quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Cerâmica indígena

 

As provas da inaptidão dos antigos habitantes de Minas Gerais para o fabrico da cerâmica os afastam, definitivamente, dos peritos oleiros do Amazonas, principalmente os da ilha de Marajó datados de 7500 ap (antes do presente) sendo das mais antigas na América. Nas áreas de Taperinha e Monte Alegre no baixo Amazonas as cerâmicas são datadas em 7600 anos[1]. Esta datação foi determinada por Ana Roosevelt a partir de cerâmicas encontradas no sambaqui de Taperinha no baixo Amazonas e em Pedra Pintada.[2] Não está claro se esta técnica se difundiu para o norte da Colômbia (4500 a.c), litoral do Equador (3200 a.c.), costa do Peru (2460 a.c.), Panamá (2140 a.c.) e sul da Mesoamérica (1805 a.c.) ou se estes foram desenvolvimento independentes.[3] Betty Meggers aponta a similaridade da cerâmica do norte da Colômbia com as encontradas em Marajó [4]. No século XIX Ferreira Penna descobriu que a ilha do Pacoval, no Marajó, era de fato um cemitério indígena, com grande quantidade de material cerâmico.[5] A Ilha de Marajó não pode ser considerada como centro de difusão de estilos cerâmicos, pois sua fase marca o fim de um ciclo de períodos sucessivos alcançados por cinco grupos culturais no período pré histórico (culturas Ananatuba, Mangueiras, Formiga, Aruã e Marajoara).[6] A fase marajoara, portanto, é de ocorrência mais recente datando de 400 a 1350 segundo Simões em datação realizada em 1969.[7] No Paraná, Laming e Emperaire consideram a cerâmica tupi guarani encontradas na bacia do Paraná como tendo origem na região andina setentrional, considerada um importante centro de difusão de técnicas cerâmicas da região.[8] No Rio de Janeiro Jean Lery em sua obra "Histoire d'un voyage faict en la terre du Brésil" de 1578 se refere a “as mulheres dos nossos americanos  também incumbem aos mais encargos domésticos, como o fabrico do pote para cauim, vasilhas, panelas redondas e ovais, frigideiras e pratos, os quais são tão bem vidrados por dentro, por meio de certo licor branco, que os não fazem melhores nossos oleiros. Usam ainda desenhar nos vasos com tinta parda, pequenos ornatos de ramagens, lavores eróticos e outras galantarias, sobretudo no destinados a guardar farinha e outros mantimentos e direi que usam nisso maior asseio que a gente de cá, amiga de vasilhas de madeira. Nessas pinturas seguem a improvisação da fantasia; se lhes pedis que repitam um desenho já feito, não o fazem, tanto lhes vagueia livre a mão”.[9]



[1] FUNARI, Pedro; NOELLI, Francisco. Pré história do Brasil, São Paulo:Contexto, 2016, p. 80; LOPES, Reinaldo. 1499 o Brasil antes de Cabral,Rio de Janeiro:Harper Collins, 2017, p. 133

[2]HETZEL, Bia; MEGREIROS, Silvia. Prehistory of Brazil. Rio de Janeiro:Manati, 2007, p. 81

[3]FAGAN, Brian. Los setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume, 2005, p. 38

[4]MEGGERS, Betty. América pré histórica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p. 153

[5]SANJAD, Nelson. "Ciência de potes quebrados": nação e região na arqueologia brasileira do século XIX. An. mus. paul.,  São Paulo ,  v. 19, n. 1, p. 133-164,  June  2011 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-47142011000100005&lng=en&nrm=iso>

[6]EYDOUX, Henri Paul. Á procura dos mundos perdidos, São Paulo:Melhoramentos, 1967, p. 285; GALVÃO, Eduardo. Exposições de antropologia, Belém: Museu Goeldi, 19778, p. 15

[7]GALVÃO, Eduardo. Exposições de antropologia, Belém: Museu Goeldi, 19778, p. 13, 28

[8]MENDES, Josué Camargo. Conheça a pré história brasileira, São Paulo: USP, Polígono, 1970, p. 68

[9]LIMA, Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 76



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