segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

A tecnologia de ponta de lança no paleolítico

 

Com o homo sapiens há uma nova maneira de talhar o sílex quando se introduz o cinzel para lascar o sílex por lâminas, o que permitiu a construção das primeiras facas e instrumentos perfurantes.[1] Na técnica do anterior dos aurignacianos fazia-se saltar as lascas batendo contra a aresta da pedra em direção de seu gume. Na técnica solutrense (20 mil a 16 mil a.c.) com o cinzel feito de osso, ao contrário, arrancam-se longas escamas achatadas desde a aresta da pedra[2], como na famosa peça de biface de sílex chamada “folha de louro” ou “folha de laurel”. Segundo Richard Leakey ao descrever esta ponta de lança de pederneira: “este estilo cultural específico ficou restrito a uma pequena área da Europa Ocidental, mas ele tipifica a imposição precisa da forma estandartizada, notada nas culturas de artefatos de pedra posteriores. É a forma pela forma, pois ela não melhorou muito a utilidade dos artefatos”.[3] Esta criação de forma, que se reveste de aspectos utilitários, configura um objeto que hoje seria protegido por desenho industrial. A tecnologia de ponta de lança, com um dos primeiros artefatos compostos feito pelo homem, foi usada tanto pelos neandertais quanto pelos primeiros Homo sapiens e é facilmente observada após cerca de 200.000 a 300.000 anos atrás, como os encontrados na Etiópia (280 mil anos atrás) mas não está claro se foi usada por um ancestral comum ou adquirida separadamente por cada espécie. O lançamento de dardos com pontas de pedra compostas foi portanto um estágio de um longo processo com raízes evolutivas muito mais profundas, contribuindo para melhor o sucesso na caça. Wilkins defende o uso de pontas de pedra por um ancestral comum a neandertais quanto pelos primeiros Homo sapiens em um local no centro da África do Sul que foram cortadas para formar lanças cerca de 500.000 anos atrás.[4]



[1] VARAGNAC, André, O homem antes da escrita, Rio de Janeiro:Cosmos, 1963, p. 90

[2] BRISSAUD, Jean Marc. As civilizações pré-históricas. Rio de Janeiro:Ed. Ferni, 1978, p.114, 144

[3] LEAKEY, Richard. A evolução da humanidade, Brasília: UNB, 1981, p. 136

[4] WILKINS, Jayne; SCHOVILLEKYLE, Benjamin; BROWNANAD, Michael; CHAZAN, Michael. Evidence for Early Hafted Hunting Technology, SCIENCE, 16 Nov 2012, V. 338, n. 6109, p. 942-946 https://www.science.org/doi/10.1126/science.1227608 LONGRICH, Nicholas. How a handful of prehistoric geniuses launched humanity’s technological revolution. 29 dez 2021 https://theconversation.com/how-a-handful-of-prehistoric-geniuses-launched-humanitys-technological-revolution-171511



A ciência em Adelardo de Bath

 

Adelardo de Bath (1080-1152) aponta: “Quando examino os escritos famosos dos antigos – nem todos, mas a maioria – e comparo seus talentos com o conhecimento dos modernos, julgo os antigos eloquentes e chamo aos modernos estúpidos”.[1] E ainda: “se a vontade do Criador é a de que as ervas nasçam da terra, tal vontade não é despida de razão [...] Uma coisa é o que eu aprendi dos mestres árabes sob o comando da razão, outra aquilo o que, de tua parte, seduzido pela máscara da autoridade, estás preso como que por um cabresto. Com efeito, que outro nome, se não o de cabresto, deve ser dado à autoridade ? Permites que a autoridade te conduza como os animais domesticados que não sabem nem para onde nem porque são levados”[2]. Para Adelardo de Bath “somente quando o conhecimento humano completamente fracassa a questão deve se recorrer a Deus”[3]. Para Adelardo de Bath há uma relação direta entre os fenômenos da natureza e a vontade de Deus e que deve ser motivo de investigação: “Examine as coisas mais de perto, considere, além disso, as circunstâncias especiais, destaque as coisas em vez de admirar os efeitos”.[4] Adelardo de Bath condenava “o vício desta geração que só considera aceitáveis as descobertas feitas pelos antigos e pelos outros”. Para ele, seguir a autoridade dos antigos em vez da razão é “entregar-se à mais bestial credulidade e deixar-se arrastar para uma armadilha perigosa”. O dominicano Alberto Magno “quem acredita que Aristóteles é um deus, tem de acreditar que nunca errou. Mas, se acredita que foi um homem, então pode errar como nós”.[5]



[1] LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.48

[2] TATON, René. A ciência antiga e medieval: a idade média, tomo I, livro 3, Sâo Paulo:Difusão Europeia, 1959, p. 111

[3] LINDBERG, David C. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição do Kindle. 2007, p.212

[4] GREGORY, Tullio. Natureza. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017, p. 301

[5] FUMAGALLI, Mariateresa. O intelectual. In: LE GOFF, Jacques. O homem medieval, Lisboa: Editorial Presença, 1989, p.141



A ciência em Thierry de Chartres

 

A catedral de Chartres foi construída no mesmo local antes havia uma igreja que abrigava a túnica sagrada da Virgem Maria, um presente de Carlos o Calvo, que Carlos Magno havia recebido do imperador de Bizâncio no século IX.[1] O bispo Fulberto que lecionou na escola episcopal de Chartres entre 1006 e 1028 foi discípulo de Gerbert de Aurillac, o papa Silvestre II, e tornou Chartres um grande centro de aprendizagem e foco de peregrinações, refúgio de erudição e conhecimento, onde lecionariam Bernardo de Chartres, o bispo Gilbert de la Porrée / Gilbert de Pointiers, Yves / Ivo de Chartres mestre em direito canônico, Thierry de Chartres e o bispo João de Salisbury, entre outros. Thierry de Chartres mostrou que o trivium (gramática, dialética e retórica) e quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música) eram apenas um meio e que o fim era “formar almas na verdade e na sabedoria”. Christopher Dawson atribui a escola catedral de Chartres o status de protouniversidade sendo que ao tempo de Bernardo e Thierry de Chartres  e seu discípulo Guilherme de Conches rivalizava com Paris como centro de filosofia. Nos tratados educacionais  escritos por Thierry e Guilherme de Conches, o Heptateuchon e o Dragmaticon estão descritos em detalhes os métodos educacionais usados em Chartres[2]. O concílio de Latrão III no canon 18 decidiu: “ordenamos, portanto, que em todas as igrejas catedrais se proveja um rendimento conveniente a um mestre, encarregado de ensinar gratuitamente aos clérigos dessa igreja e a todos os alunos pobres”. Thierry de Chartres (1100-1150) era chanceler da escola e defendia a tese de que os corpos celestes não eram divinos ou feitos de uma matéria incorruptível, mas pelo contrário, feitos da mesma matéria que as coisas terrenas e sujeitas à mesma ordem. O comentário de Thierry de Chartres sobre os seis dias de criação do Genesis, busca uma conciliação com a cosmologia platônica e aristotélica, na qual os quatro elementos, terra, fogo, água e ar foram todos criados por Deus no início da criação do universo, ou seja, o fundamento usado é o relato bíblico como ponto de partida para a criação e a partir do qual em diante segue uma causação natural, sem qualquer intervenção miraculosa.[3] Para David Lindberg este naturalismo de Thierry de Chartres pode ser visto como uma das características que mais se destacam na filosofia natural do século XII e prenunciam a mentalidade que irá pautar a ciência ocidental no século XVII. Segundo Thomas Goldstein: “Thierry provavelmente será reconhecido como um dos verdadeiros fundadores da ciência do Ocidente”.[4]

[1] MURPHY, Tim Wallace. O código secreto das catedrais. São Paulo:Pensamento, 2007, p. 166

[2] DAWSON, Christopher. Criação do Ocidente, São Paulo: É Realizações, 2016, p. 227

[3] LINDBERG, David C. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição do Kindle. 2007, p.210

[4] AQUINO, Felipe. Uma história que não é contada, Lorena: Cleofas, 2008, p. 166



A lenda das Amazonas

 

Cristóvão Colombo no seu exemplar de Historia rerum ubique gestarum livro escrito por Eneias Piccolomini futuro papa Pio II em 1458 sublinhou o texto em que se refere a uma terra de amazonas não no continente mas numa ilha, um mito que foi realimentado com a descoberta das Americas. Em 1493 os índios de Ispaniola (hoje Haiti) informaram a Colombo a existência da ilha de Matinino, povoada por mulheres guerreiras. O padre Cristoval de Acuña se refere que “o tempo descobrirá a verdade se estas são as amazonas afamadas dos historiadores, que tesouros encerram em suas terras para enriquecer a todo o mundo”.[1] Walter Raleigh empreendeu sem sucessos duas expedições, em 1595 e 1616 em busca das amazonas, mulheres guerreiras que trocavam ouro por pedras de jade ou uma variedade de feldspato chamada de amazonita. Sua existência também é relatada na mesma época por Hernando de Rivera no Paraguai e por André Thévet, ou por Jean Mocquet em 1617 [2]. Segundo o relato de frei Gaspar de Carvajal (1504-1584) os próprios índios alertaram Francisco de Orellana sobre as amazonas e sugeriam que fossem “ver as amazonas, que na sua língua era coniupuiara, o que significava grandes senhoras, mas que prestássemos atenção no que fazíamos, porque éramos poucos e elas muitas, para que não nos matassem [...] eram muito robustas, estavam despidas, porém com as partes pudentas cobertas, empunhavam arcos e flechas e lutavam tanto quanto dez índios”.[3] Frei Gregorio Garcia  em Origen de los índios del Nuevo Mundo e Indias Ocidentales publicado em 1607 sugerira que as amazonas encontradas no Brasil eram mulheres guerreiras que teriam vindo da Grécia a partir da viagem dos argonautas gregos. Na Ilíada de Homero as amazonas são descritas como mulheres guerreiras que viviam numa terra a leste da Grécia e as quais tinham o seio direito extraído quando crianças para facilitar o uso do arco (amazonas significa em grego a – sem, mazos – seio). Estrabão se refere as amazonas que viviam nas montanhas da Albânia, enquanto Heródoto se refere a Sarmácia na região do baixo Volga. Segundo a lenda mulheres amazonas que teriam atacado Orellana em 1541 retiravam pedras conhecidas como muiraquitãs de um lago chamado espelho da lua para presentear os homens que as visitavam anualmente.[4] Padre Manuel da Nóbrega em Cartas ao Brasil se refere a índios que tiveram contato com as Amazonas e que guerreavam com elas: “são estas as Amazonas tão guerreiras, que vão a guerra contra eles, e os mais valentes que podem tomar, destes concebem. E se parem filho, dão-no a seu pai ou o matam, e se filha criam-na e cortam-lhe o peito direito”.[5] O espanhol Francisco Lopez de Gomara (1511-1566) escreveu: “Não acredito que mulher alguma queime ou corte o seio direito para ser capaz de aturar com o arco, pois atiram muito bem com ambos os seios. Jamais se viu isso ao longo desse rio e jamais se verá Graças a essa impostura, muitos já escrevem e falam do rio das Amazonas”. O padre Simão de Vasconcelos (1597-1671) se refere a “finalmente há outra nação de mulheres também monstruosas no modo de viver (são as que chamamos hoje de Amazonas, semelhantes às da Antiguidade, e de que tomou o nome do rio), porque são mulheres guerreiras, que vivem por si sós, sem comercio de homens, habitam grandes povoações de uma província inteira, cultivando as terras, sustentando-se de seus próprios trabalhos. Vivem entre grandes montanhas, são mulheres de valor conhecido que se tem conservado sem o consórcio de varões [...] Criam entre si só as fêmeas deste ajuntamento, os machos matam ou os entregam as mais piedosas aos pais que os levam”.[6]

[1] HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visões do Paraíso. São Paulo: Brasiliense, 2000, p. 30

[2] PRIORE, Maria del. Histórias da gente brasileira, V.1 Colônia, Rio de Janeiro:Leya, 2016, p. 50

[3] AQUINO, Fernando, Gilberto, HIran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.196; JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 372

[4] MENDES, Josué Camargo. Conheça a pré história brasileira, São Paulo: USP, Polígono, 1970, p. 101

[5] HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visões do Paraíso. São Paulo: Brasiliense, 2000, p. 123

[6] HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visões do Paraíso. São Paulo: Brasiliense, 2000, p. 168




domingo, 27 de fevereiro de 2022

A prática de canibalismo na civilização minoica

 

Em 1870 Heinrich Schliemann descobriu as cidades de Troia, que até então se acreditava mitológica tal como descrita por Homero na Ilíada, que agora se acredita tratar-se de um poema histórico – os detalhes podem ser fictícios, mas a essência como os personagens principais ali descritos bem como locais são reais. A escrita Linear A encontrada na Creta Minoica de 3500 a.c. a 2000 a.c no palácio de Cnossos do rei Minos  na ilha de Creta por Arthur Evans em 1894, até hoje não foi decifrada, com semelhança com os hieróglifos egípcios[1]. Trata-se de uma escrita usada no palácio. A civilização minoica que segundo Evans remonta vestígios neolíticos de dez mil anos a.c.[2] foi destruída por volta de 1400 a.c. Evans publicou em 1936 “O palácio de Minos em Cnossos” dividindo a civilização minoica em três períodos: minoico antigo (3400-2100), minoico médio (2100-1580) e minoico recente (1580-1250 a.c.). Heródoto por volta de 480 a.c se refere a história do rei Minos assim como as descrições da epopeia da Ilíada e Odisseia: “Existe uma terra, por nome Creta, situada no vinoso mar, bela fértil, cingida de água por todos os lados: seus habitantes, inumeráveis, distribuem-se por noventa cidades [...] Entre essas cidades sobressai uma, Cnossos, na qual, desde nove anos de idade, reinou Minos, confidente do grande Zeus”. O conceito de uma civilização avançada para sua época e pacífica foi questionado por descobertas feitas em 1979 numa casa em Cnossos por Peter Warren que encontrou em um dos aposentos da casa vestígios de ossos humanos misturados a caracóis e mariscos comestíveis. Novos aposentos encontraram os mesmos vestígios sem que houvesse qualquer sinal de sepultamento. Os arqueólogos de início relutaram em admitir que se tratam de evidências da prática de canibalismo, mas não puderam evitar a conclusão óbvia. James Peter observa que se tais ossos fossem de animais não haveria qualquer dúvida de que se tratava de restos de refeição. Para Peter Warren trata-se da consumação de algum ritual canibal praticado contra crianças, o que pode explicar a lenda do Minotauro, o odioso mostro capaz de comer crianças nas lendas de Teseu, tal como contado nos versos de Homero. [3]



[1] EYDOUX, Henri Paul. Á procura dos mundos perdidos, São Paulo:Melhoramentos, 1967, p. 146

[2] LISSNER, Ivar. Assim viviam nossos antepassados, Belo Horizonte, Itatiaia, 1968, p. 334

[3] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 371



Vikings na América

 

Os vikings nos séculos IX ao XI, navegavam pelos mares do Atlântico Norte incluindo a Islândia e a Groenlândia, bem como a América do Norte sendo orientados basicamente pelo Sol por cristais conhecidos como 'sunstones' (pedras de sol) mencionados em diversos contos nórdicos. Eram usados cristais ultrapuros dicroicos de cordierita e turmalina, ou birrefringentes, como a calcita. Ao olhar para o céu através desse cristal e então rotacioná-lo para que as duas imagens fiquem com a mesma intensidade de brilho, é possível visualizar os anéis de luz polarizada que cercam o Sol, mesmo com esse último completamente cercado por densas nuvens.[1] Marc Bloch observa que o avanço das técnicas navais dos vikings foi um importante fator para viabilização das invasões escandinavas, no entanto: “as primeiras expedições dos vikings para o Ocidente tiveram menos como objetivo a conquista de locais onde se estabelecessem de modo permanente do que a busca de presas destinadas a serem levadas para casa”.[2] Os navios do Norte tinham o casco trincado ao invés de casco liso como nos navios do Sul no Mediterrâneo, pelo fato de que os homens do norte não conheciam a serra. O casco trincado embora não permitisse a construção de navios compridos por outro lado demonstrou ser bastante forte o que permitia o uso de madeiras mais leves.[3] Entre os viajantes vikings estavam Bjarni Herjolfsson no ano de 986, e Leif, filho de Eric o Riivo no ano 1000 este último chegou a desembarcar na América do Norte numa região que denominou Markland (Terra dos Bosques). Mais tarde Tyrkir o Alemão, chegou numa região que denominou Viland. O ápice desse movimento foi a tentativa de colonização empreendida por Thorfinn Karlsefni por volta de 1025 na região de Vinland[4]. O fato dos documentos conhecidos como Icelandic Sagas que narram tais viagens serem pelo menos duzentos anos após os acontecimentos leveram ao ceticismo pelos historiadores, além da divergência em muitos destes relatos, sendo vistas como obras literárias e não de história e da falta de qualquer evidência arqueológica dos vikings nas Américas. Dentre estes vestígios alega-se a Torre de Newport em Rhode Isaland e a Rocha de Dighton, no entanto sem aceitação pelos pesquisadores por tratarem-se de construções possivelmente do período colonial. A Pedra Runa de Kensigton foi descoberta em 1898 que supostamente registra uma inscrição rúnica que trata da chegada de noruegueses em Viland 1362 ao mencionar uma opdagelsesfard (viagem de exploração), no entanto, sua autenticidade não é confirmada, tendo em vista que todos os numerais do texto são arábicos, ao passo que as inscrições rúnicas medievais todas usavam numerais romanos.[5] O mapa de Vinland do século XV, redesenhado a partir de um original do século XIII mostra uma grande ilha chamada Vinlândia, no Atlântico, a oeste da Groenlândia, possivelmente a América do Norte que teria sido descoberto por exploradores nórdicos como Bjarni Herjolfsson e Leif Ericson. Embora a datação do pergaminho tenha sido atribuída ao século XV e de autoria do cartógrafo dinarmaquês Claudius Clavius,[6] testes realizados em 1974 pela Universidade de Yale mostrarm que a tinta usada continha um produto químico conhecido como anatase que somente passou a ser usado em tintas em 1920, o que demonstrou tratar-se de uma fraude[7]. Por outro lado, um moeda viking encontrada no Maine e um fuso usado para fabricação de tecidos encontrado em escavações arqueológicas realizadas por Helge Instad em 1957 no povoado viking de L”Anse aux Meadows na Terra Nova no Canadá confrmam a presença dos vikings no continente americano.[8]



[1] ROPARS, Guy. The sunstone and polarised skylight: ancient Viking navigational tools?, Contemporary Physics, 2014, p.1-15 http://www.saberatualizado.com.br/2017/08/a-descoberta-de-mais-uma-fortaleza.html

[2] BLOCH, Marc. A sociedade feudal, Lisboa:Edições 70, 1982, p.56

[3] HALE, John. Idade das explorações. Biblioteca de História Universal  Life, Rio deJaneiro:José Olympio, 1970, p.86

[4] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 345

[5] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 353

[6] MILLER, Russel. A verdade por trás da história: as novas revelações que estão mudando nossa visão do passado. Rio de Janeiro:Reader’s Digest, 2006, p.253

[7] BARDEN, Renardo. Great mysteries: the discovery of America, San Diego, Greenhaven Press, 1989, p. 77

[8] BARDEN, Renardo. Great mysteries: the discovery of America, San Diego, Greenhaven Press, 1989, p. 80



O homem de Pedra Furada

 

Segundo Niéde Guidon foram encontradas fogueiras de 50 mil anos, o que mostra a presença humana de ancestrais vindos da África. Segundo Niède Guidon (figura) o fato de tais disposições de pedras características do uso em fogueiras não poderia ter sido casual.[1] Um artigo publicado na revista Nature de 1986 Niéde Guidon indentificou ossada humana de 32 mil anos ap[2]. Bia Hetzel apresenta como possibilidades vestígios de fogueiras encontradas em Pedra Furada de 40 mil a 12 mil anos atrás.[3] Após o período de glaciação, o nível do mar teria variado o que facilitaria a formação de diversas ilhas entre a África e o litoral nordestino do Brasil, possibilitando assim a travessia do Atlântico. No entanto suas teses não são plenamente aceitas, pela falta de artefatos os restos humanos com idade equivalente.[4] David Meltzer, James Adovasio e Tom Dillehay, acreditam que os pedaços de quartzo encontrados em grande número do local constituiriam de geosfatos de ocorrência natural. O carvão seria resultado de incêndios naturais. Para Guidon contudo a área era floresta natural e menos sujeitas a incêndios naturais, além de ser pouco provável a construção de artefatos de pedras caindo sobre as outras de forma natural.[5] Nas Américas os vestígios mais antigos do homem primitivo datam de cerca de dez mil anos com o achado de um bisão atingido por várias lanças atiradas por uma espécie de bumerangue (ou atlatl na língua asteca nauatle)[6] na cidade de Folsom feita em 1926 por Figgins no Colorado Estados Unidos[7]. No México o geólogo Helmut de Terra encontrado o chamado homem de Tepexpan de datação de 4,7 mil anos[8]. Em Iztápan a poucos quilômetros de Tepexpan foi encontrado esqueleto de mamute atingidos por artefatos de sílex. Uma ponta bifacial de Clóvis foi encontrada em 1933 no noroeste do México que data de 10 mil a.c.[9] , muito embora as datações de algumas supostas lareiras indiquem 28 mil anos[10]. A lâmina Clóvis tem dimensões maiores que as de Folsom canelada[11], de modo que Folsom retrocede ainda mais a origem do homem americano. Uma das hipóteses é que Clóvis seja uma técnica de lascamento desdobramento da cultura solutrense presente na Europa Ocidental.[12] No norte da Eurásia Muller Beck em 1966 demonstrou que as indústrias líticas dos últimos ocupantes musterienses e primeiros aurignascenses poderiam ser a origem dos artefatos Clóvis.[13] Perto do lago de Baikal sabe-se da existência de ferramentas de pedra semelhantes as descobertas em Clovis., porém na Sibéria nada existe de tão antigo que pudesse recuar a presença humana entes de 15 mil a.c.[14] Uma das possibilidade da origem de Clóvis seria por meio de migrações pela Beríngia, que garantiria uma ponte terrestre entre América e Ásia por volta de 9000 a.c. Em Calico na California, em Tepexpan no México, na caverna Pendejo no Novo México e em Meadowcroft na Pensilvânia foram descobertos vestígios de presença humano, mas sem confirmação[15]. A tecnologia de pontas de projetil é encontrada em Lauricocha no Peru. Uma descoberta de Steven Holen e Thomas Demére publicada na revista Nature em 2017 mostra a presença de ossadas do gênero homo datadas de 130 mil  anos no sudeste da Califórnia em Cerutti Mastodon.[16]



[1] https://www.youtube.com/watch?v=VLXlQGibMOU&t=301s

[2] FILHO, Ivan Alves. História pré colonial do Brasil, Rio de Janeiro: Europa Editora, 1987, p.23

[3] HETZEL, Bia; MEGREIROS, Silvia. Prehistory of Brazil. Rio de Janeiro:Manati, 2007, p. 56

[4] FUNARI, Pedro; NOELLI, Francisco. Pré história do Brasil, São Paulo:Contexto, 2016, p. 41; LOPES, Reinaldo. 1499 o Brasil antes de Cabral,Rio de Janeiro:Harper Collins, 2017, p. 14, 59

[5] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 329

[6] COE, Michael. O México. Lisboa:Editorial Verbo, 1970, p.34; SHAPIRO, Harry. Homem, cultura e sociedade, Lisboa: Fundo de Cultura, 1972, p. 186

[7] SUGGS, Robert. Modernas descobertas em arqueologia, Rio de Janeiro:Fundo de Cultura, 1964, p.46; WENDT, Herbert. Tudo começou em Babel, São Paulo:Difusão, 1962, p. 218; COE, Michael. Antigas Américas, mosaico de culturas, v. I Madrid:Ed. Del Prado, 1997, p. 31

[8] https://en.wikipedia.org/wiki/Tepexpan_man

[9] COE, Michael. O México. Lisboa:Editorial Verbo, 1970, p.35, 37; MILLER, Russel. A verdade por trás da história: as novas revelações que estão mudando nossa visão do passado. Rio de Janeiro:Reader’s Digest, 2006, p.28

[10] CLARK, Grahame. A pré história, Rio de Janeiro:Zahar, 1975, p. 260

[11] SHAPIRO, Harry. Homem, cultura e sociedade, Lisboa: Fundo de Cultura, 1972, p. 184

[12] ARAUJO, Astolfo Gomes de Mello. Os primeiros da fila. Revista de História da Biblioteca Nacional, n.71, agosto 2011, p. 26

[13] MEGGERS, Betty, América pré histórica, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p. 29

[14] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 331

[15] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 321

[16] Holen, S., Deméré, T., Fisher, D. et al. A 130,000-year-old archaeological site in southern California, USA. Nature 544, 479–483 (2017). https://www.nature.com/articles/nature22065



sábado, 26 de fevereiro de 2022

As linhas de Nazca

 

Em Nazca no sul do Peru[1] são encontrados geoglifos feitos como oferendas aos deuses que datam de 500 a.c. a 500 d.c. anteriormente ao império inca e que foram encontradas pelo arqueólogo peruano Julio Tello em 1926. Novas linhas foram encontradas pelos arqueólogos Alfred Kroeber e Toribio Mejfa em 1936.[2] Para fazer os desenhos os nazcas estendiam cordas entre postes alinhando três ou mais em linhas sucessivas  e assim dispunham pedras ricas em ferro e em óxidos de ferro que devido a escassa precipitação não foram deslocadas com o tempo. O exame de datação destes postes de madeira permitiu datar tais glifos por volta do ano 500 [3] Um dos maiores geoglifos é uma representação de um macaco, que somente é encontrado nas florestas da Amazônia e não na costa sul do Peru.[4] Segundo Erich von Daniken em Chariots of the gods? (Eram os deuses astronautas ?) publicado em 1968 no vale desértico El Ingenio em Nazca são encontrados uma serie de marcas que lembra muito pistas de pouso de um aeroporto moderno[5] que teriam sido construídos por extra terrestres. Maria Reiche descarta esta possibilidade e atribui ao significado de tais desenhos a algum tipo de calendário astronômico devido ao posicionamento dos traçados em relação ao por do sol,[6] embora advirta que “não está assegurado, com certeza, que uma interpretação astronômica de todas as linhas seja possível”.[7] Para Hans Horkheimer: “certas relações de medidas e de formas repetem-se com muita frequência nestes desenhos, para se acreditar em simples coincidência. É provável que os centros de irradiações das linhas, suas curvas de oscilação guiem a vista para diferentes pontos do horizonte onde devem efetuar-se ou erguer-se ou o por do sol ou o dia mesmo do solstício de verão”.[8] Um dos desenhos mostra uma aranha do gênero Ricinulei, um dos mais raros e encontrada somente em locais incessíveis da floresta Amazônica e, portanto, não originária do deserto peruano. No desenho é representado o órgão reprodutivo da aranha que normalmente só pode ser visto com auxílio de um microscópio. Em 1939 para Paul Kosov e Marie Reiche os desenhos de animais como o macaco, o cão, o colibri e a aranha (que estaria relacionado ao desenho da Constelação de Ursa Maior) podem indicar símbolos de um mapa estelar.[9] Para Marie Reiche haveriam motivos agrícolas nos desenhos: “o povo do vale precisava saber quando os rios, secos na maior parte do ano, se encheriam de água. Antes de isso acontecer, precisavam começar a limpar as valas de irrigação e preparar as sementes”. Geral Hawkins, que defende a existência de diversos alinhamentos astronômicos em Stonehenge na Inglaterra, depois de realizar diversos cálculos em computador concluiu que não há qualquer evidência de alinhamento dos desenhos em Nazca com os astros.[10] Em 1975 Jim Woodman e Julian Knott[11] construíram um balão simples mostrando que os povos Nazca podem ter voado para terem conseguido realizar os desenhos. Existem desenhos nas cerâmicas Nazca e de Paracas que se assemelham a balões ou homens pássaros simbolizando o desejo de voar[12]. Para Anthony Aveni e David Browe as linhas de Nazca foram uma traçado a ser percorrido a pé possivelmente dentro do contexto de uma cerimônia religiosa, numa forma de procissão.[13] Comunidades isoladas dos aimarás também realizaram desenhos similares encontrados em Nazca.[14] Gerald Hawkins, Kaufffmann Doig e Johan Reinhard acreditam que os geoglifos em Nazca estão relacionados com cultos religiosos para propiciar a fertilidade dos campos.[15] Um estudo feito por Gerald Hawkins tentou sem sucesso estabelecer alguma correspondência dos desenhos com as constelações vistas do ceu da região na época em que foram desenhadas, o que mostra ser pouco provável que os desenhos tenham algo a ver com algum tipo de calendário.[16]



[1] LONGHENA, Maria; ALVA, Walter. Peru Antigo. Grandes civilizações do passado. Madrid:Folio, 2006, p.192

[2] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 296

[3] WAISBARD, Simone. A enigmática mensagem dos nazcas. In: Seleções do Reader’s Digest, Os últimos mistérios do mundo, Lisboa, 1979, p.283

[4] COE, Michael. Antigas Américas, mosaico de culturas, v. II Madrid:Ed. Del Prado, 1996, p. 185

[5] TOTH, Max; NIELSEN, Greg. A força das pirâmides, São Paulo:Record, 1976, p.190

[6] KHUON, Ernst. Vieram os deuses de outras estrelas ? São Paulo:Melhoramentos, 1972, p.232; WAISBARD, Simone. Tiahuanaco: 10000 anos de enigmas incas. São Paulo:Hemus, 1971, p. 14

[7] DANIKEN, Erich von. De volta às estrelas. São Paulo:Melhoramentos, 1971, p.119

[8] WAISBARD, Simone. Tiahuanaco: 10000 anos de enigmas incas. São Paulo:Hemus, 1971, p. 15

[9] LONGHENA, Maria; ALVA, Walter. Peru Antigo. Grandes civilizações do passado. Madrid:Folio, 2006, p.194; RIBAS, Ka W. A ciência sagrada  dos Incas, São Paulo:Madras, 2008, p. 27

[10] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 307

[11] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 300

[12] WAISBARD, Simone. A enigmática mensagem dos nazcas. In: Seleções do Reader’s Digest, Os últimos mistérios do mundo, Lisboa, 1979, p.284

[13] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 311

[14] WESTWOOD, Jenifer. Lugares Misteriosos, Vol. 1, São Paulo:Ediciones del Prado, 1995, p. 98; LEONARD, Joathan. América pré colombiana, Rio de Janeiro:José Olympio Editora. Biblioteca de História Universal Life, 1971, p.128

[15] RIBAS, Ka W. A ciência sagrada  dos Incas, São Paulo:Madras, 2008, p. 28

[16] WAISBARD, Simone. A enigmática mensagem dos nazcas. In: Seleções do Reader’s Digest, Os últimos mistérios do mundo, Lisboa, 1979, p.287



As origens da civilização na ilha de Páscoa

 

Em 1931 Ernand Nordenskjoeld apontou muitas similaridades entre a cultura polinésia e a sul americana:. canoas duplas, uso de zarabatanas e clavas de madeira em forma de espada, braceletes largos de metal, cascas de tartaruga usadas para fazer escovas, vela triangular, irrigação artificial dos campos, a arte de soprar o chifre de concha, trepanação de crânio, uso da escrita por nós como nos quipus. A semelhança no idioma quíchua do Peru com o maori da Ilha de Páscoa inclui diversos termos comuns como a batata doce, kumara (parecido com o quíchua cumar); toki para machado, kimi para cabaça, muna para amor em maori e munay em quíchua;  riki para cacique na ilha de Páscoa e awki em quíchua entre outras. Peter James, contudo argumenta que o nome normal para batata doce em quíchua é apichi, e em parte alguma da costa da América do Sul se usava o termo cumar.[1] Na ilha de Páscoa foi encontrado um sistema de escrita primitivo nas chamadas “tábuas falantes” analisadas por Thomas Berthel em 1960 mas ainda indecifráveis.[2] Thor Heyerdahl observa a semelhança entre o trabalho de alvenaria do polinésio Ahu Tahira em Vinapu e a alvenaria inca no Peru[3], mas reconhece eu sua hipótese de colonização da ilha de Páscoa a partir do Peru não é convincente. Thomas Cook encontrou pirogas polinésias com flutuadores que impedem a embarcação de emborcar Iigando duas pirogas entre si e formando um Prahik obtinha-se uma embarcação resistente ao naufrágio[4]. Uma reprodução chilena de um barco feito de junco data do início da era cristã, embora os exemplos peruanos de cerâmicas datem dos séculos XII e XIII.[5] Persiste, contudo, uma descrença quanto as possibilidades reais de povoamento da América do Sul a partir da Polinésia. Michael Coe aponta que a possibilidade de contato dos maias com outras civilizações pelo Pacífico ou Atlântico não possui crédito entre os pesquisadores uma vez que nenhum objeto manufaturado em qualquer parte da Europa ou Ásia foi encontrado entre os maias.[6] Paul Harrmann embora não descarte essa possibilidade, observa que se houvesse tal contato com europeus como se explicar que os indígenas da América continuassem a desconhecer invenções tão básicas como a roda ? [7] Paul Tolstoi demonstra que a tecnologia de fabricação de papel a partir da casca de árvores entre os maias deve ter tido sua origem na Indonésia e Sudeste Asiático.[8] Hans Disselhoff argumenta que Alexandre von Humboldt relata a existência de jangadas de bambu na costa do Equador mas tudo indica que eram usadas para pequena cabotagem, apenas um documento inca se refere a uma viagem mais longa realizada por Tupac Yupanqui para as ilhas de Avachumbi e Ninachumbi, documento escrito pelo cronista Sarmiento de Gamboa, porém, não é possível identificar com certeza as ilhas que teria visitado[9]. Peter James conclui que a presença polinésia na Ilha de Páscoa é inegável e as influências sul americanas, embora possíveis, são muito tardias, de qualquer forma não há argumentos sólidos para defender a tese de esquadras de balsas de junco vindas do litoral do peru colonizaram a ilha de Páscoa.[10]

[1] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 252

[2] LEBARON, Charles. Os gigantes da ilha de Páscoa. In: Seleções do Reader’s Digest, Os últimos mistérios do mundo, Lisboa, 1979, p.103 https://pt.wikipedia.org/wiki/Rongorongo

[3] LEBARON, Charles. Os gigantes da ilha de Páscoa. In: Seleções do Reader’s Digest, Os últimos mistérios do mundo, Lisboa, 1979, p.99

[4] WENDT, Herbert. Tudo começou em Babel, São Paulo:Difusão, 1962, p. 267

[5] FAGAN, Brian. Los setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume, 2005, p. 154

[6] COE, Michael, Os maias, Editorial Verbo:Lisboa, 1968, p.54

[7] HERRMANN, Paul. As primeiras conquistas. São Paulo:Boa Leitura Editora, 3ª edição, p. 170

[8] COE, Michael. Antigas Américas, mosaico de culturas, v. I Madrid:Ed. Del Prado, 1997, p. 25

[9] WENDT, Herbert. Tudo começou em Babel, São Paulo:Difusão, 1962, p. 285; BAUDIN, Louis. El império socialista de los incas, Santiago Chile:Ediciones Rodas, 1973, p.390; BAUDIN, Louis. A vida quotidiana dos últimos incas, Lisboa:Ed. Livros do Brasil, p. 19

[10] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 253



Mestre Valentim

 

Segundo Maria de Fátima Hanaque Campos: “para os artistas cuja aprendizagem decorreu dos ofícios mecânicos, de tradição medieval, a noção de originalidade não era totalmente compreendida [...] O trabalho coletivo, próprio do período barroco, de tradição medieval, omitia a maioria dos autores das obras de arte. Desta forma, nem sempre é possível identificar o autor. Deve-se perceber que, dentro do contexto histórico dos séculos XVIII e XIX, a nenhum personagem social era permitida a notoriedade individual, diante da figura do rei. Sendo assim, artistas deveriam manter-se no anonimato, ou ao menos manter discrição de sua vida artística”[1]. Mestre Valentim (1745-1813) era filho de um fidalgo português contratador de diamantes e  de uma crioula natural do Brasil. Valentim foi levado a Portugal onde aprendeu o ofício de  toreuta (escultor, entalhador de pedra, metal ou madeira).[2] Na construção do Passeio Público (com o aterro da lagoa do Boqueirão) e do chafariz das Marrecas (demolido em 1896 para o alargamento do quartel da Polícia), inspirado em modelo do jardim de Queluz em Lisboa, o nome do mestre Valentim da Fonseca e Silva não figurava na placa inaugural de 1785.[3] Nas obras de revitalização da área do Paço Imperial em 1789, Valentim construiu o chafariz da Pirâmide. Valentim inaugurou a arte da escultura em metal fundido no Brasil com a escultura do jacarés na fonte dos Amores no Passeio Público e com a ninfa Eco do chafariz e o caçador Narciso das marrecas. Esta é uma época em que o Rio de Janeiro com a transferência da sede do governo de Salvador em 1763 empreende diversas melhorias urbanas como o aqueduto da Carioca, diversos chafarizes, as ruas do vale e do Cano, o Paço dos Governadores, a Casa do Recolhimento, a Casa do Trem para fundição de materiais bélicos, cemitério, matadouros e outros, especialmente na gestão de Luís de Vasconcelos (1779-1790). Na igreja de São Bento no Rio de Janeiro os moldes dos grande lampadários de prata da Capela Mor ao lado do altar central, com 227 quilos cada, concluídos em 1795 são obras de mestre Valentim conforme notas encontradas por Clemente Nigra pagas ao “entalhador Valentim”[4] O altar mor da Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Lapa do Desterro no Largo da Lapa no Rio de Janeiro foi esculpido pelo mestre Valentim em 1775. O nome de Valentim aparece também nos livros  de receita e despesa da Ordem Terceira dos Mínimos de São Francisco de Paula, na Igreja da Irmandade da Santa Cruz dos Militares, na Irmandade Príncipe dos Apóstolos São Pedro e na igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte. O gravador Adalberto de Matos em 1913 na placa comemorativa do centenário de morte de Mestre Valentim o representa junto com os símbolos maçoms do compasso e do esquadro. Anna Carvalho argumenta que a localização privilegiada oficina de torêutica na rua do Sabão, numa época em que negros não podiam ser patrões por serem considerados “infames de raça”, pode ser justificada por suas ligações com a maçonaria.[5]



[1] ORAZEM, Roberta Bacellar. A representação de Santa Teresa D’Avila nas igrejas da Ordem Terceira do Carmo de Cachoeira/Bahia e São Cristóvão/Sergipe, Mestrado em Artes Visuais, Salvador, 2009 http://www.repositorio.ufba.br:8080/ri/bitstream/ri/9853/1/robertaorazempt1.pdf

[2] CARVALHO, Anna Maria Fausto Monteiro de. Mestre Valentim, Rio de Janeiro: Cosac Naify, 1999, p. 107

[3] MOTOYAMA, Shozo. Prelúdio para uma história: ciência e tecnologia no Brasil, São Paulo:Edusp2004, p. 105; MENDES, Chico; VERÍSSIMO, Chico; BITTAR, William. Arquitetura no brasil de Cabral a Dom João VI, Rio de Janeiro;Imperial Novo Milênio, 2009, p. 105

[4] IPLANRIO, Guia das igrejas históricas da cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1997, p. 26; GERSON, Brasil. História das ruas do Rio, Rio de Janeiro: Brasiliana, 1965, p. 102; NIGRA, Clemente Maria da Silva. ”Os dois grandes  lampadários do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro”, Revista do Sphan, 5, 1941, p.285; http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=reviphan&pagfis=5435 CARVALHO, Anna Maria Fausto Monteiro de. Mestre Valentim, Rio de Janeiro: Cosac Naify, 1999, p. 107

[5] CARVALHO, Anna Maria Fausto Monteiro de. Mestre Valentim, Rio de Janeiro: Cosac Naify, 1999, p. 11



quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

As origens de Tiahuanaco

 

Luís Valcarcel em artigo na Illustrated London News de 1937 encontra similaridades de cerâmica em policromia com motivos geométricos da arte de Tiahuanaco[1] com a cerâmica de Marajó[2]. Tiahuanaco, nas proximidade do lago Titicaca no Peru esteve ocupada de 1500 a.c. a 1200 d.c.[3] O apogeu do império de Tiahuanaco data de 500 d.c. [4] Arthur Posnansky em Tiahuanaco, berço do homem americano, publicado em 1945, defende a tese de que a cidade era uma metrópole, capital política e santuário religioso com influência sobre toda a América do Sul e que teria sido construída por volta de 15 mil a.c..[5] e submergida pelo avanço das águas do lago Titicaca para ser reconstruída por volta do ano 800 quando viveu novo período de prosperidade[6]. A tese se baseia no fato de que o templo de Calasasaya era um observatório solar de incrível precisão que teria sido construído em um alinhamento que teria ocorrido por volta de 15 mil a.c.. Um estranho animal representado na Porta do Sol parece mostrar uma mistura de rinoceronte com hipopótamo, o toxodonte, que alguns biólogos acreditam tratar-se de uma espécie extinta há cerca de onze mil anos, mjito embora o desenho não tenha precisão suficiente para esta conclusão[7]. A análise da cerâmica e provas de radiocarbono contudo, confirmam que Tiahuanaco foi construída por volta de do ano 100, segundo Peter James[8]. A tese de que uma colonização de Tiahuanaco em 15 mil a.c proposta por Posnansky e recuperada pelo jornalista Graham Hancock, não consegue, contudo, explicar o imenso abismo que se seguiu uma vez que as primeiras civilizações urbanas da região datam de 3 mil a.c. Pesquisas com cerâmicas antigas encontradas na aldeia de Tiahuanco por Wendell Bennett na década de 1930 mostrarn que esta teria sido fundada por volta de 400 a.c. e entre 100 e 300 d.c se tornou uma cidade tendo sua decadência iniciado em 1000 d.c possivelmente atingidos por uma forte seca que durou até pouco depois de 1300. A dominação inca viria apenas por volta de 1450. Não há nenhuma evidência de que o tempo de Calasasaya foi um tempo de observações astronômicas[9]. Com a invasão inca a cidade já era conhecida como “cidade dos mortos”. Em 1540 Cieza de León testemunhou a ruínas encontradas da cidade de Tiahuanaco, as quais sequer os índios mais antigos da região na época sabiam dizer a origem de tais construções[10]. As culturas chavin, mochica e nazca representam um ápice, enquanto Tiahuanaco um período intermediário que se encerra com a civilização inca que se inicia por volta do ano 1000 e a destruição pelos espanhóis e 1532.  Entre as estruturas monolíticas encontradas em Tiahuanaco está o monólito de Ponce de 3,5 metros e 17 toneladas que recebe o nome do arqueólogo boliviano seu descobridor[11]. Nos dias de equinócio na posição do monólito pode-se contemplar o sol nascente que passa diretamente pela porta do templo de Kalasaya à sua frente. As muralhas do Kalasaya era providas de bicas para vazão de águas dispostas acima de pequenas cubas ligadas entre si por um canal em forma de U.[12]

[1] RIBAS, Ka W. A ciência sagrada  dos Incas, São Paulo:Madras, 2008, p. 32

[2] BRION, Marcel. A ressurreição das cidades mortas, Rio de Janeiro:Ferni, 1979, p.291

[3] COE, Michael. Antigas Américas, mosaico de culturas, v. II Madrid:Ed. Del Prado, 1996, p. 189

[4] LONGHENA, Maria; ALVA, Walter. Peru Antigo. Grandes civilizações do passado. Madrid:Folio, 2006, p.19

[5] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 221

[6] LISSNER, Ivar. Assim viviam nossos antepassados. Belo Horizonte: Itatiaia, 1968, p. 274

[7] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 221

[8] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 71

[9] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 225

[10] HAGEN, Victor. Realm of the incas, New York: New American Book, 1961, p. 29; JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 218

[11] LONGHENA, Maria; ALVA, Walter. Peru Antigo. Grandes civilizações do passado. Madrid:Folio, 2006, p.196

[12] WAISBARD, Simone. Tiahuanaco: 10000 anos de enigmas incas. São Paulo:Hemus, 1971, p. 190



A polegada piramidal de Gizé

 

O astrônomo Charles Piazzi Smith reconheceu a relação das dimensões da pirâmide com o valor de pi[1] de 3,1415[2] e defendeu a tese de o comprimento de um dos lados da pirâmide refletia o número exato de dias do ano considerando como referência o que ele denomina de “polegada piramidal”.[3] No entanto, especialmente após o trabalho de Flinders Petrie as teses de Smith foram desacreditadas pois suas medições não foram confirmadas e não há evidências de que os egípcios tivessem conhecimento desta relação de pi[4], uma vez que esta relação não se observa em outras pirâmides (em Quefren o resultado é 3 e em Miquerinos 3.26 duas pirâmides próxima a Quéops em Gizé)[5] e o papiro de Rhind[6] que data de 1800 a.c. considera como áreas iguais o quadrado de lado 8/9 do diâmetro do círculo dado o que corresponde a um valor de pi de (4/3)4 = 3.16[7]. Para André Pochan a “polegada piramidal” é uma utopia e jamais a pirâmide poderia ser uma construção ao tempo dos patriarcas bíblicos como sugere Piazzi Smith.[8] A expedição científica de Napoleão realizou medições bastantes precisas da pirâmide de Quéops, trabalho que mais tarde eu seria aprofundado por Flinders Petrie em 1880 que se tornou referência até 1925 quando um novo levantamento feito com equipamentos modernos foi realizado por J. Cole do Departamento de Pesquisas do governo egípcio e que conclui que as medidas originais das quatro faces da pirâmide eram norte 230.25 m; sul 230.45 m; leste 230.39 m e oeste 230.36m de modo que a diferença da mais longa para a mais curta é de apenas 20 cm, uma diferença mínima se considerarmos que era impraticável a medição das diagonais da pirâmide com precisão.[9] As tentativas de Piazzi Smith de reconhecer medições astronômicas nas dimensões usadas nas pirâmides, em que tais dimensão guardariam uma proporcionalidade com as distâncias astronômicas da terra com a lua e demais planetas não foi confirmada por Flinders Petrie e afastada por Ludwig Borchardt em seu livro “Contra a pretensa mística numérica da Grande Pirâmide[10] que critica enfaticamente a “epidemia piramidal”.[11] René Taton considera absurda a tese de que um conhecimento oculto permeia as medições da Grande Pirâmide de Quéops, que ademais são baseados em medições inexatas. André Pochan considera as medidas usadas por Piazzi Smith como incorretas e forçadas, uma “louca imaginação”.[12] Segundo Neugebauer, apesar do gosto pela precisão: “a astronomia egípcia contentava-se com uma descrição qualitativa muito rápida dos fenômenos: por isso, também nela não encontramos qualquer das características do método científico. É um erro grave atribuir aos documentos egípcios, matemáticos ou astronômicos, o título glorioso de obras científicas, ou admitir a existência de uma ciência ainda desconhecida, secreta ou perdida, que não pode ser encontrada nos textos de eu dispomos”.[13]



[1] WESTWOOD, Jenifer. Lugares Misteriosos, Vol. 1, São Paulo:Ediciones del Prado, 1995, p. 66

[2] ALVAREZ, Lopez. O enigma das pirâmides, São Paulo:Hemus, 1978, p.155

[3] WEST, John Anthony. The traveler’s key to ancient Egypt, New York:Quest, 2012, p. 89

[4] STEWART, Ian. O fantástico mundo dos números, Rio de Janeiro:Zahar, 2016, p.180

[5] http://conhecimentohoje.com.br/Recentes894_pi_de_piramides.pdf

[6] HARRIS, J. O legado do Egito, Rio de Janeiro:Imago, 1993, p.41

[7] EVES, HOWARD. Introdução à história da matemática, São Paulo:Ed Unicamp,2004, p.141, 84; BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1959, p.60; CHILDE, Gordon. A evolução cultural do homem, Rio de Janeiro:Zahar, 1966, p.202; CHILDE, Gordon. O que aconteceu na história, Rio de Janeiro:Zahar, 1977, p.125; HARRIS, J. O legado do Egito, Rio de Janeiro:Imago, 1993, p.50; CASSON, Lionel. O antigo Egito. Rio de Janeiro:José Olympio, 1969, p.158; TATON, René. A ciência antiga e medieval, tomo I, livro 2, Sâo Paulo:Difusão Europeia, 1959, p.120

[8] POCHAN, André. O enigma da grande pirâmide, Rio de Janeiro: Difusão, 1977, p. 148

[9] EDWARDS, J. As pirâmides do Egito, Rio de Janeiro:Record, 1985, p.104, 224

[10] ALVAREZ, Lopez. O enigma das pirâmides, São Paulo:Hemus, 1978, p.8; LANGE, Kurt. Pirâmides, esfinges e faraós, Belo Horizonte:Itatiaia, 1958, p. 34

[11] POCHAN, André. O enigma da grande pirâmide, Rio de Janeiro: Difusão, 1977, p. 156

[12] POCHAN, André. O enigma da grande pirâmide, Rio de Janeiro: Difusão, 1977, p. 143

[13] TATON, René. A ciência antiga e medieval, São Paulo:Difusão, 1959, tomo I, v.I, p. 59



Astronomia árabe dos séculos XII e XIII

 

Gerberto monge de Aurillac futuro papa Silvestre II no ano 999 adotou a astronomia de Ptolomeu, reintroduziu o ábaco e a esfera armilar e escreveu um tratado sobre o astrolábio em que chama o instrumento de um grande presente de Deus, que teria chegado a Europa pelos muçulmanos da Espanha que teriam aperfeiçoado o instrumento dos gregos antigos. [1] Gerberto fo o primeiro grande sábio a vulgarizar na Europa o uso dos algarismos arábicos e o uso do astrolábio.[2] Segundo Gerberto: “orientado para a astronomia, o estudo dos números e das concordâncias tonais, mostrava a ordem profunda do universo, refletida pelo movimento circular dos astros, por relações matemáticas e por ritmos concordes”.[3] Adelardo de Bath no século XII tradutor de textos árabes escreve “Sobre o uso do astrolábio”. Raimundo Lullio em Arte de navegar em 1295 descreve os aperfeiçoamentos recebidos pelo astrolábio[4]. Com o astrolábio era possível determinar latitudes, horas do nascer e do pôr do sol, funcionando com um relógio de bolso. As instruções para usar o astrolábio, escritas em 1391 pelo poeta Geoffrey Chaucer em sua obra Tratado sobre o astrolábio foram copiadas de um astrônomo árabe do século VIII.[5] O quadrante horário com cursos móvel foi inventado em Bagdá no século IX e redescoberto na Europa medieval.[6] Os primeiros astrolábios foram desenvolvidos pelos gregos Apolônio de Perga (262-180 a.c.) e Hiparco (150 a.c.)[7], no entanto a primeira referência escrita ao instrumento surgiria apenas com Ptolomeu (92 – 168 d.c) em sua obra Tetrabiblos que serviu como guia de astrologia e no livro V do Almagesto[8]. Segundo versão de Ibn Khallikan os astrolábio planisférico teria sido inventado por acaso por Ptolomeu ao deixar cair um globo celeste de sua mão[9]. Astrólogos como al Battani procuraram a solução de problemas astrológicos com uso de soluções trigonométricas rigorosas, corrigindo muitos dos cálculos de Ptolomeu no Almagesto.[10] Mesmo nos séculos XVI e XVII Copernico e Kepler mencionam os trabalhos de Battani em astronomia o que revela sua qualidade.[11] Uma versão avançada da esfera armilar, o torquetum foi inventado pelos árabes entre 1000 e 1200 d.C. Uma esfera armilar consiste numa reunião de anéis (do latim armillae) cada qual representando um círculo da esfera celeste, sendo possível medir posições com este instrumento.[12] Noah Efron e David Lindberg observam que o heliocentrismo de Copernico pode ter sido influenciado pelos trabalhos do astrônomo de Damasco Ibn al Shatir (1305-1375) que propôs correções no modelo ptolomaico, uma vez que a Polônia localizava-se muito próxima dos limites do império otomano naquele tempo.[13] Nasir al Din al Tusi (1201-1274) construiu um observatório em Maraga, no nordeste do Irã e inventou um método geométrico que converte dois movimentos circulares uniformes em uma linha reta que vai e volta, conhecida como “casal-Tusi”. O casal Tusi é um dispositivo matemático no qual um pequeno círculo gira dentro de um círculo maior com o dobro do diâmetro do círculo menor. As rotações dos círculos fazem com que um ponto na circunferência do círculo menor oscile para frente e para trás em movimento linear ao longo de um diâmetro do círculo maior. O modelo “casal-Tusi” foi usado no modelo de Copérnico.[14]



[1] LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.60; GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 159

[2] TATON, René. A ciência antiga e medieval: a idade Média, tomo I, livro 3, São Paulo:Difusão Europeia, 1959, p. 106

[3] DUBY, Georges. O ano mil. Lisboa:Edições 70, 19967, p. 56

[4] COELHO, Latino. A ciência na idade média, Lisboa:Guimarães Editores, 1988, p.151

[5] BRONOWSKI, J. A escalada do homen, São Paulo:Martins Fontes, 1979, p.166; READERS'S DIGEST. Da idade do ferro à idade das trevas: de 1200 a.c. a 1000 d.c, Rio de Janeiro, 2010, p.74

[6] TERESI, Dick. Descobertas perdidas, São Paulo:Cia das Letras, 2008, p.141-145

[7] BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1959, p.206; MAHAJAN, Shobhit. História das invenções, Berlim:Verlag, 2008, p. 28

[8] SARTON, George. Ciencia antigua y civilizacion moderna, Buenos Aires, Fondo de Cultura, 1960, p.58, 78

[9] LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.60

[10] TATON, René. A ciência antiga e medieval: a Idade Média, v. III, São Paulo:Difusão, 1959, p. 47; RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência, v.II Oriente, Roma e Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 2001, p. 97

[11] LINDBERG, David C.. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição do Kindle.2007, p.179

[12] RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência: Oriente, Roma e Idade Média. v.2, São Paulo:Jorge Zahar, 2001, p.49

[13] EFRON, Noah. Mito 9: que o cristianismo deu à luz a ciência moderna. In: NUMBERS, Ronald. Terra plana, Galileu na prisão e outros mitos sobre a ciência e religião, Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2020, p. 122

[14] LINDBERG, David C.. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição do Kindle.2007, p.179



Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...