quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

A espagiria de Paracelso e a alquimia

 

O ensinamento extraído da experiência era fundamental para Paracelso: “perscrutamini naturas rerum” – “investiga a natureza”[1]. Segundo William Bynum: “a importante inovação de Paracelso foi a separação entre o paciente e a doença”[2] Em Paragranum escrita em 1530 Paracelso afirma a necessidade de uma nova terapêutica.[3] Seu livro Cirurgia maior – Di grosse Wundartzney de 1536 foi uma de suas obras mais importantes.[4] Para o alquimista Nicolas Flamel em seu Thresor de Philosophie a alquima “é a ciência dos quatro elementos que se transformam mútua e reciprocamente uns em outros. Todos os filósofos coincidem nesse ponto”.[5] Para Paracelso a espagiria indica a arte de separar o puro do impuro de forma que, eliminadas as excrescências, a virtude remanescente possa operar – purum ab impuro segregare, ut, reiectis fecibus, virtus remanes operetur, por este motivo Paracelso é conhecido como o Espagirista. Titus Burckhardt explica que “O termo medicina espagirica vem das palavras gregas correspondentes a 'divisão' e 'união' – correspondendo aos termos alquímicos solve et coagula”.[6] Lucia Helena Galvão[7] mostra que o princípio do solve et coagula diz respeito da morte no mundo físico e renascimento no mundo espiritual. Para Julius Evola: “Como preceito geral, permanece sempre: Solve et coagula. Potier especifica: “Se estas duas. palavras te parecem demasiado obscuras e não próprias de Filósofo, direi algo mais extenso e compreensível. Dissolver é converter o Corno do nosso ímã em puro Espírito. Coagular é fazer de novo corporal este Espírito, segundo o preceito do Filósofo que diz: Converte o Corpo em Espírito e o Espírito em Corpo. Quem entender estas coisas, possuirá tudo; e quem as não compreender, nada terá”. Ao solve corresponde-lhe o símbolo da ascensão; ao coagula corresponde-lhe o da descida”[8]. Segundo Paracelso: “a magia tem o poder de experimentar e compreender as coisas que são inerentemente inacessíveis à razão humana. Pois a magia é uma grande sabedoria secreta, assim como a razão é uma grande loucura pública”.[9] Alguns dos trabalhos de Paracelso de outro lado era escritos de forma codificada em um alfabeto denominado Alfabeto dos reis magos. Nicolas Flamel em sua obra Testamento de Nicolas Flamel também usa um alfabeto codificado.[10] Paracelso acredita na correlação entre o macrocosmo e o microcosmo e na astrologia: “É preciso ter consciência de que a medicina deve ter nos astros a sua preparação e que os astros se tornam meios para cura. A preparação do médico terá que ser exercida de tal forma que o remédio seja preparado como por tramitação celeste, do mesmo modo com que são tramitadas as profecias e os outros eventos celestes”.[11]

[1] MANGOLD, Lydia Mez. Imagens da história dos medicamentos, Basileia:Hoffman La Roche, 1971, p.94

[2] BYNUM, William. Uma breve história da ciência. Porto Alegre:L&PM Pocket, 2018, p. 62

[3] ABRIL Cultural, Medicina e Saúde. História da Medicina, v.I, São Paulo, 1970, p. 112

[4] FARIAS, Robson Fernandes. Paracelsus e a alquimia medicinal, São Paulo: Gaia, 2006, p.35

[5] DE ROLA, Stanislas. Alquimia. Lisboa:Ed. Del Prado, 1996, p. 17

[6] BURCKHARDT, Titus. Alquimia: ciência do cosmos, ciência da alma. Londres: Fons Vitae, 1967, p. 17

[7] GALVÃO, Lucia Helena. A alquimia na idade média, Nova Acrópole Brasil. minuto 17 https://www.youtube.com/watch?v=8whFz7B-qDQ&t=1060s

[8] EVOLA, Julius, A tradição hermética. Lisboa: Edições 70, 1971, p. 169

[9] BELL, Madison Smartt. Lavoisier no ano um. São Paulo: Cia das Letras, 2007, p. 43

[10] COSTA, Marcos. O livro obscuro do descobrimento do Brasi, Rio de Janeiro:Leya, 2019, p. 67

[11] ROSSI, Paolo. O nascimento da ciência moderna na Europa, Bauru:Edusc, 2001, p. 274



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