No sul do Brasil predominaram sociedades do tipo caçador coletor os quais os artefatos encontrados ficaram conhecidos como “tradição Umbu” data de 12 mil ap. caracterizado por instrumentos em pedra tais como pontas de flechas ou dardos para a caça. A tradição Humaitá predominou sobre ambientes de floresta datado de 9 mil ap.[1] Entre os artefatos encontrados estão boleadeiras, uma arma de arremesso para caça feita de tiras de couro trançado com pesos nas pontas até hoje presente entre os vaqueiros sulistas, conhecidos no pampa como gaúchos[2]. A “Tradição Vieira”[3] nos campos meridionais do Rio Grande do Sul e Uruguai é caracterizada por uma cerâmica com vasilhas de bases planas ou convexas, tamanhos pequenos, com formas de contorno simples, infletidos, ou uma combinação de ambas. A “Tradição Humaitá” no sul do Brasil, nordeste da Argentina e sudeste do Paraguai é caracterizada por grandes artefatos bifaciais. Já os resíduos de lascamento são muito semelhantes aos encontrados na “Tradição Umbu”. Segundo João Carlos Moreno de Sousa a análise do formato e modo de produção dos artefatos encontrados em sítios arqueológicos de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul mostra esses grupos, que viveram há cerca de 13 mil anos atrás na parte oriental da América do Sul, tinham culturas diferentes o que pode levar a um questionamento do conceito de “Tradição Umbu” proposta a partir dos trabalhos de Eurico Theófilo Miller e que perdura desde a década de 1980 na arqueologia brasileira.[4] O sítio arqueológico Pororó, no Alto Vale do Jacuí, Rio Grande do Sul (RS) foi descoberto em 2010 pelo arqueólogo Saul Milder, da Universidade Federal de Santa Maria. João Carlos Moreno de Sousa do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro mostra que os artefatos líticos encontrados em Pororó datados de 2,5 mil anos atrás são muito semelhantes aos encontrados em outros sítios tais como os da “Cultura Garivaldinense”, em referência ao sítio Afonso Garivaldino Rodrigues, no Médio Vale Rio Jacuí de 5 mil anos atrás, o que mostra que tais técnicas permaneceram sem qualquer inovação por milênios. Segundo Moreno de Sousa: “Apesar do aparecimento de novos tipos de pontas e outras ferramentas, algumas tradições persistem, como se fossem algo muito forte na memória social desses grupos, talvez uma questão de identidade social [...] Por muito tempo, na arqueologia, todos os povos de caçadores-coletores que produziam essas pontas de pedra lascada e viveram nas Américas entre 14 mil anos atrás e a colonização europeia foram categorizados como ‘Tradição Umbu’, que inicialmente descrevia um período específico no nordeste do RS e acabou generalizado enquanto categoria. Mas quando observamos essa continuidade longeva das tecnologias da Cultura Garivaldinense e comparamos, por exemplo, com outras tecnologias do Sul e Sudeste, que são muito diferentes, notamos que essas sociedades eram bastante diversas culturalmente e não podem ser tratadas como um grupo homogêneo”. [5]
[1] NOELLI, Francisco. A
ocupação humana na região Sul do Brasil: arqueologia, debates, perspectivas -
1872-2000. Revista USP, v.44, p.230 http://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/29849
[2] FORDE, Daryll. Foraging, hunting and fishing. In: SINGER,
Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, Oxford Clarendon Press, 1958, v.
I. p. 165
[3] FILHO, Ivan Alves. História pré colonial do Brasil, Rio de Janeiro: Europa
Editora, 1987, p.42
[4] https://jornal.usp.br/ciencias/analise-de-artefatos-de-pedra-pode-mudar-teoria-sobre-pre-historia-na-america-do-sul/
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