Hans Staden narra que as mulheres indígenas trabalhavam mais que os homens cabendo-lhes as tarefas de preparo da comida, fabricação de bebidas, vasilhames, redes, o cuidado das crianças, da plantação de mandioca e milho bem como a tecelagem[1]. Na carta de Pero Vaz de Caminha ele se refere um peça de pano usada para carregar as crianças ao peito da mãe[2]. Alfred Metraux relata que entre as tribos tupi guarani o mobiliário era modesto, não usavam mesas para comer, e de modo geral compunha-se de redes tecidas de algodão, no litoral e tecidas de fibras na Amazônia.[3] Os homens tupinambás teciam redes para captura de inimigos e para a pesca bem como confeccionavam cestos de folhas de palmeiras enquanto as mulheres trabalhavam com a fiação de algodão, tecelagem de redes e fabricação de cestos trançados e junco e vime além de preparação de potes e vasilhas de barro.[4] Luis Amaral escreve: “Em todo o Brasil predominava na fiação o chamado método bacairi. Aliás em todo o continente faltava ao fuso a parte arredondada, e isso é tido como ausência total da noção de roda, coisa inadmissível pois a roda é intuitiva e revelada pelo sol, pela lua, pelas sombras, acreditamos que a abstenção de seu uso pelos ameríndios era questão de tabu: todos foram heliólatras e o sol apresentava-se redondo”.[5] Na viagem de Colombo ele relata o uso de redes / hamacas pelos índios: “consistem numa série de laçadas. Os cordões não correm dum lado a outro, em zigue zague, são atados em comprimento e são frouxos que é possível enfiar neles mão e dedos. Essas redes medem cinco pés e meio de comprimento” o que parece indicar duas invenções da rede independente uma da outra [6]. O padre Cardim se refere ao uso de redes em suas viagens e Pero Gandavo em 1575 notara que “a maior parte das camas do Brasil são redes, as quais se armam numa casa com duas cordas e lançam-se a dormir nelas”.[7] Jean Lery em 1578 descreve que “o fabrico de redes é simples. Colhidos os capulhos de algodão, as mulheres amontoam a fibra diante de si, no solo ou sobre qualquer objeto, e ligam os fios a um pau redondo, de um dedo de grossura por um é de comprimento, cruzando por uma manivela, depois rodam esse pau sobre as coxas e torcem , assim, não só os fios grossos para as redes, como outros finíssimos. Para as redes, a que chama de inis, as mulheres usam teares verticais da altura delas, nos quais urdem a seu modo e tecem de baixo para cima, uma malhas cerradas como o brim, outras malhas largas de uma braça, mais ou menos, trazendo nas pontas os punhos por onde passam as cordas. Os índios as amarram a dois postes fronteiros, expressamente fincados para esse fim”.[8] Em 1519, o italiano Antonio Pigafetta, de passagem na expedição de Fernão de Magalhães, se refere aos indígenas "não são cristãos mas também não são idolatras, porque não adoram nada, comem a seus inimigos, tecem redes, fazem canoas, moram em grandes casas”. Fiar e tecer a partir da fibra do algodão são ofícios das mulheres índias, com que eram preparadas cordas grossas para as redes como tecidos delicados como um colete que Lery levou para França e aqui foi tomado por seda. As mulheres tupinambás trabalhavam também como oleiras. Os vasos de barro eram secados ao sol e depois cobertos com casca de árvore a que punham fogo de modo a cozê-lo de forma suficiente. Também faziam cestos tecidos de junco ou de palha.[9]
[1]AGUIAR, Luiz Antonio.
Hans Staden: viagens e aventuras no Brasil. São Paulo: Melhoramento, 1988, p.
54
[2]LIMA,
Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de
Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 74
[3]COSTA, Angyone.
Introdução à arqueologia brasileira: etnografia e história, São Paulo:Cia
Editora Nacional, 1938, p.265
[4]SILVA, Rafael Freitas.
O Rio antes do Rio. Rio de Janeiro:Babilônia, 2015, p. 40
[5]LIMA,
Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de
Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 75
[6]HERRMANN, Paul. A
conquista das Américas. Sâo Paulo:Boa Leitura, 1960, p.58
[7]LIMA,
Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de
Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 223
[8]LIMA,
Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de
Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 74
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