Caio
Prado Júnior observa que com o fim do tráfico de escravos em 1850 foram
liberados consideráveis recursos para investimentos como por exemplo a fundação
por Irineu Evangelista de Souza da Companhia de Iluminação a gás do Rio de
Janeiro em 1854 com postes fabricados pela fundição de Ponta da Areia em
Niteroi.[1] A antiga fábrica de gás do Rio de Janeiro construída em 1853, no Caminho do
Aterrado (hoje Avenida Presidente Vargas número 2610) tem uma inscrição em
latim em sua fachada Ex fumo darem luce em referência a texto de Horácio
muito embora não se possa confundir fumo com gás. Em São Paulo a iluminação a
gás é inaugurada em 1872 junto ao largo da Sé, no pátio do Colégio e em frente
ao Palácio do Governo.[2] A imprensa se contagia com as perspectivas de progresso. A lâmpada de Argand
revolucionara a iluminação artificial em 1784 usando óleo como combustível. No
Brasil em fins do século XVIII, começou a iluminação pública por candeeiros à
óleo de baleia. Na tela de Thomas Endler de 1817 é mostrado o uso de candeeiros
com óleo de baleia em torno do chafariz de mestre Valentim no Rio de Janeiro. Sobre
a iluminação a gás na capital o Jornal do Comércio em 2 de março de 1851 exalta
a iniciativa de Irineu Evangelista e escreve: “Viva o progresso de 1851 ! [...] é mais uma fonte de trabalho que se
vai abrir, é mais uma indústria que nasce, é mais um melhoramento de asseio, de
comodidade e segurança pública. Avante ! É esta a palavra da época em que
vivemos, é este o voto de todos aos brasileiros”.[3] Segundo Mauá “reunir os capitais, que
viam repentinamente deslocados do ilícito comércio, e fazê-los convergir a um
centro donde pudessem ir alimentar as forças produtivas do país, foi o
pensamento que me surgiu na mente ao ter a certeza de que aquele fato era irrevogável”[4]. José Maria da Silva Paranhos faz o mesmo diagnóstico: “a abolição efetiva do tráfico de escravos [...] deixou disponível uma
grande massa de capitais que se empregavam nas especulações da costa da África.
Esses recursos foram novos e fortes estímulos para as tendências pacíficas de
nossa sociedade concorreram poderosamente para o desenvolvimento industrial e
comercial que se observou entre nós”.[5] James Fletcher que esteve no Brasil por várias vezes entre 1851 e 1869 admirava
não somente os atributos geográficos e as riquezas naturais do país mas a
tecnologia ao elogiar o sistema de placas que direcionavam o trânsito nas ruas
estreitas do Rio de Janeiro assim como a iluminação pública acesa todas as
noites enquanto que nos Estados Unidos muitas cidades desligavam as luzes das
ruas nas noites de lua cheia.[6] Por um lado em São Paulo o sistema de
iluminação introduzido em 1829, que não era ligado nas noites de lua cheia, é
descrito como “uma enorme geringonça
de ferro, pregada na parede de uma esquina, estendida por cima da rua por um
longo braço em cuja extremidade estava dependurado um lampião. Colocados de
longe em longe nas ruas principais, a luz desses lampiões, alimentados com azeite de peixe, difundia uma claridade
mortiça, que só alumiava um pequeno espaço, projetando longas sombras movediças,
quando o vento balançava os lampiões”[7].
Os lampiões de querosene são de meados do século XIX.[8]
[1] Visconde de Mauá:
pioneiro da indústria brasileira, Grandes figuras em quadrinhos, n.9, Rio de
Janeiro:Ed. Brasil-America, EBAL, 1959; TELLES, Pedro Carlos da Silva. História
da Engenharia no Brasil: séculos XVI a XIX, Rio de Janeiro:Clube de Engenharia,
1994, p.178, 319, 367
[2] TOLEDO,
Roberto Pompeu de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 397
[3] HOLANDA, Sérgio
Buarque. O Brasil monárquico: reações e transações, t.II, v.3, São
Paulo:Difusão Europeia, 1967, p.37
[4] HOLANDA, Sérgio
Buarque. O Brasil monárquico: reações e transações, t.II, v.3, São
Paulo:Difusão Europeia, 1967, p.35
[5] HOLANDA, Sérgio
Buarque. O Brasil monárquico: reações e transações, t.II, v.3, São
Paulo:Difusão Europeia, 1967, p.82
[6] CECILIA, Ana; MARTINS,
Impellizieri; SOHACZEWSKI, Monique. As descobertas do Brasil, Rio de Janeiro: Casa
da Palavra, 2014, p.110
[7] TOLEDO, Roberto Pompeu
de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 363
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