No século XII surgem os sinos laicos para proclamação do tempo do
trabalho, que se juntam aos sinos dos conventos das igrejas que marcavam as
horas canônicas dos ofícios religiosos.[1] Segundo
Paulo Miceli o controle do tempo foi uma das principais atribuições da Igreja
medieval.[2] Com os
primeiros relógios mecânicos o tempo deixa de ser marcado somente pelos sinos
das igrejas e passa a ser marcado pelos relógios das torres de vigia[3]. Há uma
secularização do tempo uma vez inserido no ambiente das atividades econômico e
sociais que estavam florescendo no século XIII[4]. Jacques
le Goff destaca que “o relógio comunal tornou-se um instrumento de dominação
econômica, social e política exercido pelos mercadores que controlavam a comuna”.
Em Paris em 1370 Charles V ordenou que todos os sinos da cidade fossem
sincronizados com o relógio Conciergerie em Palais Royal. Até então, sem
a precisão dos relógios mecânicos, as pessoas na idade média estavam
acostumados com uma hora variável em função da estação ser inverno (dias mais
curtos) ou verão (dias mais longos), além do que não tinham preocupação com a
preocupação de dividir a hora em sessenta minutos, uma subdivisão usada apenas
por astrônomos e que tinha origem na Babilônia.[5] Robert
Delort que a cidade industrial e o mercado ao fim da idade média marca a
“grande mutação intelectual” o advento do “tempo leigo” “tempo urbano”[6] o “tempo
do mercador”.[7] O relógio colocado na torre comunal em Caen em 1317 mostra o triunfo do “tempo
dos mercadores” sobre o “tempo da Igreja”.[8] Até a
primeira metade do século XVI o “tempo vivido” relativo ao senso comum tornava desnecessária
a marcação de tempo mais precisa[9] sendo
demarcada por sinos dispostos nas igrejas ou mesmo pelas autoridades urbanas
para anunciar e impor a sua definição de jornada de trabalho[10].
[1] GOFF, Jacques. Trabalho. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do
Ocidente medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017, p. 629
[2] MICELI, Paulo. O
feudalismo, São Paulo: Atual, 1986, p. 22
[3] LE GOFF, Jacques. A
civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p. 169
[4] NISBET, Robert.
História da ideia do progresso. Brasília:UNB, 1980, p. 100; MORTIMER, Ian.
Séculos de transformações. Rio de Janeiro:DIFEL, 2018, p. 151
[5] GIES,
Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper
Collins, 1994, p. 215
[6] DELORT, Robert. La vie au moyen age, Lausanne:Edita, 1982, p.64
[7] LE GOFF, Jacques. O
homem medieval, Lisboa: Editorial Presença, 1989, p.94
[8] FOSSIER, Robert. As
pessoas da idade média, Rio de Janeiro: Vozes, 2018, p. 56
[9] ROSSI, Paolo. Os
filósofos e as máquinas. São Paulo:Cia das Letras, 1989, p. 43
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