sábado, 31 de julho de 2021

Tomás de Aquino ameaçado de excomunhão pelo bispo de Paris em 1277

 

James McClellan argumenta que o efeito do decreto de 1277 condenando diversas proposições de Aristóteles, embora dirigido às proposições de averroístas encabeçados por Siger de Brabante da Universidade de Paris e tivesse pouco efeito em outras universidades como Oxford criou um ambiente hostil à investigação científica que questionasse a autoridade da igreja. Josep Simon justifica o uso do termo averroístas já utilizado por Tomás de Aquino em 1270.[1] Entre as teses condenadas encontram-se as proposições de Tomás de Aquino que busca conciliar a razão aristotélica com a fé cristã, pela qual o conhecimento não provinha exclusivamente da iluminação divina e que a razão tinha um papel fundamental para se chegar à verdade. Para Tomás de Aquino o conhecimento não provinha apenas da revelação divina, mas de um ato livre da inteligência que Deus deu ao homem. Para Tomás de Aquino algumas verdades o home é capaz de descobrir por si mesmo, por meio da lógica, o que o leva ao conhecimento vulgar, científico e filosófico, ao passo que o saber das verdades de fé somente pode ser alcançado de Deus através da revelação[2]. O bispo de Paris e dois arcebispos de Canterbury ameaçaram Tomás de Aquino de excomunhão por sua aproximação às teses de Aristóteles que poucos estavam na época dispostos a incorporar ás teses do cristianismo.[3] Para Averrois, “autor da mais clara e sistemática exposição do aristotelismo”[4], conhecido como “o Comentador” por causa de seus numerosos trabalhos sobre Aristóteles[5], não houve criação ex nihilo e não haverá tampouco o fim do mundo. Para Averrois a eternidade do mundo significava, em outras palavras, a negação da existência da alma como substância, espiritual, individual e imortal.[6] O universo obedece ao governo da constante periodicidade do movimento dos astros de modo que Deus não poderia dar ao ceu um movimento de translação pois se assim o fizesse deixaria um vácuo atrás de si. Ademais para Averrois Deus não poderia criar vários mundos. Para Averrois não é possível a conciliação entre fé e razão, pois a razão não é capaz de alcançar as verdades conhecidas  somente por Deus[7]. Alberto Magno e Tomás de Aquino negam a possibilidade de Deus imprimir um movimento retilíneo aos astros (quando na verdade eles fazem apenas movimentos curvos). Uma maneira encontrada por Alberto Magno e Tomás de Aquino para respeitar as condenações foi entender que Deus, apesar de todo poderoso, tem o seu poder adequado as condições do mundo tal como criado, e nesse sentido, o movimento retilíneo dos astros continuaria como uma impossibilidade. Apesar de condenando alguns charlatães, as práticas de alquimia e astrologia não foram condenadas, uma vez que a Igreja aprovou o estudo da transmutação e metais desde que ”feito de modo correto e não fraudulento”.[8]



[1] SIMON, Josep Maria Ruiz. A arte de Raimundo Lúlio e a teoria escolástica da ciência, São Paulo:Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio, 2004, p.268

[2] NUNES, Ruy Afonso da Costa. História da educação na idade média, Campinas:Kirion, 2018, p.189

[3] FREMANTLE, Anne. Idade da fé. Biblioteca de História Universal Life. Rio de Janeiro:José Olympio, 1970, p.99

[4] PERROY, Edouard. A idade média: o período da Europa feudal (sec. XI –XIII), tomo III, v. 2, São Paulo:Difusão Europeia, 1974, p. 64

[5] CANTU, Cesare. História Universal, volume XIV, São Paulo:Editora das Américas, 1955, p. 303

[6] VERGER, Jacques. Homens e saber na idade média, Bauru:EDUSC, 1999, p. 28

[7] PERROY, Edouard. A idade média: o período da Europa feudal (sec. XI - XIII), tomo III, v. 2, São Paulo:Difusão Europeia, 1974, p. 161

[8] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and water wheel, New York:Harper Collins, 1994, p.230



Os povos bárbaros

 

Considerando que os povos ditos bárbaros tem em sua maioria origem entre os germanos, a historiografia alemã do século XIX até hoje prefere denominar “migrações dos povos” (Völkerwanderung) ao invés de migrações de povos bárbaros.[1] Humphrey Kitto mostra que a palavra grega “bárbaros” não significava “pessoas que vivem em cavernas e comem carne crua” apenas significa povos não helênicos que produzem sons como “bar bar” em vez de falarem grego, como por exemplos os egípcios.[2] A designação de “bárbaros” ou “berberes” já era usada pelos romanos aos povos africanos não helênicos[3]. Na antiga Suméria e Babilônia “barbaru” significava “estrangeiro”[4]. Entre os gregos no século VIII a.c. os povos estrangeiros eram chamados de barbaroi porque seu idioma soava como um balbuciar incompreensível.[5] O filósofo Giorgio Agamben recorda que, segundo o apóstolo Paulo, “se não conheço a força da linguagem, serei como um bárbaro para aquele que fala e aquele que fala será um bárbaro para mim” (1 Cor. 14,11). Para o filósofo italiano, o termo bárbaro remete a um ser não dotado de logos, um estrangeiro que realmente não consegue entender nem falar. Βάρβαρος. O historiador Amiano Marcelino descreve os bárbaros invasores: “com uma faca, marcam a face dos meninos recém nascidos, para que não cresça a barba sobre a cicatriz. São muito feios e encurvados. Passam o dia e a noite montados em seus cavalos, disformes mas fortes, sobre os quais combatem, compram e vendem. Comem, bebem, dormem e sonham agarrados ao pescoço de seus cavalos. São guerreiros ferozes, que provocam grandes estragos”.[6] Paulo era hebreu (Flipenses 4:5) mas por ter levado o evangelho aos não judeus tornou-se conhecido como o “apóstolo dos gentios” (Atos 15:7). Segundo Robert Fossier esta divisão foi o fundamento da hostilidade dos medievais aos estrangeiros.[7] Alessandro Cavagna mostra que a Europa germânica do século IV de povos como ostrogodos, visigodos, suevos, burgúndios, lombardos entre outros uma ocupação mais elaborada dos solos com uso de utensílios aperfeiçoados na agricultura, técnicas mais rentáveis de extração do ferro e refinamento das técnicas de cerâmica e ourivesaria.[8] O escritor cristão Salviano no século V descreve os povos bárbaros: “os godos mentem mas são castos, os francos mentem  mas são generosos, os saxões são selvagens em crueldade mas admiráveis em castidade. Que esperança pode haver para os romanos, se os bárbaros são mais puros do que eles ? “[9] Amiano Marcelino descreve os hunos como de “pescoços grossos, e são tão prodigiosamente disformes e feios que os poderíamos tomar por animais bípedes”.[10] Paulo Miceli observa que muitos bárbaros já faziam parte dos próprios exércitos romanos: “seria mais certo dizer que esta história começa com a migração dos povos germânicos, pois bárbaros era a denominação que os romanos davam a todos os que não faziam parte de seu império”.[11] Marc Bloch (na figura) mostra que as invasões normandas e sarracenas haviam criado um ambiente de insegurança que levou a destruição dos campos, pilhagens e saques nas cidades com impacto direto na cultura. Marc Bloch mostra que na baixa Idade Média “o homem vivia então em estado de perpétua e dolorosa insegurança. Não era, como hoje, a angústia do perigo atroz, coletivo e intermitente, que um mundo de nações em armas contém. Nem tão pouco, ou, pelo menos, não era o principal, a apreensão das forças econômicas que esmagam o pobre ou o mal afortunado. A ameaça, que era de todos os dias, pesava sobre cada destino individual, atingindo, não só os bens, como a própria carne [...] A violência imperava também no mais profundo da estrutura social e da mentalidade”. [12] No prefácio da Regra Pastoral de Gregório Magno, o rei Alfredo evoca dolorosamente  o tempo em que, antes que tudo fosse devastado ou queimado, as igrejas inglesas estavam recheadas de tesouros e de livros”.[13] Segundo Marc Bloch: “é certo que as incursões árabes, húngaras ou escandinavas não detêm toda a responsabilidade da apreensão que pesava sobre os espíritos, mas cabia-lhes uma larga parte dela”. Robert Fossier aponta para outro aspecto que motivava a se viver junto, a expectativa de uma inevitável vinda do juízo final dos tempos para o juízo final.[14]



[1] PONTESILLI, Massimo. As migrações dos bárbaros e o fim do império romano do occidente. Cf. ECO, Umberto. Idade média: bárbaros, cristãos e muçulmanos, v.I, Portugal:Dom Quixote, 2010, p.60-61

[2] KITTO, Humphrey Davey Findley. Os gregos. Coimbra:Armenio Amado, 1970, p. 12

[3] WENDT, Herbert. Tudo começou em Babel, São Paulo:Difusão, 1962, p. 45

[4] HALL, Edith. The ancient greeks, London:Vintage, 2015, p.22

[5] STANDAGE, Tom. História do mundo em 6 copos, Rio de Janeiro: Zahar, 2005, p. 47

[6] DEARY, Terry. Terríveis romanos. São Paulo:Melhoramentos, 2002, p. 61; MENDES, Chico; VERÍSSIMO, Chico; BITTAR, William. Arquitetura no brasil de Cabral a Dom João VI, Rio de Janeiro;Imperial Novo Milênio, 2009, p. 12

[7] FOSSIER, Robert. As pessoas da idade média, Rio de Janeiro: Vozes, 2018, p. 236

[8] CAVAGNA, Alessandro. Os povos germânicos. Cf. ECO, Umberto. Idade média: bárbaros, cristãos e muçulmanos, v.I, Portugal:Dom Quixote, 2010, p.65-66

[9] FREMANTLE, Anne. Idade da fé. Biblioteca de História Universal Life. Rio de Janeiro:José Olympio, 1970, p.14

[10] MICELI, Paulo. O feudalismo, São Paulo: Atual, 1986, p. 12

[11] MICELI, Paulo. O feudalismo, São Paulo: Atual, 1986, p. 11

[12] BLOCH, Marc. A sociedade feudal, Lisboa:Edições 70, 1982, p.451

[13] BLOCH, Marc. A sociedade feudal, Lisboa:Edições 70, 1982, p.59

[14] FOSSIER, Robert. As pessoas da idade média, Rio de Janeiro: Vozes, 2018, p. 188



A invenção do vidro

 

Já em 2500 a.c. os mesopotâmios fabricavam vidro e uma inscrição de 1700 a.c. revela os segredos de sua técnica[1]. Em 1000 a.c. a Mesopotâmia já dominava a técnica de vidrado cerâmico.[2] Uma vasilha datada do século XV a.c. foi encontrada em Tell al Rimah.[3] Diversos textos mesopotâmicos, como textos médicos e de fabricação de vidro do século VIII a.c preservam a recomendação para preservação dos segredos de ofícios: “aquele que sabe pode mostrar ao que sabe, mas aquele que sabe não deve mostrar ao que não sabe”. [4] Mircea Eliade destaca receitas de técnicas mesopotâmicas do século XVIII a.c. que eram escritas na “linguagem secreta” eram lidas apenas pelos iniciados.[5] Plínio atribui erradamente a invenção do vidro aos fenícios, pois os egípcios já faziam uso do vidro opaco no Médio Império ou Primeiro Império Tebano (2100-1750 a.C.)[6], contudo, os fenícios produziam vidro transparente o que levou a fama de cidades estados autônomas como Sidon e Tiro.[7] Segundo o relato de Plínio em História Natural (livro 36.65)[8] a invenção do vidro foi ocasional realizada na Síria (atual norte de Israel sul do Líbano) junto ao monte Carmelo por alguma comerciante de soda que ao atracar seu barco em alguma praia. Como não havia pedras para apoiar seus caldeirões, os apoiaram em pedaços de soda que pegara de seu carregamento. Quando estes se aqueceram e misturaram com a areia formaram um estranho líquido que começou a escorrer e ao esfriar formava vidro. Tal versão contudo não é comumente aceita como historicamente precisos e atualmente os estudiosos acreditam que o vidro foi descoberto como um subproduto da metalurgia ou de uma evolução no desenvolvimento de materiais cerâmicos[9]. O Oriente Próximo já no quinto milênio a.c. conheciam algumas pedras vítreas como o quartzo e a esteatita. Os egípcios na mesma época conhecida a “faiança egípcia” feita de quartzo moído.[10]



[1] KRAMER, Samuel. Mesopotãmia o berço da civilização, Rio de Janeiro: José Olympio, 1983, p. 154

[2] HODGES, Henry. Technology in the ancient world, New York: Barnes & Noble Books, 1970, p. 147

[3] ROAF, Michael. Mesopotãmia v.I, Lisboa:Ed. Del Prado, 1996, p. 125

[4] ELIADE, Mircea. Ferreiros e alquimistas. Rio de Janeiro:Zahar, 1979, p.111

[5] ELIADE, Mircea. Ferreiros e alquimistas. Rio de Janeiro:Zahar, 1979, p.127

[6] CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 79

[7] MATTOSO, Antonio. História da civilização, Lisboa:Ed Sá da Costa, 1952, p.174;  HERRMANN, Paul. As primeiras conquistas. São Paulo:Boa Leitura Editora, 3ª edição, p. 69

[8] http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.02.0137%3Abook%3D36%3Achapter%3D65

[9] S. C. Rasmussen, How Glass Changed the World, SpringerBriefs in History of Chemistry, 2012 https://beckassets.blob.core.windows.net/product/readingsample/10075950/9783642281822_excerpt_001.pdf

[10] FAGAN, Brian. Los setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume, 2005, p. 49



A difusão da língua portuguesa na Colônia

 

Edith Pimentel em “O português no Brasil: época colonial” mostra como o português ganhou mais importância a partir do século XVIII com marquês de Pombal[1], diante dos dois grandes troncos linguísticos indígenas: na bacia dos rios Paraná e Paraguai os guarani, os tupi e os tapuias (designação dos portugueses aos não tupi); na bacia amazônica, os tupi, aruaque caribe, entre outras, na região central os jê.[2] Os jesuítas na busca de uma catequização mais efetiva compuseram gramáticas da língua tupinambá com José de Anchieta em 1595 e o padre Luís Figueira em 1621, além de um catecismo na língua tupinambá em 1618, o “Catecismo na língua brasílica”.[3] No nordeste do ciclo do açúcar o português torna-se predominante já em inícios do século XVII.

[1] NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil , v.1, São Paulo:Companhia das Letras, 2018. Edição do Kindle, p.250

[2] NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil , v.1, São Paulo:Companhia das Letras, 2018. Edição do Kindle, p.245

[3] NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil , v.1, São Paulo:Companhia das Letras, 2018. Edição do Kindle, p.247 https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/7696



Sociedade da ostentação no período colonial

 

Para o professor de grego Luís dos Santos Vilhena escrevendo em 1808 na Bahia em “A Bahia no século XVIII” o Brasil era “o berço da preguiça e o teatro dos vícios”.[1] Quantos aos senhores de engenho Santos Vilhena os descreve como “geralmente arrogantes e tão inchados de jactância que pensam que ninguém se pode comparar com eles”.[2] Vilhena se queixa da ostentação de muitos que ”se preocuparam da mania de ser nobres antes que tivessem com que ostentar essa quimérica nobreza, e se chegaram a ter alguma coisa de seu, tanto se carregam de apelidos de muitas das famílias ilustres da Corte e tanto se empavonam com esta imaginação, que têm para si que um duque é nada à sua vista”.[3] Antonil em sua obra Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas relata nas primeiras linhas do primeiro capítulo que “O ser senhor de engenho é título a que muitos aspiram, porque traz consigo o ser servido, obedecido e respeitado de muitos”.[4] Segundo Edmund Lippmann “a posse de uma plantação com engenho confere uma espécie de nobreza, fala-se com reverência de um senhor de engenho e vir a sê-lo é o alvo da ambição de todos”.[5] Segundo um depoimento de um militar por volta de 1750: “O Rio de Janeiro e seus arredores são povoados por brancos, mas há, na região, um número inacreditável de negros e mulatos. A cada dia que passa, o sangue mistura-se mais e mais, pois o clima e a ociosidade tornam o povo fortemente inclinado à libertinagem. A ociosidade, a propósito, passa entre entre eles, por sinal de dignidade, pois jamais pensam no bem comum, agindo somente em proveito próprio. E isso num país que oferece tudo sem muito esforço. Todos querem ser nobres e gostam de mostrar desprezo pelas atividades produtivas como se o trabalho honesto tornasse o homem menor. Eles levam tal comportamento tão longe que coisas simples como dar ordens aos escravos e fiscalizar o seu trabalho parecem-lhes contrárias à grandeza e à opulência que ostentam”.[6]



[1] HOLANDA, Sérgio Buarque. História Geral da Civilização Brasileira, O Brasil monárquico: dispersão e unidade, tomo II, volume 2, São Paulo:Difel, 1964, p. 369; PRIORE, Mary del. Histórias da gente brasileira, v.1 Colônia.Rio de Janeiro:Leya, 2016, p. 186

[2] BOXER, Charles. O império colonial português, Lisboa: Edições 70, 1969, p. 294

[3] NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil , v.1, São Paulo:Companhia das Letras, 2018. Edição do Kindle, p.213

[4] SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 230; GOMES, Laurentino. Escravidão, v.I, São Paulo: Globo, 2019. p.320; SIMONSEN, Roberto. História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.105; LIMA, Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 95; BOXER, Charles. O império colonial português, Lisboa: Edições 70, 1969, p. 294

[5] LIPPMANN , Edmund O. von. História do açúcar desde a época mais remota até o começo da fabricação do açúcar de beterraba; Tradução de Rodolfo Coutinho. Rio de Janeiro : Instituto do Açucar e do Alcool, 1941-1942, p. 112

[6] CECILIA, Ana; MARTINS, Impellizieri; SOHACZEWSKI, Monique. As descobertas do Brasil, Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014, p.59



sexta-feira, 30 de julho de 2021

Os interesse comerciais de Veneza na quarta cruzada (1204)

 

Com a ruptura da Igreja Oriental pelo cisma de 1054 houve a aliança do papa com os normandos e com isso Bizâncio aliou-se a Veneza concedendo novos privilégios comerciais com a assinatura da Crisóbula (bula de ouro) de 1084 que os isentava de impostos, com isso Bizâncio perdeu o monopólio da sedas e converteu-se em importador de vestuário e manufaturados do Ocidente[1]. O cerco de Constantinopla (também chamado erroneamente[2] de Quarta Cruzada) instigado por poderosos mercadores de Veneza[3], ocorreu em 1204 e destruiu partes da capital do Império Bizantino quando a cidade foi capturada pelas forças ocidentais e pelos cruzados venezianos. Após a tomada e o saque de Constantinopla em 1204 acabou com o que restava do Estado imperial e todo o sistema de vassalagem foi importado do Ocidente, o Império Latino foi fundado e Balduíno de Flandres foi coroado como imperador latino com o nome de Balduíno I de Constantinopla na Basílica de Santa Sofia.[4] Na sala do tesouro da basílica de São Marcos em Veneza encontram-se objetos como copos e vasos todos trazidos pelos cruzados do saque de Constantinopla em 1204[5], embora Charles Singer questione a origem bizantina destes objetos.[6] Veneza consolida assim suas posições comerciais por toda a parte[7]. O Fondaco dei Tedeschi (na figura) em Veneza foi fundado em 1228. Com a conquista do Império Bizantino durante a Quarta Cruzada (1204-1261) Veneza conquista importantes territórios e incrementa o comércio de produtos importados do Oriente.[8] A fundação do império latino em Constantinopla, proporcionou a Veneza apenas momentaneamente sua proeminência sobre as rivais Gênova e Pisa. Com a restauração bizantina em 1261, que foi em grande parte, obra de Gênova, as duas grandes cidades mercantis passaram a dividir o domínio do mar Egeu.[9]



[1] ANDERSON, Perry. Passagens da antiguidade ao feudalismo, Porto: Afrontamento, 1982, p. 312

[2] HODGETT, Gerald. História social e econômica da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 1975, p.92

[3] LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.47

[4] http://pt.wikipedia.org/wiki/Cerco_de_Constantinopla_%281204%29

[5] SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.II, Oxford, 1956, p.467

[6] SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.II, Oxford, 1956, p.328

[7] BASCHET, Jérôme. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América, São Paulo:Globo, 2006, p.96

[8 JÚNIOR, Hilário Franco. A idade média nascimento do Ocidente, São Paulo:Brasiliense, 2004, p.41

[9] PIRENNE, Henri. História econômica e social da Idade Média, São Paulo. Ed. Mestre Jou, 1978, p. 145



Protoescrita na Mesopotâmia

 

Por volta de 3500 a.c as planícies de Susa no Irã, e da Mesopotâmia em Uruk no sul do Iraque e em Habuba Kabira na Síria desenvolveram técnicas de contagem de grãos e cabeças e rebanho com pequenos objetos de argila.[1] Estas fichas (tokens) que assumem formas de discos planos ou formas volumétricas podem ter dado origem à uma protoescrita com símbolos que representavam tais fichas, ainda que o uso destas fichas não tenha sido abandonado mesmo após a invenção da escrita.[2] Várias destas fichas possuem incisões e mostram uma clara evolução, onde as primeiras fichas datam de 8000 a.c. encontrados em Çatal Hüyük. Segundo Denise Besserat: “as fichas podem ser encontradas no período neolítico aparecendo a partir de 8000 a.c. O desenvolvimento das fichas esteve ligado ao aparecimento das estruturas sociais, emergindo com as lideranças hierarquizadas e florescendo durante a formação do estado. Com o aumento da burocracia também foram inventados métodos de arquivamento das fichas. Um método que perdurou por longo tempo foi o uso de envelopes, esferas (conchas) ocas simples de barro (chamadas bullae) nas quais as fichas eram guardadas e seladas. Uma dificuldade que os envelopes traziam era que eles escondiam as fichas. Os contadores resolveram esse problema o formato das fichas nas superfícies dos envelopes antes de guarda-los. A quantidade de bens anda era expressa por um número de marcas correspondentes. Um envelope contendo sete fichas ovais, por exemplo, trazia na superfície sete marcas ovais. Essas marcas tornaram-se um sistema autônomo que se desenvolveu para incluir não só as marcar impressas, mas sinais mais legíveis traçados com um estilete pontiagudo. Esses dois tipos de símbolos, que se originaram das fichas, era sinais pictóricos ou pictografias. A escrita não só se originou a partir de novas necessidades burocráticas, mas também da invenção da contagem abstrata. Uma vez que o item enumerado e o número que indicava a quantidade pura foram finalmente separados, dois diferentes tipos de sinais tiveram que ser usados, o que explica a diferença entre os sinais incisos, que representavam os bens, e os sinais impressos, que representavam números abstratos”.[3] Para a evitar a necessidade de ter de quebrar tais envelopes de argila os sumerianos passaram a imprimir na argila úmida do envelope uma figura que representa a quantidade de objetos, antes do envelope ser selado.[4]  Estas fichas são consideradas o elo entre a contagem e a escrita. Segundo Besserat: “os símbolos não eram imagens dos itens representados mas ao invés disso, a imagem das fichas usadas como contadores no sistema de contagem anterior. Estas primeiras representações foram um passo decisivo na invenção da escrita e respondem por uma revolução na tecnologia de comunicação”.[5]

[1] AMIET, Pierre. Susa, Readers's Digest. As grandes civilizações desaparecidas, Lisboa:1981, p.14; FAGAN, Brian. Los setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume, 2005, p. 247; STANDAGE, Tom. História do mundo em 6 copos, Rio de Janeiro: Zahar, 2005, p. 32

[2] FAGAN, Brian. Los setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume, 2005, p. 226

[3] GONTIJO, Silvana. O mundo em comunicação, Rio de Janeiro:Aeroplano, 2001, p.32

[4] DEVLIN, Keith. O gene da matemática, São Paulo: Record, 2004, p. 69

[5] https://brewminate.com/the-origins-and-invention-of-writing/



Os primórdios do ensino industrial no Brasil

Celso Sukow em sua história sobre o ensino industrial no Brasil destaca que no Brasil, o ensino de ofícios nasceu dissociado dos processos de educação: “de um lado o encargo dos trabalhos pesados dado inicialmente aos índios e, depois, aos escravos, e de outro, a espécie de educação que os padres da Companhia de Jesus ofereciam aos colonizadores, criaram uma mentalidade que levou à filosofia do desprezo pelo ensino de ofícios. Nossas populações habituaram-se a ver naquele ramo da instrução qualquer coisa de degradante, de humilhante, de desprezível”. Pedro Taques Leme em seu livro Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica[1] ao listar as famílias tradicionais paulistas confere importância de que na família não houvesse nenhum traço de “mecanismo”, ou seja, o exercício de qualquer profissão exercida com a força das mãos. Pedro Taques se refere com desdém a um José Pires Monteiro  sogro de um alfaiate. Pedro Taques se coloca como defensor da aristocracia paulista, recrimina a miscigenação e defende a limpeza de sangue (puritatis sanguinis) de toda a mácula judia, moura, negra ou índia.[2] Em 1819, o ensino de ofícios passou a ser destinado, também, aos órfãos, aos pobres, aos deserdados da fortuna com a criação do Seminário dos órfãos na cidade de Salvador: “A filosofia que vinha presidindo àquele ramo de instrução voltava-se, assim, também, para outros desgraçados. Já não o encarava mais como aplicável somente aos índios e escravos, destinava-o, também, daí por diante, aos miseráveis, aos infelizes, aos que não tinham arrimo nos pais”.



[1] TOLEDO, Roberto Pompeu de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 227

[2] RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1979, p.130



Alberto Magno e a escolástica medieval

 

Alberto Magno, questionado diante de mitos como o de avestruzes que comiam ferro respondia: “mas isso não foi provado pela experiência” Para Alberto Magno a ciência natural não era “um simples conhecimento vindo de outrem, mas a investigação das causas dos fenômenos naturais”.[1] Alberto Magno em De vegetabilis apresenta conhecimentos em botânica muito apurados baseados na experiência.[2] Por outro lado Hooykaas observa que Alberto Magno compartilhava o  pensamento de sua época de desprezo pelas atividades mecânicas ao depreciar um opositor: “Gilgil era um mecânico e não um filósofo”.[3] Hugo de São Victor por sua vez qualificou a ciência mecânica de adúltera (adulterina): o verbo grego mèchanaomai (fazer máquinas) foi traduzido em latim para moechari (ser adúltero), para opor as artes mecânicas às artes liberais.[4] Ao comentar as críticas que Tomás de Aquino recebia em sua época, Alberto Magno irá comentar: “Chamamos a Tomás o boi mudo [pelo seu contínuo silêncio], mas posso dizer-vos que um dia os mugidos da sua doutrina serão ouvidos no mundo inteiro”.[5] Ruy Afonso destaca que a escolástica se fundamenta na autoridade auctoritas e na razão ratio. [6] Pedro de Cápua usa da metáfora arquitetônica em que primeiro se lançam o alicerce das autoridades, em segundo lugar se levantam as paredes dos argumentos e das perguntas e finalmente em terceiro lugar estende-se o teto das soluções e das razões, de forma a construir o edifício do conhecimento.[7] Franco Alessio, contudo, aponta para a postura corporativista da escolástica ensinada na universidade medieval como diametralmente oposta ao pensamento científico moderno:  “o saber é sua prerrogativa institucional e defende zelosamente tal privilégio: é ela quem detém os ‘verdadeiros’ saberes. Isso não significa que não recebe o saber de outras fontes, mas somente de si mesma: entrincheirada atrás de seus textos, despreza qualquer contribuição exterior e não mantém nenhum comércio com o que existe além de suas fronteiras. A seus olhos, o saber autêntico pode ser controlado apenas na sala de aula, e não existem mestres além dos escolásticos [...] Voltando-se sobre si mesma, acabou por comentar os comentários que ela mesma havia produzido e por retornar os caminhos traçados pelos mestres do passado”.[8]



[1] BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1959, p.372; THORNDIKE, Lynn. A History of magic and experimental science, v.II, Columbia University Press, 1923, p.543; GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 229

[2] MANGOLD, Lydia Mez. Imagens da história dos medicamentos, Basileia:Hoffman La Roche, 1971, p.68

[3] HOOYKAAS, R. A religião e o desenvolvimento da ciência moderna, Brasília:UNB, 1988, p.116

[4] COSTA, Ricardo da. A Ciência no Pensamento Especulativo Medieval. In: SINAIS – Revista Eletrônica. Ciências Sociais. Vitória: CCHN, UFES, Edição n.05, v.1, Setembro. 2009. pp. 132-144 https://www.ricardocosta.com/sites/default/files/pdfs/a_ciencia_no_pensamento_especulativo_medieval.pdf

[5] CANTU, Cesare. História Universal, volume XIV, São Paulo:Editora das Américas, 1955, p. 323

[6] NUNES, Ruy Afonso da Costa. História da educação na idade média, Campinas:Kirion, 2018, p.256

[7] NUNES, Ruy Afonso da Costa. História da educação na idade média, Campinas:Kirion, 2018, p.257

[8] ALESSIO, Franco. Escolástica. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.I, São Paulo:Unesp, 2017, p. 412, 414



quinta-feira, 29 de julho de 2021

A invenção dos óculos

 

De Veneza são encontrados registros de monges com presbiopia que se utilizavam de óculos[1]. Uma crônica escrita no convento de Santa Catarina em Pisa refere-se ao monge dominicano Alexandre de Spina falecido em 1313 como inventor dos óculos: “Irmão Alexandre dela Spina, homem humilde e bom, entendia também desenvolver todos os produtos que via ou os quais ouvia. Ele reproduziu, sozinho, óculos que haviam sido feitos por alguém que não desejava partilhar nada a respeito, e difundi-os de coração alegre e sem hesitação”[2]. Chiara Frugoni observa que o fato de Spina ter sua situação financeira garantida no Mosteiro deve ter contribuído para essa disposição em divulgar amplamente os segredos da técnica de fabricação do óculos[3]. Carlos Dati é o primeiro que cita esta passagem mas o faz dizendo que houve um erro de tradução na passagem e Alessandro della Spina na verdade praticamente reinventou o óculos, pois tinha uma descrição muito insuficiente de sua fabricação[4]. Em Veneza um decreto de 1300 faz referência ao uso de lentes para os olhos.[5] Vidreiros de Nurenberg aprenderam com os italianos as técnicas de polimento da pedra berilo (de onde a origem brille para o termo óculos em alemão) para confecção das lentes. Em 1306 o frade dominicano Giordano de Rivalto de Pisa, pregando da igreja de Santa Maria Novella em Florença declarava segundo o texto Chronica antiqua do mesmo Convento: “Inúmeras coisas estão por descobrir, podia ser feita uma descoberta todos os dias e, apesar disso, restariam ainda muitas outras por fazer. Eis que não passaram 20 anos desde que se descobriu a arte de fabricar lunetas que permitem ver bem, uma das coisas mais úteis do mundo. Esta descoberta é muito recente. Eu que vos falo, conheci pessoalmente o inventor e conversamos os dois muitas vezes”[6]. Um retrato de um frade dominicano usando óculos de Thomasso a Modena de 1352 é a mais antiga ilustração conhecida de lentes para leitura[7]. As lentes feitas a partir de uma pedra semi preciosa, o berilo, ficaram conhecidas como brill de modo que o óculos formado por duas destas lentes ficou conhecido como brille, em alemão.[8]



[1] BASCHET, Jérôme. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América, São Paulo:Globo, 2006, p.262; SEDGWICK, W.; TYLER, H; BIGELOW, R. História da ciência: desde a remota antiguidade até o alvorescer do século XX, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1952, p.191

[2] WHITE, LYNN. Medieval religion and technology, UCLA, 1978, p.88; CARVALHO, Nuno. A estrutura dos sistemas de patentes e de marcas: passado, presente e futuro. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 159; FRUGONI, Chiara. Invenções da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 2007, p. 10

[3] FRUGONI, Chiara. Invenções da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 2007, p. 17

[4] FRUGONI, Chiara. Invenções da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 2007, p. 11

[5] FRUGONI, Chiara. Invenções da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 2007, p. 15

[6] GIMPEL, Jean. A revolução industrial da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 1977, p.158; MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura, São Paulo: Cia das Letras, 1997, p. 327; CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 351

[7] RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência: Oriente, Roma e Idade Média. v.2, São Paulo:Jorge Zahar, 2001, p.151

[8] Quero saber: mistérios e revelações da idade média, São Paulo:Escala, 2009, p. 62



Os jesuítas e o ensino dos primeiros ofícios

 

Na Companhia de Jesus o padre Jorge Esteves é apontado como primeiro carpinteiro, também encarregado de administrar fazendas de gado. No início do século XVII a Confraria dos Ofícios mecânicos no Colégio Jesuíta da Bahia contava com apenas oitenta membros.[1] O sapateiro Manoel Gomes é registrado em 1682 na Companhia de Jesus tendo exercido atividades de enfermeiro e farmacêutico. O padre Serafim Leite em sua História da Companhia de Jesus dedica um volume as Artes e Ofícios dos Jesuítas no Brasil no período 1549 a 1760. Os artesãos que sabiam consertar moendas e rodas d’ água dos engenhos de açúcar eram muito procurados.[2] José Anchieta foi um fabricador manual de alpercatas, o principal calçado utilizado pelos jesuítas no Brasil colonial: “e sou já bom mestre e tenho feito muitos para os irmãos, porque não se pode cá andar pelos matos com sapatos de couro”[3]. Em carta Manuel da Nóbrega informa: “Quase nenhuma das artes necessárias para o comércio da vida deixam de fazer os irmãos: fazemos vestidos, sapatos, principalmente alpercatas de um fio, como cânhamo, que nós outros tiramos duns cardos lançados na água e curtidos, cujas alpercatas, pela aspereza das selvas e das grandes enchentes de água, é necessário passar muitas vezes por grande espaço até a cinta, e algumas vezes até o peito, barbear, curar feridas, sangrar,  fazer casas e coisas de barro e outras semelhantes coisas que se buscam fora, de sorte que a ociosidade não tem lugar nesta casa”.[4] Entre os índios o uso de sandálias visava não apenas a proteção dos pés mas também para despistar o inimigo, e seu hábito conforme observa Sérgio Buarque de Holanda surge associado a entidades mitológicas como o curupira, de pés as avessas, presente principalmente do  imaginário dos povos tupi[5]. Manuel da Nóbrega e José de Anchieta contavam com os irmãos Salvador e Gonçalo Pires que faziam os trabalhos de carpintaria, marcenaria e entalhadores.[6] Uma carta dos jesuítas de 1551 revela a demanda por artífices: “Nesta terra, pela falta que há de oficiais, a necessidade nos faz aprender todos os ofícios”.[7] Anchieta introduziu em São Paulo a fabricação de tecidos para vestir os índios ofício que o jesuíta Vicente Rodrigues ensinou aos próprios índios. Um noviço vindo da Espanha era tecelão e auxiliou-o na tarefa segundo Serafim Leite[8]. Manuel da Nóbrega contou por cinco anos com o trabalho de um oficial pedreiro Nuno Garcia degredado[9]. O padre Manuel de Paiva que substitui Manuel da Nóbrega na Bahia ocupava-se em carpintejar e fazer taipas.[10] Em carta de 1549, endereçada a Simão Rodrigues, provincial da Companhia de Jesus em Portugal, o padre Manuel da Nóbrega se referia à ausência de carpinteiros para a construção de edificações: “a terra não oferece facilidade para contratar oficiais mecânicos”.[11] Em carta de 1549 Manuel da Nóbrega solicita o envio de tecelões diante da abundância de algodão. Apenas alguns anos após as aldeias jesuíticas registram a presença de índios tecelões.[12] Em carta de 15 de junho de 1553 em São Vicente, Manuel da Nóbrega informa que mandou ensinar os ofícios de ferreiro e tecelão a moços da terra. [13]

[1] SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 37

[2] SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 37, 38

[3] BARDI, Pietro Maria. Mestres, artífices, oficiais e aprendizes no Brasil, Banco Sudameris Brasil, 1981, p. 82; NASH, Roy. A conquista do Brasil. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1939, p. 155; TOLEDO, Roberto Pompeu de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 106

[4] BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.188

[5] AQUINO, Fernando, Gilberto, HIran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.207

[6] LIMA, Heitor Ferreira. História Político econômica e industrial do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1970, p. 93; LIMA, Heitor Ferreira. Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro:Fundo de Cultura, 1961, p. 229

[7] IGLESIAS, Francisco. A industrialização brasileira, Coleção Tudo é história, n° 98, São Paulo:Brasiliense, 1986, p. 16

[8] LIMA, Heitor Ferreira. Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, p. 149

[9] LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil, Rio de Janeiro: Civillização Brasileira, 1938, Tomo I, livro I, p.49

[10] LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil, Rio de Janeiro: Civillização Brasileira, 1938, Tomo I, livro I, p.57

[11] FERREIRA, Amarílio; BITTAR, Marisa. Artes liberais e ofícios mecânicos nos colégios jesuíticos do Brasil colonial. Revista Brasileira de Educação v. 17 n. 51 set.-dez. 2012, p.693-751 http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v17n51/12.pdf

[12] NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil , v.1, São Paulo:Companhia das Letras, 2018. Edição do Kindle, p.107

[13] HANSEN, João Adolfo.  Manuel da Nóbrega, Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010



quarta-feira, 28 de julho de 2021

Leonardo Fibonacci e a revolução dos números

 

A noção de algoritmo teve origem com o matemático árabe Abu Adullah Mohammad Ibn Musa Al-Khwarizmi (cerca de 780-850). Sua obra, que inclui tabelas de funções trigonométricas,[1] chegou ao Ocidente por um texto latino do século XII, em que seu nome aparece na forma latinizada Algorismus. O cálculo algoritmo se contrapunha aos cálculos realizados com ábaco, então em voga. Uma de suas obras: Cálculo por restauração e redução, Al-Khwarizmi expõe técnicas para resolver problema aritméticos. Pela restauração (al-jabr) um termo negativo pode se tornar positivo ao ser passado para o outro lado do sinal de igual de uma equação. A redução é o processo inverso. Ao ser traduzido para o latim a palavra al-jbr do título se tornou álgebra.[2] Por demandar muito papel, objeto de luxo na idade Média, e por ter origem de um infiel, o uso dos algoritmos somente viria a ter maior disseminação na Europa no século XVI[3]. Uma batalha foi travada entre abacistas, apegados a complicada aritmética greco romana com auxílio de um ábaco, e algebristas para solução de problemas matemáticos[4]. Lancelot Hogben observa o menosprezo para com os algebristas na Espanha, pela expressão pejorativa usada na época “curandeiro e algebrista”[5]. Adelardo de Bath traduziu a o livro de Musa al Khwarizmi expondo a notação hindu mas esta tradução teve um alcance restrito entre os matemáticos de sua época, coube a Leonardo Fibonacci com seu livro Liber abaci (Livro dos ábacos) publicado em 1202 a difusão dos números hindu arábicos e sua aplicação em cálculos de contabilidade. O filho de comerciante e matemático de Pisa, Leonardo Fibonacci introduziu em 1202 o cálculo numérico posicional dos árabes. [6] Uma comunidade de banqueiros florentinos de 1299 estabeleceu em seus estatutos a proibição do uso de algarismos arábicos pelo risco de falsificação ao se anotar as somas de dinheiro. Uma explicação adicional para hesitação na sua utilização se encontra em um certo desprezo dos homens do Renascimento para com os árabes[7]. O desenvolvimento dos processos de contabilidade de “partidas dobradas” após 1250 acabou impulsionando o uso do zero e dos algarismos árabes (os árabes denominavam o zero de çifr que no italiano foi traduzido para zéfiro e assumiu a forma latina zephiru segundo Leonardo Fibonacci que foi introdutor dos algarismos arábicos na Europa[8]) ao permitir cálculos mais fáceis e a contabilidade de dupla entrada com livro de contas registrando crédito, débito e o balanço.[9] O Método das Partidas Dobradas, ou Método Veneziano ("el modo de Vinegia") foi descrito pela primeira vez por Luca Pacioli no livro "Summa de Arithmetica” em 1494 tornando um dos primeiros livros impressos em matemática de ampla difusão.[10] Charles Singer aponta a introdução dos números hindu arábicos como um fator fundamental para o surgimento da ciência no mundo ocidental.[11]



[1] GLEICK, James. A informação: uma história, uma teoria, uma enxurrada, São Paulo:Cia das Letras, 2013, p. 91; SEDGWICK, W.; TYLER, H; BIGELOW, R. História da ciência: desde a remota antiguidade até o alvorescer do século XX, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1952, p.162

[2] BELLOS, Alex. Alex no país dos números: uma viagem ao mundo maravilhoso da matemática. São Paulo:Cia das Letras, 2011, p.194; RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência: Oriente, Roma e Idade Média. v.2, São Paulo:Jorge Zahar, 2001, p.107

[3] O nascimento da álgebra, Peter Schreiber, In: A Ciência na Idade Média, Scientific American do Brasil, agosto 2008, p. 16

[4] STEVERS, Martin. A inteligência através dos séculos. São Paulo:Globo, 1946, p.474

[5] HOGBEN, Lancelot. Las matemáticas al alcance de todos. Joaquín Gil: Buenos Aires, 1943, p. 356

[6] GUICHARD, Pierre. Islã. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.I, São Paulo:Unesp, 2017, p. 719

[7] BEAUJOUAN, Guy. Números. BEAUJOUAN, Guy. Números. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017, p. 340

[8] PIMENTA, Reinaldo. A casa da mãe Joana. Rio de Janeiro: Campus, 2002, p. 244

[9] FOSSIER, Robert. O trabalho na idade média. Rio de Janeiro: Vozes, 2018, p. 204; MORTIMER, Ian. Séculos de transformações. Rio de Janeiro:DIFEL, 2018, p. 88; FOSSIER, Robert. As pessoas da idade média, Rio de Janeiro: Vozes, 2018, p. 252

[10] BARRETO, Elias. Enciclopédia das grandes invenções e descobertas. São Paulo:Cascino Editores, 1971, p.123; BERLINGHOFF, Wiliam; GOUVEA, Fernando. A matemática através dos tempos, São Paulo: Blucher, 2010, p. 34

[11] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and water wheel, New York:Harper Collins, 1994, p.227



A iluminação pública no século XIX

 

Caio Prado Júnior observa que com o fim do tráfico de escravos em 1850 foram liberados consideráveis recursos para investimentos como por exemplo a fundação por Irineu Evangelista de Souza da Companhia de Iluminação a gás do Rio de Janeiro em 1854 com postes fabricados pela fundição de Ponta da Areia em Niteroi.[1] A antiga fábrica de gás do Rio de Janeiro construída em 1853, no Caminho do Aterrado (hoje Avenida Presidente Vargas número 2610) tem uma inscrição em latim em sua fachada Ex fumo darem luce em referência a texto de Horácio muito embora não se possa confundir fumo com gás. Em São Paulo a iluminação a gás é inaugurada em 1872 junto ao largo da Sé, no pátio do Colégio e em frente ao Palácio do Governo.[2] A imprensa se contagia com as perspectivas de progresso. A lâmpada de Argand revolucionara a iluminação artificial em 1784 usando óleo como combustível. No Brasil em fins do século XVIII, começou a iluminação pública por candeeiros à óleo de baleia. Na tela de Thomas Endler de 1817 é mostrado o uso de candeeiros com óleo de baleia em torno do chafariz de mestre Valentim no Rio de Janeiro. Sobre a iluminação a gás na capital o Jornal do Comércio em 2 de março de 1851 exalta a iniciativa de Irineu Evangelista e escreve: “Viva o progresso de 1851 ! [...] é mais uma fonte de trabalho que se vai abrir, é mais uma indústria que nasce, é mais um melhoramento de asseio, de comodidade e segurança pública. Avante ! É esta a palavra da época em que vivemos, é este o voto de todos aos brasileiros”.[3] Segundo Mauá “reunir os capitais, que viam repentinamente deslocados do ilícito comércio, e fazê-los convergir a um centro donde pudessem ir alimentar as forças produtivas do país, foi o pensamento que me surgiu na mente ao ter a certeza de que aquele fato era irrevogável”[4]. José Maria da Silva Paranhos faz o mesmo diagnóstico: “a abolição efetiva do tráfico de escravos [...] deixou disponível uma grande massa de capitais que se empregavam nas especulações da costa da África. Esses recursos foram novos e fortes estímulos para as tendências pacíficas de nossa sociedade concorreram poderosamente para o desenvolvimento industrial e comercial que se observou entre nós”.[5] James Fletcher que esteve no Brasil por várias vezes entre 1851 e 1869 admirava não somente os atributos geográficos e as riquezas naturais do país mas a tecnologia ao elogiar o sistema de placas que direcionavam o trânsito nas ruas estreitas do Rio de Janeiro assim como a iluminação pública acesa todas as noites enquanto que nos Estados Unidos muitas cidades desligavam as luzes das ruas nas noites de lua cheia.[6]  Por um lado em São Paulo o sistema de iluminação introduzido em 1829, que não era ligado nas noites de lua cheia, é descrito  como “uma enorme geringonça de ferro, pregada na parede de uma esquina, estendida por cima da rua por um longo braço em cuja extremidade estava dependurado um lampião. Colocados de longe em longe nas ruas principais, a luz desses lampiões, alimentados  com azeite de peixe, difundia uma claridade mortiça, que só alumiava um pequeno espaço, projetando longas sombras movediças, quando o vento balançava os lampiões”[7]. Os lampiões de querosene são de meados do século XIX.[8]



[1] Visconde de Mauá: pioneiro da indústria brasileira, Grandes figuras em quadrinhos, n.9, Rio de Janeiro:Ed. Brasil-America, EBAL, 1959; TELLES, Pedro Carlos da Silva. História da Engenharia no Brasil: séculos XVI a XIX, Rio de Janeiro:Clube de Engenharia, 1994, p.178, 319, 367

[2] TOLEDO, Roberto Pompeu de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 397

[3] HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil monárquico: reações e transações, t.II, v.3, São Paulo:Difusão Europeia, 1967, p.37

[4] HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil monárquico: reações e transações, t.II, v.3, São Paulo:Difusão Europeia, 1967, p.35

[5] HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil monárquico: reações e transações, t.II, v.3, São Paulo:Difusão Europeia, 1967, p.82

[6] CECILIA, Ana; MARTINS, Impellizieri; SOHACZEWSKI, Monique. As descobertas do Brasil, Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014, p.110

[7] TOLEDO, Roberto Pompeu de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 363

[8] NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil , v.1, São Paulo:Companhia das Letras, 2018. Edição do Kindle, p.92


O mobiliário das casas no século XIX

 

Em 1808 Luis dos Santos Vilhena descreve as casas da área pobre de Salvador com “mobiliários de ordinário com duas ou três esteiras de tábuas, segundo as camas que carece a família”.[1] Luiz Edmundo observa que no século XVIII a casa brasileira sempre foi muito modesta em mobiliário, cópia grosseira do que se fazia na Inglaterra, como os móveis Queen Anne ou Chipandale. [2] Nos palacetes da elite do Rio de Janeiro do século XVIII o mobiliário, quase todo, é importado.[3] Viajantes do século XVIII em visita ao Rio de Janeiro como Bynon e Barrow relatam móveis grosseiramente feitos e casa mal mobiliadas[4]. Um certo capitão mor do Pará é mencionado em 1763 pelo destaque de sua casa “magnífica e adornada ao estilo da cprte, com cadeiras de veludo, cortinas de damasco, papeleira, cômodas e cantoneiras com serviço de baixela e porcelana”.[5] Saint Hilaire se refere a escassez de mobiliário nas casas que visitou em suas viagens[6]: “como em todas fazendas que vi hoje, a casa do proprietário é baixa, pequena, coberta de telhas, construída de pau a pique e rebocada de barro. O mobiliário do cômodo em que fui recebido corresponde muito ao exterior, e consiste unicamente numa mesa, um banco, um par de tamboretes e uma comodazinha”.[7] O engenheiro Louis Vauthier após visitar algumas casas no Recife dos anos 1840: “quem viu uma casa brasileira, viu quase todas”.[8] Saint Hilairie questionado sobre como os fazendeiros gastam seu dinheiro responde que “não é em construir belas casas nem mobiliá-las”.[9] Na chegada da família Real em 1808 John Luccock descreve “o mobiliário dos aposentos mais elegantes é escasso e pobre. Vêem-se neles, em geral, um sofá de madeira, ao mesmo tempo tosco e fantástico no formato, acompanhado de umas poucas cadeiras de modelo semelhante [,..] algumas delas feitas talvez há cerca de cem anos atrás”.[10] Para John Mawe ao descrever a casa de uma família remediada na zona de mineração “sem exagero ou atenuantes: a habitação mal merece o nome de casa: é a mais miserável toca que a imaginação possa figurar [...] o mobiliário consiste em uma ou duas cadeiras, bancos, uma mesa ou talvez duas e um pequeno número do xicaras”.[11] Leila Algranti critica a severidade de John Mawe: “ele possivelmente jamais entrara na casa de um camponês pobre em seu país de origem”.[12] Alice Hurford em 1840 destaca que “as casas certamente não são o que os ingleses chamariam de lar, pois não existem lareiras muito raramente alguns tapetes e o mínimo de mobiliário”.[13] John Luccock em 1820 relata que “nunca jantei em casa brasileira que parte dos objetos da mesa não fosse inglesa, especialmente a louça e a cristaleira”.[14] No século XIX uma jovem recém chegada da Ingalterra observa que “as casas certamente não são o que os ingleses chamariam de lar, pois não existem lareiras, muito raramente alguns tapetes e o mínimo de mobiliário”.[15] Mesmo no palácio de São Cristóvão Debret refere-se como pessimamente mobiliado.[16]



[1[ PRIORE, Mary del. Histórias da gente brasileira, Vol. 1 Colônia. Rio de Janeiro:Leya, 2016, p. 223

[2] EDMUNDO, Luiz. O Rio de Janeiro no tempo dos vice reis, Rio de Janeiro:Conquista, 1956, v.3, p.495

[3] EDMUNDO, Luiz. O Rio do meu tempo, Rio de Janeiro:Conquista, 1957, v.II, p. 325

[4] EDMUNDO, Luiz. O Rio de Janeiro no tempo dos vice reis, Rio de Janeiro:Conquista, 1956, v.2, p.448

[5] NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil , v.1, São Paulo:Companhia das Letras, 2018. Edição do Kindle, p.73

[6] LIMA, Heitor Ferreira. Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, p. 225

[7] MARTINS, Ana Luiza. Império do café, São Paulo: Atual, 1990, p. 54

[8] NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil , v.1, São Paulo:Companhia das Letras, 2018. Edição do Kindle, p.66

[9] ABREU, Capistrano. Capítulos de História Colonial. São Paulo: PubliFolha, 2000, p. 227

[10] LIMA, Heitor Ferreira. Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, p. 224

[11] MAWE, John. Viagens ao interior do Brasil. São Paulo: USP, 1978, p. 240

[12] NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil , v.1, São Paulo:Companhia das Letras, 2018. Edição do Kindle, p.66

[13] FIORE, Elizabeth. Presença britânica no Brasil (1808-1914). São Paulo:Pau Brasil, 1987, p. 89

[14] FIORE, Elizabeth. Presença britânica no Brasil (1808-1914). São Paulo:Pau Brasil, 1987, p. 46

[15] GRAHAM, Richard. Grã Bretanha e o início da modernização no Brasil 1850-1914, Rio De Janeiro: Brasiliense, 1973, p. 120

[16] EDMUNDO, Luiz. A Corte de D. João VI no Rio de Janeiro, v.3, Rio de Janeiro:Conquista, 1959, p. 574



Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...