Lilia Schwartz mostra que o final do século
XIX, conhecida como a “era dos museus” viu florescer diversos museus
etnográficos vinculados a modelos evolucionistas de análise, com suas coleções
bastante ampliadas com o material coletado por exploradores como o capitão Cook.[1] O
naturalista francês Joseph Dombey enviou para o Museu de Paris em 1784
exemplares zoológicos por intermédio da recém criada Casa dos Pássaros, célula
mater do futuro Museu Nacional. Os exemplares enviados contudo sem etiquetas de
identificação iriam mais tarde desorientar os pesquisadores.[2] Portugueses presos em Goa ao escaparem trouxeram mudas dos famosos jardins de
Pamplemousse da Ile de France (atual república de Maurício) entre as quais as
sementes da palmeira imperial que seria plantada no Jardim Botânico do Rio de
Janeiro inaugurado quando da chegada da família real em 1808.[3] D.
Joao VI teceu elogios a Luis de Abreu, Rafael Botado e ao frade Francisco João
da Garça “que tanto cooperaram para
enriquecer o nosso Brasil roubando daquela colônia as suas precisos plantas e
sementes”[4]. Em 1800
chegou ao Brasil o naturalista Friedr Guilherme Sieber, para atender demanda do
colecionador alemão Conde Hoffmannsegg para explorar a floresta amazônica,
coleção esta que foi doada posteriormente a Universidade de Berlim, na qual se
utilizaria diversos especialistas. Freyreiss acompanhado de von Langsdorf enviou
o material valioso para os museus de Berlim, Leide e Moscou[5].
Em 1813 o alemão Carlos Henrique Beyrich remeteu, mas de 400 plantas vivas para
o Jardim Botânico de Berlim.[6] A
arquiduquesa Leopoldina, que se casou com Pedro I em 1817 enviou caixas de
mineirais, plantas, animais e aves de toda a espécie para a Europa em especial
para o Museu de História Natural de Viena, assim como cientistas que vieram
posteriormente como João Natterer. [7] As
coleções que o imperador austríaco Fernando recebeu dos naturalistas austríacos
e de sua própria filha Leopoldina foram tão ricas que ele mandou instalar em
Viena um museu com 13 salas e uma biblioteca especial sobre o Brasil, o
Brasilianisches Naturalienkabinett ou Museu do Brasil, incendiado durante a
revolução de 1848. Friedrich Selow recolhe vasto material (só de aves mais de
1500 exemplares) enviados para Europa em 1820.[8] Joahann Natterer enviaria para o Museu de Viena cerca de 12 mil aves, cerca de
1100 mamíferos e 3 mil anfíbios e peixes, alguns dos quais acabaram no Museu
Britânico[9].
Gilberto Freyre destaca que o português integrou o conhecimento das plantas
brasileiras à paisagem europeia: “O início de uma renovação do cenário
europeu, no sentido romântico da expressão mais livre e mais natural das
plantas e dos animais nos jardins. Para essa renovação, repito, concorreram as
plantas e as flores brasileiras com a sua espontaneidade, com a sua diversidade,
com a sua variedade, difíceis de ser podadas, policiadas e uniformizadas pelas
regras do classicismo ocidental ou do geometrismo árabe. Os portugueses
souberam, com o seu seguro senso de equilíbrio de valores, inclusive os estéticos,
acomodar aquelas plantas exóticas às tradicionais da Europa, à estatutária
europeia de jardim e aos azulejos dos árabes, em combinações novas e felizes”.[10]