Numa representação
de uma palavra em hieróglifo alguns ícones tem a função de conferir um sentido
aos ícones anteriores sem que esteja associado a um som. Assim a palavra khered – criança é uma composição de
três primeiros ícones marcando as letras K, H, D e um quarto símbolo que
representa uma criança com dedo na boca indicando o contexto daquela palavra.
Estes ícones de sentido tem a função adicional de marcar a separação entre as
palavras uma vez que na escrita hieroglífica não há pontuação ou espaços entre
as palavras. Inicialmente representando cada símbolo uma ideia a escrita
hieroglífica passou a incorporar a representação de sons, assim, para
representar “soldado” poderia se combinar o “sol” com um “dado” dois objetos
sem nenhuma relação com o objeto final simbolizado. Como não usavam vogais, a
escrita hieroglífica egípcia nunca se constituiu uma escrita alfabética mas uma
mistura de escrita alfabética com ideográfica o que dificultava sua compreensão.[1] O método
hieroglífico era um compromisso entre um sistema alfabético e pictórico[2]. O Alto
Egito por exemplo era representado pelo símbolo de uma flor de lis, ao passo
que o Baixo Egito por ramos de um papiro. Um ramo de palmeira significava ano,
porque a cada ano nascia uma novo ramo a uma palmeira. O verbo comer era o de
um homem sentado que leva a mão direita
à boca. Envelhecer era representado por um idoso apoiado em uma vara. Por outro
lado, alguns ideogramas tornam-se letras do alfabeto como por exemplo o
ideograma para rosto simboliza a palavra hor de mesmo som que outras palavras
como “o mais alto”, com isso o ideograma tornou-se um sinal silábico h + r. Do
mesmo modo o ideograma de casa que se pronunciava peri tornou-se o sinal
silábico para p + r. Para as palavras egípcias formadas por uma única consoante
e uma só vogal como ke – altura ou ro – boca, ou ta – pão, pelo mesmo processo tais
ideogramas tornaram-se um sinal fonético , respectivamente com som de k, r e
t., o que seria um proto alfabeto. Carl Grimberg mostra que esse processo de formação
somente não se completou com o abandono dos demais símbolos ideográfico devido
à tradição da qual o povo egípcio não queria se desfazer.[3] Estabelecido
desde a primeira dinastia em 3100 a.c. a escrita hieroglífica egípcia sofreu
apenas pequenas variações por cerca de 2500 anos.[4] Descobertas
na tumba U-j do cemitério de Umm el Qaab em Abidos revelaram material epigráfico
que atesta a existência de uma proto escrita na dinastia zero (3200 a.c) antes, portanto, da unificação do Egito na primeira
dinastia de Menés (3100 a.c.),[5] de modo
que há uma relação direta entre o nascimento da escrita e a afirmação da
realeza. Com as medidas tomadas por Teodósio I em 391 de fechar todos os
templos pagãos e diante do incêndio da Biblioteca de Alexandria em 47 a.c.
reduz-se cada vez mais o número de pessoas capazes de compreender os
hieróglifos que tornou-se uma língua morta.[6] Os
hieróglifos egípcios poderiam ser lidos da esquerda para a direita, da direita
para esquerda ou verticalmente, dependendo do espaço disponível ou da
imaginação do escriba, sem espaçamentos entre as palavras. A pista para a
direção era a presença de um símbolo representando um pássaro, cobra ou outra
criatura. Gamal Mokhtar[7] mostra
que é pouco provável que a escrita egípcia tenha origem no oriente ou na
Mesopotâmia uma vez que há uma evolução nos símbolos empregados e sempre com
uma correlação com a flora e fauna da região o que denuncia sua origem
africana.
[1] CASSON, Lionel. O
antigo Egito. Rio de Janeiro:José Olympio, 1969, p.153
[2] WHITE, Jon Manchip. O
Egito Antigo, Rio de Janeiro:Zahar, 1966, p. 169
[3] GRIMBERG, Carl. O império das pirâmides, História Universal, v.2, Santiago,
Europa America, 1989, p. 20
[4] ROSS, Norman. The epic of man, Life Magazine, 1962, p. 118
[5] Desplancques, Sophie. Egito Antigo (Encyclopaedia) . L&PM Pocket. Edição do Kindle, 2021, p.155/1492; SILVERMAN,
David. Introduction to Ancient Egypt and Its Civilization, Semana 2, History
and Chronology Part 6, 2021 https://www.coursera.org/learn/introancientegypt/
[6] VERCOUTTER, Jean. Em
busca do Egito esquecido. Rio de Janeiro:Objetiva, 2002, p.13
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