segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

A ciência em Thierry de Chartres

 

A catedral de Chartres foi construída no mesmo local antes havia uma igreja que abrigava a túnica sagrada da Virgem Maria, um presente de Carlos o Calvo, que Carlos Magno havia recebido do imperador de Bizâncio no século IX.[1] O bispo Fulberto que lecionou na escola episcopal de Chartres entre 1006 e 1028 foi discípulo de Gerbert de Aurillac, o papa Silvestre II, e tornou Chartres um grande centro de aprendizagem e foco de peregrinações, refúgio de erudição e conhecimento, onde lecionariam Bernardo de Chartres, o bispo Gilbert de la Porrée / Gilbert de Pointiers, Yves / Ivo de Chartres mestre em direito canônico, Thierry de Chartres e o bispo João de Salisbury, entre outros. Thierry de Chartres mostrou que o trivium (gramática, dialética e retórica) e quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música) eram apenas um meio e que o fim era “formar almas na verdade e na sabedoria”. Christopher Dawson atribui a escola catedral de Chartres o status de protouniversidade sendo que ao tempo de Bernardo e Thierry de Chartres  e seu discípulo Guilherme de Conches rivalizava com Paris como centro de filosofia. Nos tratados educacionais  escritos por Thierry e Guilherme de Conches, o Heptateuchon e o Dragmaticon estão descritos em detalhes os métodos educacionais usados em Chartres[2]. O concílio de Latrão III no canon 18 decidiu: “ordenamos, portanto, que em todas as igrejas catedrais se proveja um rendimento conveniente a um mestre, encarregado de ensinar gratuitamente aos clérigos dessa igreja e a todos os alunos pobres”. Thierry de Chartres (1100-1150) era chanceler da escola e defendia a tese de que os corpos celestes não eram divinos ou feitos de uma matéria incorruptível, mas pelo contrário, feitos da mesma matéria que as coisas terrenas e sujeitas à mesma ordem. O comentário de Thierry de Chartres sobre os seis dias de criação do Genesis, busca uma conciliação com a cosmologia platônica e aristotélica, na qual os quatro elementos, terra, fogo, água e ar foram todos criados por Deus no início da criação do universo, ou seja, o fundamento usado é o relato bíblico como ponto de partida para a criação e a partir do qual em diante segue uma causação natural, sem qualquer intervenção miraculosa.[3] Para David Lindberg este naturalismo de Thierry de Chartres pode ser visto como uma das características que mais se destacam na filosofia natural do século XII e prenunciam a mentalidade que irá pautar a ciência ocidental no século XVII. Segundo Thomas Goldstein: “Thierry provavelmente será reconhecido como um dos verdadeiros fundadores da ciência do Ocidente”.[4]

[1] MURPHY, Tim Wallace. O código secreto das catedrais. São Paulo:Pensamento, 2007, p. 166

[2] DAWSON, Christopher. Criação do Ocidente, São Paulo: É Realizações, 2016, p. 227

[3] LINDBERG, David C. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição do Kindle. 2007, p.210

[4] AQUINO, Felipe. Uma história que não é contada, Lorena: Cleofas, 2008, p. 166



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