quarta-feira, 30 de junho de 2021

Tráfico de escravos com os reinos de Benim e Daomé

 

Os portugueses mantinham relações com os governos locais africanos para o comércio de escravos. Um embaixador de Benim foi a Portugal em 1484 sendo recebido com pompa segundo o cronista Rui Pina “Era esse embaixador homem de bom repouso e natural saber, foram-lhe feitas grandes festas e mostradas muitas coisas boas deste reino”, muito embora o império de Benim nunca tenha se transformado em grande exportador de escravos.[1] Jacob Gorender mostra que o Estado de Daomé na área do atual Benim (o grande império de Benim da época colonial fica na atual Nigéria) surgiu por conta do desenvolvimento do comércio negreiro no século XVII fundado no monopólio estatal.[2] A região litorânea em torno de Daomé era conhecida pelos europeus, o nome de Costa dos Escravos. Foi do Porto de Uidá, o mais importante porto negreiro da África Ocidental, que saiu mais de um milhão de escravos desde o século XVII. A partir de aliança políticas e comerciais e militar com as autoridades nativas africanas os portugueses trocavam manufaturados europeus ou tabaco e aguardente vindos da América por cativos capturados em constantes guerras tribais[3]. Na medida em que a comércio intenso de escravos se desenvolve, intensifica-se cada vez mais as guerras intestinas na África para dar conta da demanda por novos escravos.[4] O escravismo doméstico tradicional cede lugar para as formas mercantis de escravidão.[5] A conquista de Uidá, Ajudá ou Ouidah porto pelo reino escravagista e expansionista do Daomé, em 1727, viria a confirmar sua posição inicial de principal porto do tráfico negreiro na região, situação que manteve, até meados do século XIX.[6] A fortaleza de São João Batista  de Ajudá construída pelos portugueses hoje abriga o Museu de História da Ajudá. No Museu Nacional do Rio de Janeiro havia um zinkpo (na figura), também chamado trono real de Daomé, dado de presente por embaixadores do rei Adandozan ao príncipe D. João em 1810 o que mostra as boas relações dos dois reinos.[7] Um grande traficante de escravos em Daomé foi Francisco Felix de Souza, o Chachá, nascido na Bahia, a figura central do tráfico transatlântico de escravo. [8] Pierre Verger em seu livro “Os escravos” relata o caso do traficante de escravos Joaquim d’Almeida em Daomé que havia sido no passado escravo na Bahia quando então tinha o nome de Gbego Sokpa. Outro traficante de escravos que também havia sido escravo é João de Oliveira que fundou dois entrepostos na Costa dos Escravos em Porto Novo no Benim e outro em Lagos. O negro brasileiro Antonio Vaz Coelho no século XVIII também se tornou traficante de escravos em Porto Novo. José Francisco dos Santos, o Zé Alfaiate era escravo na Bahia e tornou-se um dos últimos traficantes do porto de Ajuda no Daomé.[9] A comunidade dos agudás reunia os ex escravos que retornaram do Brasil.[10]

[1] NARLOCH, Leandro. Escravos. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2017. p.75

[2] FLORENTINO, Manolo. Em costas negras, São Paulo: UNESP, 2014, p. 76

[3] FLORENTINO, Manolo. Em costas negras, São Paulo: UNESP, 2014, p. 87

[4] FLORENTINO, Manolo. Em costas negras, São Paulo: UNESP, 2014, p. 90, 100

[5] FLORENTINO, Manolo. Em costas negras, São Paulo: UNESP, 2014, p. 102

[6] SILVA. Marinelia Sousa da. Movimentos na História: Notas sobre a Historiografia da Costa dos Escravos, Sankofa. Revista de História da África e de Estudos da Diáspora Africana Ano III, Nº 5, julho/2010

[7] Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues https://ensinarhistoriajoelza.com.br/francisco-felix-de-souza-traficante-de-escravos/

[8] NARLOCH, Leandro. Escravos. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2017. p.89; LAW, Robin. A carreira de Francisco Félix de Souza na África Ocidental (1800-1849). Topoi 2001, vol.2, n.2, pp.9-40. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-101X2001000100009&lng=en&nrm=iso

[9] NARLOCH, Leandro. Escravos. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2017. p.81

[10] NARLOCH, Leandro. Escravos. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2017. p.18, 77



Preço dos escravos e produtividade

 

Submetidos a um regime de terras que oneravam o colono imigrante com pesados impostos não havia, contudo, estímulo para ganhos de produtividade. Para José Vergueiro “como meros participantes dos proventos, e a parte do proprietário era um intolerável tributo sobre o trabalhador, que lhe tira a esperança de qualquer melhoria”.[1] Nos cálculos de José Vergueiro o capital empregado na compra de cem escravos equivaleria a pagar 1666 trabalhadores livres por um ano.[2] Manolo Florentino, contudo, mostra dado do Rio de Janeiro do século XIX que mostram que quase todos os homens livres inventariados na pesquisa tinham ao menos a propriedade de um escravo, o que revelava que os africanos eram mercadorias baratas. Manolo Florentino estima entre 200$000 (duzentos mil) reis e 380$000 o preço de cada escravo no Rio de Janeiro no início do século XIX muito embora os jornais indiquem 250$000 chegando a 539$000 em 1825.[3] No oeste paulista Warren Dean estima em 550 mil reis o preço médio de um escravo em 1845 chegando a 2 contos de reis (dois milhões de reis) em 1875 para seguir uma queda para 920 mil reis em 1885 à medida em que torna-se mais clara a iminência do fim da escravidão.[4] Com o fim do tráfico atlântico de escravos pela Lei Eusébio de Queiroz de 1850 o preço dos escravos disparou.[5] Guilherme Resende mostra que os preços dos escravos têm um auge no período 1851–1872, sendo menores em 1873–87 e mais ainda em 1800–1850. O aumento em 1851–1872 pode estar refletindo tanto um crescimento de produtividade (diante da alta do preço do açúcar no mercado internacional na década de 1850 e o boom do algodão durante a guerra de secessão dos Estados Unidos), quanto a restrição de oferta causada pela cessação do tráfico africano. No período 1873–1887, Guilherme Resende considera que os preços tenham sido influenciados negativamente pela perspectiva da abolição e pela virtual cessação do tráfico interno de escravos após 1880 na medida em que as províncias cafeeiras impuseram taxas proibitivas sobre esse comércio interno. Guilherme Resende conclui: “De forma geral, os resultados confirmam a hipótese de que os preços dos escravos se relacionam diretamente com a produtividade do trabalho cativo e, portanto, a demanda por escravos tem como base, no Brasil do século XIX, a busca de maximização de lucro, a exemplo do que a literatura especializada apontou para os casos norte-americano e caribenho”.



[1] STEIN, Stanley. Grandeza e decadência do café, São Paulo:Brasiliense, 1957, p. 72

[2] TOLEDO, Roberto Pompeu de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 430

[3] FLORENTINO, Manolo. Em costas negras, São Paulo: UNESP, 2014, p. 77, 151, 168, 171, 177

[4] CARVALHO, José Murilo. A construção nacional 1830-1889, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 208

[5] NARLOCH, Leandro. Escravos. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2017. p.19; Preços de escravos e produtividade do trabalho cativo: Pernambuco e Rio Grande do Sul século XIX. Guilherme Resende, Flávio Rabelo Versiani, Luiz Paulo Ferreira Nogueról and José Raimundo Oliveira Vergolino, Anais do XLI Encontro Nacional de Economia [Proceedings of the 41st Brazilian Economics Meeting] from ANPEC - Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia [Brazilian Association of Graduate Programs in Economics], 2014 https://www.anpec.org.br/encontro/2013/files_I/i3-5e92f33f630bb2a13bbc28e70f1ebe2f.doc



Portugal precursor de uma agenda científica na diplomacia

 

O rei português D. João V se empenhou em resolver a questão da demarcação de terras valendo-se do suporte da ciência de sua época. Nesse sentido mandou vir astrônomos do estrangeiro da Itália, Alemanha e Suíça, encomendou “instrumentos matemáticos”, fundou um observatório astronômico para observação dos satélites de Júpiter enviou em 1729 uma missão de “padres matemáticos” ao Brasil para elaborarem uma nova carta de latitudes e longitudes na colônia de Sacramento. Todo esse aparelhamento custava caro, o novo sextante de Bion, por exemplo, custara seis mil cruzados.[1] A Comissão era formada pelos jesuítas Giovanni Baptista Carbone e Domenico Capacci (ou Domingos Capassi)[2]. Os padres chegaram ao Rio de Janeiro em 1730 onde instalaram seu observatório no Colégio da Companhia sobre o morro do Castelo onde puderam fazer o levantamento topográfico da cidade e da Baia de Guanabara em relação ao meridiano de Paris, sendo a primeira representação exata da Baía de Guanabara.[3] Nas observações astronômicas pode contar com suporte do também jesuíta matemático astrônomo Diogo Soares para as primeiras medidas de latitude e longitude do sertão.[4] Por outro lado, já era de conhecimento que áreas como Cuiabá e do Amazonas, excediam em muito a linha imaginária demarcatória prevista no Tratado de Tordesilhas.[5] Segundo Jaime Cortesão não faltam provas documentais de que a missão dos padres matemáticos era a fazer o levantamento topográfico em relação ao meridiano de Tordesilhas mantendo tais medições em sigilo, para que pudessem ser apresentadas em momento oportuno quando na negociação dos acordos de fronteira.[6] Jaime Cortesão observa que a preparação deste empreendimento científico envolveu a contratação de cartógrafos e engenheiros, tais como  bem como o astrônomo cartógrafo jesuíta padre Domingos Capacci, o engenheiro Frederico Jacob Weinholtz, o engenheiro e cartógrafo frei francês Estevão de Loreto, o engenheiro militar húngaro Carlos Mardel, o coronel engenheiro genovês Miguel Angelo Blasco entre outros. [7] Esta teria sido, segundo Jaime Cortesão, a primeira expedição geográfica e cartográfica enviada às Américas por uma nação europeia com um objetivo de Estado tendo em vista a delimitação da soberania política entre os domínios de nações conflitantes.[8] Para Jaime Cortesão os avanços na cartografia no século XVIII tendo como um dos destaques Azevedo Fortes abrem uma nova era na cultura expansionista portuguesa da mesma forma que no século XV a ciência náutica abriu caminho para a era das grandes navegações.[9] Jaime Cortesão destaca o papel ilustrado de Alexandre de Gusmão (na figura) em considerar a ciência dos conhecimentos geográficos e históricos como fundamento para a política, colocando no centro das ações a ciência tal como posteriormente fisiocratas franceses e enciclopedistas franceses, tais como Montesquieu , Turgot e Quesnay fariam alguns anos após: “torna-se necessário situar esse conceito na história das ideias durante o século XVIII para nos darmos conta de quanto ele é novo e contém em si germes revolucionários”.[10]

[1] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.I, São Paulo: Funag, 2006, p.296

[2] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.I, São Paulo: Funag, 2006, p.287

[3] CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o tratado de Madrid, v.II São Paulo: Funag, 2006, p. 13

[4] RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1979, p.164

[5] CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o tratado de Madrid, v.I São Paulo: Funag, 2006, p. 42

[6] CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o tratado de Madrid, v.II São Paulo: Funag, 2006, p. 14

[7] CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o tratado de Madrid, v.I São Paulo: Funag, 2006, p. 93

[8] CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o tratado de Madrid, v.II São Paulo: Funag, 2006, p. 25

[9] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.I, São Paulo: Funag, 2006, p.317

[10] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.II, São Paulo: Funag, 2006, p.152



terça-feira, 29 de junho de 2021

Os bandeirantes e a ilha Brasil

 

Saint Hilaire no século XIX refere-se aos bandeirantes como “raça de gigantes”[1]. A tese do espírito aventureiro do brasileiro personificada na exploração dos bandeirantes pelo interior do Brasil foi em grande parte construída pelos historiadores paulistas que popularizou este mito, em especial ligados ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo com intuito de construir uma história que exaltasse as virtudes do paulista. Segundo James Love: “se é certo dizer que os historiadores lançaram as bases do mito da garra quase que fantasiosa dos bandeirantes por aventuras e oportunidades, os criadores de mitos acompanharam os historiadores pari passsu, associando a total grandeza de São Paulo a seu antigo passado”.[2] Em 1952, o historiador português Jaime Cortesão foi nomeado para dirigir a organização da “Exposição Histórica de São Paulo dentro do quadro histórico do Brasil”, no âmbito das comemorações do IV Centenário da fundação da cidade de São Paulo (1954-1955) em que legitima o mito bandeirante.[3] Para Jaime Cortesão a bandeira foi o resultado da fusão de uma ideia força que integrava o sentimento expansionista português com o conceito de ilha Brasil já presente entre os índios, segundo o qual haveria uma comunicação entre os rios Madeira e Guaporé através de uma lagoa chamada Eupana, de modo que o Brasil seria uma ilha fragmentada por seus rios como o São Francisco, o que lhe conferiria um sentido de unidade territorial a ser conquistada. Havia, portanto, uma bandeira oficial que se radicou no Amazonas e uma segunda bandeira livre cujo foco foi São Paulo. Segundo o depoimento do padre Simão de Vasconcelos: “Contam os índios versados no sertão que bem no meio dele são vistos darem-se as mãos estes dois rios o Amazonas e o Prata em uma lagoa famosa”.[4]



[1] TOLEDO, Roberto Pompeu de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 148

[2] SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930, São Paulo: Cia das Letras, 1993, p.174

[3] ALVES, Daniel Vecchio. Reconsiderações Historiográficas sobre a Teoria do Sigilo de Jaime Cortesão. Revista Expedições, Morrinhos/GO, v. 9, n. 3, mai./ago. 2018

[4] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.II, São Paulo: Funag, 2006, p.143



Pitágoras e Platão estiveram no Egito ?

 

Segundo Plutarco: “Pitágoras, nativo da ilha de Samos, o primeiro que deu nome à filosofia, defendeu que os princípios das coisas eram os números e as simetrias, ou seja, as conveniências e proporções que tem entre elas, a que ele chama também harmonias, e depois compõe estes dois elementos que se chamam geométricos’”[1]. O pai de Pitágoras era mercador da cidade de Tiro, cidade fenícia do Líbano, onde Pitágoras viajou bastante com seu pai e sofreu a influência do zoroastrismo[2]. Porfírio relata em sua Vida de Pitágoras[3] que Tales e Pitágoras tiveram influência do Egito[4]. Platão também parece ter ido ao Egito.[5] O mercador judeu Jacob d”Ancona ao escrever 1270 faz referência a uma antiga tradição oral judaica: “Os judeus tem motivo para seu orgulho. Pois quem não sabe que nosso profeta Jeremias foi o professor grego de Platão e que o grande Aristóteles, que seu nome fique registrado, aprendeu aos pés de Simão ?”. O Talmud afirma que o rabino Yehoshua bem Chanaya debateu com sábios de Atenas.[6] Leadbeater argumenta que o manuscrito da “Vida de Leland” que teria sido guardado na Biblioteca Bodleian e hoje perdido datado de 1436 se refere sobre a fundação da maçonaria pelos venezianos e que Peter Gower na antiguidade teria viajado ao Egito para sua iniciação, que seria um nome em inglês de origem no francês Pitagore (pronunciado como Petagore), o que comprovaria a relação da escola pitagórica com a maçonaria, no entanto, mesmo maçons como Albert Mackey reconhecem o documento como uma farsa.[7]



[1] LAFONT, Olivier. A química. In: COTARDIÈRE, Philippe. História das ciências: da antiguidade aos nossos dias, Rio de Janeiro:Saraiva, 2011, p.128

[2] HALL, Edith. The ancient greeks, London:Vintage, 2015, p.114

[3] ONCKEN, Guilherme. História Universal. História do Antigo Egito, v.I, Rio de Janeiro:Bertrand, p.326

[4] ALVAREZ, Lopez. O enigma das pirâmides, São Paulo:Hemus, 1978, p.139

[5] STRATHERN, Paul. Platão em 90 minutos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997, p. 16; MASCHIO, E. Platão: a verdade está em outro lugar, São Paulo: Salvat, 2015, p.16

[6] SELBOURNE, David. Cidade da luz, Rio de Janeiro: Imago, 2001, p. 197, 198

[7] LEADBEATER, C. Pequena história da maçonaria, Rio de Janeiro: Pensamento, 1968, p. 129; MACKAY, Albert. The history of freemasonry, 1898, http://www.freemasons-freemasonry.com/mackeyph10.html



Teófilo o presbítero e arte em metal

 

Segundo Hilário Franco: “rezar é combater as forças maléficas, contribuindo para a salvação não apenas da alma do próprio monge, mas também de toda a sociedade; trabalhar é afastar a alma de seus inimigos, a ociosidade e o tédio, é alcançar através desta forma de ascese uma fonte de energia. Tanto quanto o trabalho manual, o intelectual, a leitura de textos sagrados, prepara a alma para a oração. Enfim orar é uma forma de trabalho, trabalhar é uma forma de orar”.[1] Uma gravura em metal do Vita et miracula santissimi Patris Benedict de 1579 mostra São Bento no campo trabalhando junto com outros monges.[2] Para Pietro Corsi a regra beneditina teve consequências importantes na constituição de ricas bibliotecas e no aperfeiçoamento das técnicas metalúrgicas.[3] São João Crisóstomo exclamou no final do século IV “felizes aqueles que ganham seu sustento com suas mãos”[4]. O monge beneditino alemão Teófilo, o presbítero, (pseudômio de Roger de Helmarshausen) escreveu um famoso tratado de tecnologia De Diversis Artibus em 1122, em que descreve técnicas de ornamentação de igrejas, na iluminura, afrescos, vitrais, metalurgia e ourivesaria[5], embora ainda a descreva como uma arte a serviço de Deus.[6] Sua referência ao pergaminho bizantino, no primeiro livro de seu tratado, possivelmente é a primeira referência documental no Ocidente para o papel. O segundo livro trata da arte em vidro e o terceiro dos trabalhos em metalurgia.[7] Entre as fórmulas mencionadas encontram-se algumas misturas alquímicas para composição de ouro que incluem cobre, pó de basilisco, sangue humano e ácido. O livro escrito em latim era inacessível ao homem do campo[8]. Teófilo escreve “para auxiliar muitos homens em suas necessidades”.[9]

[1] JUNIOR, Hilário Franco. A idade média nascimento do Ocidente. São Paulo:Brasiliense, 1986, p. 112

[2] SOUZA, Jorge Vitor. Para além do claustro: uma história social da inserção beneditina na américa portuguesa, 1580-1690, Rio de Janeorp, UFF, 2014, p. 208

[3] CORSI, Pietro. Ciência e tecnologia: introdução In: ECO, Umberto. Idade média: bárbaros, cristãos e muçulmanos, v.I, Portugal:Dom Quixote, 2010, p.400

[4] BONILLA, Luis. Breve historia de la técnica y del trabajo, Madrid:Ed. Istmo,1975, p.142

[5] CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 343

[6] WHITE, LYNN. Medieval religion and technology, UCLA, 1978, p.322; DAVIDE, Diego. Manufatura e corporações. In: ECO, Umberto. Idade média: bárbaros, cristãos e muçulmanos, v.I, Portugal:Dom Quixote, 2010, p.270; LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p. 185, 206; GOFF, Jacques. Trabalho. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017, p. 628

[7] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 128

[8] FOSSIER, Robert. O trabalho na idade média. Rio de Janeiro: Vozes, 2018, p. 85

[9] LONG, Pamela. Invention, Authorship, Intellectual Property, and the Origin of Patents: Notes toward a Conceptual History, Technology and Culture, v.32, n.4, Special Issue: Patents and invention, october 1991, p.868



A ironia em Platão e o mundo das ideias

 

Platão irá descartar que a intuição sensível não serve para descobrir o verdadeiro ser que pode ser revelado apenas pela intuição intelectual. O espetáculo dos sentidos é ilusório, errôneo, falso.[1] Parmênides e Platão excluem o movimento, o devir, da essência do Ser. [2] Para Platão os sentidos podem confundir nossa mente de modo que, por exemplo, enquanto a ideia de um círculo é perfeita a sua representação concreta em um desenho será sempre imperfeita pois a percepção da realidade é sempre distorcida pelos nossos sentidos.[3] Segundo Platão o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o conhecimento é um objeto da razão e não da sensação, o que viria a compor o fundamento da doutrina das ideias.[4] Para Bernard Williams entendiam a realidade a partir do mundo das ideias e não do mundo físico, o mundo das aparências : “para o pensamento grego a distinção entre aparência e realidade era tão fundamental e o conhecimento tão vinculado à realidade, que o conhecimento constituído meramente de aparências subjetivas talvez não contasse absolutamente como conhecimento autentico”.[5] Dal Maschio observa a ironia de que o desprezo de Platão pela aparências é apontada por Diógenes Laércio em sua pitoresca Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres que narra que o nome de batismo de Platão era Arístocles, sendo que o nome Platão teria sua origem de “platos” “amplo” (de platôs) devido à sua aparência corpulenta ou devido à sua testa grande.[6]

[1] MORENTE, Manuel Garcia. Fundamentos de filosofia: lições preliminares. São Paulo:Mestre Jou, 1970, p.84

[2] CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia, São Paulo: Ática, 2004, p. 188

[3] ZINGANO, Marco. Platão & Aristóteles: o fascínio da filosofia, São Paulo:Odysseus Editora, 2002, p.10

[4] ZINGANO, Marco. Platão & Aristóteles: o fascínio da filosofia, São Paulo:Odysseus Editora, 2002, p.37

[5] WILLIAMS, Bernard. Filosofia. In: FINLEY, Moses. O legado da Grécia. Brasília: UNB, 1998, p. 269

[6] MASCHIO, E. Platão: a verdade está em outro lugar, São Paulo: Salvat, 2015, p.14



segunda-feira, 28 de junho de 2021

Platão e a Idade Classica

 

Péricles foi um célebre e influente estadista, orador e estrategista da Grécia Antiga, um dos principais líderes democráticos de Atenas, e que promoveu um ambicioso projeto das artes e cultura assim como de obras arquitetônicas na Acrópole de Atenas (incluindo o Partenon) no século V a.C, período conhecido com a “Era de Ouro” de Atenas, durante o período entre as guerras Persas (480 a.c.) e do Peloponeso (431 a.c). O florescimento do helenismo observado após a vitória dos persas foi interrompido pela guerra entre Atenas e Esparta[1]. Platão nasce em 428 a.c. da mesma época da vitória de Esparta sobre Atenas na guerra do Peloponeso e da morte de Péricles. A morte de Platão, por sua vez, ocorre em 348 a.c. época em que o domínio de Esparta será substituído pelo de Tebas após a batalha de Leuctra (371 a.c). Paradoxalmente, portanto, o filósofo Platão vive uma época de crise política da sociedade de Atenas, início da decadência da polis grega e supremacia espartana, mas, ao mesmo tempo período de esplendor cultural, artístico e filosófico que ficou conhecido como Idade Clássica. [2]



[1] TOYNBEE, Arnold. Helenismo: história de uma civilização, Rio de Janeiro: Zahar, 1963, p. 94

[2] MASCHIO, E. Platão: a verdade está em outro lugar, São Paulo: Salvat, 2015, p.13



domingo, 27 de junho de 2021

A origem do gaúcho como tipo social

 

Para Jorge Caldeira os dados mostram que “a economia brasileira, já a partir do século XVIII, poderia estar andando pelas próprias pernas. Teria então uma trajetória construída na oposição aos desígnios de seus dirigentes, inclusive no que se refere ao essencial: acumular capital suficiente para sustentar seu crescimento. Mais ainda., deveria basear esse crescimento em seu mercado interno, nas frestas deixadas em aberto”.  Mesmo no século XVII este fenômeno já se observa presente. A produção de açúcar em 1624, ano da primeira invasão holandês era de 960 mil arrobas volume que só voltaria a ser atingido em 1737 quando foram produzidas 937 mil arrobas, ou seja, a expansão da riqueza observada no mesmo período não pode ser explicada pela exportação mas pelo crescimento do mercado interno. Segundo Jorge Caldeira: “essa acumulação derivava sobretudo de várias atividades da produção interna – pecuária, agricultura alimentar, farinhas feijão, etc, indústrias manufatureiras como a tecelagem de algodão ou metalurgia do ferro, transportes, etc mesmo na área exportadora, algumas das maiores fortunas monetárias foram obtidas por criadores de gado e comerciantes da produção local – alguns deles chegaram a reunir fortunas maiores que as do senhores de engenho”.[1] Já no início do século XVII a baía de Guanabara exportava cerca de 680 toneladas anuais de farinha para Angola em troca de escravos.[2] Russell Wood destaca que o tabaco vinha de Salvador; carne seca do Ceará e da Paraíba, charque, couro e sebo vinham do Rio Grande do Sul. A revolta de Farroupilha em 1835-1845 no Rio Grande do Sul era um protesto dos estancieiros que queriam condições mais favoráveis para seu gado e charque no mercado interno.[3] A colônia de Sacramento abastecia a América espanhola com produtos internos da colônia em troca da prata espanhola.[4] Jaime Cortesão descreve a figura do vaqueiro gaúcho dedicado a criação e comércio de gado, a ganadaria: “Se a prata espanhola, vinda de Buenos Aires, por intermédio da Colônia de Sacramento, se limitava a sustentar o esplendor fugaz duma riqueza relativamente fácil, no Brasil e Portugal, o mesmo não se dava com a indústria da ganadaria, a qual, lançada pelos portugueses nas margens setentrionais do estuário platino, era pouco depois partilhada pelos espanhóis. A ganadaria veio, assim, a criar um novo gênero de vida e um novo tipo social: o vaqueiro, sem domicílio e sem lei, centauro livre, que rodava a cavalo pelas campanhas, nômade como os índios, cuja cultura assimilara e fundira com a da grei ibérica de onde provinha, roubando estâncias, raptando índias e vendendo cavalos, mulas ou vacas aos portugueses, desde a Colônia até a Laguna. Ao novo tipo social moldado por este gênero de vida chamou-se o gaudério e depois o gaúcho”. [5]

[1] CALDEIRA, Jorge. História da Riqueza no Brasil, Rio de Janeiro:Estação Brasil, 2017, p.99

[2] GOMES, Laurentino. Escravidão, v.I, São Paulo: Globo, 2019. p.183

[3] CARVALHO, José Murilo. A construção nacional 1830-1889, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 92

[4] RUSSELL WOOD, A. Histórias do Atlântico português, São Paulo: UNESP, 2021, p. 153

[5] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.II, São Paulo: Funag, 2006, p.42



Arte di Calimala

 

No século XIII os mercadores de Florença que trabalhavam com tecidos moravam na Calimala, um local de má reputação, por isso quando formaram uma guilda mercantil esta ficou conhecida como guilda de Calimala (Arte di Calimala).[1] A Companhia de Calimala era formada de vinte mercadores de panos estrangeiros comercializando cerca de dez mil peças, enquanto que no passado haviam mais cem fábricas ocupadas no preparo da lã com produção de certa de cem mil peças no mesmo período[2]. Os artesãos compravam os tecidos inacabados nas feiras de Champagne na França e os transformavam em artigos de luxo para imperadores, príncipes e papas.[3] Por volta do século XII a indústria de tecidos estabelecida em Flandres importava lã da Inglaterra.[4]

[1] HODGETT, Gerald. História social e econômica da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 1975, p.167

[2] CANTU, Cesare. História Universal, volume XIV, São Paulo:Editora das Américas, 1955, p. 476

[3] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 121

[4] MATTHEW, Donald. A Europa Medieval, v.II. Lisboa :Ed. del Prado, 1996, p.132


O missão dos padres matemáticos preparatória do Acordo de Madri em 1750

 

Em 1720 Deslile o geógrafo do rei francês, perante a Academia Real de Ciências de Paris demonstrara que a colônia de Sacramento estava na soberania espanhola pelo meridiano de Tordesilhas e não portuguesa[1]. D. João V se empenha em resolver a questão da demarcação de terras valendo-se do suporte da ciência de sua época. Nesse sentido mandou vir astrônomos do estrangeiro da Itália, Alemanha e Suíça, encomendou “instrumentos matemáticos”, fundou um observatório astronômico para observação dos satélites de Júpiter enviou em 1729 uma missão de “padres matemáticos” ao Brasil para elaborarem uma nova carta de latitudes e longitudes na colônia de Sacramento. Todo esse aparelhamento custava caro, o novo sextante de Bion, por exemplo, custara seis mil cruzados.[2] A Comissão era formada pelos jesuítas Giovanni Baptista Carbone e Domenico Capacci (ou Domingos Capassi)[3]. Os padres chegaram ao rio de Janeiro em 1730 onde instalaram seu observatório no Colégio da Companhia sobre o morro do Castelo onde puderam fazer o levantamento topográfico da cidade e da Baia de Guanabara em relação ao meridiano de Paris, sendo a primeira representação exata da Baía de Guanabara.[4] Nas observações astronômicas pode contar com suporte do também jesuíta matemático astrônomo Diogo Soares para as primeiras medidas de latitude e longitude do sertão.[5] Por outro lado, já era de conhecimento que áreas como Cuiabá e do Amazonas, excediam em muito a linha imaginária demarcatória prevista no Tratado de Tordesilhas.[6] Segundo Jaime Cortesão não faltam provas documentais de que a missão dos padres matemáticos era a fazer o levantamento topográfico em relação ao meridiano de Tordesilhas mantendo tais medições em sigilo, para que pudessem ser apresentadas em momento oportuno quando na negociação dos acordos de fronteira.[7] Jaime Cortesão observa que a preparação deste empreendimento científico envolveu a contratação de cartógrafos e engenheiros, tais como  bem como o astrônomo cartógrafo jesuíta padre Domingos Capacci, o engenheiro Frederico Jacob Weinholtz, o engenheiro e cartógrafo frei francês Estevão de Loreto, o engenheiro militar húngaro Carlos Mardel, o coronel engenheiro genovês Miguel Angelo Blasco entre outros.[8] Esta teria sido, segundo Jaime Cortesão, a primeira expedição geográfica e cartográfica enviada às Américas por uma nação europeia com um objetivo de Estado tendo em vista a delimitação da soberania política entre os domínios de nações conflitantes.[9] Para Jaime Cortesão os avanços na cartografia no século XVIII tendo como um dos destaques Azevedo Fortes abrem uma nova era na cultura expansionista portuguesa da mesma forma que no século XV a ciência náutica abriu caminho para a era das grandes navegações.[10] Para auxiliar nessa tarefa de cartografia o governador do Rio de Janeiro contará com auxílio do engenheiro José Fernandes Pinto Alpoim, o governador do Maranhão Pará com o cartógrafo José Gonçalves da Fonseca, o governador de Goiás contará com o suporte de Francisco Tosi Colombina enquanto que o governador de Mato Grosso, Antonio Rolim de Moura é também engenheiro.[11] Estes exemplos mostram que as necessidades de cartografia contribuíram para transformar as Academias Militares em “viveiro de engenheiros, geógrafos e cartógrafos”.[12] Jaime Cortesão[13] mostra que os interesses de D. João V não era o de promover a ciência mas políticos: “Ele não fundara uma Academia de Ciências como a de Paris ou Londres. Mas de História (Academia Real de História Portuguesa em 1720). E, em primeiro lugar, eclesiástica. Não lhe importava, como um fim supremo, a busca da verdade e da explicação científica do universo. Mas a valorização moral do português, nas suas relações com Deus. A astronomia não passava aos seus olhos dum instrumento de expansão do seu Império e da sua Fé, bases transcendentes e incomparáveis do seu trono de monarca absoluto”.

[1] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.I, São Paulo: Funag, 2006, p.265, 274

[2] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.I, São Paulo: Funag, 2006, p.296

[3] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.I, São Paulo: Funag, 2006, p.287

[4] CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o tratado de Madrid, v.II São Paulo: Funag, 2006, p. 13

[5] RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1979, p.164

[6] CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o tratado de Madrid, v.I São Paulo: Funag, 2006, p. 42

[7] CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o tratado de Madrid, v.II São Paulo: Funag, 2006, p. 14

[8] CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o tratado de Madrid, v.I São Paulo: Funag, 2006, p. 93

[9] CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o tratado de Madrid, v.II São Paulo: Funag, 2006, p. 25

[10] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.I, São Paulo: Funag, 2006, p.317

[11] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.I, São Paulo: Funag, 2006, p.320

[12] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.I, São Paulo: Funag, 2006, p.291

[13] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.I, São Paulo: Funag, 2006, p.292



sábado, 26 de junho de 2021

Os judeus no Brasil holandês

 

No Brasil holandês nasceu o judeu Jacob de Andrade Velosino que se tornaria um célebre médico em Haia.[1] Jacob Velosino formou-se pela Faculdade de Medicina de Amsterdam após a expulsão dos holandeses sendo autor de “O Teólogo Religioso”; “Messias Restaurado” e “Epítome de Moisés”.[2] Gilberto Freyre destaca que o domínio holandês no nordeste do Brasil trouxe diversos representantes de uma aristocracia judaica intelectual da Europa que incluía rabinos, doutores e sefardins ilustres entre os quais o poeta Isaac Aboab da Fonseca (figura) e o rabino Moisés Rafael de Aguiar com o qual escreveu a obra “Miimei Iehuda”, que trata da vida cultural dos judeus brasileiros. Com a expulsão dos holandeses do Brasil, cerca de trezentos judeus de Pernambuco foram para Martinica onde fundariam o primeiro engenho de açúcar. Outros judeus levaram o mesmo conhecimento para Barbados, Suriname como David Nassib.[3] Um grupo constituído dos mais ricos e influentes, entre eles o próprio chefe da comunidade rabino Isaac Aboab da Fonseca, decidiu retornar a Holanda. Um grupo de judeus, numericamente reduzido, deixou Recife em direção à Nova Amsterdã (atual Nova York), então capital da Nova Holanda norte-americana. Os judeus que permaneceram no Brasil gozaram de liberdade religiosa sob a proteção do padre Antonio Vieira que se destacou na defesa dos cristãos novos. No entanto o início do século XVIII foi marcado pelo recrudescimento da perseguição aos judeus com a Inquisição de Lisboa.[4]



[1] MOTOYAMA, Shozo; FERRI, Mario Guimarães. História das Ciências no Brasil, São Paulo: USP,1979, p. 200

[2] PAULA, Sergio Goes de. Um inventário pioneiro de biografias para os historiadores das ciências. Hist. cienc. saude-Manguinhos [online]. 1998, vol.5, n.1 [cited  2021-02-22], pp.127-144. Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59701998000100008&lng=en&nrm=iso>

[3] FREYRE, Gilberto. O mundo que o português criou, Recife; É Realizações, 2010, p. 84

[4] SEREBRENICK, Salomão. Breve história dos judeus no Brasil, https://cjbrasil.org/breve-historia-dos-judeus-no-brasil/



Biopirataria ou obra integradora à paisagem europeia ?

 

Lilia Schwartz mostra que o final do século XIX, conhecida como a “era dos museus” viu florescer diversos museus etnográficos vinculados a modelos evolucionistas de análise, com suas coleções bastante ampliadas com o material coletado por exploradores como o capitão Cook.[1] O naturalista francês Joseph Dombey enviou para o Museu de Paris em 1784 exemplares zoológicos por intermédio da recém criada Casa dos Pássaros, célula mater do futuro Museu Nacional. Os exemplares enviados contudo sem etiquetas de identificação iriam mais tarde desorientar os pesquisadores.[2] Portugueses presos em Goa ao escaparem trouxeram mudas dos famosos jardins de Pamplemousse da Ile de France (atual república de Maurício) entre as quais as sementes da palmeira imperial que seria plantada no Jardim Botânico do Rio de Janeiro inaugurado quando da chegada da família real em 1808.[3] D. Joao VI teceu elogios a Luis de Abreu, Rafael Botado e ao frade Francisco João da Garça “que tanto cooperaram para enriquecer o nosso Brasil roubando daquela colônia as suas precisos plantas e sementes[4]. Em 1800 chegou ao Brasil o naturalista Friedr Guilherme Sieber, para atender demanda do colecionador alemão Conde Hoffmannsegg para explorar a floresta amazônica, coleção esta que foi doada posteriormente a Universidade de Berlim, na qual se utilizaria diversos especialistas. Freyreiss acompanhado de von Langsdorf enviou o material valioso para os museus de Berlim, Leide e Moscou[5]. Em 1813 o alemão Carlos Henrique Beyrich remeteu, mas de 400 plantas vivas para o Jardim Botânico de Berlim.[6] A arquiduquesa Leopoldina, que se casou com Pedro I em 1817 enviou caixas de mineirais, plantas, animais e aves de toda a espécie para a Europa em especial para o Museu de História Natural de Viena, assim como cientistas que vieram posteriormente como João Natterer. [7] As coleções que o imperador austríaco Fernando recebeu dos naturalistas austríacos e de sua própria filha Leopoldina foram tão ricas que ele mandou instalar em Viena um museu com 13 salas e uma biblioteca especial sobre o Brasil, o Brasilianisches Naturalienkabinett ou Museu do Brasil, incendiado durante a revolução de 1848. Friedrich Selow recolhe vasto material (só de aves mais de 1500 exemplares) enviados para Europa em 1820.[8] Joahann Natterer enviaria para o Museu de Viena cerca de 12 mil aves, cerca de 1100 mamíferos e 3 mil anfíbios e peixes, alguns dos quais acabaram no Museu Britânico[9]. Gilberto Freyre destaca que o português integrou o conhecimento das plantas brasileiras à paisagem europeia: “O início de uma renovação do cenário europeu, no sentido romântico da expressão mais livre e mais natural das plantas e dos animais nos jardins. Para essa renovação, repito, concorreram as plantas e as flores brasileiras com a sua espontaneidade, com a sua diversidade, com a sua variedade, difíceis de ser podadas, policiadas e uniformizadas pelas regras do classicismo ocidental ou do geometrismo árabe. Os portugueses souberam, com o seu seguro senso de equilíbrio de valores, inclusive os estéticos, acomodar aquelas plantas exóticas às tradicionais da Europa, à estatutária europeia de jardim e aos azulejos dos árabes, em combinações novas e felizes”.[10]



[1] SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930, São Paulo: Cia das Letras, 1993, p.87

[2] HOLANDA, Sérgio Buarque. História Geral da Civilização Brasileira: A época colonial, administração, economia, sociedade, tomo I, volume 2, São Paulo:Difusão Editorial, 1982, p.170

[3] WILCKEN, Patrick. Império à deriva: a Corte portuguesa no Rio de Janeiro 1808-1821, Rio de Janeiro:Objetiva, 2010, p.152

[4] CARVALHO, Nuno Pires. 200 anos do sistema brasileiro de patentes, Rio de Janeiro:Lumen, 2009, p. 66

[5] HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil monárquico: reações e transações, t.II, v.3, São Paulo:Difusão Europeia, 1967, p.446

[6] HOLANDA, Sérgio Buarque. História Geral da Civilização Brasileira, O Brasil monárquico: o processo da emancipação, tomo II, volume 1, São Paulo:Difel, 1962, p. 121

[7] HOLANDA, Sérgio Buarque. História Geral da Civilização Brasileira, O Brasil monárquico: o processo da emancipação, tomo II, volume 1, São Paulo:Difel, 1962, p. 123, 124

[8] HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil monárquico: reações e transações, t.II, v.3, São Paulo:Difusão Europeia, 1967, p.448

[9] HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil monárquico: reações e transações, t.II, v.3, São Paulo:Difusão Europeia, 1967, p.457

[10] FREYRE, Gilberto. O mundo que o português criou, Recife; É Realizações, 2010, p. 71



Espártaco e a civilização romana

 

Segundo Moses Finley uma proporção significativa da atividade industrial e comercial em Roma era executada por escravos.[1] Embora o cinema em filmes como Espártaco tenha difundido a imagem de rebelião de escravos contra a escravidão, toda a evidência da Roma Antiga sugere que a escravidão era vista como uma instituição aceita como inevitável, até mesmo pelos escravos. Espártaco e seus companheiros possivelmente lutavam pela sua liberdade, mas não pelo fim da escravidão.[2] O exército de Espártaco reuniu por volta de 70 a.c um total de 70 mil homens incluindo uma grande parte de escravos e camponeses pobres. Com a supressão da revolta cerca de seis mil escravos, ao invés de devolvidos a seus donos, foram crucificados ao longo da via Ápia, de Cápua até Roma, seguindo as prescrições da lei romana. [3]

[1] FINLEY, Moses. Economia e sociedade na Grécia antiga, São Paulo:Martins Fontes, 2013, p.142

[2] BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma Antiga, São Paulo: Planeta, 2010, p. 244

[3] GUARINELLO, Norberto Luiz. História Antiga. São Paulo: Contexto, 2020, p.133



A ânfora romana Dressel 1

 

As cerâmicas etruscas destacam-se por sua cor negra características em canthari (taças de duas asas), amphorae (vasos com duas asas) e oenophori (vasos para vinho). Entre os vasos de cerâmica etruscos destacam-se o bucchero fabricado de argila enegrecida (séculos VII ao V a.c.).[1] No século VII a.c. a civilização etrusca tinha forte influência orientalizante grega primeiramente devido a Corinto e posteriormente a Atenas, de modo que cerâmica funerátia de origem ática tornou-se uma característica essencial dos rituais fúnebres etruscos. [2] Este intercâmbio intenso difundiu a escrita na Etruria e Latium: o alfabeto etrusco tem origem no alfabeto grego a partir da colonização grega no golfo de Napoles.[3] Na escultura Raymond Bloch defende a tese de que o desenvolvimento atingido pelas esculturas etruscas nos permite concluir pela existência de escola de artífices como as do mestre Vulca que segundo Plínio participou em Roma pouco antes do ano 500 a.c. da decoração do templo Capitolino.[4] Os artesãos de Volterra destacavam-se por suas técnicas em alabastro.[5] As ânforas eram grandes urnas usadas para guardar provisões como cereais[6]. A ânfora conhecida como Dressel 1 produzida na Campânia, Lácio e Etrúria era usada para o transporte de vinho e mostra uma notável padronização com um grande volume de exportação para fora da Itália, entre a região da Gália.[7]



[1] GIORDANI, Mario Curtis. História de Roma, Rio de Janeiro:Vozes, 1981, p. 24

[2] DUNAN, Marcel; BOWLE, John. Larousse encyclopedia of ancient & medieval history, Paris:Larousse, 1963, p.99

[3] Vatican Museums, Rome:Libreria Editrice Vaticana, 2011, p.127

[4] BLOCH, Raymond. Os etruscos. Lisboa: Editorial Verbo, 1970, p.170

[5] Focus Filmes. DVD. Os segredos da arqueologia. Um lugar chamado Etrúria, Novara, Itália, v.5, 2002

[6] BOWRA, Maurice. Grécia Clássica, Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1969, p. 64

[7] GUARINELLO, Norberto Luiz. História Antiga. São Paulo: Contexto, 2020, p.131



sexta-feira, 25 de junho de 2021

A pólis grega

 

Sob a democracia ateniense grega do século V a.c. o Estado não conhece famílias mas unicamente indivíduos de mesmo valor, princípio que se opõe ao regime oligárquico.[1] Na pólis grega a ágora, o mercado de Atenas, a se estabelece como espaço democrático, espaço de sociabilidade urbana e que inclui também o comércio de produtos diversos.[2] Aristóteles dirá que o homem é um animal político “que vive na pólis”, o seja, a polis e não o núcleo familiar é o cerne da civilização grega.[3] Donald Kagan mostra que a polis grega se diferencia de outras cidades Estado da antiguidade pelo fato de que no caso grego o indivíduo vivia em função da polis. Norberto Guarinello destaca que “dentre as formas de organização social que surgiram nesse período, no entanto, as pólis foram o elemento mais dinâmico. Não representaram apenas um processo de urbanização, mas também uma completa reestruturação das relações entre os habitantes de uma região determinada, que passaram a agir em conjunto, a tomar decisões políticas, nas praças ou nos conselhos, e eleger seu comandantes. E isso, tanto para resolver seus conflitos internos quanto para agir com ou contra os estrangeiros. Dessa relação de unidade surgiu o conceito de cidadania e a separação entre cidadãos e não cidadãos”. [4] Heródoto se refere a uma pergunta que Creso fez a Sólon sobre quem seria a pessoa mais feliz que ele já conheceu. E Sólon responde: Telus de Atenas, um cidadão grego desconhecido. Três as razões apresentadas: porque a polis de Telus prosperava, porque os filhos de Telus prosperavam (garantindo a imortalidade dos princípios de Telus) e porque Telus morreu em combate lutando por sua polis.[5] O ideal grego é que o Estado grego tinha como meta fazer homens bons e a polis tinha um papel fundamental nesse processo ao formar cidadãos e não súditos[6]. Tucídides reproduz o discurso feito no funeral de Péricles em 431 a.c em que destaca que as maiores metas individuais de cada cidadão e de sua família somente poderão ser alcançadas através da polis. O bem estar individual está intrinsecamente ligado ao bem estar da polis. Gustave Glotz mostra que a história das instituições gregas tem como primeiro período uma fase em que a cidade é composta de famílias em que todos os membros são submetidos aos interesses da coletividade. [7] Segundo Donald Kagan: “A pessoa não pode se realizar como ser humano sem ser um cidadão ativo e leal dessa grande comunidade de que você precisa para alcançar seus objetivos na vida”. Jean Vernant mostra que a polis desenvolveu o conceito de plena publicidade: “pode-se mesmo dizer que a polis existe apenas na medida em que se distinguiu um domínio público, nos dois sentidos diferentes, mas solidários no termo: um setor de interesse comum, opondo-se aos assuntos privados; práticas abertas, estabelecidas em pleno dia, opondo-se a processos secretos”.



[1] GLOTZ, Gustave. A cidade grega. São Paulo:DIFEL, 1980, p.108

[2] MUMFORD, Lewis. A cidade na história, São Paulo:Martins Fontes, 1982, p. 168

[3] FUNARI, Pedro. Grécia e Roma, São Paulo:Contexto, 2004, p.49

[4] GUARINELLO, Norberto Luiz. História Antiga. São Paulo: Contexto, 2020, p.89

[5] História da Grécia Antiga #5 com Donald Kagan, de Yale, 9:00 https://www.youtube.com/watch?v=UCBmCNnQULU

[6] História da Grécia Antiga #5 com Donald Kagan, de Yale, 22:00

[7] GLOTZ, Gustave. A cidade grega. São Paulo:DIFEL, 1980, p.6



O papel da indústria de cerâmicas nas cidades estados gregas

 

Norberto Guarinello aponta a difusão do artesanato e a divisão do trabalho artesanal com a criação de oficinas estáveis foi um dos fatores de fortalecimento das cidades estado gregas.[1] Moses Finley, por sua vez, mostra que os cidadãos gregos eram na maior parte camponeses sendo que o artesanato e o comércio exercido principalmente por estrangeiros domiciliados em Atenas, conhecidos como metecos[2]. Dos metecos e libertos apesar do tratamento discriminatório que sofriam é de onde se conheciam grandes médicos, engenheiros e artistas.[3] Em República dos atenienses de pseudo Xenofonte ele se refere a igualdade social na Atenas Clássica entre os escravos e metecos: “Se se estranha ver os escravos levando uma boa vida e alguns mesmo conhecendo uma existência suntuosa, pode-se observar que existe um propósito deliberado para permitir que isto aconteça. Pois uma vez que se trata de uma potência marítima o capitalismo impõe o trabalho escravo  para nos permitir receber  o fruto de seu trabalho: é preciso pois deixa-los livres [...] A razão pela qual concedemos igualdade aos escravos face aos homens livres, e aos metecos face aos cidadãos, é que uma cidade tem necessidade dos metecos por causa da quantidade de cargos profissionais e da marinha”. Durkheim observa que na Grécia antiga diante do desprezo das profissões, tais atividades eram exercidas quase que exclusivamente por estrangeiros e que por esta razão eram pouco comuns a organização em corporações.[4] Um cidadão não poderia atuar no comércio, caso desejasse seguir nesse intento teria de emigrar para outra cidade. Apenas algumas cidades como Egina e Quios permitiam que seus cidadãos atuassem no comércio[5]. Cícero em De Civitate atribui o “desejo de traficar/fazer comércio” como a causa da decadência de cidades como Corinto e Cartago.[6] Para Cícero: “desprezível é o negócio do varejista, pois só pode ter bom êxito se desonesto, e a desonestidade é a coisa mais vergonhosa do mundo”.[7] Uma mostra de que a atividade industrial não tinha o papel central na economia grega clássica é de durante o século VII e meados do século VI a.c. embora Corinto se destacasse na produção de cerâmicas[8] mesmo quando Atenas veio a suplantar Corinto no século VI a.c. a cidade não experimentou nenhum declínio significativo: “a civilização grega permaneceu enraizada no solo [na agricultura], e isto foi verdade até mesmo para as comunidades mais urbanizadas como Atenas, Corinto ou Mileto”.[9] Mesmo quando Atenas arrebatou de Corinto a primazia deste comércio em meados do século VI a.c. não houve nenhuma mudança significativa nestes “relações coloniais”.[10] A  atividade era essencialmente reservada aos homens sendo encontrado em Atenas algumas mulheres com a tarefa de pintura das cerâmicas, porém raramente[11]. Donald Kagan menciona como exemplo as relações amistosas entre a metrópole Corinto exportadora de cerâmicas e sua colônia na Sicília exportadora de grãos[12]. Lindsay Scott destaca que uma vez que as exportações de Atenas era realizada em seus próprios navios e financiada por seus próprios banqueiros tendo se estendido do Mar Negro até a Espanha é provável que a indústria de cerâmica tenha assumido um significado econômico importante do que havia sido em qualquer outro Estado.[13] Moses Finlay mostra como Corinto, mesmo como principal exportadora de cerâmicas para suas colônias e através delas aos etruscos e povos não gregos, não havia uma relação colonial imperialista, entre colônias e metrópoles (do grego cidade mãe) e que tais relações nunca se mantinham por uma base comercial. A cidade clássica é uma extensão do campo, a ponto de Marx concluir: “A história antiga clássica é a história das cidades, porém, de cidades baseadas sobre a propriedade da terra e na agricultura”.[14] Segundo Emil Kuhn a cidade e o campo constituíam uma unidade na Grécia clássica (500 a 338 a.c. quando se deu o início do período helenístico) e não dois modos antagônicos de vida.[15]



[1] GUARINELLO, Norberto Luiz. História Antiga. São Paulo: Contexto, 2020, p.78

[2] JARDÉ, A. A Grécia antiga e a vida grega, São Paulo:Epusp, 1977, p.170

[3] MONTANELLI, Indro. História dos gregos, São Paulo:Ibrasa,1962, p. 138

[4] DURKHEIM. Da divisão do trabalho social, Os pensadores, São Paulo:Abril Cultural, 1978, p. 7

[5] MUMFORD, Lewis. A cidade na história, São Paulo:Martins Fontes, 1982, p. 149

[6] MUMFORD, Lewis. A cidade na história, São Paulo:Martins Fontes, 1982, p. 171

[7] HADAS, Moses. Roma Imperial, Biblioteca de História Universal Life, Rio de Janeiro: José Olympio, 1969, p. 161

[8] FLORENZANO, Maria Beatriz. O mundo antigo: economia e sociedade. São Paulo:Brasiliense, 1986, p. 36

[9] FLORENZANO, Maria Beatriz. O mundo antigo: economia e sociedade. São Paulo:Brasiliense, 1986, p. 36

[10] FINLEY, Moses. Los griegos de la antiguedad. Barcelona: Editorail Labor, 1966, p. 40

[11] LINDSAY, Scott. The pottery industry. In: SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.II, Oxford, 1956, p.408

[12] KAGAN, Donald. História da Grécia Antiga #7 com Donald Kagan, de Yale, 36:00 https://www.youtube.com/watch?v=mHjOKSUb5rA

[13] LINDSAY, Scott. The pottery industry. In: SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.II, Oxford, 1956, p.409

[14] FLORENZANO, Maria Beatriz. O mundo antigo: economia e sociedade. São Paulo:Brasiliense, 1986, p. 99

[15] MUMFORD, Lewis. A cidade na história, São Paulo:Martins Fontes, 1982, p. 146



Doação de Constantino

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