sábado, 26 de setembro de 2020

Ordem e Progresso

 

No Brasil o positivismo terá grande influência na jovem oficialidade do meio militar que desencadeará o processo levante republicano de 1889, entre os quais o militar e engenheiro e republicano Benjamin Constant, que matriculou-se na Escola Militar em 1852.[1] Pierre Lafitte em artigo publicado na Revue Occidentale reconhece “as opiniões positivistas de um dos principais chefes do novo governo, o Sr. Benjamin Constant são conhecidas de todos, e disso ele nunca fez mistério. Julga-se que a nova República tomará por lema a fórmula Ordem e Progresso”.[2] Em 1872 ao concorrer a uma vaga como professor na Escola Militar, diante de uma banca da qual fazia parte o imperador Pedro II, Benjamin Constant alertou que era positivista o que denunciava sua visão republicana. Apesar disso, o imperador não fez qualquer objeção à sua admissão como professor.[3] A bandeira do Brasil foi projetada pelos positivistas Raimundo Teixeira Mendes e Miguel Lemos com desenho do pintor positivista Décio Villares que incluiu o lema no lugar do brasão imperial por sugestão de Benjamim Constant[4]. A referência as constelações remete a conceitos matemáticos e de astronomia do positivismo.[5] A religião da humanidade de Comte tinha como lema “o amor por princípio, a ordem como meio e o progresso como fim”.[6] Na bandeira a referência ao amor foi suprimida. O bispo do Rio de Janeiro se recusou a abençoar a nova bandeira pela apologia ao positivismo, radicalmente contrário à igreja católica.[7] O próprio Comte fundou uma sociedade chamada “Ordem e Progresso” destinada a ter uma ação política similar à dos jacobinos durante a revolução francesa cuja proposta era a de fazer prevalecer as teses da nova ciência do positivismo. Cruz Costa destaca que o prestígio do positivismo entre engenheiros e militares tinham origem não no Apostolado Positivista mas do prestígio do professor Benjamin Constant.[8] Podemos ver, no periódico a Semana Ilustrada, em 1872, uma gravura onde o Conselheiro João Alfredo hasteia uma bandeira com a divisa "Ordem e Progresso" o que viria a ser adotado posteriormente na bandeira brasileira quando da proclamação da República. [9] A bandeira republicana do Brasil ficou sob a responsabilidade de Teixeira Mendes que contou com o auxílio do desenhista positivista Décio Vilares[10]. Pereira Barreto sintetiza os princípios positivistas: “O amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim (a família, a pátria e a humanidade)".[11] Segundo João Camilo de Oliveira Torres na obra O positivismo no Brasil de 1943: “O positivismo surgiu no Brasil para preencher uma lacuna, a que fora aberta em nossa cultura pela ausência de uma filosofia elaborada racionalmente e segundo critérios seguros. Era uma concepção do universo e dos valores elaborada sistemática e rigorosamente e, ao mesmo tempo, irrefutável. Ora, nós não possuíamos então nem ao menos uma teoria do estado exequível, quanto mais uma posição filosófica séria e estável. Possuindo, além disto, o positivismo um grande e acentuado poder construtivo, falava muito de perto a tendências futuras da alma brasileira” [12] João Torres observa que a direção de ideias positivistas da república durou apenas de novembro de 1889 a janeiro de 1890 com a saída de Demétrio Ribeiro do governo.[13]

[1]COSTA, Cruz. Contribuição à história das ideias no Brasil, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1967, p. 132

[2]RENAULT, Delso. A vida brasileira no final do século XIX, Rio de Janeiro:José Olympio, 1987, p. 17

[3]GOMES, Laurentino, 1889, Rio de Janeiro: GloboLivros, 2013, p.208

[4]MESQUITA, André Campos. Augusto Comte, sociólogo e positivista, São Paulo:Lafonte, 2013, p. 37

[5]TORRES, João Camilo. O positivismo no Brasil, Brasília: Câmara dos Deputados, 2018, p.93

[6]MESQUITA, André Campos. Augusto Comte, sociólogo e positivista, São Paulo:Lafonte, 2013, p. 92

[7]GOMES, Laurentino, 1889, Rio de Janeiro: GloboLivros, 2013, p.322

[8]COSTA, Cruz. Contribuição à história das ideias no Brasil, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1967, p. 222

[9]LINS, Ivan. História do positivismo no Brasil, Brasiliana, n.322, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1967, p.235 http://www.brasiliana.com.br/obras/historia-do-positivismo-no-brasil/pagina/235/texto

[10]COSTA, Cruz. Contribuição à história das ideias no Brasil, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1967, p. 232

[11]LINS, Ivan. História do positivismo no Brasil, Brasiliana, n.322, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1967, p.52

[12]MESQUITA, André Campos. Augusto Comte, sociólogo e positivista, São Paulo:Lafonte, 2013, p. 120; TORRES, João Camilo. O positivismo no Brasil, Brasília: Câmara dos Deputados, 2018, p.37

[13]TORRES, João Camilo. O positivismo no Brasil, Brasília: Câmara dos Deputados, 2018, p.92



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