segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

A lenda das Amazonas

 

Cristóvão Colombo no seu exemplar de Historia rerum ubique gestarum livro escrito por Eneias Piccolomini futuro papa Pio II em 1458 sublinhou o texto em que se refere a uma terra de amazonas não no continente mas numa ilha, um mito que foi realimentado com a descoberta das Americas. Em 1493 os índios de Ispaniola (hoje Haiti) informaram a Colombo a existência da ilha de Matinino, povoada por mulheres guerreiras. O padre Cristoval de Acuña se refere que “o tempo descobrirá a verdade se estas são as amazonas afamadas dos historiadores, que tesouros encerram em suas terras para enriquecer a todo o mundo”.[1] Walter Raleigh empreendeu sem sucessos duas expedições, em 1595 e 1616 em busca das amazonas, mulheres guerreiras que trocavam ouro por pedras de jade ou uma variedade de feldspato chamada de amazonita. Sua existência também é relatada na mesma época por Hernando de Rivera no Paraguai e por André Thévet, ou por Jean Mocquet em 1617 [2]. Segundo o relato de frei Gaspar de Carvajal (1504-1584) os próprios índios alertaram Francisco de Orellana sobre as amazonas e sugeriam que fossem “ver as amazonas, que na sua língua era coniupuiara, o que significava grandes senhoras, mas que prestássemos atenção no que fazíamos, porque éramos poucos e elas muitas, para que não nos matassem [...] eram muito robustas, estavam despidas, porém com as partes pudentas cobertas, empunhavam arcos e flechas e lutavam tanto quanto dez índios”.[3] Frei Gregorio Garcia  em Origen de los índios del Nuevo Mundo e Indias Ocidentales publicado em 1607 sugerira que as amazonas encontradas no Brasil eram mulheres guerreiras que teriam vindo da Grécia a partir da viagem dos argonautas gregos. Na Ilíada de Homero as amazonas são descritas como mulheres guerreiras que viviam numa terra a leste da Grécia e as quais tinham o seio direito extraído quando crianças para facilitar o uso do arco (amazonas significa em grego a – sem, mazos – seio). Estrabão se refere as amazonas que viviam nas montanhas da Albânia, enquanto Heródoto se refere a Sarmácia na região do baixo Volga. Segundo a lenda mulheres amazonas que teriam atacado Orellana em 1541 retiravam pedras conhecidas como muiraquitãs de um lago chamado espelho da lua para presentear os homens que as visitavam anualmente.[4] Padre Manuel da Nóbrega em Cartas ao Brasil se refere a índios que tiveram contato com as Amazonas e que guerreavam com elas: “são estas as Amazonas tão guerreiras, que vão a guerra contra eles, e os mais valentes que podem tomar, destes concebem. E se parem filho, dão-no a seu pai ou o matam, e se filha criam-na e cortam-lhe o peito direito”.[5] O espanhol Francisco Lopez de Gomara (1511-1566) escreveu: “Não acredito que mulher alguma queime ou corte o seio direito para ser capaz de aturar com o arco, pois atiram muito bem com ambos os seios. Jamais se viu isso ao longo desse rio e jamais se verá Graças a essa impostura, muitos já escrevem e falam do rio das Amazonas”. O padre Simão de Vasconcelos (1597-1671) se refere a “finalmente há outra nação de mulheres também monstruosas no modo de viver (são as que chamamos hoje de Amazonas, semelhantes às da Antiguidade, e de que tomou o nome do rio), porque são mulheres guerreiras, que vivem por si sós, sem comercio de homens, habitam grandes povoações de uma província inteira, cultivando as terras, sustentando-se de seus próprios trabalhos. Vivem entre grandes montanhas, são mulheres de valor conhecido que se tem conservado sem o consórcio de varões [...] Criam entre si só as fêmeas deste ajuntamento, os machos matam ou os entregam as mais piedosas aos pais que os levam”.[6]

[1] HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visões do Paraíso. São Paulo: Brasiliense, 2000, p. 30

[2] PRIORE, Maria del. Histórias da gente brasileira, V.1 Colônia, Rio de Janeiro:Leya, 2016, p. 50

[3] AQUINO, Fernando, Gilberto, HIran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.196; JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 372

[4] MENDES, Josué Camargo. Conheça a pré história brasileira, São Paulo: USP, Polígono, 1970, p. 101

[5] HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visões do Paraíso. São Paulo: Brasiliense, 2000, p. 123

[6] HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visões do Paraíso. São Paulo: Brasiliense, 2000, p. 168




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