sexta-feira, 30 de julho de 2021

Protoescrita na Mesopotâmia

 

Por volta de 3500 a.c as planícies de Susa no Irã, e da Mesopotâmia em Uruk no sul do Iraque e em Habuba Kabira na Síria desenvolveram técnicas de contagem de grãos e cabeças e rebanho com pequenos objetos de argila.[1] Estas fichas (tokens) que assumem formas de discos planos ou formas volumétricas podem ter dado origem à uma protoescrita com símbolos que representavam tais fichas, ainda que o uso destas fichas não tenha sido abandonado mesmo após a invenção da escrita.[2] Várias destas fichas possuem incisões e mostram uma clara evolução, onde as primeiras fichas datam de 8000 a.c. encontrados em Çatal Hüyük. Segundo Denise Besserat: “as fichas podem ser encontradas no período neolítico aparecendo a partir de 8000 a.c. O desenvolvimento das fichas esteve ligado ao aparecimento das estruturas sociais, emergindo com as lideranças hierarquizadas e florescendo durante a formação do estado. Com o aumento da burocracia também foram inventados métodos de arquivamento das fichas. Um método que perdurou por longo tempo foi o uso de envelopes, esferas (conchas) ocas simples de barro (chamadas bullae) nas quais as fichas eram guardadas e seladas. Uma dificuldade que os envelopes traziam era que eles escondiam as fichas. Os contadores resolveram esse problema o formato das fichas nas superfícies dos envelopes antes de guarda-los. A quantidade de bens anda era expressa por um número de marcas correspondentes. Um envelope contendo sete fichas ovais, por exemplo, trazia na superfície sete marcas ovais. Essas marcas tornaram-se um sistema autônomo que se desenvolveu para incluir não só as marcar impressas, mas sinais mais legíveis traçados com um estilete pontiagudo. Esses dois tipos de símbolos, que se originaram das fichas, era sinais pictóricos ou pictografias. A escrita não só se originou a partir de novas necessidades burocráticas, mas também da invenção da contagem abstrata. Uma vez que o item enumerado e o número que indicava a quantidade pura foram finalmente separados, dois diferentes tipos de sinais tiveram que ser usados, o que explica a diferença entre os sinais incisos, que representavam os bens, e os sinais impressos, que representavam números abstratos”.[3] Para a evitar a necessidade de ter de quebrar tais envelopes de argila os sumerianos passaram a imprimir na argila úmida do envelope uma figura que representa a quantidade de objetos, antes do envelope ser selado.[4]  Estas fichas são consideradas o elo entre a contagem e a escrita. Segundo Besserat: “os símbolos não eram imagens dos itens representados mas ao invés disso, a imagem das fichas usadas como contadores no sistema de contagem anterior. Estas primeiras representações foram um passo decisivo na invenção da escrita e respondem por uma revolução na tecnologia de comunicação”.[5]

[1] AMIET, Pierre. Susa, Readers's Digest. As grandes civilizações desaparecidas, Lisboa:1981, p.14; FAGAN, Brian. Los setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume, 2005, p. 247; STANDAGE, Tom. História do mundo em 6 copos, Rio de Janeiro: Zahar, 2005, p. 32

[2] FAGAN, Brian. Los setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume, 2005, p. 226

[3] GONTIJO, Silvana. O mundo em comunicação, Rio de Janeiro:Aeroplano, 2001, p.32

[4] DEVLIN, Keith. O gene da matemática, São Paulo: Record, 2004, p. 69

[5] https://brewminate.com/the-origins-and-invention-of-writing/



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