quarta-feira, 28 de julho de 2021

O mobiliário das casas no século XIX

 

Em 1808 Luis dos Santos Vilhena descreve as casas da área pobre de Salvador com “mobiliários de ordinário com duas ou três esteiras de tábuas, segundo as camas que carece a família”.[1] Luiz Edmundo observa que no século XVIII a casa brasileira sempre foi muito modesta em mobiliário, cópia grosseira do que se fazia na Inglaterra, como os móveis Queen Anne ou Chipandale. [2] Nos palacetes da elite do Rio de Janeiro do século XVIII o mobiliário, quase todo, é importado.[3] Viajantes do século XVIII em visita ao Rio de Janeiro como Bynon e Barrow relatam móveis grosseiramente feitos e casa mal mobiliadas[4]. Um certo capitão mor do Pará é mencionado em 1763 pelo destaque de sua casa “magnífica e adornada ao estilo da cprte, com cadeiras de veludo, cortinas de damasco, papeleira, cômodas e cantoneiras com serviço de baixela e porcelana”.[5] Saint Hilaire se refere a escassez de mobiliário nas casas que visitou em suas viagens[6]: “como em todas fazendas que vi hoje, a casa do proprietário é baixa, pequena, coberta de telhas, construída de pau a pique e rebocada de barro. O mobiliário do cômodo em que fui recebido corresponde muito ao exterior, e consiste unicamente numa mesa, um banco, um par de tamboretes e uma comodazinha”.[7] O engenheiro Louis Vauthier após visitar algumas casas no Recife dos anos 1840: “quem viu uma casa brasileira, viu quase todas”.[8] Saint Hilairie questionado sobre como os fazendeiros gastam seu dinheiro responde que “não é em construir belas casas nem mobiliá-las”.[9] Na chegada da família Real em 1808 John Luccock descreve “o mobiliário dos aposentos mais elegantes é escasso e pobre. Vêem-se neles, em geral, um sofá de madeira, ao mesmo tempo tosco e fantástico no formato, acompanhado de umas poucas cadeiras de modelo semelhante [,..] algumas delas feitas talvez há cerca de cem anos atrás”.[10] Para John Mawe ao descrever a casa de uma família remediada na zona de mineração “sem exagero ou atenuantes: a habitação mal merece o nome de casa: é a mais miserável toca que a imaginação possa figurar [...] o mobiliário consiste em uma ou duas cadeiras, bancos, uma mesa ou talvez duas e um pequeno número do xicaras”.[11] Leila Algranti critica a severidade de John Mawe: “ele possivelmente jamais entrara na casa de um camponês pobre em seu país de origem”.[12] Alice Hurford em 1840 destaca que “as casas certamente não são o que os ingleses chamariam de lar, pois não existem lareiras muito raramente alguns tapetes e o mínimo de mobiliário”.[13] John Luccock em 1820 relata que “nunca jantei em casa brasileira que parte dos objetos da mesa não fosse inglesa, especialmente a louça e a cristaleira”.[14] No século XIX uma jovem recém chegada da Ingalterra observa que “as casas certamente não são o que os ingleses chamariam de lar, pois não existem lareiras, muito raramente alguns tapetes e o mínimo de mobiliário”.[15] Mesmo no palácio de São Cristóvão Debret refere-se como pessimamente mobiliado.[16]



[1[ PRIORE, Mary del. Histórias da gente brasileira, Vol. 1 Colônia. Rio de Janeiro:Leya, 2016, p. 223

[2] EDMUNDO, Luiz. O Rio de Janeiro no tempo dos vice reis, Rio de Janeiro:Conquista, 1956, v.3, p.495

[3] EDMUNDO, Luiz. O Rio do meu tempo, Rio de Janeiro:Conquista, 1957, v.II, p. 325

[4] EDMUNDO, Luiz. O Rio de Janeiro no tempo dos vice reis, Rio de Janeiro:Conquista, 1956, v.2, p.448

[5] NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil , v.1, São Paulo:Companhia das Letras, 2018. Edição do Kindle, p.73

[6] LIMA, Heitor Ferreira. Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, p. 225

[7] MARTINS, Ana Luiza. Império do café, São Paulo: Atual, 1990, p. 54

[8] NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil , v.1, São Paulo:Companhia das Letras, 2018. Edição do Kindle, p.66

[9] ABREU, Capistrano. Capítulos de História Colonial. São Paulo: PubliFolha, 2000, p. 227

[10] LIMA, Heitor Ferreira. Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, p. 224

[11] MAWE, John. Viagens ao interior do Brasil. São Paulo: USP, 1978, p. 240

[12] NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil , v.1, São Paulo:Companhia das Letras, 2018. Edição do Kindle, p.66

[13] FIORE, Elizabeth. Presença britânica no Brasil (1808-1914). São Paulo:Pau Brasil, 1987, p. 89

[14] FIORE, Elizabeth. Presença britânica no Brasil (1808-1914). São Paulo:Pau Brasil, 1987, p. 46

[15] GRAHAM, Richard. Grã Bretanha e o início da modernização no Brasil 1850-1914, Rio De Janeiro: Brasiliense, 1973, p. 120

[16] EDMUNDO, Luiz. A Corte de D. João VI no Rio de Janeiro, v.3, Rio de Janeiro:Conquista, 1959, p. 574



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