Em 1808 Luis dos Santos Vilhena descreve as
casas da área pobre de Salvador com “mobiliários
de ordinário com duas ou três esteiras de tábuas, segundo as camas que carece a
família”.[1] Luiz
Edmundo observa que no século XVIII a casa brasileira sempre foi muito modesta
em mobiliário, cópia grosseira do que se fazia na Inglaterra, como os móveis Queen Anne ou Chipandale. [2] Nos palacetes da elite do Rio de Janeiro do século XVIII o mobiliário, quase
todo, é importado.[3] Viajantes do século XVIII em visita ao Rio de Janeiro como Bynon e Barrow
relatam móveis grosseiramente feitos e casa mal mobiliadas[4].
Um certo capitão mor do Pará é mencionado em 1763 pelo destaque de sua casa “magnífica
e adornada ao estilo da cprte, com cadeiras de veludo, cortinas de damasco,
papeleira, cômodas e cantoneiras com serviço de baixela e porcelana”.[5] Saint Hilaire se refere a escassez de mobiliário nas casas que visitou em suas
viagens[6]:
“como em todas fazendas que vi hoje, a casa do proprietário é baixa,
pequena, coberta de telhas, construída de pau a pique e rebocada de barro. O
mobiliário do cômodo em que fui recebido corresponde muito ao exterior, e
consiste unicamente numa mesa, um banco, um par de tamboretes e uma comodazinha”.[7] O engenheiro Louis Vauthier após visitar
algumas casas no Recife dos anos 1840: “quem viu uma casa brasileira, viu
quase todas”.[8] Saint
Hilairie questionado sobre como os fazendeiros gastam seu dinheiro responde que
“não é em construir belas casas nem
mobiliá-las”.[9] Na
chegada da família Real em 1808 John Luccock descreve “o mobiliário dos
aposentos mais elegantes é escasso e pobre. Vêem-se neles, em geral, um sofá de
madeira, ao mesmo tempo tosco e fantástico no formato, acompanhado de umas
poucas cadeiras de modelo semelhante [,..] algumas delas feitas talvez há cerca
de cem anos atrás”.[10] Para John Mawe ao descrever a casa de uma família remediada na zona de
mineração “sem exagero ou atenuantes: a habitação
mal merece o nome de casa: é a mais miserável toca que a imaginação possa
figurar [...] o mobiliário consiste em uma ou duas cadeiras, bancos, uma mesa
ou talvez duas e um pequeno número do xicaras”.[11] Leila Algranti critica a severidade de John Mawe: “ele possivelmente jamais
entrara na casa de um camponês pobre em seu país de origem”.[12] Alice Hurford em 1840 destaca que “as
casas certamente não são o que os ingleses chamariam de lar, pois não existem
lareiras muito raramente alguns tapetes e o mínimo de mobiliário”.[13] John Luccock em 1820 relata que “nunca
jantei em casa brasileira que parte dos objetos da mesa não fosse inglesa, especialmente
a louça e a cristaleira”.[14] No século XIX uma jovem recém chegada da Ingalterra observa que “as casas certamente não são o que os
ingleses chamariam de lar, pois não existem lareiras, muito raramente alguns
tapetes e o mínimo de mobiliário”.[15] Mesmo no palácio de São Cristóvão Debret refere-se como pessimamente mobiliado.[16]
[1[ PRIORE, Mary del.
Histórias da gente brasileira, Vol. 1 Colônia. Rio de Janeiro:Leya, 2016, p.
223
[2] EDMUNDO, Luiz. O Rio de
Janeiro no tempo dos vice reis, Rio de Janeiro:Conquista, 1956, v.3, p.495
[3] EDMUNDO, Luiz. O Rio do
meu tempo, Rio de Janeiro:Conquista, 1957, v.II, p. 325
[4] EDMUNDO, Luiz. O Rio de
Janeiro no tempo dos vice reis, Rio de Janeiro:Conquista, 1956, v.2, p.448
[5] NOVAIS,
Fernando. História da vida privada no Brasil , v.1,
São Paulo:Companhia das Letras, 2018. Edição do Kindle, p.73
[6] LIMA, Heitor Ferreira.
Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, p. 225
[7] MARTINS, Ana Luiza.
Império do café, São Paulo: Atual, 1990, p. 54
[8] NOVAIS,
Fernando. História da vida privada no Brasil , v.1,
São Paulo:Companhia das Letras, 2018. Edição do Kindle, p.66
[9] ABREU, Capistrano.
Capítulos de História Colonial. São Paulo: PubliFolha, 2000, p. 227
[10] LIMA, Heitor Ferreira.
Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, p. 224
[11] MAWE, John. Viagens ao
interior do Brasil. São Paulo: USP, 1978, p. 240
[12] NOVAIS,
Fernando. História da vida privada no Brasil , v.1,
São Paulo:Companhia das Letras, 2018. Edição do Kindle, p.66
[13] FIORE, Elizabeth.
Presença britânica no Brasil (1808-1914). São Paulo:Pau Brasil, 1987, p. 89
[14] FIORE, Elizabeth. Presença
britânica no Brasil (1808-1914). São Paulo:Pau Brasil, 1987, p. 46
[15] GRAHAM, Richard. Grã
Bretanha e o início da modernização no Brasil 1850-1914, Rio De Janeiro:
Brasiliense, 1973, p. 120
Nenhum comentário:
Postar um comentário