segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Venus de Laussel

 

O desenvolvimento das técnicas acompanha o desenvolvimento da religião. Em 1911 é encontrado em Laussel [1] datado de cerca de 22 mil atrás uma estátua de mulher que tem na mão um chifre de bisão em formato de lua ornado de treze entalhes, o que poderia representar os treze ciclos da lua no ano, onde o décimo terceiro mês trazia sorte pois anunciava a renovação do ano seguinte, o que poderia justificar toda a simbologia associada ao número.[2] Enquanto ela segura em uma mão um corno de bisão em forma de lua crescente, a outra mão aponta para seu ventre o que sugere uma relação entre os dois eventos. Keith Devlin mostra que o desenvolvimento do conceito abstrato da matemática somente se tornou possível com o desenvolvimento das relações interpessoais e sociais cada vez mais complexas.[3] A capacidade do cérebro humano lidar com abstrações somente se tornou possível com o desenvolvimento da linguagem.[4] O senso numérico intuitivo parece depender da capacidade linguística: “quando o cérebro humano desenvolveu a capacidade de usar a linguagem, ele automaticamente adquiriu a capacidade de lidar com a matemática”.[5] Para Joseph Campbell: “para o homem da idade da pedra, as fases da lua eram as mesmas que nós conhecemos, como o eram também os processos do ventre. Portanto, pode ser que a observação inicial que deu origem, na mente do homem, a uma mitologia associada a um mistério que informa a respeito de coisas terrenas e celestiais fosse o reconhecimento de um acordo entre essas duas ordens de fatores temporais: a ordem celeste da lua crescente e a ordem terrena do útero”. Segundo Henri Breuil a relação entre a gravidez, que ocorre em dez lunações e o ciclo lunar/menstrual, em treze lunações, evidencia um dos primeiros registros da interação entre os ciclos do Universo e os ciclos humanos.[6] A identificação de uma lei comum aos céus e ao mundo terreno é um conceito moderno, o olhar primitivo identificava, por outro lado, a influência dos astros nos eventos terrenos. [7] A Vênus de Laussel encontra-se atualmente no Musée d'Aquitaine (Museu da Aquitânia) em Bordéus.

[1]http://www.donsmaps.com/lacornevenus.html

[2]BRISSAUD, Jean Marc. As civilizações pré-históricas. Rio de Janeiro:Ed. Ferni, 1978, p.213; MANDUIT, J.A. Quarenta mil anos de arte moderna. Belo Horizonte:Itatiaia, 1959, p.85; Grande História Universal: o princípio da civilização, Barcelona:Folio, 2001, p.81; ROBERTS, J.M. history of the world, Oxford University Press, 1992, p.14; DUNAN, Marcel; BOWLE, John. Larousse encyclopedia of ancient & medieval history, Paris:Larousse, 1963, p.37

[3]DEVLIN, Keith. O gene da matemática, São Paulo: Record, 2004, p. 21

[4]DEVLIN, Keith. O gene da matemática, São Paulo: Record, 2004, p. 29

[5]DEVLIN, Keith. O gene da matemática, São Paulo: Record, 2004, p. 84, 91

[6]https://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%AAnus_de_Laussel

[7]MURPHY, Tim Wallace. O código secreto das catedrais, São Paulo:Pensamento, 2007, p. 20



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