sábado, 26 de fevereiro de 2022

As origens da civilização na ilha de Páscoa

 

Em 1931 Ernand Nordenskjoeld apontou muitas similaridades entre a cultura polinésia e a sul americana:. canoas duplas, uso de zarabatanas e clavas de madeira em forma de espada, braceletes largos de metal, cascas de tartaruga usadas para fazer escovas, vela triangular, irrigação artificial dos campos, a arte de soprar o chifre de concha, trepanação de crânio, uso da escrita por nós como nos quipus. A semelhança no idioma quíchua do Peru com o maori da Ilha de Páscoa inclui diversos termos comuns como a batata doce, kumara (parecido com o quíchua cumar); toki para machado, kimi para cabaça, muna para amor em maori e munay em quíchua;  riki para cacique na ilha de Páscoa e awki em quíchua entre outras. Peter James, contudo argumenta que o nome normal para batata doce em quíchua é apichi, e em parte alguma da costa da América do Sul se usava o termo cumar.[1] Na ilha de Páscoa foi encontrado um sistema de escrita primitivo nas chamadas “tábuas falantes” analisadas por Thomas Berthel em 1960 mas ainda indecifráveis.[2] Thor Heyerdahl observa a semelhança entre o trabalho de alvenaria do polinésio Ahu Tahira em Vinapu e a alvenaria inca no Peru[3], mas reconhece eu sua hipótese de colonização da ilha de Páscoa a partir do Peru não é convincente. Thomas Cook encontrou pirogas polinésias com flutuadores que impedem a embarcação de emborcar Iigando duas pirogas entre si e formando um Prahik obtinha-se uma embarcação resistente ao naufrágio[4]. Uma reprodução chilena de um barco feito de junco data do início da era cristã, embora os exemplos peruanos de cerâmicas datem dos séculos XII e XIII.[5] Persiste, contudo, uma descrença quanto as possibilidades reais de povoamento da América do Sul a partir da Polinésia. Michael Coe aponta que a possibilidade de contato dos maias com outras civilizações pelo Pacífico ou Atlântico não possui crédito entre os pesquisadores uma vez que nenhum objeto manufaturado em qualquer parte da Europa ou Ásia foi encontrado entre os maias.[6] Paul Harrmann embora não descarte essa possibilidade, observa que se houvesse tal contato com europeus como se explicar que os indígenas da América continuassem a desconhecer invenções tão básicas como a roda ? [7] Paul Tolstoi demonstra que a tecnologia de fabricação de papel a partir da casca de árvores entre os maias deve ter tido sua origem na Indonésia e Sudeste Asiático.[8] Hans Disselhoff argumenta que Alexandre von Humboldt relata a existência de jangadas de bambu na costa do Equador mas tudo indica que eram usadas para pequena cabotagem, apenas um documento inca se refere a uma viagem mais longa realizada por Tupac Yupanqui para as ilhas de Avachumbi e Ninachumbi, documento escrito pelo cronista Sarmiento de Gamboa, porém, não é possível identificar com certeza as ilhas que teria visitado[9]. Peter James conclui que a presença polinésia na Ilha de Páscoa é inegável e as influências sul americanas, embora possíveis, são muito tardias, de qualquer forma não há argumentos sólidos para defender a tese de esquadras de balsas de junco vindas do litoral do peru colonizaram a ilha de Páscoa.[10]

[1] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 252

[2] LEBARON, Charles. Os gigantes da ilha de Páscoa. In: Seleções do Reader’s Digest, Os últimos mistérios do mundo, Lisboa, 1979, p.103 https://pt.wikipedia.org/wiki/Rongorongo

[3] LEBARON, Charles. Os gigantes da ilha de Páscoa. In: Seleções do Reader’s Digest, Os últimos mistérios do mundo, Lisboa, 1979, p.99

[4] WENDT, Herbert. Tudo começou em Babel, São Paulo:Difusão, 1962, p. 267

[5] FAGAN, Brian. Los setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume, 2005, p. 154

[6] COE, Michael, Os maias, Editorial Verbo:Lisboa, 1968, p.54

[7] HERRMANN, Paul. As primeiras conquistas. São Paulo:Boa Leitura Editora, 3ª edição, p. 170

[8] COE, Michael. Antigas Américas, mosaico de culturas, v. I Madrid:Ed. Del Prado, 1997, p. 25

[9] WENDT, Herbert. Tudo começou em Babel, São Paulo:Difusão, 1962, p. 285; BAUDIN, Louis. El império socialista de los incas, Santiago Chile:Ediciones Rodas, 1973, p.390; BAUDIN, Louis. A vida quotidiana dos últimos incas, Lisboa:Ed. Livros do Brasil, p. 19

[10] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 253



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...