segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

A ciência em Adelardo de Bath

 

Adelardo de Bath (1080-1152) aponta: “Quando examino os escritos famosos dos antigos – nem todos, mas a maioria – e comparo seus talentos com o conhecimento dos modernos, julgo os antigos eloquentes e chamo aos modernos estúpidos”.[1] E ainda: “se a vontade do Criador é a de que as ervas nasçam da terra, tal vontade não é despida de razão [...] Uma coisa é o que eu aprendi dos mestres árabes sob o comando da razão, outra aquilo o que, de tua parte, seduzido pela máscara da autoridade, estás preso como que por um cabresto. Com efeito, que outro nome, se não o de cabresto, deve ser dado à autoridade ? Permites que a autoridade te conduza como os animais domesticados que não sabem nem para onde nem porque são levados”[2]. Para Adelardo de Bath “somente quando o conhecimento humano completamente fracassa a questão deve se recorrer a Deus”[3]. Para Adelardo de Bath há uma relação direta entre os fenômenos da natureza e a vontade de Deus e que deve ser motivo de investigação: “Examine as coisas mais de perto, considere, além disso, as circunstâncias especiais, destaque as coisas em vez de admirar os efeitos”.[4] Adelardo de Bath condenava “o vício desta geração que só considera aceitáveis as descobertas feitas pelos antigos e pelos outros”. Para ele, seguir a autoridade dos antigos em vez da razão é “entregar-se à mais bestial credulidade e deixar-se arrastar para uma armadilha perigosa”. O dominicano Alberto Magno “quem acredita que Aristóteles é um deus, tem de acreditar que nunca errou. Mas, se acredita que foi um homem, então pode errar como nós”.[5]



[1] LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.48

[2] TATON, René. A ciência antiga e medieval: a idade média, tomo I, livro 3, Sâo Paulo:Difusão Europeia, 1959, p. 111

[3] LINDBERG, David C. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição do Kindle. 2007, p.212

[4] GREGORY, Tullio. Natureza. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017, p. 301

[5] FUMAGALLI, Mariateresa. O intelectual. In: LE GOFF, Jacques. O homem medieval, Lisboa: Editorial Presença, 1989, p.141



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...