Saint Hilaire no século XIX refere-se aos bandeirantes como “raça de gigantes”[1]. A tese do espírito aventureiro do brasileiro personificada na exploração dos bandeirantes pelo interior do Brasil foi em grande parte construída pelos historiadores paulistas que popularizou este mito, em especial ligados ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo com intuito de construir uma história que exaltasse as virtudes do paulista. Segundo James Love: “se é certo dizer que os historiadores lançaram as bases do mito da garra quase que fantasiosa dos bandeirantes por aventuras e oportunidades, os criadores de mitos acompanharam os historiadores pari passsu, associando a total grandeza de São Paulo a seu antigo passado”.[2] Em 1952, o historiador português Jaime Cortesão foi nomeado para dirigir a organização da “Exposição Histórica de São Paulo dentro do quadro histórico do Brasil”, no âmbito das comemorações do IV Centenário da fundação da cidade de São Paulo (1954-1955) em que legitima o mito bandeirante.[3] Para Jaime Cortesão a bandeira foi o resultado da fusão de uma ideia força que integrava o sentimento expansionista português com o conceito de ilha Brasil já presente entre os índios, segundo o qual haveria uma comunicação entre os rios Madeira e Guaporé através de uma lagoa chamada Eupana, de modo que o Brasil seria uma ilha fragmentada por seus rios como o São Francisco, o que lhe conferiria um sentido de unidade territorial a ser conquistada. Havia, portanto, uma bandeira oficial que se radicou no Amazonas e uma segunda bandeira livre cujo foco foi São Paulo. Segundo o depoimento do padre Simão de Vasconcelos: “Contam os índios versados no sertão que bem no meio dele são vistos darem-se as mãos estes dois rios o Amazonas e o Prata em uma lagoa famosa”.[4]
[1] TOLEDO, Roberto Pompeu
de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 148
[2] SCHWARCZ, Lilia Moritz.
O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil
1870-1930, São Paulo: Cia das Letras, 1993, p.174
[3] ALVES, Daniel Vecchio.
Reconsiderações Historiográficas sobre a Teoria do Sigilo de Jaime Cortesão. Revista
Expedições, Morrinhos/GO, v. 9, n. 3, mai./ago. 2018
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