sexta-feira, 30 de julho de 2021

Os primórdios do ensino industrial no Brasil

Celso Sukow em sua história sobre o ensino industrial no Brasil destaca que no Brasil, o ensino de ofícios nasceu dissociado dos processos de educação: “de um lado o encargo dos trabalhos pesados dado inicialmente aos índios e, depois, aos escravos, e de outro, a espécie de educação que os padres da Companhia de Jesus ofereciam aos colonizadores, criaram uma mentalidade que levou à filosofia do desprezo pelo ensino de ofícios. Nossas populações habituaram-se a ver naquele ramo da instrução qualquer coisa de degradante, de humilhante, de desprezível”. Pedro Taques Leme em seu livro Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica[1] ao listar as famílias tradicionais paulistas confere importância de que na família não houvesse nenhum traço de “mecanismo”, ou seja, o exercício de qualquer profissão exercida com a força das mãos. Pedro Taques se refere com desdém a um José Pires Monteiro  sogro de um alfaiate. Pedro Taques se coloca como defensor da aristocracia paulista, recrimina a miscigenação e defende a limpeza de sangue (puritatis sanguinis) de toda a mácula judia, moura, negra ou índia.[2] Em 1819, o ensino de ofícios passou a ser destinado, também, aos órfãos, aos pobres, aos deserdados da fortuna com a criação do Seminário dos órfãos na cidade de Salvador: “A filosofia que vinha presidindo àquele ramo de instrução voltava-se, assim, também, para outros desgraçados. Já não o encarava mais como aplicável somente aos índios e escravos, destinava-o, também, daí por diante, aos miseráveis, aos infelizes, aos que não tinham arrimo nos pais”.



[1] TOLEDO, Roberto Pompeu de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 227

[2] RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1979, p.130



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