Alberto Magno, questionado diante de mitos como o de avestruzes que comiam ferro respondia: “mas isso não foi provado pela experiência” Para Alberto Magno a ciência natural não era “um simples conhecimento vindo de outrem, mas a investigação das causas dos fenômenos naturais”.[1] Alberto Magno em De vegetabilis apresenta conhecimentos em botânica muito apurados baseados na experiência.[2] Por outro lado Hooykaas observa que Alberto Magno compartilhava o pensamento de sua época de desprezo pelas atividades mecânicas ao depreciar um opositor: “Gilgil era um mecânico e não um filósofo”.[3] Hugo de São Victor por sua vez qualificou a ciência mecânica de adúltera (adulterina): o verbo grego mèchanaomai (fazer máquinas) foi traduzido em latim para moechari (ser adúltero), para opor as artes mecânicas às artes liberais.[4] Ao comentar as críticas que Tomás de Aquino recebia em sua época, Alberto Magno irá comentar: “Chamamos a Tomás o boi mudo [pelo seu contínuo silêncio], mas posso dizer-vos que um dia os mugidos da sua doutrina serão ouvidos no mundo inteiro”.[5] Ruy Afonso destaca que a escolástica se fundamenta na autoridade auctoritas e na razão ratio. [6] Pedro de Cápua usa da metáfora arquitetônica em que primeiro se lançam o alicerce das autoridades, em segundo lugar se levantam as paredes dos argumentos e das perguntas e finalmente em terceiro lugar estende-se o teto das soluções e das razões, de forma a construir o edifício do conhecimento.[7] Franco Alessio, contudo, aponta para a postura corporativista da escolástica ensinada na universidade medieval como diametralmente oposta ao pensamento científico moderno: “o saber é sua prerrogativa institucional e defende zelosamente tal privilégio: é ela quem detém os ‘verdadeiros’ saberes. Isso não significa que não recebe o saber de outras fontes, mas somente de si mesma: entrincheirada atrás de seus textos, despreza qualquer contribuição exterior e não mantém nenhum comércio com o que existe além de suas fronteiras. A seus olhos, o saber autêntico pode ser controlado apenas na sala de aula, e não existem mestres além dos escolásticos [...] Voltando-se sobre si mesma, acabou por comentar os comentários que ela mesma havia produzido e por retornar os caminhos traçados pelos mestres do passado”.[8]
[1] BURNS, Edward McNall.
História da civilização ocidental, Rio de Janeiro:Ed. Globo,
1959, p.372; THORNDIKE, Lynn. A History of magic and experimental science,
v.II, Columbia University Press, 1923, p.543; GIES, Frances & Joseph. Cathedral,
forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 229
[2] MANGOLD, Lydia Mez. Imagens da história dos medicamentos, Basileia:Hoffman La
Roche, 1971, p.68
[3] HOOYKAAS, R. A religião
e o desenvolvimento da ciência moderna, Brasília:UNB, 1988, p.116
[4] COSTA, Ricardo da. A
Ciência no Pensamento Especulativo Medieval. In: SINAIS – Revista Eletrônica.
Ciências Sociais. Vitória: CCHN, UFES, Edição n.05, v.1, Setembro. 2009. pp. 132-144
https://www.ricardocosta.com/sites/default/files/pdfs/a_ciencia_no_pensamento_especulativo_medieval.pdf
[5] CANTU, Cesare. História
Universal, volume XIV, São Paulo:Editora das Américas, 1955, p. 323
[6] NUNES, Ruy Afonso da
Costa. História da educação na idade média, Campinas:Kirion, 2018, p.256
[7] NUNES, Ruy Afonso da
Costa. História da educação na idade média, Campinas:Kirion, 2018, p.257
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