terça-feira, 29 de setembro de 2020

Jogo da pelota ulama

 

Os jogadores do jogo da pelota (ulama) eram nobres que usavam cintos de pedra em forma de U forrados feitos de tecido ou fibras trançadas para proteger os quadris, além do uso de finas máscaras ou hachas, reproduzindo feições humanas, carnívoros, araras ou perus[1]. Havia dois times de dois ou três jogadores e o objetivo era acertar uma bola de borracha pequena e sólida através de anéis dispostos ao longo do campo de modo a marcar pontos. O time perdedor quase sempre era sacrificado. O British Museum guarda um cinto cerimonial feito de pedra com peso de 45 quilos datado do ano 100 d.c. usado na abertura do jogo. O desenho do cinto é o de um sapo estilizado e remete a luta cósmica da vida contra a morte [2]. Para os astecas (1250 a 1521 d.c), o jogo representava uma batalha das forças noturnas lideradas pela Lua e estrelas contra o Sol personificado pelo Huitzilopochtli, o deus protetor. A quadra representava o mundo e a bola o sol e a lua. Os sacrifícios humanos tinham, assim, a função de manter o sol iluminando a Terra. Daí a importância do jogo para a manutenção da vida.[3] Segundo Jacques Soustelle: “fugir a esse dever cósmico é trair os deuses”.[4] Segundo Joathan Leonard: “tais cenas de sacrifício não lhes pareciam de modo algum horripilantes, como também não o eram para as vítimas. A morte, em si mesma, não era muito temida, e a morte ritual, pela mão dos sacerdotes, era considerada uma honra”.[5] Evidências mostram a presença de sacrifícios humanos na região de Teotihuacan (huaca significa sagrado, teotihuacan  significa lugar dos deuses)[6] cerca de 1000 anos antes dos astecas[7]. Miles Pointdextetr aponta as semelhanças da palavra teotl em mexicano que significa a divindade com o grego theos que significa deus.[8] Em El Tajin (250 a 1150 d.c) são encontrados pelo menos três campos de jogos com até 59 metros de comprimento.[9] Em um dos relevos o capitão derrotado parece ser sacrificado pelos vencedores que acertam uma faca cerimonial sobre seu coração.[10] Stuart Piggott mostra que na Europa entre os sacerdotes druidas também haviam práticas de sacrifícios humanos[11].

[1]COE, Michael, Os maias, Editorial Verbo:Lisboa, 1968, p.92

[2]MacGREGOR, Neil. A história do mundo em 100 objetos, Rio de Janeiro:Intrínseca, 2013, p.279

[3]DOMINGUES, Joelza. Jogo de bola mesoamericano: o combate mortal, 2015 http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/jogo-de-bola-combate-mortal/

[4]SOUSTELLE, Jacques. A vida quotidiana dos astecas. Belo Horizonte:Itatiaia, 1962, p.140

[5]LEONARD, Joathan. América pré colombiana, Rio de Janeiro:José Olympio Editora. Biblioteca de História Universal Life, 1971, p.68

[6]COE, Michael. Antigas Américas, mosaico de culturas, v. II Madrid:Ed. Del Prado, 1996, p. 161; LEONARD, Joathan. América pré colombiana, Rio de Janeiro:José Olympio Editora. Biblioteca de História Universal Life, 1971, p.37, 62

[7]DAVIES, Nigel. The astecs: a history, London; Folio Society, 1973, p. 183

[8]POINDEXTER, Miles. The Ayar Incas, New York: Horace Liveright, 1930, p.199

[9]COE, Michael. Antigas Américas, mosaico de culturas, v. I Madrid:Ed. Del Prado, 1997, p. 11; LONGHENA, Maria. O México antigo, Barcelona:Folio, 2006, p. 32

[10]COE, Michael. O México. Lisboa:Editorial Verbo, 1970, p.123

[11]PIGGOTT, Stuart. A Europa antiga, Lisboa:Fund. Calouste Gulbenkian, 1965, p. 293



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