Segundo Maria de Fátima Hanaque Campos: “para os artistas cuja aprendizagem decorreu dos ofícios mecânicos, de tradição medieval, a noção de originalidade não era totalmente compreendida [...] O trabalho coletivo, próprio do período barroco, de tradição medieval, omitia a maioria dos autores das obras de arte. Desta forma, nem sempre é possível identificar o autor. Deve-se perceber que, dentro do contexto histórico dos séculos XVIII e XIX, a nenhum personagem social era permitida a notoriedade individual, diante da figura do rei. Sendo assim, artistas deveriam manter-se no anonimato, ou ao menos manter discrição de sua vida artística”[1]. Mestre Valentim (1745-1813) era filho de um fidalgo português contratador de diamantes e de uma crioula natural do Brasil. Valentim foi levado a Portugal onde aprendeu o ofício de toreuta (escultor, entalhador de pedra, metal ou madeira).[2] Na construção do Passeio Público (com o aterro da lagoa do Boqueirão) e do chafariz das Marrecas (demolido em 1896 para o alargamento do quartel da Polícia), inspirado em modelo do jardim de Queluz em Lisboa, o nome do mestre Valentim da Fonseca e Silva não figurava na placa inaugural de 1785.[3] Nas obras de revitalização da área do Paço Imperial em 1789, Valentim construiu o chafariz da Pirâmide. Valentim inaugurou a arte da escultura em metal fundido no Brasil com a escultura do jacarés na fonte dos Amores no Passeio Público e com a ninfa Eco do chafariz e o caçador Narciso das marrecas. Esta é uma época em que o Rio de Janeiro com a transferência da sede do governo de Salvador em 1763 empreende diversas melhorias urbanas como o aqueduto da Carioca, diversos chafarizes, as ruas do vale e do Cano, o Paço dos Governadores, a Casa do Recolhimento, a Casa do Trem para fundição de materiais bélicos, cemitério, matadouros e outros, especialmente na gestão de Luís de Vasconcelos (1779-1790). Na igreja de São Bento no Rio de Janeiro os moldes dos grande lampadários de prata da Capela Mor ao lado do altar central, com 227 quilos cada, concluídos em 1795 são obras de mestre Valentim conforme notas encontradas por Clemente Nigra pagas ao “entalhador Valentim”[4] O altar mor da Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Lapa do Desterro no Largo da Lapa no Rio de Janeiro foi esculpido pelo mestre Valentim em 1775. O nome de Valentim aparece também nos livros de receita e despesa da Ordem Terceira dos Mínimos de São Francisco de Paula, na Igreja da Irmandade da Santa Cruz dos Militares, na Irmandade Príncipe dos Apóstolos São Pedro e na igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte. O gravador Adalberto de Matos em 1913 na placa comemorativa do centenário de morte de Mestre Valentim o representa junto com os símbolos maçoms do compasso e do esquadro. Anna Carvalho argumenta que a localização privilegiada oficina de torêutica na rua do Sabão, numa época em que negros não podiam ser patrões por serem considerados “infames de raça”, pode ser justificada por suas ligações com a maçonaria.[5]
[1] ORAZEM, Roberta
Bacellar. A representação de Santa Teresa D’Avila nas igrejas da Ordem Terceira
do Carmo de Cachoeira/Bahia e São Cristóvão/Sergipe, Mestrado em Artes Visuais,
Salvador, 2009
http://www.repositorio.ufba.br:8080/ri/bitstream/ri/9853/1/robertaorazempt1.pdf
[2] CARVALHO, Anna Maria Fausto Monteiro de.
Mestre Valentim, Rio de Janeiro: Cosac Naify, 1999, p. 107
[3] MOTOYAMA, Shozo.
Prelúdio para uma história: ciência e tecnologia no Brasil, São
Paulo:Edusp2004, p. 105; MENDES, Chico; VERÍSSIMO, Chico; BITTAR, William.
Arquitetura no brasil de Cabral a Dom João VI, Rio de Janeiro;Imperial Novo
Milênio, 2009, p. 105
[4] IPLANRIO, Guia das
igrejas históricas da cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1997, p. 26;
GERSON, Brasil. História das ruas do Rio, Rio de Janeiro: Brasiliana, 1965, p.
102; NIGRA, Clemente Maria da Silva. ”Os dois grandes lampadários do Mosteiro de São Bento do Rio
de Janeiro”, Revista do Sphan, 5, 1941, p.285; http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=reviphan&pagfis=5435
CARVALHO, Anna Maria Fausto Monteiro de. Mestre Valentim, Rio de Janeiro: Cosac
Naify, 1999, p. 107
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