quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Charlatães alquimistas

 

Críticos árabes da alquimia foram Al-Kindi (850) e Avicena (980-1037), muito embora tendo praticado alguns experimentos em alquimia consideravam como pouco prováveis muitas das teorias dos alquimistas.[1] Al-Kindi considerava a alquima uma fraude e tinha a transmutação como falsa, o que afirma especialmente em sua obra “A fraude dos alquimistas”.[2] Para Al-Kindi “se ignoramos os princípios, causas e razões de uma coisa, devemos renunciar à pretensão de alcançar sua verdade científica. E talvez não haja maior ignorante a esse respeito, do que aquele que toma suas observações nos livros dos sábios da Antiguidade, principalmente nessas matérias, as ciências da natureza, e que espera, desse modo obter a verdade que pretende para tais questões, sem passar pelas ciências que as precedem pela ordem”.[3] No século XII Abdul al Latif (1162-1231) de Bagdá se refere a mais de 300 métodos de trapacear usados pelos alquimistas.[4] O “livro dos Charlatões” de Al Jabari no século XIII denuncia a farsa da alquimia, demonstrando e revelando todos os truques, como esconder pequenas porções de ouro dentro do carvão de modo que quando o processo acabar a pepita de ouro ser revelada. Jorge Machado destaca um experimento clássico do erro de interpretação dos alquimistas como uma experiência de transmutação de ferro em cobre[5]. Em uma solução de vitríolo azul (sulfato de cobre pentahidratado CuSO4) era mergulhada uma barra de ferro (Fe). O que se observa é que o ferro aos poucos vai desaparecendo e começa surgir um depósito vermelho de cobre no fundo do recipiente. Na verdade o cobre já estava presente na solução inicial sob a forma iônica formando um composto químico por uma ligação com o grupo sulfato (CuSO4) de modo que em contato com o ferro havia uma reação de substituição entre o cobre e o ferro: Fe + CUSO4 = FeSO4 + Cu. O ferro reage com o sulfato de cobre produzindo sulfato de ferro e cobre metálico. Esta experiência somente pode [6] O exemplo mostra que muitas experiências alquímicas de transmutação, na verdade, revelam experiências químicas válidas, que seriam bem sucedidas independente das condições psíquicas do experimentador bastando que determinadas sequências do método experimental fossem respeitadas.



[1] LAFONT, Olivier. A química. In: COTARDIÈRE, Philippe. História das ciências: da antiguidade aos nossos dias, Rio de Janeiro:Saraiva, 2011, p.144; GILLISPIE, Charles. Dicionário de biografias científicas, Rio de Janeiro:Contraponto, 2007, v.I, p.164

[2] THORNDIKE, Lynn. A History of magic and experimental science, v.I, Columbia University Press, 1923, p.648

[3] TATON, René. A ciência antiga e medieval: a Idade Média, tomo I, v.III, São Paulo:Difusão, 1959, p. 30

[4] DURANT, Will. História da Civilização, A idade da fé, tomo II, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1957, p.65

[6] MACHADO, Jorge. O que é alquimia ? Coleção primeiros passos, São Paulo: Brasiliense, 1991, p. 41





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