De Veneza são encontrados registros de monges com presbiopia que se utilizavam de óculos[1]. Uma crônica escrita no convento de Santa Catarina em Pisa refere-se ao monge dominicano Alexandre de Spina falecido em 1313 como inventor dos óculos: “Irmão Alexandre dela Spina, homem humilde e bom, entendia também desenvolver todos os produtos que via ou os quais ouvia. Ele reproduziu, sozinho, óculos que haviam sido feitos por alguém que não desejava partilhar nada a respeito, e difundi-os de coração alegre e sem hesitação”[2]. Chiara Frugoni observa que o fato de Spina ter sua situação financeira garantida no Mosteiro deve ter contribuído para essa disposição em divulgar amplamente os segredos da técnica de fabricação do óculos[3]. Carlos Dati é o primeiro que cita esta passagem mas o faz dizendo que houve um erro de tradução na passagem e Alessandro della Spina na verdade praticamente reinventou o óculos, pois tinha uma descrição muito insuficiente de sua fabricação[4]. Em Veneza um decreto de 1300 faz referência ao uso de lentes para os olhos.[5] Vidreiros de Nurenberg aprenderam com os italianos as técnicas de polimento da pedra berilo (de onde a origem brille para o termo óculos em alemão) para confecção das lentes. Em 1306 o frade dominicano Giordano de Rivalto de Pisa, pregando da igreja de Santa Maria Novella em Florença declarava segundo o texto Chronica antiqua do mesmo Convento: “Inúmeras coisas estão por descobrir, podia ser feita uma descoberta todos os dias e, apesar disso, restariam ainda muitas outras por fazer. Eis que não passaram 20 anos desde que se descobriu a arte de fabricar lunetas que permitem ver bem, uma das coisas mais úteis do mundo. Esta descoberta é muito recente. Eu que vos falo, conheci pessoalmente o inventor e conversamos os dois muitas vezes”[6]. Um retrato de um frade dominicano usando óculos de Thomasso a Modena de 1352 é a mais antiga ilustração conhecida de lentes para leitura[7]. As lentes feitas a partir de uma pedra semi preciosa, o berilo, ficaram conhecidas como brill de modo que o óculos formado por duas destas lentes ficou conhecido como brille, em alemão.[8]
[1] BASCHET, Jérôme. A
civilização feudal: do ano mil à colonização da América, São Paulo:Globo, 2006,
p.262; SEDGWICK, W.; TYLER, H; BIGELOW, R. História da ciência: desde a remota
antiguidade até o alvorescer do século XX, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1952, p.191
[2] WHITE, LYNN. Medieval religion and technology, UCLA, 1978, p.88;
CARVALHO, Nuno. A
estrutura dos sistemas de patentes e de marcas: passado, presente e futuro. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 159; FRUGONI, Chiara. Invenções da Idade
Média, Rio de Janeiro:Zahar, 2007, p. 10
[3] FRUGONI, Chiara.
Invenções da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 2007, p. 17
[4] FRUGONI, Chiara.
Invenções da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 2007, p. 11
[5] FRUGONI, Chiara.
Invenções da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 2007, p. 15
[6] GIMPEL, Jean. A
revolução industrial da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 1977, p.158;
MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura, São Paulo: Cia das Letras, 1997, p.
327; CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers,
New York: Ballantine Books, 1963, p. 351
[7] RONAN, Colin. História
Ilustrada da Ciência: Oriente, Roma e Idade Média. v.2, São Paulo:Jorge Zahar,
2001, p.151
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