quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Cerâmica indígena

 

As provas da inaptidão dos antigos habitantes de Minas Gerais para o fabrico da cerâmica os afastam, definitivamente, dos peritos oleiros do Amazonas, principalmente os da ilha de Marajó datados de 7500 ap (antes do presente) sendo das mais antigas na América. Nas áreas de Taperinha e Monte Alegre no baixo Amazonas as cerâmicas são datadas em 7600 anos[1]. Esta datação foi determinada por Ana Roosevelt a partir de cerâmicas encontradas no sambaqui de Taperinha no baixo Amazonas e em Pedra Pintada.[2] Não está claro se esta técnica se difundiu para o norte da Colômbia (4500 a.c), litoral do Equador (3200 a.c.), costa do Peru (2460 a.c.), Panamá (2140 a.c.) e sul da Mesoamérica (1805 a.c.) ou se estes foram desenvolvimento independentes.[3] Betty Meggers aponta a similaridade da cerâmica do norte da Colômbia com as encontradas em Marajó [4]. No século XIX Ferreira Penna descobriu que a ilha do Pacoval, no Marajó, era de fato um cemitério indígena, com grande quantidade de material cerâmico.[5] A Ilha de Marajó não pode ser considerada como centro de difusão de estilos cerâmicos, pois sua fase marca o fim de um ciclo de períodos sucessivos alcançados por cinco grupos culturais no período pré histórico (culturas Ananatuba, Mangueiras, Formiga, Aruã e Marajoara).[6] A fase marajoara, portanto, é de ocorrência mais recente datando de 400 a 1350 segundo Simões em datação realizada em 1969.[7] No Paraná, Laming e Emperaire consideram a cerâmica tupi guarani encontradas na bacia do Paraná como tendo origem na região andina setentrional, considerada um importante centro de difusão de técnicas cerâmicas da região.[8] No Rio de Janeiro Jean Lery em sua obra "Histoire d'un voyage faict en la terre du Brésil" de 1578 se refere a “as mulheres dos nossos americanos  também incumbem aos mais encargos domésticos, como o fabrico do pote para cauim, vasilhas, panelas redondas e ovais, frigideiras e pratos, os quais são tão bem vidrados por dentro, por meio de certo licor branco, que os não fazem melhores nossos oleiros. Usam ainda desenhar nos vasos com tinta parda, pequenos ornatos de ramagens, lavores eróticos e outras galantarias, sobretudo no destinados a guardar farinha e outros mantimentos e direi que usam nisso maior asseio que a gente de cá, amiga de vasilhas de madeira. Nessas pinturas seguem a improvisação da fantasia; se lhes pedis que repitam um desenho já feito, não o fazem, tanto lhes vagueia livre a mão”.[9]



[1] FUNARI, Pedro; NOELLI, Francisco. Pré história do Brasil, São Paulo:Contexto, 2016, p. 80; LOPES, Reinaldo. 1499 o Brasil antes de Cabral,Rio de Janeiro:Harper Collins, 2017, p. 133

[2]HETZEL, Bia; MEGREIROS, Silvia. Prehistory of Brazil. Rio de Janeiro:Manati, 2007, p. 81

[3]FAGAN, Brian. Los setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume, 2005, p. 38

[4]MEGGERS, Betty. América pré histórica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p. 153

[5]SANJAD, Nelson. "Ciência de potes quebrados": nação e região na arqueologia brasileira do século XIX. An. mus. paul.,  São Paulo ,  v. 19, n. 1, p. 133-164,  June  2011 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-47142011000100005&lng=en&nrm=iso>

[6]EYDOUX, Henri Paul. Á procura dos mundos perdidos, São Paulo:Melhoramentos, 1967, p. 285; GALVÃO, Eduardo. Exposições de antropologia, Belém: Museu Goeldi, 19778, p. 15

[7]GALVÃO, Eduardo. Exposições de antropologia, Belém: Museu Goeldi, 19778, p. 13, 28

[8]MENDES, Josué Camargo. Conheça a pré história brasileira, São Paulo: USP, Polígono, 1970, p. 68

[9]LIMA, Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 76



terça-feira, 29 de setembro de 2020

A Pirâmide e a lótus

 

A forma piramidal das pirâmides do Egito remete aos montes de terra que se formam logo após as águas do Nilo recuarem após o período de inundação. Na mitologia egípcia denomina-se benben[1] o primeiro monte de terra que surgiu após as primeiras águas (nun) no momento da criação. A pirâmide, portanto, remete a este elemento da criação e possibilita ao faraó após a morte atingir os ceus usando os raios de sol refletidos pela pirâmide como uma rampa.[2] Segundo o Texto das Pirâmides, descoberto por Gaston Maspero[3] gravado nas paredes das câmaras interiores dos faraós e rainhas da VI Dinastia (2350 -2250 a.c.)[4] “Os dois montes de abrem, O deus ganha a vida, o deu tem poder em teu corpo. O monte nasceu, os capôs vivem”.[5] Os Textos das Pirâmides descobertos em 1881 pelo francês Gaston Maspero e que compõe um conjunto de inscrições em pedra com inscrições em hieróglifos em turquesa e ouro, encontradas em diversas câmaras mortuárias, sendo o mais antigo encontrado na pirâmide de Unas [6], último faraó da V dinastia (2465-2323 a.C.), referem-se diretamente ao conceito de uma escadaria divina que conduziria aos céus.[7] O Texto das Pirâmides (Texto 587) invoca ao conceito de uma colina Primordial: “Te ergueste sob teu nome de Grande Colina”.[8] Um dos mitos de criação egípcios mais populares representa a terra sob a forma de uma colina de onde emerge uma lótus.[9] Edwards argumenta que o mesmo motivo que levou a construção das mastabas pode ter levado a construção de uma sucessão de camadas para a pirâmide escalonada. O encantamento 267 do Texto das Pirâmides diz: “uma escada para o ceu é montada para ele (o rei), para que possa subir ao ceu por ela”. [10] A pirâmide de Zoser apresentava seis degraus. O verbo egípcio para “subir” incluía o símbolo de uma pirâmide em escada. O deus rei Pepi “colocou esta radiância [a face lisa de uma pirâmide] como uma escada debaixo dos seus pés [...] escadas para o ceu são colocadas para ele”. [11] Uma Escultura em madeira encontrada no túmulo de Tutancâmon com a cabeça do jovem rei de cerca de 10 anos, denominado Nefertem, representando-o como o Menino Renascido, ou Deus Sol, erguendo-se das pétalas do lótus azul sagrado: “Aquele que emergiu do lótus sobre o Alto Monte, que ilumina com os olhos, as Duas Terras”.[12]



[1]https://en.wikipedia.org/wiki/Benben

[2]Allen, James P. "Why a Pyramid? Pyramid Religion." In Hawass, Zahi, ed. The Treasures of the Pyramids. Italy: White Star, 2003, pp. 22-27. http://giza.fas.harvard.edu/pubdocs/1025/full/ TORRES, Ines. Module 4: Pyramids and solar religion. Harvard online Courses: Pyramids of Giza: Ancient Egyptian Art and Archaeology, 2018. https://online-learning.harvard.edu/course/pyramids-giza-ancient-egyptian-art-and-archaeology?offset=12

[3]ROMER, John. O vale dos Reis, São Paulo:Melhoramentos, 1994, p. 152

[4]CLARK, Rundle. Símbolos e mitos do Antigo Egito, São Paulo:Hemus, (s.d.), p.11

[5]LAMY, Lucien. Mistérios egípcios, Madri:Prado, 1996, p.5

[6]WEST, John Anthony. The traveler’s key to ancient Egypt, New York:Quest, 2012, p. 165

[7]ANGELL, Christopher. Dentro das pirâmides do Egito. Seleções do Reader’s Digest, Os últimos mistérios do mundo, Lisboa, 1979, p.190

[8]CLARK, Rundle. Símbolos e mitos do Antigo Egito, São Paulo:Hemus, (s.d.), p.32

[9]EDWARDS, J. As pirâmides do Egito, Rio de Janeiro:Record, 1985, p.25

[10]EDWARDS, J. As pirâmides do Egito, Rio de Janeiro:Record, 1985, p.249

[11]BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.90

[12]https://en.wikipedia.org/wiki/Head_of_Nefertem



Lâmpada de Dendera

 

Em Dendera foi encontrado um relevo que mostra a presença de duas peças que Peter Krassa e Rainer Habeck interpretaram como representando lâmpadas elétricas, sem considerar que o suposto filamento na verdade é uma serpente e o conjunto é uma representação de uma flor de lotus encontrada em outros relevos do antigo Egito. A lótus possui as raízes na terra, o caule na água e sua flor emerge no ar e o seu perfume característico conferem um simbolismo no Egito representado em inscrições como na tumba de Merekuka da VI dinastia em Saqqara que mostra a rainha cheirando uma flor de lotus.[1] No túmulo de Tutankhamon o jovem rei é representado em um busto de madeira tendo sua cabeça emergindo de um lótus, numa alusão as terras altas ressurgindo das águas do Nilo ao término do ciclo de inundação[2]. Embora nasça na lama a flor de lótus preserva sua beleza simbolizando o espírito puro que emerge na realidade mundana[3]



[1]WEST, John Anthony. The traveler’s key to ancient Egypt, New York:Quest, 2012, p. 185

[2]EDWARDS, J. As pirâmides do Egito, Rio de Janeiro:Record, 1985, p.26

[3]AIREY, Raje; O´CONNEL, Mark. Almanaque ilustrado dos símbolos, São Paulo:Escala,2011, p.27



Jogo da pelota ulama

 

Os jogadores do jogo da pelota (ulama) eram nobres que usavam cintos de pedra em forma de U forrados feitos de tecido ou fibras trançadas para proteger os quadris, além do uso de finas máscaras ou hachas, reproduzindo feições humanas, carnívoros, araras ou perus[1]. Havia dois times de dois ou três jogadores e o objetivo era acertar uma bola de borracha pequena e sólida através de anéis dispostos ao longo do campo de modo a marcar pontos. O time perdedor quase sempre era sacrificado. O British Museum guarda um cinto cerimonial feito de pedra com peso de 45 quilos datado do ano 100 d.c. usado na abertura do jogo. O desenho do cinto é o de um sapo estilizado e remete a luta cósmica da vida contra a morte [2]. Para os astecas (1250 a 1521 d.c), o jogo representava uma batalha das forças noturnas lideradas pela Lua e estrelas contra o Sol personificado pelo Huitzilopochtli, o deus protetor. A quadra representava o mundo e a bola o sol e a lua. Os sacrifícios humanos tinham, assim, a função de manter o sol iluminando a Terra. Daí a importância do jogo para a manutenção da vida.[3] Segundo Jacques Soustelle: “fugir a esse dever cósmico é trair os deuses”.[4] Segundo Joathan Leonard: “tais cenas de sacrifício não lhes pareciam de modo algum horripilantes, como também não o eram para as vítimas. A morte, em si mesma, não era muito temida, e a morte ritual, pela mão dos sacerdotes, era considerada uma honra”.[5] Evidências mostram a presença de sacrifícios humanos na região de Teotihuacan (huaca significa sagrado, teotihuacan  significa lugar dos deuses)[6] cerca de 1000 anos antes dos astecas[7]. Miles Pointdextetr aponta as semelhanças da palavra teotl em mexicano que significa a divindade com o grego theos que significa deus.[8] Em El Tajin (250 a 1150 d.c) são encontrados pelo menos três campos de jogos com até 59 metros de comprimento.[9] Em um dos relevos o capitão derrotado parece ser sacrificado pelos vencedores que acertam uma faca cerimonial sobre seu coração.[10] Stuart Piggott mostra que na Europa entre os sacerdotes druidas também haviam práticas de sacrifícios humanos[11].

[1]COE, Michael, Os maias, Editorial Verbo:Lisboa, 1968, p.92

[2]MacGREGOR, Neil. A história do mundo em 100 objetos, Rio de Janeiro:Intrínseca, 2013, p.279

[3]DOMINGUES, Joelza. Jogo de bola mesoamericano: o combate mortal, 2015 http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/jogo-de-bola-combate-mortal/

[4]SOUSTELLE, Jacques. A vida quotidiana dos astecas. Belo Horizonte:Itatiaia, 1962, p.140

[5]LEONARD, Joathan. América pré colombiana, Rio de Janeiro:José Olympio Editora. Biblioteca de História Universal Life, 1971, p.68

[6]COE, Michael. Antigas Américas, mosaico de culturas, v. II Madrid:Ed. Del Prado, 1996, p. 161; LEONARD, Joathan. América pré colombiana, Rio de Janeiro:José Olympio Editora. Biblioteca de História Universal Life, 1971, p.37, 62

[7]DAVIES, Nigel. The astecs: a history, London; Folio Society, 1973, p. 183

[8]POINDEXTER, Miles. The Ayar Incas, New York: Horace Liveright, 1930, p.199

[9]COE, Michael. Antigas Américas, mosaico de culturas, v. I Madrid:Ed. Del Prado, 1997, p. 11; LONGHENA, Maria. O México antigo, Barcelona:Folio, 2006, p. 32

[10]COE, Michael. O México. Lisboa:Editorial Verbo, 1970, p.123

[11]PIGGOTT, Stuart. A Europa antiga, Lisboa:Fund. Calouste Gulbenkian, 1965, p. 293



Terra plana de Cosmas

 

Segundo Jó 26: 10 Deus “Marcou um limite sobre a superfície das águas em redor, até aos confins da luz e das trevas”. Segundo Amós 9:6  “Ele é o que edifica as suas câmaras superiores no céu, e fundou na Terra a Sua abóbada, e o que chama as águas do mar, e as derrama sobre a Terra; o Senhor é o Seu nome”. Em Lucas 4:5 o diabo leva Jesus a um monte onde pode lhe mostrar todos os reinos do mundo o que pressupõe a existência de uma terra plana.  Para Lactâncio (250-325) em Instituições Divinas seria ridículo imaginar imaginar uma terra esférica em que na outra face da Terra a chuva caísse de baixo para cima, ou que existisse uma raça humana vivendo de ponta-cabeça. Lactâncio considerava o estudo de astronomia como algo mal e sem sentido[1]. O bispo de Milão no século IV Ambrósio condenava como ímpias ciências como a geometria e astronomia pois revelam a soberba humana: “Nem sequer conhecemos os segredos do Imperador e pretendemos conhecer os de Deus” [2]. O monge grego Cosmes / Cosmas / Kosmas  Indicopleustes (que significa “viajante indiano”) em 550 escreveu a obra Topografia Cristã, em que defende a tese da terra plana [3], como um paralelogramo envolto em muralhas[4]. Seguindo a descrição da Epístola aos Hebreus (9: 1-3) conclui que a terra tinha a forma de um tabernáculo. A escola católica de Antioquia, com Diodoro bispo de Tarso (378), Teodoro de Mopsuestia (350-428) e João Crisóstomo (345-407) baseada numa interpretação literal das escrituras,  procurando se desvencilhar das teorias pagãs, defendeu a tese de terra plana. João Crisóstomo em  Homiliae XXXIV in Epistolam ad Hebraeos se refere a terra como o tabernáculo e assim se refere Severianus de Gabala em sua Homilia ao Genesis (408) mencionadas por Cosmas Indicopleustes em sua Topografia cristã. Por outro lado, Basilio de Caesarea (329-379) alinhado com as teses de Orígenes, numa interpretação mais alegórica da Bíblia e mais flexível em relação às influências pagãs gregas, irá defender a esfericidade da terra.[5] O monge inglês Beda (673-735) um dos que popularizaram o uso do sistema do Anno Domini em 725 com sua obra De Temporum Ratione [6] foi o primeiro eclesiástico medieval a defender a esfericidade da Terra: “A causa do comprimento desigual dos dias é a forma globular da terra, pois não é sem razão que as Sagradas Escrituras e letras seculares falarem da forma da Terra como uma esfera, pois é um fato que a terra é colocada no centro do universo, não só em latitude, uma vez que eram redondos como um escudo, mas também em todas as direções, como uma bola de brinquedo, não importa o caminho que ele está ligado”.[7] Por outro lado, para Beda, contemporâneo de Cosmas: “A Terra é um elemento colocado no meio do mundo. Como a gema no meio de um ovo; à sua volta há a água, como a clara rodeando a gema; fora fica o ar, como a membrana do ovo; e a toda a sua volta fica o fogo, que o fecha como a casca ao ovo”. [8]



[1]CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 283

[2]ANDERSON, Perry. Passagens da antiguidade ao feudalismo, Porto: Afrontamento, 1982, p. 146

[3]TATON, René. A ciência antiga e medieval, tomo I, livro 2, Sâo Paulo:Difusão Europeia, 1959, p. 197

[4]TATON, René. A ciência antiga e medieval: a idade Média, tomo I, livro 3, Sâo Paulo:Difusão Europeia, 1959, p. 80

[5]Nothaft, C. Augustine and the Shape of the Earth: A Critique of Leo Ferrari, Augustinian Studies 42:1 (2011) p.33-48

[6]LACEY, Robert. O ano 1000: a vida no final do primeiro milênio, Rio de Janeiro: Campus,1999, p.22

[7]CURY, Fernanda. Copérnico e a revolução da astronomia, São Paulo:Odysseus, 2003, p. 26

[8]BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.97



Fases da Alquimia

 

Para a alquimia não basta um estado de iluminação interior para se conquistar o status de iluminado, a conquista do domínio de técnicas capazes de realizar experimentos dos quais o elixir da vida eterna e a conversão em ouro foram os mais destacados, é fundamental para que este estado de iluminação seja reconhecido pelas demais pessoas. Em segundo lugar ainda que ciosa de seus segredos a alquimia é baseada no fundamento de que tais conhecimentos possam ser reproduzidos e desta forma transmitidos as demais gerações aos iniciados. As fases do processo alquímico compreendem a obtenção da matéria prima básica que é aquecida ao fogo do athanor (forno). A fase do nigredo (em latim significa escuro) envolve o escurecimento da matéria que simboliza a morte espiritual, o despertar da consciência. A segunda fase é o branqueamento ou albedo (em latim significa brancura) em que há a recombinação de metais em uma forma mais pura, que simboliza o nascer do dia. A terceira fase é o citrinita que em latim significa amarelado, despertar, refer-se a etapa de transmutação. A fase final da grande obra (Magnum opus) é o rubedo, ou avermelhamento, que trata da fase de iluminação, análoga ao nascer do sol em que os opostos se unem em um sagrado matrimônio “coniunctio oppositorum”.[1]



[1] ALREY, Raje; O´CONNELL, Mark. Almanaque ilustrado dos símbolos, são Paulo:Escala, 2011, p. 147



Carvalho de Dodona

 

Em Dodona localizava-se o oráculo mais antigo da Grécia, mencionado nos capítulo II e XVI da Ilíada e nos capítulos XIV e XIX da Odisseia de Homero em que Aquiles teria consultado o oráculo para louvar Zeus antes da Guerra de Troia. Homero chamou seus intérpetes do oráculo, de sacerdotes de selos (selloi), os "de pés não lavados, dormindo no chão". As profecias eram obtidas pela leitura e interpretação das folhas caídas das árvores sagradas de carvalho.[1] Em Dodona as respostas eram dadas pelos carvalhos. Diodoro da Sícila narra que o oráculo de Dodona e o de Amon na Líbia tinham sido fundados por duas profetizas roubadas pelos fenícios e vendidas uma na Líbia e outra na Grécia o que confirmaria a lenda pela qual duas pombas saíram de Tebas no Egito vindo a pousar nestas duas cidades para ordenar que se construísse um oráculo nestes lugares[2]. Nietzsche destaca que o encantamento da pitonisa era uma forma primitiva de poesia que não se limitava a anunciar uma previsão do futuro: “Se os oráculos se exprimiam também em verso – os gregos diziam que o hexâmetro tinha sido inventado em Delfos – é porque o ritmo, ainda nesse caso, devia exercer alguma coação. Interrogar o oráculo, isso significa primitivamente segundo a etimologia provável da palavra “profecia”, tornar certo o aleatório, julga-se poder coagir o futuro conquistando Apolo para sua causa: ele, que, segundo a representação antiga, é muito mais que um deus que prevê o futuro”.[3]



[1]HALL, Edith. The ancient greeks, London:Vintage, 2015, p.59

[2]CANTU, Cesare. História Universal, v. II, São Paulo:Editora das Américas, 1958, p.110

[3]NIETZSCHE, Gaia Ciência São Paulo:La Fonte, 2017, p.96





Doutrina das assinaturas

 

Xamãs africanos descobriam o poder curativo de plantas associando a sua forma e cor com a doença ou parte do corpo enferma, assim sementes com a forma de dedos e raízes parecidas com cabelos sugerirão o seu uso para tratar de dedos com infecções ao redor das unhas.[1] Cassiodoro no século VI relata que o fundamento da arte de curar residia não somente no princípio ativo presentes nas plantas medicinais mas nas repercussões que as plantas produziam no imaginário.[2] Roger Bacon praticante de alquimia acreditava na doutrina das assinaturas (Opus Tertium cap. 27), segundo a qual a forma e a cor das flores e folhas correspondiam a uma finalidade especial definida pelo Criador.[3] Miguel Escoto, filósofo do século XIII, astrólogo na Corte de Frederico II[4] e introdutor de Averrois ou Ibn Rushd no Ocidente, em seu livro Physionomia aceitava a doutrina de assinaturas.[5] Esta doutrina da signatura plantarum era defendida por Paracelso na busca de medicamentos nas plantas[6]. Para Paracelso: “tudo quanto é criado pela natureza é por ela configurado de acordo com a essência da virtude que lhe é inerente”.[7] Segundo a doutrina das assinaturas “A natureza marca cada crescimento de acordo com o seu benefício curativo”. Jakob Bohme (1575-1624) publicou Signatura Rerum (A assinatura de todas as coisas) em que apresenta a doutrina das assinaturas. Por exemplo, uma orquídea que se assemelhava a um testículo era um sinal de que poderia ser usada no combate a doenças venéreas [8], as folhas de lilás tem uma forma similar ao coração o que indica sua eficácia no tratamento de doenças cardíacas [9], uma planta de folhas amarelas poderia ser usada em doenças do fígado. Plínio refere-se ao princípio de que o semelhante cura o semelhante e paradoxalmente a causa de uma doença representa sua cura, assim utiliza-se partes de um cachorro louco para curar sua mordida, a mordida de um phalangium pode ser curada meramente ao se olhar para outro inseto daquela espécie, estivesse ele vivo ou morto, pedras nos rins podem ser quebradas pela administração de ervas que se assemelham a pérolas, o ophites um mármore com estrias na forma de uma serpentina é usado como amuleto contra mordida de cobra; ervas com folhas no formato dos órgãos sexuais são usadas como afrodisíacos.[10] O tomate rico em potássio e ferro é benéfico ao coração e é rico em licopeno que ajuda a limpar as artérias, a noz rica em ácidos graxos faz bem ao cérebro[11], a romã que se parece com o ovário dos mamíferos de fato produz hormônios benéficos ao organismo, o abacate que exige nove meses desde o florescer até se transformar em fruto evita as chances de câncer de útero ou ovário, o gengibre faz bem ao estômago, a cenoura faz bem aos olhos e os cogumelos ao ouvidos, as folhas em forma de coração da dedaleira roxa eram usadas  como medicamento para o coração (digitalis), as veias roxas e pontinhos amarelos da eufrásia que pareciam com um olho não saudável eram usados como remédio para doenças no olho, a mandrágora devido à sua semelhança à forma humana recebia poderes humanos era associada à bruxaria[12]. Claude Levi Strauss mostra que diferentes culturas como o México e Filipinas chegaram a mesma conclusão quanto a aplicação de determinadas plantas medicinais, por segurem processos paralelos de investigação. Baseado neste princípio de que “igual cura o igual”[13] plantas cujas folhas ou talos tem sabor amargo acabam sendo testadas contra dores no estômago, ou seja, a identificação de um padrão comum com uma experiência bem sucedida levou os indígenas a buscar novos tipos de plantas de sabores similares para outras aplicações, ou seja, sabor, forma ou outra característica são fundamentais para esse processo empírico de investigação, o que destaca a importância da seleção e classificação de tais plantas como encontrado nestes mesmos grupos indígenas.[14] Para Claude Levi Strauss: “o homem da era neolítica ou da proto história é, portanto, o herdeiro de uma longa tradição científica”.[15]



[1]TERESI, Dick. Descobertas perdidas, São Paulo:Cia das Letras, 2008, p.288

[2]POUCHELLE, Marie-Christine. Medicina. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017, p. 181

[3]SEDGWICK, W.; TYLER, H; BIGELOW, R. História da ciência: desde a remota antiguidade até o alvorescer do século XX, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1952, p.182

[4]THORNDIKE, Lynn. A History of magic and experimental science, v.II, Columbia University Press, 1923, p.309; LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.200; TATON, René. A ciência antiga e medieval: a Idade Média, tomo I, v.III, São Paulo:Difusão, 1959, p. 115

[5]THORNDIKE, Lynn. The place of magic in the intellectual history of Europe. Columbia University Press, 1905, p.17

[6]DELUMEAU, Jean. A civilização do Renascimento, Lisboa:Estampa, 1984, v.II, p.136

[7]MANGOLD, Lydia Mez. Imagens da história dos medicamentos, Basileia:Hoffman La Roche, 1971, p.114

[8]STRATHERN, Paul. O sonho de Mendeleiev: a verdadeira história da química, Rio de Janeiro:Zahar, 2002, p.77; BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.316

[9]FARIAS, Robson Fernandes. Paracelsus e a alquimia medicinal, São Paulo: Gaia, 2006, p.58

[10]THORNDIKE, Lynn. A History of magic and experimental science, v.I, Columbia University Press, 1923, p.86, 94

[11]http://www.greenmedinfo.com/blog/why-walnut-resembles-brain-it-nourishes

[12]AIREY, Raje; O’CONNELL, Mark. Almanaque ilustrado dos símbolos, São Paulo:Escala, 2010, p. 172

[13]SHAPIRO, Harry. Homem, cultura e sociedade, Lisboa: Fundo de Cultura, 1972, p. 235

[14]STRAUSS, Claude Lévi. O pensamento selvagem. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1970, p. 35

[15]STRAUSS, Claude Lévi. O pensamento selvagem. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1970, p. 36



segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Venus de Laussel

 

O desenvolvimento das técnicas acompanha o desenvolvimento da religião. Em 1911 é encontrado em Laussel [1] datado de cerca de 22 mil atrás uma estátua de mulher que tem na mão um chifre de bisão em formato de lua ornado de treze entalhes, o que poderia representar os treze ciclos da lua no ano, onde o décimo terceiro mês trazia sorte pois anunciava a renovação do ano seguinte, o que poderia justificar toda a simbologia associada ao número.[2] Enquanto ela segura em uma mão um corno de bisão em forma de lua crescente, a outra mão aponta para seu ventre o que sugere uma relação entre os dois eventos. Keith Devlin mostra que o desenvolvimento do conceito abstrato da matemática somente se tornou possível com o desenvolvimento das relações interpessoais e sociais cada vez mais complexas.[3] A capacidade do cérebro humano lidar com abstrações somente se tornou possível com o desenvolvimento da linguagem.[4] O senso numérico intuitivo parece depender da capacidade linguística: “quando o cérebro humano desenvolveu a capacidade de usar a linguagem, ele automaticamente adquiriu a capacidade de lidar com a matemática”.[5] Para Joseph Campbell: “para o homem da idade da pedra, as fases da lua eram as mesmas que nós conhecemos, como o eram também os processos do ventre. Portanto, pode ser que a observação inicial que deu origem, na mente do homem, a uma mitologia associada a um mistério que informa a respeito de coisas terrenas e celestiais fosse o reconhecimento de um acordo entre essas duas ordens de fatores temporais: a ordem celeste da lua crescente e a ordem terrena do útero”. Segundo Henri Breuil a relação entre a gravidez, que ocorre em dez lunações e o ciclo lunar/menstrual, em treze lunações, evidencia um dos primeiros registros da interação entre os ciclos do Universo e os ciclos humanos.[6] A identificação de uma lei comum aos céus e ao mundo terreno é um conceito moderno, o olhar primitivo identificava, por outro lado, a influência dos astros nos eventos terrenos. [7] A Vênus de Laussel encontra-se atualmente no Musée d'Aquitaine (Museu da Aquitânia) em Bordéus.

[1]http://www.donsmaps.com/lacornevenus.html

[2]BRISSAUD, Jean Marc. As civilizações pré-históricas. Rio de Janeiro:Ed. Ferni, 1978, p.213; MANDUIT, J.A. Quarenta mil anos de arte moderna. Belo Horizonte:Itatiaia, 1959, p.85; Grande História Universal: o princípio da civilização, Barcelona:Folio, 2001, p.81; ROBERTS, J.M. history of the world, Oxford University Press, 1992, p.14; DUNAN, Marcel; BOWLE, John. Larousse encyclopedia of ancient & medieval history, Paris:Larousse, 1963, p.37

[3]DEVLIN, Keith. O gene da matemática, São Paulo: Record, 2004, p. 21

[4]DEVLIN, Keith. O gene da matemática, São Paulo: Record, 2004, p. 29

[5]DEVLIN, Keith. O gene da matemática, São Paulo: Record, 2004, p. 84, 91

[6]https://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%AAnus_de_Laussel

[7]MURPHY, Tim Wallace. O código secreto das catedrais, São Paulo:Pensamento, 2007, p. 20



domingo, 27 de setembro de 2020

Redes de dormir

 

Hans Staden narra que as mulheres indígenas trabalhavam mais que os homens cabendo-lhes as tarefas de preparo da comida, fabricação de bebidas, vasilhames, redes, o cuidado das crianças, da plantação de mandioca e milho bem como a tecelagem[1]. Na carta de Pero Vaz de Caminha ele se refere um peça de pano usada para carregar as crianças ao peito da mãe[2]. Alfred Metraux relata que entre as tribos tupi guarani o mobiliário era modesto, não usavam mesas para comer, e de modo geral compunha-se de redes tecidas de algodão, no litoral e tecidas de fibras na Amazônia.[3] Os homens tupinambás teciam redes para captura de inimigos e para a pesca bem como confeccionavam cestos de folhas de palmeiras enquanto as mulheres trabalhavam com a fiação de algodão, tecelagem de redes e fabricação de cestos trançados e junco e vime além de preparação de potes e vasilhas de barro.[4] Luis Amaral escreve: “Em todo o Brasil predominava na fiação o chamado método bacairi. Aliás em todo o continente faltava ao fuso a parte arredondada, e isso é tido como ausência total da noção de roda, coisa inadmissível pois a roda é intuitiva e revelada pelo sol, pela lua, pelas sombras, acreditamos que a abstenção de seu uso pelos ameríndios era questão de tabu: todos foram heliólatras e o sol apresentava-se redondo”.[5] Na viagem de Colombo ele relata o uso de redes / hamacas pelos índios: “consistem numa série de laçadas. Os cordões não correm dum lado a outro, em zigue zague, são atados em comprimento e são frouxos que é possível enfiar neles mão e dedos. Essas redes medem cinco pés e meio de comprimento” o que parece indicar duas invenções da rede independente uma da outra [6].  O padre Cardim se refere ao uso de redes em suas viagens e Pero Gandavo em 1575 notara que “a maior parte das camas do Brasil são redes, as quais se armam numa casa com duas cordas e lançam-se a dormir nelas”.[7] Jean Lery em 1578 descreve que “o fabrico de redes é simples. Colhidos os capulhos de algodão, as mulheres amontoam a fibra diante de si, no solo ou sobre qualquer objeto, e ligam os fios a um pau redondo, de um dedo de grossura por um é de comprimento, cruzando por uma manivela, depois rodam esse pau sobre as coxas  e torcem , assim, não só os fios grossos para as redes, como outros finíssimos. Para as redes, a que chama de inis, as mulheres usam teares verticais da altura delas, nos quais urdem a seu modo e tecem de baixo para cima, uma malhas cerradas como o brim, outras malhas largas de uma braça, mais ou menos, trazendo nas pontas os punhos  por onde passam as cordas. Os índios as amarram a dois postes fronteiros, expressamente fincados para esse fim”.[8] Em 1519, o italiano Antonio Pigafetta, de passagem na expedição de Fernão de Magalhães,  se refere aos indígenas "não são cristãos mas também não são idolatras, porque não adoram nada, comem a seus inimigos, tecem redes, fazem canoas, moram em grandes casas”. Fiar e tecer a partir da fibra do algodão são ofícios das mulheres índias, com que eram preparadas cordas grossas para as redes como tecidos delicados como um colete que Lery levou para França e aqui foi tomado por seda. As mulheres tupinambás trabalhavam também como oleiras. Os vasos de barro eram secados ao sol e depois cobertos com casca de árvore a que punham fogo de modo a cozê-lo de forma suficiente. Também faziam cestos tecidos de junco ou de palha.[9]



[1]AGUIAR, Luiz Antonio. Hans Staden: viagens e aventuras no Brasil. São Paulo: Melhoramento, 1988, p. 54

[2]LIMA, Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 74

[3]COSTA, Angyone. Introdução à arqueologia brasileira: etnografia e história, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1938, p.265

[4]SILVA, Rafael Freitas. O Rio antes do Rio. Rio de Janeiro:Babilônia, 2015, p. 40

[5]LIMA, Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 75

[6]HERRMANN, Paul. A conquista das Américas. Sâo Paulo:Boa Leitura, 1960, p.58

[7]LIMA, Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 223

[8]LIMA, Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 74

[9]SOUTHEY, Robert. Historia do Brasil, v. I. Rio de Janeiro:Garnier, 1862, p. 343



sábado, 26 de setembro de 2020

Ordem e Progresso

 

No Brasil o positivismo terá grande influência na jovem oficialidade do meio militar que desencadeará o processo levante republicano de 1889, entre os quais o militar e engenheiro e republicano Benjamin Constant, que matriculou-se na Escola Militar em 1852.[1] Pierre Lafitte em artigo publicado na Revue Occidentale reconhece “as opiniões positivistas de um dos principais chefes do novo governo, o Sr. Benjamin Constant são conhecidas de todos, e disso ele nunca fez mistério. Julga-se que a nova República tomará por lema a fórmula Ordem e Progresso”.[2] Em 1872 ao concorrer a uma vaga como professor na Escola Militar, diante de uma banca da qual fazia parte o imperador Pedro II, Benjamin Constant alertou que era positivista o que denunciava sua visão republicana. Apesar disso, o imperador não fez qualquer objeção à sua admissão como professor.[3] A bandeira do Brasil foi projetada pelos positivistas Raimundo Teixeira Mendes e Miguel Lemos com desenho do pintor positivista Décio Villares que incluiu o lema no lugar do brasão imperial por sugestão de Benjamim Constant[4]. A referência as constelações remete a conceitos matemáticos e de astronomia do positivismo.[5] A religião da humanidade de Comte tinha como lema “o amor por princípio, a ordem como meio e o progresso como fim”.[6] Na bandeira a referência ao amor foi suprimida. O bispo do Rio de Janeiro se recusou a abençoar a nova bandeira pela apologia ao positivismo, radicalmente contrário à igreja católica.[7] O próprio Comte fundou uma sociedade chamada “Ordem e Progresso” destinada a ter uma ação política similar à dos jacobinos durante a revolução francesa cuja proposta era a de fazer prevalecer as teses da nova ciência do positivismo. Cruz Costa destaca que o prestígio do positivismo entre engenheiros e militares tinham origem não no Apostolado Positivista mas do prestígio do professor Benjamin Constant.[8] Podemos ver, no periódico a Semana Ilustrada, em 1872, uma gravura onde o Conselheiro João Alfredo hasteia uma bandeira com a divisa "Ordem e Progresso" o que viria a ser adotado posteriormente na bandeira brasileira quando da proclamação da República. [9] A bandeira republicana do Brasil ficou sob a responsabilidade de Teixeira Mendes que contou com o auxílio do desenhista positivista Décio Vilares[10]. Pereira Barreto sintetiza os princípios positivistas: “O amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim (a família, a pátria e a humanidade)".[11] Segundo João Camilo de Oliveira Torres na obra O positivismo no Brasil de 1943: “O positivismo surgiu no Brasil para preencher uma lacuna, a que fora aberta em nossa cultura pela ausência de uma filosofia elaborada racionalmente e segundo critérios seguros. Era uma concepção do universo e dos valores elaborada sistemática e rigorosamente e, ao mesmo tempo, irrefutável. Ora, nós não possuíamos então nem ao menos uma teoria do estado exequível, quanto mais uma posição filosófica séria e estável. Possuindo, além disto, o positivismo um grande e acentuado poder construtivo, falava muito de perto a tendências futuras da alma brasileira” [12] João Torres observa que a direção de ideias positivistas da república durou apenas de novembro de 1889 a janeiro de 1890 com a saída de Demétrio Ribeiro do governo.[13]

[1]COSTA, Cruz. Contribuição à história das ideias no Brasil, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1967, p. 132

[2]RENAULT, Delso. A vida brasileira no final do século XIX, Rio de Janeiro:José Olympio, 1987, p. 17

[3]GOMES, Laurentino, 1889, Rio de Janeiro: GloboLivros, 2013, p.208

[4]MESQUITA, André Campos. Augusto Comte, sociólogo e positivista, São Paulo:Lafonte, 2013, p. 37

[5]TORRES, João Camilo. O positivismo no Brasil, Brasília: Câmara dos Deputados, 2018, p.93

[6]MESQUITA, André Campos. Augusto Comte, sociólogo e positivista, São Paulo:Lafonte, 2013, p. 92

[7]GOMES, Laurentino, 1889, Rio de Janeiro: GloboLivros, 2013, p.322

[8]COSTA, Cruz. Contribuição à história das ideias no Brasil, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1967, p. 222

[9]LINS, Ivan. História do positivismo no Brasil, Brasiliana, n.322, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1967, p.235 http://www.brasiliana.com.br/obras/historia-do-positivismo-no-brasil/pagina/235/texto

[10]COSTA, Cruz. Contribuição à história das ideias no Brasil, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1967, p. 232

[11]LINS, Ivan. História do positivismo no Brasil, Brasiliana, n.322, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1967, p.52

[12]MESQUITA, André Campos. Augusto Comte, sociólogo e positivista, São Paulo:Lafonte, 2013, p. 120; TORRES, João Camilo. O positivismo no Brasil, Brasília: Câmara dos Deputados, 2018, p.37

[13]TORRES, João Camilo. O positivismo no Brasil, Brasília: Câmara dos Deputados, 2018, p.92



Pedro II e o telefone

 

Em 15 de abril de 1876, d. Pedro II e sua comitiva desembarcaram em Nova Iorque para uma visita de três meses aos Estados Unidos que incluía a presença na Exposição Universal da Filadélfia realizada de maio a novembro de 1876. Ele foi convidado pelo presidente Ullysses Grant para presidir a inauguração da Exposição Universal da Filadélfia, nas comemorações do centenário da independência dos Estados Unidos, a quem retribuiu, oferecendo-lhe um hino em homenagem ao centenário da Independência dos Estados Unidos composto pelo maestro Carlos Gomes [1]. Em 25 de junho Pedro II assistira na exposição da Filadelfia a apresentação de duas invenções relacionadas a um telefone, ambas baseadas no princípio de Konig à transmissão dos sons pelo fio elétrico [2]. O aparelho de Graham Bell estava montado em um espaço fora da rota dos juízes, por ter se inscrito de última hora, seu nome sequer constava da programação oficial da exposição. Por um acaso Pedro II notou a presença ao fundo de Graham Bell e foi em direção à sua mesa reconhecendo-o da visita anterior a escola de surdos mudos. O imperador, já havia encontrado Graham Bell dias antes em 14 de junho ao visitar Instituto das Surdos-Mudos da City (Municipalidade) em Boston, pois desejava conhecer a escola para alunos surdos-mudos de que ouvira falar uma vez. Graham Bell fez uma demonstração pedindo ao imperador para ouvir uma mensagem que lhe enviaria à distância; um trecho de Shakespeare ao que D. Pedro II exclamou: “Céus, Isso fala!”.[3] Pedro II ficara entusiasmado com a invenção de Graham Bell e comentou: “meus parabéns, Mr. Bell, quando sua invenção for posta no mercado, o Brasil será seu primeiro freguês”.[4] Em seu diário Pedro II não deu maior ênfase à invenção de Bell diante dos demais inventos expostos: “Seu aparelho é mais simples que o outro porém não é como este [o de Konig] aplicável à telegrafia”. O telefone de Graham Bell exposto na Exposição Universal de 1876 foi doado ao Conservatoire des Arts et Métiers. Edmond Becquerel que fazia parte do júri concluiu que “Não penso que o telefone possa um dia ser um verdadeiro instrumento de exploração telegráfica”.[5]



[1] http://www.museuimperial.gov.br/diario-d-pedro-ii/5393-di%C3%A1rio-da-viagem-de-d-pedro-ii-aos-estados-unidos.html

[2]https://museuimperial.museus.gov.br/wp-content/uploads/2020/09/VOL17.pdf

[3]FILGUEIRAS, Carlos. Origens da química no Brasil, Campinas:Ed. Unicamp., 2015, p.357; GOMES, Laurentino, 1889, Rio de Janeiro: GloboLivros, 2013, p.133

[4]MORRIS, Charles, R. Os magnatas: como Andrew Carnegie, John Rockfeller, Jay Gould e J.P.Morgan inventaram a supereconomia americana, Porto Alegre:L&PM, 2006, p.127, 129

[5]CORCY. Marie-Sophie. Expor a invenção. In: BORGES, Maria Eliza Linhares. Inovações, coleções, museus. Belo Horizonte: Autêntica, 2011, p. 106



A invenção do aço

 

A técnica de cementação, que produz aço a partir do ferro batido é atribuída aos chalibas (khalybes), súditos dos hititas, um povo indo-europeu localizado na região próxima a Turquia e data de 1500 a.c. sendo a técnica registrada numa carta do rei hitita Hattusilis III (1281 a 1260 a.c.)[1] dirigida ao faraó egípcio.  Brian Fagan se refere ao aço indiano do primeiro milênio a.c.. Na cidade helenística de Taxila ao norte do Paquistão encontram-se muitos vestígios de aço com conteúdo uniforme de carbono.[2] Plínio no século I se refere a espadas de boa qualidade feitas com aço indiano.[3] Em 600 d.c a Índia produzia no distrito de Hyderabad o aço wootz que era feito aquecendo o ferro, carvão e vidro num forno cadinho ou fornalha[4] produzindo um aço de alta qualidade e usado na produção de facas e espadas, e que servia de matéria prima para as espadas de Damasco, feitas na Síria.[5] O processo envolvia duas etapas a primeira pela produção de ligas de alto teor de carbono e a segunda pelo forjamento do lingote em lâmina. As lojas de armeiros em Damasco já eram famosas na época de Diocleciano em 290. Aço da Índia foi enviado em segredo pelos romanos para Axumites da Abissínia, que atribuíram sua origem à China. Alexandre o Grande encomendou numa ocasião três toneladas de aço indiano, para uso em talheres e armamento em locais como Damasco e Irinópolis.[6] Segundo pesquisa da Universidade de Dresden as espadas de aço de Damasco, na Síria, fabricadas desde 900 d.c. usadas pelos exércitos muçulmanos medievais como os de Saladino eram caracterizadas pelos belos desenhos ondulados possuem a qualidade de força, resistência ao choque e arestas afiadas devido a incrustação de nanotubos de carbono no aço produzidos pelo tratamento especial que se praticava.[7] Feuerbach sugere que o nome poderia ter vindo do termo “damas”, que em árabe significa água, imagem associada ao padrão visual da lâmina, uma vez que Damasco era apenas um dos centros de comércio em que estas espadas eram negociadas.[8] Quando em 1400 as tropas tártaras comandadas por Tarmelão fizeram o cerco a Damasco os espadeiros sírios foram poupados do massacre e deportados para a capital Samarcanda. Desde então a tradição de espadas em Damasco declinou.[9] A técnica foi transmitida pelos mouros para a cidade de Toledo na Espanha. A técnica, de origem celta produzia como produto final uma espada afiada e maleável. A maior resistência era conseguida com uso de metal carburizado, ou seja, ferro transformado em aço ao se elevar o conteúdo de carbono com mais aquecimento[10]. Em 2020 Rahil Alipour revelou que o aço inoxidável, foi criado no século XI na Pérsia com a descoberta de uma liga aço cromo em Chanak no Irã, ainda que com apenas 1% de cromo, sem atingir portanto o nível mínimo de cromo para definir as qualidades inoxidáveis do aço atual (algo em torno de 11%), no entanto mesmo esse pequeno percentual de cromo já é suficiente para atrasar a oxidação e conferir qualidades especiais ao aço produzido. Um manuscrito persa chamado al-Jamahir fi Marifah al-Jawahi ("Um Compêndio para Conhecer as Gemas") do século X ou XI mostra uma receita para fazer aço em cadinhos usando um ingrediente secreto, possivelmente a cromita [11]. O aço exige um controle delicado da quantidade de carbono em sua fabricação de modo a se calibrar flexibilidade e dureza da espada [12].

[1]CHILDRESS, David Hatcher. A incrível tecnologia dos antigos, São Paulo:Aleph, 2005, p. 88; SAYCE, A. The hitites: the story of a forgotten empire, The Religious Tract Society, 1890, p.136 www.forgottenbooks.com HODGES, Henry. Technology in the ancient world, New York: Barnes & Noble Books, 1970, p. 144; SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.I. Oxford Clarendon Press, 1958, p.595

[2]FAGAN, Brian. Los setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume, 2005, p. 47

[3]TERESI, Dick. Descobertas perdidas, São Paulo:Cia das Letras, 2008, p.232

[4]MAHAJAN, Shobhit. História das invenções, Berlim:Verlag, 2008, p. 26

[5]TERESI, Dick. Descobertas perdidas, São Paulo:Cia das Letras, 2008, p.340; COON, Carleton. A história do homem. Belo Horizonte:Itatiaia, 1960, p.320; DERRY, T.; WILLIAMS, Trevor. Historia de la tecnologia: desde la antiguidade hasta 1750, Mexico:Siglo Vintuno, 1981, p.184

[6]SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.II, Oxford, 1956, p.57

[7]SANDERSON, Katharine. Sharpest cut from nanotube sword. Nature, nov. 2006 https://www.nature.com/news/2006/061113/full/061113-11.html

[8]SLAUGHTER, Christian. A lenda da espada de Damasco: história e tecnologia. Tecnol. Metal. Mater. Miner., São Paulo, v. 11, n. 2, p. 155-162, abr./jun. 2014 https://tecnologiammm.com.br/article/10.4322/tmm.2014.023/pdf/tmm-11-2-155.pdf

[9]SALVAT. Maravilhas do mundo, v. 3, Rio de Janeiro: Salvat, 1985, p.87

[10]READERS'S DIGEST. Da idade do ferro à idade das trevas: de 1200 a.c. a 1000 d.c, Rio de Janeiro, 2010, p.24

[11]MARIN, Jorge. Arqueólogos descobrem que aço inoxidável foi inventado há mil anos. https://m.megacurioso.com.br/ciencia/116206-arqueologos-descobrem-que-aco-inoxidavel-foi-inventado-ha-mil-anos.htm

[12]BRONOWSKI, J. A escalada do homen, São Paulo:Martins Fontes, 1979, p.132



sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Rio de Janeiro inglês

 

Gilberto Freyre em sua obra “Ingleses no Brasil” registra através de anúncios em jornais da época o estabelecimento de diversas casas comerciais inglesas com a Lupton & Co de Leeds, a Robert Kirwan entre vários outros. A presença inglesa se manifestava em diversos donos de armazéns, ferreiros, sapateiros, alfaiates e lojistas do Rio de Janeiro e Recife [1] Para Gilberto Freyre: “é quase impossível ao brasileiro ouvir falar em máquina, em motor, em ferramenta, em estrada de ferro, em rebocador, em draga, em cabo submarino, em telégrafo, em artigos de aço e de ferro, em brinquedo mecânico, em cadeira de mola, em louça doméstica, em bicicleta, em patim, em aparelho sanitário, em navio de guerra, em vapor, em lancha, em fogão a gás ou a carvão, sem pensar nos ingleses. Os ingleses estão ligados como nenhum outro povo aos começos de modernização das condições materiais de vida do brasileiro”.[2] Richard Graham no seu livro Grã Bretanha e o início da modernização no Brasil narra uma estória em de um brasileiro do século XIX vestido impecavelmente no estilo inglês com terno de casimira e gravata em pleno dia quente. Quando interpelado por estar vestido daquela forma respondeu sem hesitar: “É que não se sabe se estará chovendo em Londres!”.[3] O jornalista francês Max LeClerc ao aportar ao Rio de Janeiro em 1889 narra os costumes da elite carioca: “Sob um clima abrasador, em uma cidade onde o termômetro atinge facilmente os 40 graus à sombra, os brasileiros se obstinam a viver e a se vestir como se fossem europeus. Eles trabalham nas horas mais quentes do dia, das 9 da manhã às quatro da tarde, como se fossem negociantes londrinos. Eles passeiam nas ruas usando jaquetões escuros, cartolas de copa alta e se submetem ao martírio com a mais perfeita resignação. O problema é que, apesar das aparências, eles não dispõem de meios para viver nos trópicos. A municipalidade do Rio de Janeiro não garante sequer o saneamento adequado da cidade, periodicamente assolada pela febre amarela”.[4] Perfumes de empresas como John Gornell, produtos de beleza da Rowland´s Massacar e sabonetes de William Rieger eram comercializados. Segundo Maria Graham esposa de oficial da marinha inglesa e amiga da imperatriz Leopoldina, em visita ao Rio de Janeiro: “Fui a terra fazer compras com Glennie. Há muitas casas inglesas, tais como seleiros e armazéns não muito diferentes do que chamamos na Inglaterra um armazém italiano de secos e molhados, mas, em geral, os ingleses aqui vendem suas mercadorias ao atacado a retalhistas nativos ou franceses”.[5] O inglês Alexander Caldcleugh comenta: “o comércio brasileiro pode ser considerado inteiramente nas mãos dos britânicos, como se existisse um exclusivo de monopólio a seu favor no tratado de 1810”. Segundo John Mawe: “o mercado ficou inteiramente abarrotado tão grande e inesperado foi o fluxo de mercadorias inglesas no Rio após a chegada do Príncipe Regente”.[6] Entre os absurdos incluem patins e produtos inadequados como roupas de lãs superfinas e outros produtos de luxo “a um povo tão incapaz de adotá-los como de convencer-se de sua utilidade”.[7]



[1]HOLANDA, Sérgio Buarque. História Geral da Civilização Brasileira, O Brasil monárquico: o processo da emancipação, tomo II, volume 1, São Paulo:Difel, 1962, p. 73; FREYRE, Gilberto. Ingleses no Brasil, São Paulo:TopBooks, 2000, p.77

[2]FREYRE, Gilberto. Ingleses no Brasil, São Paulo:TopBooks, 2000, p.101

[3]QUEIROZ, Suely. A abolição da escravidão. Coleção Tudo é história, n.17, São Paulo:Brasiliense, 1986, p. 39; GRAHAM, Richard. Grã Bretanha e o início da modernização no Brasil 1850-1914, Rio De Janeiro: Brasiliense, 1973, p. 119

[4]GOMES, Laurentino, 1889, Rio de Janeiro: GloboLivros, 2013, p.75

[5]FIORE, Elizabeth. Presença britânica no Brasil (1808-1914). São Paulo:Pau Brasil, 1987, p. 30

[6]FIORE, Elizabeth. Presença britânica no Brasil (1808-1914). São Paulo:Pau Brasil, 1987, p. 31

[7]MAWE, John. Viagens ao interior do Brasil. São Paulo: USP, 1978, p. 217; SODRÉ, Nelson Werneck. As razões da independência, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira,1978, p.141



Rua do Ouvidor

 

Arthur Azevedo em matéria no jornal O País de 8 de junho de 1894 se refere “a ostentação ruidosa e faceira da rua do Ouvidor, a risonha e constante animação dos cafés concertos e luxuosas confeitarias”.[1] José Bevilacqua ao desembarcar no Rio de Janeiro em 1879 constata: “O Rio de Janeiro é o Brasil e a rua do Ouvidor é o Rio de Janeiro”.[2] Von Koseritz em Imagens do Brasil de 1885 relata que “O Rio de Janeiro é o Brasil, e a Rua do Ouvidor é o Rio de Janeiro, eis uma sentença cheia de verdade”.[3] Grandes lojas se destacam na rua do Ouvidor: a Confeitaria Carceler, a La Belle Amazone, Notre Dame de Paris, Wallerstein et Masset e Desmarais, entre outras.[4] Para Joaquim de Macedo: “Não houve acontecimento público de relevância em que a Rua do Ouvidor não tomasse parte afetiva, fosse festa ou revolta”.[5] Segundo Luiz Edmundo: “Foram os franceses do tempo do Sr. Pedro I, saiba-se, com as suas lojas de novidades, as suas costureiras, os seus cabeleireiros e umas instalações completamente novas para nós, feitas à moda de Paris, que criaram a elegância de certas casas de comércio da Rua do Ouvidor”.[6] Segundo o crítico Brito Brota ao escrever em 1900: “o chique era mesmo ignorar o Brasil e delirar por Paris, numa atitude afetada e nem sempre inteligente”.[7] Anfriso Fialho descreve a rua do Ouvidor do século XIX como “o coração e ouvidos do Rio de Janeiro”. Da rua do Ouvidor partiriam os primeiros boatos da queda da monarquia e o golpe republicano.[8]



[1]RENAULT, Delso. A vida brasileira no final do século XIX, Rio de Janeiro:José Olympio, 1987, p. 240

[2]GOMES, Laurentino, 1889, Rio de Janeiro: GloboLivros, 2013, p.165

[3]GONTIJO, Silvana. O mundo em comunicação, Rio de Janeiro:Aeroplano, 2001, p.193

[4]GOMES, Laurentino, 1889, Rio de Janeiro: GloboLivros, 2013, p.73

[5]GONTIJO, Silvana. O mundo em comunicação, Rio de Janeiro:Aeroplano, 2001, p.193

[6]EDMUNDO, Luiz. O Rio do meu tempo, Rio de Janeiro:Conquista, 1957, v.I, p. 72

[7]SODRÉ, Nelson Werneck. A história da imprensa no Brasil, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 343

[8]GOMES, Laurentino, 1889, Rio de Janeiro: GloboLivros, 2013, p.45



Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...