Antigo, Rio de Janeiro:Zahar, 1966, p. 167

[11] ANGELL, Christopher. Dentro das pirâmides do Egito. Seleções do Reader’s Digest, Os últimos mistérios do mundo, Lisboa, 1979, p.190; VERCOUTTER, Jean. Em busca do Egito esquecido. Rio de Janeiro:Objetiva, 2002, p.7

[12] WEST, John Anthony. The traveler’s key to ancient Egypt, New York:Quest, 2012, p. 38

[13] EYDOUX, Henri Paul. Á procura dos mundos perdidos, São Paulo:Melhoramentos, 1967, p. 21

[14] JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 254

[15] GONTIJO, Silvana. O mundo em comunicação, Rio de Janeiro:Aeroplano, 2001, p.40; JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 254

[16] JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 350

[17] YATES, Frances. Giordano Bruno e a tradição hermética, São Paulo:Cultrix, 1995, p. 459

[18] JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 365

[19] SABATO, Ernesto. Nosso universo maravilhoso, Rio de Janeiro:Brasil Lê, v.I, p.21



Moisés no Egito

 

Na época saíta (XXVI Dinastia 672 – 525 a.c.) o profeta Jeremias (43:7; 44:1) descreve a chegada dos judeus ao Baixo Egito após o exílio na Babilônia. Exodo 1:8 se refere aos judeus comos escravos sob o reinado de Ramsés, contudo, a referência mais antiga a Israel entre os egípcios é a campanha empreendida pelo sucessor de Ramssés II, Merneptah (1213-1203 a.c.) contra cidades palestinas tal como consta na estela de Merneptá (texto nº 21)[1] descoberta por Flinders Petrie em 1896. Carl Grimberg observa que o texto se refere a Israel habitando Canaã, o que poderia indicar que uma parte do povo hebreu já residia em Canã quando de sua permanência no Egito, ou então que tal permanência no Egito teria de fato ocorrido cerca de dois séculos antes de Merneptá, ou seja,  ao tempo de Akenaton (1351 a 1334 a. c.), o que poderia sugerir uma infuência das teses monoteístas egípcias com as do povo hebreu.[2] Há registros egípcios nas cartas de Tell El Amarna de que na região de Canaã haviam escravos estrangeiros e prisioneiros de guerra denominados pelo termo acádio de Habiru ou Apiru[3] que alguns pesquisadores acreditam ser uma referência ao povo hebreu que então chegava na terra de Canaã conforme descrição do livro de Juízes[4]. As cartas são escritas em tabletes de argila em escrita cuneiforme.[5] Paul Johnson observa que o termo habiru não significava um determinado grupo racial ou étnico mas pessoas inferiores empregadas em trabalhos forçados.[6] A mesma referência é encontrada entre os povos da Mesopotâmia[7] em escrita cuneiforme no período de 1700 a 1300 a.c.[8] O termo sumério expressa um ato de banditismo e se refere a um bandido ou vagabundo.[9] Segundo Sophie Desplancques os egícios se consideravam os responsáveis pela ordem do mundo (maat) de modo que o estrangeiros representam o caos, o inimigo: “por ser diferente, ele deve ser destruído e totalmente subjugado”[10], ainda que possam ser registrados períodos de grande aculturação como na dinastia núbia (25ª dinastia). Na tumba de Tutmosis III (1479-1425 a.c.) da XVIII dinastia tem suas paredes a 12ª oração que trata daqueles que morreram com ele na “grande inundação”, o que pode ser uma referência ao êxodo do Egito. O papiro de Ipuwer na biblioteca de Leiden se refere ao que seriam as pragas do Egito, em que o Nilo virou sangue, os animais morrem nos campos sem que ninguém os recolha e os escravos saíram do Egito com o ouro em seu pescoço.[11]



[1] Desplancques, Sophie. Egito Antigo (Encyclopaedia) . L&PM Pocket. Edição do Kindle, 2021,  p.1032/1492 https://pt.wikipedia.org/wiki/Estela_de_Mernept%C3%A1 ; SILVA, Rodrigo. Especial Egito - Museu do Cairo 1, NT Evidencias Minuto 9:00 https://www.youtube.com/watch?v=vYtqlSYMlQw

[2] GRINBERG, Carl. O império das pirâmides, História Universal, v.2, Santiago: Europa América,1989, p. 77

[3] ROBERTS, J.M. history of the world, Oxford University Press, 1992, p.87; HARRIS, J. O legado do Egito, Rio de Janeiro:Imago, 1993, p.269; BOORSTIN, Daniel. Os criadores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1995, p.61

[4] STEVERS, Martin. A inteligência através dos séculos. São Paulo:Globo, 1946, p.246

[5] SILVA, Rodrigo. Especial Egito - Museu do Cairo 1, minuto 13:00 https://www.youtube.com/watch?v=vYtqlSYMlQw

[6] JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 126

[7] https://pt.wikipedia.org/wiki/Habiru

[8] KRAMER, Samuel. Mesopotâmia o berço da civilização, Rio de Janeiro: José Olympio, 1983, p. 166

[9] BOUZON, Emanuel. As cartas de Hammurabi. Rio de Janeiro:Vozes, 1986, p. 69

[10] Desplancques, Sophie. Egito Antigo (Encyclopaedia) . L&PM Pocket. Edição do Kindle, 2021,  p.142/1492

[11] RODRIGO SILVA - Flow Podcast #404, 2021(2h20) https://www.youtube.com/watch?v=ZinRvgd5Bkc&t=0s



Origem da escrita fenícia

 

Arnold Toynbee atribui uma influência egípcia no alfabeto fenício.[1] Os exemplos mais antigos de escrita fenícia foram encontrados na península do Sinai que estava sob domínio dos egípcios na época.[2] Inscrições fenícias de seu alfabeto também podem ser encontradas no túmulo de Ahiram, rei de Gebel a um época posterior a Ramsés II (1292- 1225 a.c.)[3] e numa inscrição do vaso de Tell Duweir. A estela de Mesha, rei Moabe, data de 842 a.c. mostra que nesta época a escrita alfabética já estava bastante difundida no Oriente Próximo.[4] Carroll Quigley e Edward Burns apontam os hieróglifos egípcios como precursores do alfabeto.[5] A escrita alfabética fenícia era apenas uma variedade de escritas mais antigas encontradas na Síria e Palestina por volta de 1800 a.c.. J. Cerny estima que em Ras Shamra, antiga Ugarit descoberta em 1928, houve um desenvolvimento posterior do alfabeto, por volta de 1400 a.c. ainda que independente da experiência semítica [6]. Muitas das tabuinhas encontradas em Ras Chamra são simples relações de entregas de alimentos, vinho e azeite.[7] As tabuinhas de Ras Shamra mostram que em 1400 a.c. na Síria setentrional, bem em frente ao Chipre haviam pelo menos oito línguas em uso: hebreu arcaico escrito em cuneiforme alfabético, a língua babilônica em cuneiforme convencional tal como em Tell el Amarna, a língua sumeriana, duas línguas desconhecidas, o hieroglífico egípcio, a língua hitita e outra língua desconhecida de origem no Chipre ou Creta.[8] Os textos em Ras Shamra sugerem semelhanças fortes entre os sistemas ugaríticos e fenícios de modo que estas escritas não foram invenções completamente independentes. A escrita cananeia exprime apenas consoantes. Carl Grimberg considera improvável a origem do alfabeto como sendo a Babilônia uma vez que a escrita cuneiforme é composta de vogais e consoantes, enquanto a a escrita fenícia não conhece as vogais. Os babilônios escreviam da esquerda para a direita, ao contrário dos fenícios. A escrita cuneiforme não era destinada a ser uma escrita mas uma gravação, ao contrário da fenícia que supõe o uso de caneta, tinta e papiro ou matéria similar. Desta forma, Carl Grimberg acredita ser mais provável ter sido a escrita cursiva egípcia a origem para a escrita fenícia.[9]



[1] TOYNBEE, Arnold. A humanidade e a mãe terra, Rio de Janeiro:Zahar, 1976, p.169

[2] ROSS, Norman. The epic of man, Life Magazine, 1962, p. 131

[3] MARSTON, Charles. A Bíblia disse a verdade, Belo Horizonte:Itatiaia, 1958, p. 62

[4] READERS'S DIGEST. Da idade do ferro à idade das trevas: de 1200 a.c. a 1000 d.c, Rio de Janeiro, 2010, p.27

[5] BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1959, p.61; QUIGLEY, Carroll. A evolução das civilizações, Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, p.180

[6] HARRIS, J. O legado do Egito, Rio de Janeiro:Imago, 1993, p.228

[7] TATON, René. A ciência antiga e medieval: as ciências antigas do Oriente, tomo I, livro 1, São Paulo:Difusão Europeia, 1959, p. 143

[8] MARSTON, Charles. A Bíblia disse a verdade, Belo Horizonte:Itatiaia, 1958, p. 119

[9] GRINBERG, Carl. O império das pirâmides, Santiago: Europa América,1989, p. 77



Tenochtitlán: a grande Veneza

 

Os astecas descobriram a obsediana com a qual produziam facas e lâminas prismáticas para talhar a madeira.[1] Os astecas demonstraram muitos conhecimentos em engenharia hidráulica na construção de um dique de 16 quilômetros de extensão e na utilização da água do lago Texcoco na cidade de Tenochtitlán[2] uma cidade insular, a capital do império fundada em 1325, também conhecida como a “Grande Veneza”[3] na América.[4] O rei de Texcoco Nezahualcoyotl era patrono das artes e ciências[5]. A cidade tinha cinco portas e em cada porta uma ponte até a terra, sendo que as mesmas pontes dotadas de muitas barreiras e torres para que não fosse atacada.[6] Com o dique o nível da baía poderia ser regulado pela abertura e fechamento de suas comportas.[7] Um aqueduto construído sob o reinado de Moctezuma I (1440-1469) levou água doce das fontes de Chapultepec para o centro da cidade, feito de pedra e cimento e estendendo-se por cinco quilômetros[8] numa época e que a cidade contava com mais de 250 mil habitantes.[9] Uma outra fonte Toxpalatl abastecia de água potável não somente os sacerdotes mas a gente comum[10]. Poucas cidades europeias na época possuíam um sistema de distribuição de água potável como Tenochtitlán [11]. As inundações de Tenochtitlan viriam a ocorrer em 1500, após, portanto a construção do aqueduto o que levou a alguns analistas como Durán e Tezozomoc a acreditar que um rompimento do aqueduto poderia ter sido a causa da inundação[12]. A inundação é mencionada no Códex de 1576 que relata a destruição dos campos de milho[13]. A sociedade era altamente centralizada e a religião politeísta incluindo Huehueteotl (deus do fogo), Ethecatl (do vento), Coatlicue (da terra, da vida e da morte), Tlaloc (da chuva), Xilonen (do milho), Quetzalcoatl (do planeta Venus), Tlazolteotl (da fertilidade), Tezcatlipoca (da noite), Huitzilopochtli (senhor do Universo).[14] Segundo o relato de Bernal Diaz sobre Tenochtitlán: “a sólida e poderosa capital de Montezuma surgia no centro dum lago muito fundo. Chegava-se lá por estradas terraplanadas e pontes de madeira entalhada, bastante altas, para que os barcos pudessem passar debaixo delas. Levantadas as pontes, o resto do dique formava uma espécie de ilha cercada pela água e a cidade tornava-se inacessível. A fonte de Chapultepec fornecia à cidade inteira água potável que era encanada até as habitações ou vendida nas bicas”.[15] Ainda segunda Bernal Diaz; “Diante daquelas maravilhas não sabíamos o que se havia de dizer, nem se aquelas aparências defronte de nós era realidade. Lá estava a grande cidade e nós não chegávamos a quatrocentos homens [...][16] estes grandes burgos e pirâmides e edifícios que se erguiam da água todos feitos de pedra, pareciam uma visão encantada [...] era tudo tão maravilhoso que eu não sei como descrever essa primeira visão de coisas nunca ouvidas, vistas ou sonhadas antes”.[17] Segundo Bernal: “alguns soldados acreditava que não passava de um sonho”.[18]



[1] TERESI, Dick. Descobertas perdidas, São Paulo:Cia das Letras, 2008, p.328

[2] McCLELLAN III, James; DORN, Harold. Science and technology on world history: an introduction. The Johns Hopkins University Press, 1999, p.162; ROMANO, Arturo. Museu Nacional de Antropologia da cidade do México, São Paulo: Mirador, 1970, p. 130

[3] LONGHENA, Maria. O México antigo, Barcelona:Folio, 2006, p. 71

[4] SOUSTELLE, Jacques. Tenochtitlán. Readers's Digest. As grandes civilizações desaparecidas, Lisboa:1981, p.294

[5] LEONARD, Joathan. América pré colombiana, Rio de Janeiro:José Olympio Editora. Biblioteca de História Universal Life, 1971, p.65

[6] HERRMANN, Paul. A conquista das Américas. Sâo Paulo:Boa Leitura, 1960, p.77

[7] LEONARD, Joathan. América pré colombiana, Rio de Janeiro:José Olympio Editora. Biblioteca de História Universal Life, 1971, p.122

[8] SOUSTELLE, Jacques. Tenochtitlán. Readers's Digest. As grandes civilizações desaparecidas, Lisboa:1981, p.298; SOUSTELLE, Jacques. A vida quotidiana dos astecas. Belo Horizonte:Itatiaia, 1962, p.63; Guia dos segredos do império: o povo asteca, Barueri:On Line, 2016, p. 27

[9] LONGHENA, Maria. O México antigo, Barcelona:Folio, 2006, p. 64

[10] SOUSTELLE, Jacques. A vida quotidiana dos astecas. Belo Horizonte:Itatiaia, 1962, p.55

[11] LEONARD, Joathan. América pré colombiana, Rio de Janeiro:José Olympio Editora. Biblioteca de História Universal Life, 1971, p.122

[12] DAVIES, Nigel. The astecs: a history, London; Folio Society, 1973, p. 346

[13] SOUSTELLE, Jacques. A vida quotidiana dos astecas. Belo Horizonte:Itatiaia, 1962, p.66

[14] ROMANO, Arturo. Museu Nacional de Antropologia da cidade do México, São Paulo: Mirador, 1970, p. 131

[15] HERRMANN, Paul. A conquista das Américas. Sâo Paulo:Boa Leitura, 1960, p. 76, 113

[16] HERRMANN, Paul. A conquista das Américas. Sâo Paulo:Boa Leitura, 1960, p.117

[17] PHILLIPS, Ellen, Viagens de descobrimento 1400-1500, Rio de Janeiro:Time Life, 1991, p.141

[18] LONGHENA, Maria. O México antigo, Barcelona:Folio, 2006, p. 205



sábado, 27 de novembro de 2021

A escrita hieroglífica egípcia

 

Numa representação de uma palavra em hieróglifo alguns ícones tem a função de conferir um sentido aos ícones anteriores sem que esteja associado a um som. Assim a palavra khered – criança é uma composição de três primeiros ícones marcando as letras K, H, D e um quarto símbolo que representa uma criança com dedo na boca indicando o contexto daquela palavra. Estes ícones de sentido tem a função adicional de marcar a separação entre as palavras uma vez que na escrita hieroglífica não há pontuação ou espaços entre as palavras. Inicialmente representando cada símbolo uma ideia a escrita hieroglífica passou a incorporar a representação de sons, assim, para representar “soldado” poderia se combinar o “sol” com um “dado” dois objetos sem nenhuma relação com o objeto final simbolizado. Como não usavam vogais, a escrita hieroglífica egípcia nunca se constituiu uma escrita alfabética mas uma mistura de escrita alfabética com ideográfica o que dificultava sua compreensão.[1] O método hieroglífico era um compromisso entre um sistema alfabético e pictórico[2]. O Alto Egito por exemplo era representado pelo símbolo de uma flor de lis, ao passo que o Baixo Egito por ramos de um papiro. Um ramo de palmeira significava ano, porque a cada ano nascia uma novo ramo a uma palmeira. O verbo comer era o de um homem  sentado que leva a mão direita à boca. Envelhecer era representado por um idoso apoiado em uma vara. Por outro lado, alguns ideogramas tornam-se letras do alfabeto como por exemplo o ideograma para rosto simboliza a palavra hor de mesmo som que outras palavras como “o mais alto”, com isso o ideograma tornou-se um sinal silábico h + r. Do mesmo modo o ideograma de casa que se pronunciava peri tornou-se o sinal silábico para p + r. Para as palavras egípcias formadas por uma única consoante e uma só vogal como ke – altura ou ro – boca, ou ta – pão, pelo mesmo processo tais ideogramas tornaram-se um sinal fonético , respectivamente com som de k, r e t., o que seria um proto alfabeto. Carl Grimberg mostra que esse processo de formação somente não se completou com o abandono dos demais símbolos ideográfico devido à tradição da qual o povo egípcio não queria se desfazer.[3] Estabelecido desde a primeira dinastia em 3100 a.c. a escrita hieroglífica egípcia sofreu apenas pequenas variações por cerca de 2500 anos.[4] Descobertas na tumba U-j do cemitério de Umm el Qaab em Abidos revelaram material epigráfico que atesta a existência de uma proto escrita na dinastia zero (3200 a.c)  antes, portanto, da unificação do Egito na primeira dinastia de Menés (3100 a.c.),[5] de modo que há uma relação direta entre o nascimento da escrita e a afirmação da realeza. Com as medidas tomadas por Teodósio I em 391 de fechar todos os templos pagãos e diante do incêndio da Biblioteca de Alexandria em 47 a.c. reduz-se cada vez mais o número de pessoas capazes de compreender os hieróglifos que tornou-se uma língua morta.[6] Os hieróglifos egípcios poderiam ser lidos da esquerda para a direita, da direita para esquerda ou verticalmente, dependendo do espaço disponível ou da imaginação do escriba, sem espaçamentos entre as palavras. A pista para a direção era a presença de um símbolo representando um pássaro, cobra ou outra criatura. Gamal Mokhtar[7] mostra que é pouco provável que a escrita egípcia tenha origem no oriente ou na Mesopotâmia uma vez que há uma evolução nos símbolos empregados e sempre com uma correlação com a flora e fauna da região o que denuncia sua origem africana.


[1] CASSON, Lionel. O antigo Egito. Rio de Janeiro:José Olympio, 1969, p.153

[2] WHITE, Jon Manchip. O Egito Antigo, Rio de Janeiro:Zahar, 1966, p. 169

[3] GRIMBERG, Carl. O império das pirâmides, História Universal, v.2, Santiago, Europa America, 1989, p. 20

[4] ROSS, Norman. The epic of man, Life Magazine, 1962, p. 118

[5] Desplancques, Sophie. Egito Antigo (Encyclopaedia) . L&PM Pocket. Edição do Kindle, 2021,  p.155/1492; SILVERMAN, David. Introduction to Ancient Egypt and Its Civilization, Semana 2, History and Chronology Part 6, 2021 https://www.coursera.org/learn/introancientegypt/

[6] VERCOUTTER, Jean. Em busca do Egito esquecido. Rio de Janeiro:Objetiva, 2002, p.13

[7] MOKHTAR, Gamal. História geral da África, II: África antiga, Brasília : UNESCO, 2010, p.LIV



O segredo na construção das catedrais

 

Éliphas Lévi aponta como origem da maçonaria a associação de pedreiros formada no tempo da construção da catedral de Estrasburgo na França[1]: “o fim alegórico da maçonaria é a reconstrução do templo de Salomão; o fim real e a reconstituição da unidade social pela aliança da razão e da fé, e o restabelecimento da hierarquia, conforme a ciência e a virtude, com a iniciação e as provas por graus”. Uma assembleia foi convocada em 1275 para o estabelecimento de uma fraternidade para continuação dos trabalhos na catedral reunindo construtores ingleses e alemães que passaram a usar a denominação de freemasons ou steinmetzen sendo eleito Erwin de Steinbach como mestre de cátedra (Meister von Stuhl)[2] e que mantinham os segredos de construção. Elias Barreto indica Erwin von Steinback, arquiteto da catedral de Estrasburgo, como fundador em 1275 da primeira confraria de pedreiros leigos, separando-os das confrarias religiosas, o que levaria a denominação de pedreiros livres.[3] No epitáfio do mestre pedreiro Pedro de Montereau que trabalhou em Saint Germain des Prés na capela de Sait Germain em Layeele é qualificado como “doutor dos canteiro” ou doctor latomorum. Villard de Honnecourt revela grande cultura e domínio do latim. Daniel Rops observa que em muitas catedrais como em Reims e Amines, consta a assinatura dos arquitetos em incrustações de mármore ou chumbo no cruzeiro das naves. Muitas destas técnicas de construção eram transmistidas sob condições de segredo de mestre para discípulo, como as anotações de VIllard de Honnecourt, que em princípio eram reservadas.[4] Um dos membros dessas associações chamada “Dever de Liberdade” afirma seu compromisso: “Juro e prometo guardar fielmente e para sempre os segredos dos companheiros de Liberdade, deste Dever e de sua companhia; prometo nunca escrever nada, nem uma palavra, sobre qualquer coisa que possa revelá-los aos profanos. Preferiria e mereceria ser degolado, meu corpo queimado, minhas cinzas atiradas aos ventos, se fosse tão covarde em revela-los; prometo quebrar a cara de quem perjure; que o mesmo aconteça seu o fizer”.[5] Jacques le Goff, contudo aponta que a reivindicação da existência de tais segredos da contrução de catedrais é tardia e aparece apenas no século XVIII entre os francomaçons.[6] Para Lennnohoff a referência das origens no reinado de Salomão são resultante do desejo dos maçons em conferir uma origem misteriosa e muito antiga[7]. O maçom José Castellani considera a influência egípcia na maçonaria como nula, e como uma lenda a história sobre ao rei Hiram Abif como construtor do tempo de Salomão, quando as referências históricas que temos é de que ele foi um mero entalhador de metais.[8]



[1] LÉVI, Éliphas. História da magia, São Paulo:Pensamento, 2010, p.271

[2] ASLAN, Nicola. A maçonaria operativa, Rio de Janeiro: Aurora, 1979, p. 208, 213

[3] BARRETO, Elias. Enciclopedia das grandes invenções e descobertas, São Paulo: Cascono Editores, 1971, p. 219

[4] ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante, 2012, p. 397

[5] LIMA, Heitor Ferreira. Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro:Fundo de Cultura, 1961, p. 243

[6] GOFF, Jacques. A idade média explicada aos meus filhos, Rio de Janeiro:Agir, 2007, p. 48

[7] SCHREIBER, Hermann; SCHREIBER, Georg. História e mistérios das sociedades secretas, São Paulo, IBRASA, 1982, p.224

[8] CASTELLANI, José. A ciência maçônica e as antigas civilizações, Santos:Traço Editora, 1990, p.31; YATES, Frances. O iluminismo rosacruz, São Paulo:Pensamento, 1983, p.270



Culto do sol entre maias e astecas

 

Nigel Davies aponta a pedra do Sol simbolizando a destruição de quatro sucessivos mundos, o primeiro destruído pela jaguar (simbolizando a terra) seguido da destruição pelo vento, chuva e pela água. Estes quatro símbolos estão representados nos quadrados que cerca o personagem central da Pedra do Sol, sendo o jaguar no quadrado superior direito, o vento no quadrado superior esquerdo. Esta destruição é o resultado da luta eterna entre a serpente plumada Quetzalcoatl o deus bom, e a o espelho flamejante Tezcatlipoca o lado sombrio, o que remete ao panteão hindu[1]. Ao centro um rosto humano com a língua para fora representa Tonatiuh o deus sol reclamando sacrifícios de sangue humano que devem ser entregues para aplacar as forças destrutivas.[2] Um disco maia encontrado antes da queda de Chichén Itza em 1191 encontrado no topo do monte El Castillo mostra o disco dividido em quatro áreas com um olho metálico ao centro. [3]


[1]DAVIES, Nigel. The astecs: a history, London; Folio Society, 1973, p. 155

[2] VERDET, Jean Pierre. O ceu, mistério, magia e mito, Rio de Janeiro:Objetiva, 1987, p.53

[3] ROMANO, Arturo. Museu Nacional de Antropologia da cidade do México, São Paulo: Mirador, 1970, p. 115 https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Disque_Chichen_Itza_Mayas.jpg  



Teares incas e maias

 

Os teares incas era de pequenas dimensões, do tipo vertical: dois pequenos paus de madeira, paralelos estendiam o fio da urdidura[1]. Maria Longhena mostra que embora algumas cerâmicas e relatos de cronistas descrevam teares verticais sua existência não pode ser confirmada pela arqueologia.[2] As pessoas comuns usavam a ahuasca um tecido grosseiro de algodão ou lã de alpaca enquanto que os membros da casa real inca usava o cumbi tecido mais elegante e refinado.[3] Em quíchua huasca significa corda.[4] As tecelãs do templo do Sol eram conhecidas como yuracacllas.[5] Os artesãos incas encarregados do tingimento de tais tecidos eram denominados canticamaios. Para o tingimento com cores azul, verde, negra e violeta era usado o índigo, enquanto que o amarelo e o cinza eram obtidos com a chilca, e o laranja era obtido com o urucum, o vermelho era obtido de um inseto a cochonilha e de um parasita do cacto a opuntia.[6] A cochonilla era também muito usada entre os astecas e maias.[7] Durante o período de domínio espanhol, a produção do corante cochonilha cresceu rapidamente tornando-se o segundo produto em valor exportado do México, superado apenas pela prata. No século XVI os espanhóis tomaram as devidas precauções para manter em segredo o processo de fabricação desta tintura. Até cerca de 1820, o México conseguiu manter o monopólio de produção da cochonilha.[8] A palavra “vermelho” tem origem do latim vermiculus, “vermezinho” em referência ao inseto cochonilha conhecida desde a antiguidade.  A cor púrpura era obtida de dois moluscos o Murex brandaris e o Murex truncullus. Entre os maias as tecelãs incumbidas de confeccionar as vetes sacerdotais estavam sob a proteção da deusa Ix Asal Uoh.[9]



[1] BAUDIN, Louis. A vida quotidiana dos últimos incas, Lisboa:Ed. Livros do Brasil, p. 249

[2] LONGHENA, Maria; ALVA, Walter. Peru Antigo. Grandes civilizações do passado. Madrid:Folio, 2006, p.111

[3] LONGHENA, Maria; ALVA, Walter. Peru Antigo. Grandes civilizações do passado. Madrid:Folio, 2006, p.107

[4] WAISBARD, Simone. Tiahuanaco: 10000 anos de enigmas incas. São Paulo:Hemus, 1971, p. 109

[5] SORIANO, Waldemar. Los incas: economia sociedade y estado em la era del Tahuantinsuyo, Peru:Amaru Editores, 1997, p. 472

[6] LONGHENA, Maria; ALVA, Walter. Peru Antigo. Grandes civilizações do passado. Madrid:Folio, 2006, p.111

[7] https://pt.wikipedia.org/wiki/Cochonilha

[8] FERRAZ, Márcia; GOLDFARB, Ana Alfonso; WAISSE, Sílvia. Os estudos sobre a cochonilha entre os séculos XVIII e XIX: uma circulação controversa de informações, 13º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia, São Paulo, 2012.

[9] ROMANO, Arturo. Museu Nacional de Antropologia da cidade do México, São Paulo: Mirador, 1970, p. 104



Literatura técnica no Brasil do século XIX

 

No relatório Geral da Exposição Nacional de 1861, lido no ato solene da distribuição dos prêmios no dia 14 de março de 1862 Frederico Burlamaqui exalta o progresso da indústria: “O público teve ocasião de observar a perfeição das máquinas a vapor marítimas, feitas no Arsenal de Marinha da côrte, os modelos de hélice, locomotivas cilindros a vapor de movimento oscilante, e vários outros aparelhos a vapor das duas grandes fábricas dessa côrte, assim como máquinas de suspender pesos, de cunhar, tórculo e balança da nossa casa de correção; bombas, fogões, panelas de ferros, chapas ornadas, carros, sino, medalhões, pregos etc, de cobre, latão, bronze, ferro e aço, objetos fabricados em diversas oficinas, e que atestam que a indústria metalúrgica tem uma vida animada nesta côrte. A fábrica da Ponta de Areia expôs uma pequena estátua de bronze, a primeira que se funde no Brasil”.[1] No entanto Hermetes Araujo observa o incipiente desenvolvimento técnico no país que se refletia na falta de literatura técnica: “A indigência absoluta da literatura técnica no Brasil ilustra exemplarmente esta situação: se de um lado, desde 1830, junto com a literatura portuguesa, a tradução e a divulgação da poesia e do romance francês, em primeiro lugar, mas também inglês, italiano, alemão etc, se torna um meio de encorajamento aos hábitos de leitura e à criação cultural, por outro lado, as primeiras traduções da literatura técnica para uso no ensino profissional só aparecem praticamente um século mais tarde. As primeiras traduções e os primeiros compêndios relativos à tecnologia dos ofícios só foram elaborados no país no começo dos anos 1920. Até essa época, segundo um historiador do ensino profissional no Brasil [Celso Sukow da Fonseca], "nada existia, em nossa língua, sobre literatura técnica”.[2] Gilberto Freyre se refere ao depoimento de um engenheiro no Brasil do século XIX: “em matéria de tecnologia é sabido que os dicionários portugueses são os mais incompletos que é possível imaginar. Quem toma de um dicionário nosso e nele procura um termo técnico, tem quase certeza de que não vê-lo mencionado ou, pelo menos, de deparar com uma definição errada. Sob esse ponto de vista nossa língua está ainda na infância”.[3] Gilberte Freyre apresenta uma longa lista de estrangeirismos técnicos usados na época: toilette, bife, menu, restaurante, funding, impeachment, cupê, deck, charrete, raquete, pince nez, etiqueta, iate, macadame, box, atelier, meeting, echarpe, book maker, bouquet, budget, guidon, tableu, écran, plateau, carnet. Gilbert Freyre pergunta: “por que menu, se podia-se dizer cardápio ? Abat jour, se era possível dizer em português quebra luz ? Pince nesse em seu lugar podia-se dizer nasóculos ?”. Para Gilberto Freyre a confusão linguística reflete a anarquia da introdução dos artefatos tecnológicos sob a pressão de novas necessidades e situações sociais.



[1] ARAUJO, Hermetes Reis de. Técnica, Trabalho e Natureza na Sociedade Escravista. Rev. bras. Hist.,  São Paulo ,  v. 18, n. 35, p. 287-305,    1998 .   http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01881998000100013

[2] ARAUJO, Hermetes Reis de. Técnica, Trabalho e Natureza na Sociedade Escravista. Rev. bras. Hist.,  São Paulo ,  v. 18, n. 35, p. 287-305,    1998 .   http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01881998000100013

[3] FREYRE, Gilberto. Ordem e progresso, São Paulo: Record, 2000. p.388



sexta-feira, 26 de novembro de 2021

A divindade Quetzalcóatl

 

Quetzalcóatl termo do idioma náuatle clássico representa uma divindade das culturas mesoamericanas[1] segundo o Codice Florentino[2], cultuado especialmente pelos astecas e pelos toltecas, e identificado por alguns pesquisadores como a principal deidade do panteão centro-mexicano pré-colombiano. Seu nome significa "serpente emplumada" (de quetzal, nome comum de um pássaro de penas coloridas Pharomachrus mocinno, e cóatl, serpente). Seu culto era associado e Vênus, planeta que desaparace pela manhã e reaparece à tarde, de modo que se acreditava que visitava o reino da morte e ressurgia triunfante.[3] Segundo textos em nahuatl, a língua dos astecas, o pássaro quetzal simboliza o ceu e a energia espiritual e a serpente cóatl, a terra e as forças naturais[4]), conhecido entre os maias como Kukulcán[5]. A serpente emplumada é o elo de ligação entre os toltecas de Tula e os maias toltecas de Chichen Itzá de Iucatã.[6] Sob o tempo de Uitzilopochtli encontravam-se cabeças de serpentes unidas, formando uma muralha coatepantli característica tipicamente tolteca[7]. Quetzalcóatl é o deus das ciências, agricultura e escrita. Segundo Sahagún: “Chamavam-lhes tolteca, o que quer dizer artífices delicados e procurados [...] eram artífices de grande talento, pintores, lapidários, plumaceiros (amantecatl) [...] Sabiam muitas coisas, não haviam dificuldades par eles, talhavam a pedra verde (chalchiuitl), fundiam o ouro (teocuitlapitzaia) e tudo isso procedia de Quetzalcoatl, as artes (toltecayocl) e os conhecimento”[8].

[1] LONGHENA, Maria. O México antigo, Barcelona:Folio, 2006, p. 32

[2] LONGHENA, Maria. O México antigo, Barcelona:Folio, 2006, p. 119

[3] ROMANO, Arturo. Museu Nacional de Antropologia da cidade do México, São Paulo: Mirador, 1970, p. 87

[4] MAGNY, Olivier de. Teotihuacán, cidade dos deuses. In: Seleções do Reader’s Digest, Os últimos mistérios do mundo, Lisboa, 1979, p.115

[5] Guia dos segredos do império: o povo asteca, Barueri:On Line, 2016, p. 13

[6] LONGHENA, Maria. O México antigo, Barcelona:Folio, 2006, p. 36

[7] SOUSTELLE, Jacques. A vida quotidiana dos astecas. Belo Horizonte:Itatiaia, 1962, p.52

[8] SOUSTELLE, Jacques. A vida quotidiana dos astecas. Belo Horizonte:Itatiaia, 1962, p.105 LONGHENA, Maria. O México antigo, Barcelona:Folio, 2006, p. 55



Temores do ano mil

 

Para Henri Pirenne: “è, sem dúvida, falso que os homens tenham esperado o fim do mundo no ano 1000, mas o século que se inicia nesta data caracteriza-se, em posição com o que o precede, por um recrudescer / renascimento de atividade tão acentuado que podia passar por o despertar de uma sociedade por longo tempo oprimida por um angustiante pesadelo”.[1] Marc Bloch observa que a passagem do ano 1000 não espalhou pelas massas a expectativa de fim do mundo principalmente pelo fato de que a mentalidade da época não pensava em termos de números precisos, e diante da ausência de um calendário unificado, não era incomum que o dia de um dado santo fosse comemorado em datas distintas por diferentes comunidades: “na verdade, para a maior parte os Ocidentais, esta expressão ano mil, que pretendeu ser-nos apresentada como carregada de angústias, era incapaz de evocar uma fase exatamente situada na sucessão dos dias”.[2] Julio Roy mostra que o temor apocalíptico pelo ano mil trata-se de uma lenda a posteriori pois nenhum escritor contemporâneo a menciona.[3] Daniel Rops se refere aos temores do ano mil como “absurda fábula”.[4] Segundo Georges Duby[5]: “Um povo aterrorizado pela eminência do fim do mundo: no espírito de muitos homens de cultura, esta imagem do ano Mil ainda hoje permanece viva, apesar do que Marc Bloch, Henri Focillon ou Edmund Pognon escreveram para destruir, o que prova que os esquemas milenaristas ainda não perderam completamente na nossa época o seu poder de sedução na consciência coletiva [..] E é de fato no fim do século XV, com os triunfos do novo humanismo, que aparece a primeira descrição conhecida dos terrores do ano mil”.[6]  Em a Europa da Idade Média, contudo, Georges Duby se refere a angústia do ano mil: “O inferno, o ceu, o Juízo Final: a partir do ano mil, a arte sagrada, a grande arte, não falará senão disso , mas segundo um outro registro, litúrgico, teológico. Pouco a pouco, passo a passo, ao longo dos séculos de crescimento, no grande surto de otimismo, a angústia havia se retirado”.[7] Para Henri Focillon (figura) a persistência do imaginário de um período de terrores que teria supostamente marcado o ano mil pode ser explicado por uma concepção romântica da Idade Média, própria do século XIX.[8] Henri Focillon destaca que o reino dos Francos ainda sustentam seu império especialmente com Oto III e Gerbert nao se trata portanto de um período de decadência em que apelos apocalípticos pudessem contar com ampla adesão. No ano 1000 Oto III transferiu seu trono para a Roma, sobre o Aventino significando a renovação do Império Romano, que embora não tido continuidade marca um sonho obsessivo de reconstruir a Roma dos Césares. Os intelectuais e a classe esclarecida não compartilhava tais terrores.[9] Nas cerca de 50 bulas promulgadas entre 970 e 1000 assim como nos principais cronistas da época entre os quais Aimoin de Fleury, Odoran de Sens e Ademar de Chabannes não há qualquer referência aos terrores da virada do milênio[10]



[1] PIRENNE, Henri. As cidades da idade média, Portugal:Pub. Europa America, 1962, p.72; FOCILLON, Henri. O ano mil, Lisboa:Estampa, 1977, p. 81

[2] BLOCH, Marc. A sociedade feudal, Lisboa:Edições 70, 1982, p.107

[3] ASLAN, Nicola. A maçonaria operativa, Rio de Janeiro: Aurora, 1979, p. 45

[4] ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante, 2012, p. 388

[5] DUBY, Georges. História artística da Europa: Idade Média, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997, p. 42

[6] DUBY, Georges. O ano mil. Lisboa:Edições 70, 19967, p. 11

[7] DUBY, Georges, A Europa na Idade Média, São Paulo: Martins Fontes, 1988, p. 122

[8] FOCILLON, Henri. O ano mil, Lisboa:Estampa, 1977, p. 44

[9] FOCILLON, Henri. O ano mil, Lisboa:Estampa, 1977, p. 82

[10] FOCILLON, Henri. O ano mil, Lisboa:Estampa, 1977, p. 57, 60




quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Charlatães alquimistas

 

Críticos árabes da alquimia foram Al-Kindi (850) e Avicena (980-1037), muito embora tendo praticado alguns experimentos em alquimia consideravam como pouco prováveis muitas das teorias dos alquimistas.[1] Al-Kindi considerava a alquima uma fraude e tinha a transmutação como falsa, o que afirma especialmente em sua obra “A fraude dos alquimistas”.[2] Para Al-Kindi “se ignoramos os princípios, causas e razões de uma coisa, devemos renunciar à pretensão de alcançar sua verdade científica. E talvez não haja maior ignorante a esse respeito, do que aquele que toma suas observações nos livros dos sábios da Antiguidade, principalmente nessas matérias, as ciências da natureza, e que espera, desse modo obter a verdade que pretende para tais questões, sem passar pelas ciências que as precedem pela ordem”.[3] No século XII Abdul al Latif (1162-1231) de Bagdá se refere a mais de 300 métodos de trapacear usados pelos alquimistas.[4] O “livro dos Charlatões” de Al Jabari no século XIII denuncia a farsa da alquimia, demonstrando e revelando todos os truques, como esconder pequenas porções de ouro dentro do carvão de modo que quando o processo acabar a pepita de ouro ser revelada. Jorge Machado destaca um experimento clássico do erro de interpretação dos alquimistas como uma experiência de transmutação de ferro em cobre[5]. Em uma solução de vitríolo azul (sulfato de cobre pentahidratado CuSO4) era mergulhada uma barra de ferro (Fe). O que se observa é que o ferro aos poucos vai desaparecendo e começa surgir um depósito vermelho de cobre no fundo do recipiente. Na verdade o cobre já estava presente na solução inicial sob a forma iônica formando um composto químico por uma ligação com o grupo sulfato (CuSO4) de modo que em contato com o ferro havia uma reação de substituição entre o cobre e o ferro: Fe + CUSO4 = FeSO4 + Cu. O ferro reage com o sulfato de cobre produzindo sulfato de ferro e cobre metálico. Esta experiência somente pode [6] O exemplo mostra que muitas experiências alquímicas de transmutação, na verdade, revelam experiências químicas válidas, que seriam bem sucedidas independente das condições psíquicas do experimentador bastando que determinadas sequências do método experimental fossem respeitadas.



[1] LAFONT, Olivier. A química. In: COTARDIÈRE, Philippe. História das ciências: da antiguidade aos nossos dias, Rio de Janeiro:Saraiva, 2011, p.144; GILLISPIE, Charles. Dicionário de biografias científicas, Rio de Janeiro:Contraponto, 2007, v.I, p.164

[2] THORNDIKE, Lynn. A History of magic and experimental science, v.I, Columbia University Press, 1923, p.648

[3] TATON, René. A ciência antiga e medieval: a Idade Média, tomo I, v.III, São Paulo:Difusão, 1959, p. 30

[4] DURANT, Will. História da Civilização, A idade da fé, tomo II, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1957, p.65

[6] MACHADO, Jorge. O que é alquimia ? Coleção primeiros passos, São Paulo: Brasiliense, 1991, p. 41





O visionário Roger Bacon

 

Para Roger Bacon o homem sem o auxílio da revelação divina jamais poderia alcançar o conhecimento das ciências, pois somente a revelação será capaz de clarear um caminho que foi obscurecido ao homem devido à sua malícia[1]. Para Charles Singer, Roger Bacon estava muito afrente de seu tempo e seus fundamentos eram a observação e experimentação, com trabalhos em óptica astronomia, geografia, ciência mecânicas, química e matemática.[2] Em Opus Maius Roger Bacon se refere ao que possivelmente trata de fogos de artifícios, na época conhecidos apenas na China, o que segundo Joseph Needham poderia ter sido possível por intermédio de algum amigo missionário, talvez William de Rubruck.[3] Roger Bacon em uma de suas cartas Epistola de secretis operibus artis et naturae et nullitate magiae e em De mirabili potestate artis et naturae libellus manifesta sua confiança no progresso: “Os navios se movimentarão sem remos, e com um homem apenas para guia-los. Carros sem cavalos viajarão com incrível velocidade. Podem-se fazer máquinas de voar com capacidade para um homem em que asas habilmente construídas baterão á maneira dos pássaros. Máquinas haverão que levantarão pesos infinitamente grandes e pontes engenhosas cruzarão os rios sem apoio algum”.[4] Roger Bacon manifesta sua crença no progresso: “Aristóteles e seus contemporâneos deviam ignorar uma imensidade de verdades físicas e de propriedades naturais, hoje mesmo os sábios ignoram muitas coisas que os menores estudantes saberão um dia. Os quevem depois dos outros acrescentam sempre às obras de seus predecessores e emendam muitos erros. Não nos devemos portanto ligar a tudo quanto lemos ou ouvimos, porém sem examinar as opiniões dos antigos para acrescentar naquilo em que foram omissos, corrigir onde erraram, e isto sempre com modéstia e indulgência”[5]



[1] COSTA, José Silveira da. A escolástica cristã medieval, Rio de Janeiro, 1999, p.96

[2] SINGER, Charles. From magic to science. New York:Dover, 1958, p.92

[3] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and water wheel, New York:Harper Collins, 1994, p.206

[4] CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 348; STEVERS, Martin. A inteligência através dos séculos. São Paulo:Globo, 1946, p.411; TATON, René. A ciência antiga e medieval: a Idade Média, tomo I, v.III, São Paulo:Difusão, 1959, p. 125; KLEMM, Friedrich, A history of western technology, London:Ruskin House, 1959, p. 95; COELHO, Latino. A ciência na idade média, Lisboa:Guimarães Editores, 1988, p.29; CANTU, Cesare. História Universal, volume XIV, São Paulo:Editora das Américas, 1955, p. 374; FREMANTLE, Anne. Idade da fé. Biblioteca de História Universal Life. Rio de Janeiro:José Olympio, 1970, p.150; JUNIOR, Hilário Franco. A idade média nascimento do Ocidente. São Paulo:Brasiliense, 1986, p. 177; NUNES, Ruy Afonso da Costa. História da educação na idade média, Campinas:Kirion, 2018, p.298; GOFF, Jacques. Maravilhoso. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017, p. 135; MORTIMER, Ian. Séculos de transformações. Rio de Janeiro:DIFEL, 2018, p. 1022; ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante, 2012, p. 381

[5] CANTU, Cesare. História Universal, volume XIV, São Paulo:Editora das Américas, 1955, p. 377



Cabeças gigantes olmecas

 

Foram encontradas na civilização olmeca estátuas de grandes cabeças de basalto com 44 toneladas cada, encontradas em cidades na costa do Golfo do México como Três Zapotes, a ilha de La Venta [1] (cidade para qual migraram os olmecas depois da destruição de San Lorenzo, até sua destruição em 300 a.c.), San Lorenzo (que atingiu seu auge entre 1200 e 900 a.c. quando após uma violenta destruição se seguiu o surgimento de La Venta no estado de Tabasco)[2] e Laguna de los Cerros, que Collin Ronan atribui representar homens de capacetes em uniforme para algum tipo de jogo, possivelmente algo parecido com o futebol observado pelos conquistadores.[3] As primeiras cabeças foram encontradas por J. M. Melgar y Serrano, em Três Zapotes, no estado de Veracruz e descritas, em 1869, no Bulletin of the Mexican Geographical and Statistical Society (“Boletim da Sociedade Mexicana de Geografia e Estatística”) como “uma magnífica escultura que espantosamente representa um etíope africano”. Uma cabeça gigante de basalto foi descoberta por Stirling em 1945 em meio da floresta em San Lorenzo e trazida em 1963 para o Museu de Houston por James Johnson.[4] Para Paul Rivet a hipótese de migração da África é mais frágil pois se baseia numa crônica árabe do final do século XIII que relata uma expedição marítima feita pelo imperador de Mali, ou talvez alguns escravos negros tenham vindo numa expedição chinesa às costas americanas.[5] De qualquer forma tais expedições tem datação muito superior à das esculturas olmecas. As pedras em San Lorenzo eram trazidas de uma pedreira a cerca de cinquenta milhas de distância [6]. Uma fina lasca de magnetita mergulhada sobre a água encontrada em San Lorenzo pode ter sido usada como uma bússola usada com propósitos de geomancia usada em um contexto religioso.[7]

[1] COE, Michael. Antigas Américas, mosaico de culturas, v. I Madrid:Ed. Del Prado, 1997, p. 98; MEGGERS, Betty. América pré histórica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p. 74

[2] Guia dos segredos do império: o povo asteca, Barueri:On Line, 2016, p. 9; Michael. Antigas Américas, mosaico de culturas, v. I Madrid:Ed. Del Prado, 1997, p. 95; LONGHENA, Maria. O México antigo, Barcelona:Folio, 2006, p. 24

[3] RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência: das origens à Grécia. São Paulo:Círculo do Livro, 1987, p.55

[4] ROMANO, Arturo. Museu Nacional de Antropologia da cidade do México, São Paulo: Mirador, 1970, p. 24 https://br.pinterest.com/pin/684054630881476410/

[5] VALLA, Jean Claude. A civilização dos incas, Rio de Janeiro: Otto Pierre, 1978, p. 45

[6] TOYNBEE, Arnold. A humanidade e a mãe terra, Rio de Janeiro:Zahar, 1976, p.156

[7] COE, Michael. Antigas Américas, mosaico de culturas, v. I Madrid:Ed. Del Prado, 1997, p. 100; HAMMOND, Norman. La civilizacion Maya, New Jersey: Cambridge University Press, 1982, p.328



Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...