Segundo Jó 26: 10 Deus “Marcou um
limite sobre a superfície das águas em redor, até aos confins da luz e das trevas”.
Segundo Amós 9:6 “Ele é o que edifica as suas câmaras superiores no céu, e fundou na
Terra a Sua abóbada, e o que chama as águas do mar, e as derrama sobre a Terra;
o Senhor é o Seu nome”. Em Lucas 4:5 o diabo leva Jesus a um monte onde
pode lhe mostrar todos os reinos do mundo o que pressupõe a existência de uma
terra plana. Para Lactâncio (250-325) em
Instituições Divinas seria ridículo imaginar imaginar uma terra esférica em que na outra face da Terra a chuva
caísse de baixo para cima, ou que existisse uma raça humana vivendo de
ponta-cabeça. Lactâncio considerava o estudo de astronomia como algo mal e sem
sentido[1]. O bispo
de Milão no século IV Ambrósio condenava como ímpias ciências como a geometria
e astronomia pois revelam a soberba humana: “Nem sequer conhecemos os
segredos do Imperador e pretendemos conhecer os de Deus” [2]. O monge
grego Cosmes / Cosmas / Kosmas
Indicopleustes (que significa “viajante indiano”) em 550 escreveu a obra
Topografia Cristã, em que defende a
tese da terra plana [3],
como um paralelogramo envolto em muralhas[4].
Seguindo a descrição da Epístola aos Hebreus (9: 1-3) conclui que a terra tinha
a forma de um tabernáculo. A escola católica de Antioquia, com Diodoro bispo de
Tarso (378), Teodoro de Mopsuestia (350-428) e João Crisóstomo (345-407)
baseada numa interpretação literal das escrituras, procurando se desvencilhar das teorias pagãs, defendeu
a tese de terra plana. João Crisóstomo em
Homiliae XXXIV in Epistolam ad Hebraeos se refere a terra como o
tabernáculo e assim se refere Severianus de Gabala em sua Homilia ao Genesis
(408) mencionadas por Cosmas Indicopleustes em sua Topografia cristã. Por
outro lado, Basilio de Caesarea (329-379) alinhado com as teses de Orígenes,
numa interpretação mais alegórica da Bíblia e mais flexível em relação às influências
pagãs gregas, irá defender a esfericidade da terra.[5] O monge
inglês Beda (673-735) um dos que popularizaram o uso do sistema do Anno Domini
em 725 com sua obra De Temporum Ratione [6] foi o primeiro eclesiástico medieval a defender a esfericidade da Terra: “A causa do comprimento desigual dos dias é a
forma globular da terra, pois não é sem razão que as Sagradas Escrituras e
letras seculares falarem da forma da Terra como uma esfera, pois é um fato que
a terra é colocada no centro do universo, não só em latitude, uma vez que eram
redondos como um escudo, mas também em todas as direções, como uma bola de
brinquedo, não importa o caminho que ele está ligado”.[7] Por
outro lado, para Beda, contemporâneo de Cosmas: “A Terra é um elemento colocado no meio do mundo. Como a gema no meio de
um ovo; à sua volta há a água, como a clara rodeando a gema; fora fica o ar,
como a membrana do ovo; e a toda a sua volta fica o fogo, que o fecha como a
casca ao ovo”. [8]
[1]CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books,
1963, p. 283
[2]ANDERSON, Perry. Passagens da antiguidade ao feudalismo, Porto: Afrontamento,
1982, p. 146
[3]TATON, René. A ciência
antiga e medieval, tomo I, livro 2, Sâo Paulo:Difusão Europeia, 1959, p. 197
[4]TATON, René. A ciência
antiga e medieval: a idade Média, tomo I, livro 3, Sâo Paulo:Difusão Europeia,
1959, p. 80
[5]Nothaft, C. Augustine and the Shape of the
Earth: A Critique of Leo Ferrari, Augustinian Studies 42:1 (2011) p.33-48
[6]LACEY, Robert. O
ano 1000: a vida no final do primeiro milênio, Rio de Janeiro: Campus,1999,
p.22
[7]CURY, Fernanda.
Copérnico e a revolução da astronomia, São Paulo:Odysseus, 2003, p. 26
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