Por
volta de 3500 a.c as planícies de Susa no Irã, e da Mesopotâmia em Uruk no sul
do Iraque e em Habuba Kabira na Síria desenvolveram técnicas de contagem de
grãos e cabeças e rebanho com pequenos objetos de argila.[1] Estas fichas (tokens) que assumem
formas de discos planos ou formas volumétricas podem ter dado origem à uma
protoescrita com símbolos que representavam tais fichas, ainda que o uso destas
fichas não tenha sido abandonado mesmo após a invenção da escrita.[2] Várias destas fichas possuem incisões e mostram uma clara evolução, onde as
primeiras fichas datam de 8000 a.c. encontrados em Çatal Hüyük. Segundo Denise
Besserat: “as fichas podem ser
encontradas no período neolítico aparecendo a partir de 8000 a.c. O
desenvolvimento das fichas esteve ligado ao aparecimento das estruturas
sociais, emergindo com as lideranças hierarquizadas e florescendo durante a
formação do estado. Com o aumento da burocracia também foram inventados métodos
de arquivamento das fichas. Um método que perdurou por longo tempo foi o uso de
envelopes, esferas (conchas) ocas simples de barro (chamadas bullae) nas quais
as fichas eram guardadas e seladas. Uma dificuldade que os envelopes traziam
era que eles escondiam as fichas. Os contadores resolveram esse problema o
formato das fichas nas superfícies dos envelopes antes de guarda-los. A
quantidade de bens anda era expressa por um número de marcas correspondentes.
Um envelope contendo sete fichas ovais, por exemplo, trazia na superfície sete
marcas ovais. Essas marcas tornaram-se um sistema autônomo que se desenvolveu
para incluir não só as marcar impressas, mas sinais mais legíveis traçados com
um estilete pontiagudo. Esses dois tipos de símbolos, que se originaram das
fichas, era sinais pictóricos ou pictografias. A escrita não só se originou a
partir de novas necessidades burocráticas, mas também da invenção da contagem
abstrata. Uma vez que o item enumerado e o número que indicava a quantidade
pura foram finalmente separados, dois diferentes tipos de sinais tiveram que
ser usados, o que explica a diferença entre os sinais incisos, que
representavam os bens, e os sinais impressos, que representavam números
abstratos”.[3] Para a evitar a necessidade de ter de quebrar tais envelopes de argila os
sumerianos passaram a imprimir na argila úmida do envelope uma figura que
representa a quantidade de objetos, antes do envelope ser selado.[4] Estas fichas são consideradas o elo
entre a contagem e a escrita. Segundo Besserat: “os símbolos não eram imagens dos itens representados mas ao invés
disso, a imagem das fichas usadas como contadores no sistema de contagem
anterior. Estas primeiras representações foram um passo decisivo na invenção da
escrita e respondem por uma revolução na tecnologia de comunicação”.[5]
[1] AMIET, Pierre. Susa, Readers's Digest. As grandes civilizações desaparecidas,
Lisboa:1981, p.14; FAGAN, Brian. Los setenta grandes inventos y descobrimentos
del mundo antiguo, Barcelona:Blume, 2005, p. 247; STANDAGE, Tom. História do
mundo em 6 copos, Rio de Janeiro: Zahar, 2005, p. 32
[2] FAGAN, Brian. Los
setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume,
2005, p. 226
[3] GONTIJO, Silvana. O
mundo em comunicação, Rio de Janeiro:Aeroplano, 2001, p.32
[4] DEVLIN, Keith. O gene
da matemática, São Paulo: Record, 2004, p. 69
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