O astrônomo Charles Piazzi Smith reconheceu a relação das dimensões da pirâmide com o valor de pi[1] de 3,1415[2] e defendeu a tese de o comprimento de um dos lados da pirâmide refletia o número exato de dias do ano considerando como referência o que ele denomina de “polegada piramidal”.[3] No entanto, especialmente após o trabalho de Flinders Petrie as teses de Smith foram desacreditadas pois suas medições não foram confirmadas e não há evidências de que os egípcios tivessem conhecimento desta relação de pi[4], uma vez que esta relação não se observa em outras pirâmides (em Quefren o resultado é 3 e em Miquerinos 3.26 duas pirâmides próxima a Quéops em Gizé)[5] e o papiro de Rhind[6] que data de 1800 a.c. considera como áreas iguais o quadrado de lado 8/9 do diâmetro do círculo dado o que corresponde a um valor de pi de (4/3)4 = 3.16[7]. Para André Pochan a “polegada piramidal” é uma utopia e jamais a pirâmide poderia ser uma construção ao tempo dos patriarcas bíblicos como sugere Piazzi Smith.[8] A expedição científica de Napoleão realizou medições bastantes precisas da pirâmide de Quéops, trabalho que mais tarde eu seria aprofundado por Flinders Petrie em 1880 que se tornou referência até 1925 quando um novo levantamento feito com equipamentos modernos foi realizado por J. Cole do Departamento de Pesquisas do governo egípcio e que conclui que as medidas originais das quatro faces da pirâmide eram norte 230.25 m; sul 230.45 m; leste 230.39 m e oeste 230.36m de modo que a diferença da mais longa para a mais curta é de apenas 20 cm, uma diferença mínima se considerarmos que era impraticável a medição das diagonais da pirâmide com precisão.[9] As tentativas de Piazzi Smith de reconhecer medições astronômicas nas dimensões usadas nas pirâmides, em que tais dimensão guardariam uma proporcionalidade com as distâncias astronômicas da terra com a lua e demais planetas não foi confirmada por Flinders Petrie e afastada por Ludwig Borchardt em seu livro “Contra a pretensa mística numérica da Grande Pirâmide”[10] que critica enfaticamente a “epidemia piramidal”.[11] René Taton considera absurda a tese de que um conhecimento oculto permeia as medições da Grande Pirâmide de Quéops, que ademais são baseados em medições inexatas. André Pochan considera as medidas usadas por Piazzi Smith como incorretas e forçadas, uma “louca imaginação”.[12] Segundo Neugebauer, apesar do gosto pela precisão: “a astronomia egípcia contentava-se com uma descrição qualitativa muito rápida dos fenômenos: por isso, também nela não encontramos qualquer das características do método científico. É um erro grave atribuir aos documentos egípcios, matemáticos ou astronômicos, o título glorioso de obras científicas, ou admitir a existência de uma ciência ainda desconhecida, secreta ou perdida, que não pode ser encontrada nos textos de eu dispomos”.[13]
[1] WESTWOOD, Jenifer.
Lugares Misteriosos, Vol. 1, São Paulo:Ediciones del Prado, 1995, p. 66
[2] ALVAREZ, Lopez. O
enigma das pirâmides, São Paulo:Hemus, 1978, p.155
[3] WEST, John Anthony. The traveler’s key to ancient Egypt, New
York:Quest, 2012, p. 89
[4] STEWART, Ian. O
fantástico mundo dos números, Rio de Janeiro:Zahar, 2016, p.180
[5] http://conhecimentohoje.com.br/Recentes894_pi_de_piramides.pdf
[6] HARRIS, J. O legado do
Egito, Rio de Janeiro:Imago, 1993, p.41
[7] EVES, HOWARD.
Introdução à história da matemática, São Paulo:Ed Unicamp,2004, p.141, 84;
BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental, Rio de Janeiro:Ed.
Globo, 1959, p.60; CHILDE, Gordon. A evolução cultural do homem, Rio de
Janeiro:Zahar, 1966, p.202; CHILDE, Gordon. O que aconteceu na história, Rio de
Janeiro:Zahar, 1977, p.125; HARRIS, J. O legado do Egito, Rio de Janeiro:Imago,
1993, p.50; CASSON, Lionel. O antigo Egito. Rio de Janeiro:José Olympio, 1969,
p.158; TATON, René. A ciência antiga e medieval, tomo I, livro 2, Sâo
Paulo:Difusão Europeia, 1959, p.120
[8] POCHAN, André. O enigma
da grande pirâmide, Rio de Janeiro: Difusão, 1977, p. 148
[9] EDWARDS, J. As
pirâmides do Egito, Rio de Janeiro:Record, 1985, p.104, 224
[10] ALVAREZ, Lopez. O
enigma das pirâmides, São Paulo:Hemus, 1978, p.8; LANGE, Kurt. Pirâmides,
esfinges e faraós, Belo Horizonte:Itatiaia, 1958, p. 34
[11] POCHAN, André. O enigma
da grande pirâmide, Rio de Janeiro: Difusão, 1977, p. 156
[12] POCHAN, André. O enigma
da grande pirâmide, Rio de Janeiro: Difusão, 1977, p. 143
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