A catedral de Chartres foi construída no mesmo local antes havia uma
igreja que abrigava a túnica sagrada da Virgem Maria, um presente de Carlos o
Calvo, que Carlos Magno havia recebido do imperador de Bizâncio no século IX.[1] O bispo Fulberto que
lecionou na escola episcopal de Chartres entre 1006 e 1028 foi discípulo de
Gerbert de Aurillac, o papa Silvestre II, e tornou Chartres um grande centro de
aprendizagem e foco de peregrinações, refúgio de erudição e conhecimento, onde
lecionariam Bernardo de Chartres, o bispo Gilbert de la Porrée / Gilbert de
Pointiers, Yves / Ivo de Chartres mestre em direito canônico, Thierry de
Chartres e o bispo João de Salisbury, entre outros. Thierry de Chartres mostrou
que o trivium (gramática, dialética e retórica) e quadrivium (aritmética,
geometria, astronomia e música) eram apenas um meio e que o fim era “formar
almas na verdade e na sabedoria”. Christopher Dawson atribui a escola catedral
de Chartres o status de protouniversidade sendo que ao tempo de Bernardo e
Thierry de Chartres e seu discípulo
Guilherme de Conches rivalizava com Paris como centro de filosofia. Nos
tratados educacionais escritos por
Thierry e Guilherme de Conches, o Heptateuchon e o Dragmaticon estão descritos
em detalhes os métodos educacionais usados em Chartres[2]. O concílio de Latrão III no
canon 18 decidiu: “ordenamos, portanto, que em todas as igrejas catedrais se
proveja um rendimento conveniente a um mestre, encarregado de ensinar
gratuitamente aos clérigos dessa igreja e a todos os alunos pobres”. Thierry
de Chartres (1100-1150) era chanceler da escola e defendia a tese de que os
corpos celestes não eram divinos ou feitos de uma matéria incorruptível, mas
pelo contrário, feitos da mesma matéria que as coisas terrenas e sujeitas à
mesma ordem. O comentário de Thierry de Chartres sobre os seis dias de criação
do Genesis, busca uma conciliação com a cosmologia platônica e aristotélica, na
qual os quatro elementos, terra, fogo, água e ar foram todos criados por Deus
no início da criação do universo, ou seja, o fundamento usado é o relato bíblico
como ponto de partida para a criação e a partir do qual em diante segue uma
causação natural, sem qualquer intervenção miraculosa.[3] Para David Lindberg este
naturalismo de Thierry de Chartres pode ser visto como uma das características que
mais se destacam na filosofia natural do século XII e prenunciam a mentalidade
que irá pautar a ciência ocidental no século XVII. Segundo Thomas Goldstein: “Thierry
provavelmente será reconhecido como um dos verdadeiros fundadores da ciência do
Ocidente”.[4]
[1] MURPHY, Tim Wallace. O
código secreto das catedrais. São Paulo:Pensamento, 2007, p. 166
[2] DAWSON, Christopher. Criação do Ocidente, São Paulo: É Realizações, 2016, p. 227
[3] LINDBERG,
David C. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição
do Kindle. 2007, p.210
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