James McClellan argumenta que o efeito do decreto de 1277 condenando diversas proposições de Aristóteles, embora dirigido às proposições de averroístas encabeçados por Siger de Brabante da Universidade de Paris e tivesse pouco efeito em outras universidades como Oxford criou um ambiente hostil à investigação científica que questionasse a autoridade da igreja. Josep Simon justifica o uso do termo averroístas já utilizado por Tomás de Aquino em 1270.[1] Entre as teses condenadas encontram-se as proposições de Tomás de Aquino que busca conciliar a razão aristotélica com a fé cristã, pela qual o conhecimento não provinha exclusivamente da iluminação divina e que a razão tinha um papel fundamental para se chegar à verdade. Para Tomás de Aquino o conhecimento não provinha apenas da revelação divina, mas de um ato livre da inteligência que Deus deu ao homem. Para Tomás de Aquino algumas verdades o home é capaz de descobrir por si mesmo, por meio da lógica, o que o leva ao conhecimento vulgar, científico e filosófico, ao passo que o saber das verdades de fé somente pode ser alcançado de Deus através da revelação[2]. O bispo de Paris e dois arcebispos de Canterbury ameaçaram Tomás de Aquino de excomunhão por sua aproximação às teses de Aristóteles que poucos estavam na época dispostos a incorporar ás teses do cristianismo.[3] Para Averrois, “autor da mais clara e sistemática exposição do aristotelismo”[4], conhecido como “o Comentador” por causa de seus numerosos trabalhos sobre Aristóteles[5], não houve criação ex nihilo e não haverá tampouco o fim do mundo. Para Averrois a eternidade do mundo significava, em outras palavras, a negação da existência da alma como substância, espiritual, individual e imortal.[6] O universo obedece ao governo da constante periodicidade do movimento dos astros de modo que Deus não poderia dar ao ceu um movimento de translação pois se assim o fizesse deixaria um vácuo atrás de si. Ademais para Averrois Deus não poderia criar vários mundos. Para Averrois não é possível a conciliação entre fé e razão, pois a razão não é capaz de alcançar as verdades conhecidas somente por Deus[7]. Alberto Magno e Tomás de Aquino negam a possibilidade de Deus imprimir um movimento retilíneo aos astros (quando na verdade eles fazem apenas movimentos curvos). Uma maneira encontrada por Alberto Magno e Tomás de Aquino para respeitar as condenações foi entender que Deus, apesar de todo poderoso, tem o seu poder adequado as condições do mundo tal como criado, e nesse sentido, o movimento retilíneo dos astros continuaria como uma impossibilidade. Apesar de condenando alguns charlatães, as práticas de alquimia e astrologia não foram condenadas, uma vez que a Igreja aprovou o estudo da transmutação e metais desde que ”feito de modo correto e não fraudulento”.[8]
[1] SIMON, Josep Maria
Ruiz. A arte de Raimundo Lúlio e a teoria escolástica da ciência, São
Paulo:Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio, 2004, p.268
[2] NUNES, Ruy Afonso da
Costa. História da educação na idade média, Campinas:Kirion, 2018, p.189
[3] FREMANTLE, Anne. Idade
da fé. Biblioteca de História Universal Life. Rio de Janeiro:José Olympio,
1970, p.99
[4] PERROY, Edouard. A
idade média: o período da Europa feudal (sec. XI –XIII), tomo III, v. 2, São Paulo:Difusão
Europeia, 1974, p. 64
[5] CANTU, Cesare. História
Universal, volume XIV, São Paulo:Editora das Américas, 1955, p. 303
[6] VERGER, Jacques. Homens
e saber na idade média, Bauru:EDUSC, 1999, p. 28
[7] PERROY, Edouard. A
idade média: o período da Europa feudal (sec. XI - XIII), tomo III, v. 2, São
Paulo:Difusão Europeia, 1974, p. 161