Para o professor de grego Luís dos Santos Vilhena escrevendo em 1808 na Bahia em “A Bahia no século XVIII” o Brasil era “o berço da preguiça e o teatro dos vícios”.[1] Quantos aos senhores de engenho Santos Vilhena os descreve como “geralmente arrogantes e tão inchados de jactância que pensam que ninguém se pode comparar com eles”.[2] Vilhena se queixa da ostentação de muitos que ”se preocuparam da mania de ser nobres antes que tivessem com que ostentar essa quimérica nobreza, e se chegaram a ter alguma coisa de seu, tanto se carregam de apelidos de muitas das famílias ilustres da Corte e tanto se empavonam com esta imaginação, que têm para si que um duque é nada à sua vista”.[3] Antonil em sua obra Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas relata nas primeiras linhas do primeiro capítulo que “O ser senhor de engenho é título a que muitos aspiram, porque traz consigo o ser servido, obedecido e respeitado de muitos”.[4] Segundo Edmund Lippmann “a posse de uma plantação com engenho confere uma espécie de nobreza, fala-se com reverência de um senhor de engenho e vir a sê-lo é o alvo da ambição de todos”.[5] Segundo um depoimento de um militar por volta de 1750: “O Rio de Janeiro e seus arredores são povoados por brancos, mas há, na região, um número inacreditável de negros e mulatos. A cada dia que passa, o sangue mistura-se mais e mais, pois o clima e a ociosidade tornam o povo fortemente inclinado à libertinagem. A ociosidade, a propósito, passa entre entre eles, por sinal de dignidade, pois jamais pensam no bem comum, agindo somente em proveito próprio. E isso num país que oferece tudo sem muito esforço. Todos querem ser nobres e gostam de mostrar desprezo pelas atividades produtivas como se o trabalho honesto tornasse o homem menor. Eles levam tal comportamento tão longe que coisas simples como dar ordens aos escravos e fiscalizar o seu trabalho parecem-lhes contrárias à grandeza e à opulência que ostentam”.[6]
[1] HOLANDA, Sérgio
Buarque. História Geral da Civilização Brasileira, O Brasil monárquico:
dispersão e unidade, tomo II, volume 2, São Paulo:Difel, 1964, p. 369; PRIORE,
Mary del. Histórias da gente brasileira, v.1 Colônia.Rio de Janeiro:Leya, 2016,
p. 186
[2] BOXER, Charles. O
império colonial português, Lisboa: Edições 70, 1969, p. 294
[3] NOVAIS,
Fernando. História da vida privada no Brasil , v.1,
São Paulo:Companhia das Letras, 2018. Edição do Kindle, p.213
[4] SCHWARTZ, Stuart.
Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia
das Letras, 1988, p. 230; GOMES, Laurentino. Escravidão, v.I, São Paulo: Globo,
2019. p.320; SIMONSEN, Roberto. História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia
Editora Nacional, 1962, p.105; LIMA, Heitor Ferreira, Formação Industrial do
Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 95; BOXER,
Charles. O império colonial português, Lisboa: Edições 70, 1969, p. 294
[5] LIPPMANN , Edmund O.
von. História do açúcar desde a época mais remota até o começo da fabricação do
açúcar de beterraba; Tradução de Rodolfo Coutinho. Rio de Janeiro : Instituto
do Açucar e do Alcool, 1941-1942, p. 112
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