Os egípcios usavam vidro por volta de 3000 a.c. possivelmente um desenvolvimento da faiança que por sua vez era feita misturando-se seixos de quartzo triturado misturados com pequena quantidade de álcali. Segundo Robert Brill: “Se alguém acrescentou um excesso de álcali, ou se usou temperatura alta demais ou se, talvez, moeu parte dos detritos de experiências anteriores usando-os novamente na mistura, a reação química poderia ter prosseguido o suficiente para dissolver todos os grãos de quartzo e formar um retículo vítreo. É provável que a descoberta do vidro tenha ocorrido de um cozimento acidental ou, talvez, de uma manipulação intencional dos ingredientes empregados na faiança”. Há registro de peças de vidro da XVIII Dinastia no século XVI a.c. [1] São encontradas fábricas de vidro em Wadi Natrun no deserto da Líbia e rico em natrão (uma mistura de carbonato, bicarbonato, cloreto e sulfato de sódio efetiva para desidratação e preservação de corpos).[2] A técnica de fabricação de vidro no Egito teria origem como contato com Ásia[3], na fenícia, possivelmente descoberta casual de um processo natural de vitrificação[4] em que um negociante que ao atravessar o deserto da Síria, deixou seus potes onde iria preparar o jantar sobre uns blocos de potassa ou soda. Na manhã do dia seguinte percebeu que a potassa havia derretido com a areia formando pequenos pedaços de vidro que poderia ser usado na fabricação de pérolas e adornos[5]. As técnicas de fabricação de vidro pouco se desenvolveram inicialmente como imitação de pedras preciosas por volta de 2500 a.c. no Egito e Mesopotâmia. Os recipientes de cristal aparecem por volta de 1500 a.c. ao mesmo tempo em que a técnica de soprar vidro é desenvolvida na Síria, prescindindo neste caso de um molde.[6] O sopro de vidro de origem Síria durante o século I a.c. chegou a Alexandria no Egito no século seguinte.[7] Segundo Flinders Petrie as primeiras evidências de vidro no Egito datam da XIV Dinastia.[8] Foram encontradas fábricas de vidro na XVIII dinastia próximas aos palácios reais de Amenófis / Amenhotep III (1391-1353 a.c.) em Malqata e na XIX dinastia na cidade de Lisht. Demócrito se refere a produção de vidro maleável no Egito[9]. O vidro transparente apareceu no reino de Tutancamon (1300 a.c.) e a partir de 700 a.c. os vasos egípcios de vidro conhecidos como alabastros difundiram-se por todo Mediterrâneo sendo copiados pelos fenícios[10]. A técnica na fabricação de vasilhas de cristal possivelmente foi trazida do Oriente Médio de artesãos locais trazidos como escravos. O fato de não se encontrar nos túmulos da aristocracia representação da fabricação de vidro mostra que trata-se de uma atividade que era monopólio real uma vez que no Império Novo as representações nos túmulos reais eram invariavelmente de cenas religiosas.[11] A faiança era feita com um pó de quartzo ao invés de argila[12], sendo revestida com uma pasta vítrea. Levado ao fogo o produto assumia um aspecto vítreo em tonalidade azul sendo usado na fabricação de contas, vasos, ladrilhos e estatuetas.[13] O produto é considerado um dos primeiros sintético produzidos com objetivo de substituir o lápis lazuli e o desenvolvimento desta técnica pode ter levado um conhecimento que mais tarde seria importante para a extração do cobre a partir do minério in natura.[14] A descoberta da esmaltagem da faiança tem sido associada com a indústria do cobre. Azulejos azuis foram encontrados na tumba de Zoser da III Dinastia.[15]
[1] METZGER, Norman. Homens e moléculas, Rio de Janeiro: Zahar, 1975, p. 120
[2] SARTON, George. Ancient Science Through the Golden Age of Greece, New York:Dover, 1980,
p.40; WEST, John Anthony. The traveler’s key to ancient Egypt, New York:Quest,
2012, p. 57
[3] MOKHTAR, Gamal.
História geral da África, II: África antiga, Brasília : UNESCO, 2010, p.74
[4] HARRIS, J. O legado do
Egito, Rio de Janeiro:Imago, 1993, p.109
[5] LOON, Hendrick.
História das invenções: o homem fazedor de milagres, Sâo Paulo:Brasiliense,
1961, p.113
[6] DERRY, T.; WILLIAMS,
Trevor. Historia de la tecnologia: desde la antiguidade hasta 1750,
Mexico:Siglo Vintuno, 1981, p.127, 129; FAGAN, Brian. Los setenta grandes
inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume, 2005, p. 51
[7] STROUHAL, Eugen. A vida
no antigo Egito. Barcelona:Folio, 2007, p. 144
[8] ALVAREZ, Lopez. O
enigma das pirâmides, São Paulo:Hemus, 1978, p.126
[9] PAPUS. Tratado de
ciências ocultas, Rio de Janeiro:Planeta, 1973, p.35
[10] MOKHTAR, Gamal.
História geral da África, II: África antiga, Brasília : UNESCO, 2010, p.127
[11] STROUHAL, Eugen. A vida
no antigo Egito. Barcelona:Folio, 2007, p. 142
[12] DONADONI, Sergio. Museu
Egípcio do Cairo, São Paulo: Mirador, 1969, p. 141
[13] CASSON, Lionel. O
antigo Egito. Rio de Janeiro:José Olympio, 1969, p.136; FAGAN, Brian. Los
setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume,
2005, p. 49
[14] HODGES, Henry. Technology in the ancient world, New York: Barnes &
Noble Books, 1970, p. 62, 65