segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

O renascimento carolíngio e o papel dos mosteiros alemães

 

Carlos Magno promoveu um renascimento da arquitetura e literatura romanas, construindo o paláco Aquisgrano no estilo de Roma antiga.[1] Em Aachen (figura) Carlos Magno construiu a residência imperial, o que era destinada a ser “a segunda Roma”.[2] A capela palatina de Aix conforme o modelo da basílica imperial de São Vital de Ravena, ou a basílica Saint German de Auxerre são marcos da arquitetura carolíngia[3]. Frances Gies destaca que o renascimento carolíngio estimulou a reconstrução de igrejas merovíngias numa escala ainda maior como nos casos de Colonha e Rheims.[4] O professor de Alcuíno, Alberto de York destaca a import^ncia dos resgate da cultura clássica: “que desgraça seria deixar que o conhecimento que fora elaborado pelos sábios da antiguidade perecesses em nossa geração”[5]. Nas iluminuras e nas encardenações de marfim a arte carolíngia alcançou seus maiores êxitos e das oficinas de Saint Denis, Tours, Metz, Hautvillers, Corbie e Aix La Chapelle saíram os artesãos que produziram obras primas tais como a Bíblia de São Paulo extra muros, o sacramentario de Drogon, o Saltério de Utrecht ou a Bíblia de Carlos o Calvo[6]. O renascimento carolíngio foi marcado pelo desenvolvimento de bibliotecas com as do mosteiro de Corbie e a de São Martinho de Tours sob a direção de Alcuíno.[7] Segundo São Bernardo de Clavaral no século XII: “um mosteiro sem biblioteca é como um castelo sem arsenal”.[8] Jacques Verger mostra que o renascimento carolíngio foi, antes de tudo, “uma revolução escolar”.[9] Outras realizações do renascimento carolíngio incluem a renovação da cultura escrita, consagrando o latim como língua oficial, a língua dos doutos[10], e a uniformização da escrita com o emprego da minúscula redonda usada nos documentos oficiais, bem como na valorização dos documentos antigos e preservação de textos de autores clássicos como Cícero e Virgílio.[11] Segundo Christopher Dawson: “a nós pode parecer patético, ou mesmo absurdo, que um mero monge como Alcuíno e um rei bárbaro e analfabeto como Caros Magnos pudessem sonhar em construir uma nova Atenas em um mundo que possuía nada mais que os rudimentos de uma civilização e, em breve, seria assolado por uma nova onda de invasões e barbarismos. [...] Depois do colapso do império carolíngio, foram os grandes monastérios, especialmente aqueles localizados no sul da Alemanha – São Gall, Reichenau e Tegernsee – que se tornaram ilhas remanescente de vida intelectual, em meio a uma nova invasão de barbarismo, a qual, mais uma vez, ameaçou submergir a cristandade ocidental”. [12] Robert Delort destaca que o renascimento carolíngio foi ofuscado pelas invasões do século X, de modo que normandos, sarracenos e húngaros visam particularmente pilhar os ricos monastérios e queimar suas construções junto com seus manuscritos trabalhos de sábios como o monge Alcuíno de York[13], Rabanus Maurus ou Eginhard.[14] Frances Gies mostra que o renascimento carolíngio ocorre após um período de seis séculos desde que os romanos de desinteressaram pela ciência e filosofia gregas e assim com os clássico gregos o que levou ao latim se transformar na língua franca da classe intelectual medieval: “talvez o mais estranho hiato da história da cultura ocidental”.[15]



[1] CORNELL, Tim; MATHEWS, John. Renascimento v.I ,Grandes Impérios e Civilizações, Lisboa:Ed. Del Prado, 1997, p. 15

[2] DUBY, Georges. História artística da Europa: Idade Média, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997, p. 144

[3] PERROY, Edouard. A idade média, tomo III, Primeiro Volume, História Geral das Civillizações, São Paulo:Difusão Europeia, 1958, p. 144

[4] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 67

[5] DAWSON, Christopher. Criação do Ocidente, São Paulo: É Realizações, 2016, p. 94

[6] PERROY, Edouard. A idade média, tomo III, Primeiro Volume, História Geral das Civillizações, São Paulo:Difusão Europeia, 1958, p. 145; DUBY, Georges. História artística da Europa: Idade Média, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997, p. 165

[7] NUNES, Ruy Afonso da Costa. História da educação na idade média, Campinas:Kirion, 2018, p.155

[8] MORTIMER, Ian. Séculos de transformações. Rio de Janeiro:DIFEL, 2018, p. 61; AQUINO, Felipe. Uma história que não é contada, Lorena: Cleofas, 2008, p. 106

[9] VERGER, Jacques. Universidade. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017, p. 641

[10] FOSSIER, Robert. As pessoas da idade média, Rio de Janeiro: Vozes, 2018, p. 260

[11] MENDONÇA, Sonia. O mundo carolíngio. Coleção Tudo é história, n° 99, São Paulo:Brasiliense, 1985, p.83

[12] DAWSON, Christopher. Criação do Ocidente, São Paulo: É Realizações, 2016, p. 95

[13] https://en.wikipedia.org/wiki/Alcuin

[14] DELORT, Robert. La vie au moyen age, Lausanne:Edita, 1982, p.220

[15] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 36



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