As regras monásticas de São Bento de Núrsia (480-547) considerado “o patriarca dos monges ocidentais” [1] destacam o valor do trabalho mas como obediência expiatória imposta ao homem em consequência do pecado original[2]. Pela Regra de São Bento capítulo 48(8): “quando eles vivem pelo trabalho de suas mãos, tal como nossos Pais e os apóstolos, então eles vivem como verdadeiros monges”.[3] Segundo o capítulo 48(1) da Regra (Regula) de São Bento: “a ociosidade é inimiga da alma; por isso, em certas horas devem ocupar-se os irmãos com o trabalho manual, e em outras com a leitura espiritual”.[4] A regra de São Bento contudo somente se tornou norma exclusiva dos mosteiros a partir do século IX. O texto da regra de São Bento é uma cópia do original feita por Tedomar, abade de Monte Cassino na época de Carlos Magno[5]. Segundo Jacques le Goff era a evolução de um trabalho penitência da Bíblia para um trabalho reabilitado que se tornava meio de salvação.[6] No século VI o monge Equitius quando convocado pelo papa a apresentar um relato de seu trabalho missionário apresentou-se aos mensageiros papais em vestes de camponês e com sandálias, segurando uma foice, o que mostra a dignidade de seu trabalho.[7] Segundo o testemunho de São Francisco de Assis: “Trabalhei com minhas mãos e ainda desejo trabalhar. Expressa a minha mais firme vontade que todos os outros irmãos exerçam algum tipo de trabalho manual que compreenda um modo de vida honesto. Os que não sabem como trabalhar devem aprender uma profissão, não por cupidez para poder receber o pagamento pelo trabalho, mas a fim de dar o bom exemplo e afastar o ócio”.[8] Reconhecendo o valor do trabalho manual na educação o monaquismo introduziu novos processos para os artífices de madeira, couro, metais e tecidos.[9] Foram alcançados progressos em muitas artes industriais como as de entalhe de madeira e fabricação de cerveja. [10] O evangelho Stonyhurst ou Evangelho de São João segundo São Cuthbert, é um pequeno evangeliário do século VII, escrito em latim, e com encadernação sofisticada em couro[11]. A regra de São Bento assimila as ferramentas do mosteiro, aos vasos e às mobílias sagradas cuja perda ou dano era considerado um sacrilégio.[12] Para Christopher Dawson “a regra de São Bento marca a assimilação final da instituição monástica ao espírito romano e à tradição da Igreja no Ocidente”. Segundo a regra “o mosteiro deve estar arranjado de tal forma que todas as coisas necessárias, como moinho de água, os jardins, hortas e oficinas se localizem dentro de sua área”.[13]
[1] AQUINO,
Felipe. Uma história que não é contada, Lorena: Cleofas, 2008, p. 67
[2] LE GOFF, Jacques. Para
uma outra idade média, Petrópolis: Vozes, 2013, p.150, 171, 211
[3] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and
water wheel, New York:Harper Collins, 1994, p.9; http://www.movimentopax.org.br/saoBento/Regra%20de%20Sao%20Bento.pdf
[4] BOORSTIN, Daniel. Os
descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.446
[5] COSTA, Ricardo da;
VENTORIM, Eliane; FILHO, Orlando Paes. Monges medievais, São Paulo:Planeta,
2004, p.18
[6] GOFF, Jacques. Para um
novo conceito de idade média. Lisboa:Editorial Estampa, 1979, p.14
[7] DAWSON, Christopher. Criação do Ocidente, São Paulo: É Realizações, 2016, p. 80
[8] DAWSON, Christopher. Criação do Ocidente, São Paulo: É Realizações, 2016, p. 256
[9] MONROE, Paul. História
da educação. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1974, p.105
[10] BURNS, Edward McNall.
História da civilização ocidental, Rio de Janeiro:Ed. Globo,
1959, p.265
[11] SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.II, Oxford,
1956, p.169
[12] LE GOFF, Jacques. A
civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p. 191
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