No
relatório Geral da Exposição Nacional de 1861, lido no ato solene da
distribuição dos prêmios no dia 14 de março de 1862 Frederico Burlamaqui exalta
o progresso da indústria: “O público teve
ocasião de observar a perfeição das máquinas a vapor marítimas, feitas no
Arsenal de Marinha da côrte, os modelos de hélice, locomotivas cilindros a
vapor de movimento oscilante, e vários outros aparelhos a vapor das duas
grandes fábricas dessa côrte, assim como máquinas de suspender pesos, de
cunhar, tórculo e balança da nossa casa de correção; bombas, fogões, panelas de
ferros, chapas ornadas, carros, sino, medalhões, pregos etc, de cobre, latão,
bronze, ferro e aço, objetos fabricados em diversas oficinas, e que atestam que
a indústria metalúrgica tem uma vida animada nesta côrte. A fábrica da Ponta de
Areia expôs uma pequena estátua de bronze, a primeira que se funde no Brasil”.[1] No entanto Hermetes Araujo observa o incipiente desenvolvimento técnico no país
que se refletia na falta de literatura técnica: “A indigência absoluta da literatura técnica no Brasil ilustra
exemplarmente esta situação: se de um lado, desde 1830, junto com a literatura
portuguesa, a tradução e a divulgação da poesia e do romance francês, em
primeiro lugar, mas também inglês, italiano, alemão etc, se torna um meio de
encorajamento aos hábitos de leitura e à criação cultural, por outro lado, as
primeiras traduções da literatura técnica para uso no ensino profissional só
aparecem praticamente um século mais tarde. As primeiras traduções e os
primeiros compêndios relativos à tecnologia dos ofícios só foram elaborados no
país no começo dos anos 1920. Até essa época, segundo um historiador do ensino
profissional no Brasil [Celso Sukow da Fonseca], "nada existia, em nossa
língua, sobre literatura técnica”.[2] Gilberto Freyre se refere ao depoimento de um engenheiro no Brasil do século XIX:
“em matéria de tecnologia é sabido que os dicionários portugueses são os
mais incompletos que é possível imaginar. Quem toma de um dicionário nosso e
nele procura um termo técnico, tem quase certeza de que não vê-lo mencionado
ou, pelo menos, de deparar com uma definição errada. Sob esse ponto de vista
nossa língua está ainda na infância”.[3] Gilberte Freyre apresenta uma longa lista de estrangeirismos técnicos usados na
época: toilette, bife, menu, restaurante, funding, impeachment, cupê, deck,
charrete, raquete, pince nez, etiqueta, iate, macadame, box, atelier, meeting,
echarpe, book maker, bouquet, budget, guidon, tableu, écran, plateau, carnet. Gilbert
Freyre pergunta: “por que menu, se podia-se dizer cardápio ? Abat
jour, se era possível dizer em português quebra luz ? Pince nesse em
seu lugar podia-se dizer nasóculos ?”. Para Gilberto Freyre a confusão
linguística reflete a anarquia da introdução dos artefatos tecnológicos sob a
pressão de novas necessidades e situações sociais.
[1] ARAUJO, Hermetes Reis
de. Técnica, Trabalho e Natureza na Sociedade Escravista. Rev. bras.
Hist., São Paulo , v. 18, n. 35, p. 287-305, 1998 .
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01881998000100013
[2] ARAUJO, Hermetes Reis
de. Técnica, Trabalho e Natureza na Sociedade Escravista. Rev. bras.
Hist., São Paulo , v. 18, n. 35, p. 287-305, 1998 .
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01881998000100013
Nenhum comentário:
Postar um comentário