sábado, 26 de fevereiro de 2022

As linhas de Nazca

 

Em Nazca no sul do Peru[1] são encontrados geoglifos feitos como oferendas aos deuses que datam de 500 a.c. a 500 d.c. anteriormente ao império inca e que foram encontradas pelo arqueólogo peruano Julio Tello em 1926. Novas linhas foram encontradas pelos arqueólogos Alfred Kroeber e Toribio Mejfa em 1936.[2] Para fazer os desenhos os nazcas estendiam cordas entre postes alinhando três ou mais em linhas sucessivas  e assim dispunham pedras ricas em ferro e em óxidos de ferro que devido a escassa precipitação não foram deslocadas com o tempo. O exame de datação destes postes de madeira permitiu datar tais glifos por volta do ano 500 [3] Um dos maiores geoglifos é uma representação de um macaco, que somente é encontrado nas florestas da Amazônia e não na costa sul do Peru.[4] Segundo Erich von Daniken em Chariots of the gods? (Eram os deuses astronautas ?) publicado em 1968 no vale desértico El Ingenio em Nazca são encontrados uma serie de marcas que lembra muito pistas de pouso de um aeroporto moderno[5] que teriam sido construídos por extra terrestres. Maria Reiche descarta esta possibilidade e atribui ao significado de tais desenhos a algum tipo de calendário astronômico devido ao posicionamento dos traçados em relação ao por do sol,[6] embora advirta que “não está assegurado, com certeza, que uma interpretação astronômica de todas as linhas seja possível”.[7] Para Hans Horkheimer: “certas relações de medidas e de formas repetem-se com muita frequência nestes desenhos, para se acreditar em simples coincidência. É provável que os centros de irradiações das linhas, suas curvas de oscilação guiem a vista para diferentes pontos do horizonte onde devem efetuar-se ou erguer-se ou o por do sol ou o dia mesmo do solstício de verão”.[8] Um dos desenhos mostra uma aranha do gênero Ricinulei, um dos mais raros e encontrada somente em locais incessíveis da floresta Amazônica e, portanto, não originária do deserto peruano. No desenho é representado o órgão reprodutivo da aranha que normalmente só pode ser visto com auxílio de um microscópio. Em 1939 para Paul Kosov e Marie Reiche os desenhos de animais como o macaco, o cão, o colibri e a aranha (que estaria relacionado ao desenho da Constelação de Ursa Maior) podem indicar símbolos de um mapa estelar.[9] Para Marie Reiche haveriam motivos agrícolas nos desenhos: “o povo do vale precisava saber quando os rios, secos na maior parte do ano, se encheriam de água. Antes de isso acontecer, precisavam começar a limpar as valas de irrigação e preparar as sementes”. Geral Hawkins, que defende a existência de diversos alinhamentos astronômicos em Stonehenge na Inglaterra, depois de realizar diversos cálculos em computador concluiu que não há qualquer evidência de alinhamento dos desenhos em Nazca com os astros.[10] Em 1975 Jim Woodman e Julian Knott[11] construíram um balão simples mostrando que os povos Nazca podem ter voado para terem conseguido realizar os desenhos. Existem desenhos nas cerâmicas Nazca e de Paracas que se assemelham a balões ou homens pássaros simbolizando o desejo de voar[12]. Para Anthony Aveni e David Browe as linhas de Nazca foram uma traçado a ser percorrido a pé possivelmente dentro do contexto de uma cerimônia religiosa, numa forma de procissão.[13] Comunidades isoladas dos aimarás também realizaram desenhos similares encontrados em Nazca.[14] Gerald Hawkins, Kaufffmann Doig e Johan Reinhard acreditam que os geoglifos em Nazca estão relacionados com cultos religiosos para propiciar a fertilidade dos campos.[15] Um estudo feito por Gerald Hawkins tentou sem sucesso estabelecer alguma correspondência dos desenhos com as constelações vistas do ceu da região na época em que foram desenhadas, o que mostra ser pouco provável que os desenhos tenham algo a ver com algum tipo de calendário.[16]



[1] LONGHENA, Maria; ALVA, Walter. Peru Antigo. Grandes civilizações do passado. Madrid:Folio, 2006, p.192

[2] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 296

[3] WAISBARD, Simone. A enigmática mensagem dos nazcas. In: Seleções do Reader’s Digest, Os últimos mistérios do mundo, Lisboa, 1979, p.283

[4] COE, Michael. Antigas Américas, mosaico de culturas, v. II Madrid:Ed. Del Prado, 1996, p. 185

[5] TOTH, Max; NIELSEN, Greg. A força das pirâmides, São Paulo:Record, 1976, p.190

[6] KHUON, Ernst. Vieram os deuses de outras estrelas ? São Paulo:Melhoramentos, 1972, p.232; WAISBARD, Simone. Tiahuanaco: 10000 anos de enigmas incas. São Paulo:Hemus, 1971, p. 14

[7] DANIKEN, Erich von. De volta às estrelas. São Paulo:Melhoramentos, 1971, p.119

[8] WAISBARD, Simone. Tiahuanaco: 10000 anos de enigmas incas. São Paulo:Hemus, 1971, p. 15

[9] LONGHENA, Maria; ALVA, Walter. Peru Antigo. Grandes civilizações do passado. Madrid:Folio, 2006, p.194; RIBAS, Ka W. A ciência sagrada  dos Incas, São Paulo:Madras, 2008, p. 27

[10] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 307

[11] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 300

[12] WAISBARD, Simone. A enigmática mensagem dos nazcas. In: Seleções do Reader’s Digest, Os últimos mistérios do mundo, Lisboa, 1979, p.284

[13] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 311

[14] WESTWOOD, Jenifer. Lugares Misteriosos, Vol. 1, São Paulo:Ediciones del Prado, 1995, p. 98; LEONARD, Joathan. América pré colombiana, Rio de Janeiro:José Olympio Editora. Biblioteca de História Universal Life, 1971, p.128

[15] RIBAS, Ka W. A ciência sagrada  dos Incas, São Paulo:Madras, 2008, p. 28

[16] WAISBARD, Simone. A enigmática mensagem dos nazcas. In: Seleções do Reader’s Digest, Os últimos mistérios do mundo, Lisboa, 1979, p.287



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